quarta-feira, 18 de maio de 2011

O leitor do DN e a psiquiatria aplicada à economia

Discretamente, na secção de cartas dos leitores do DN, uma interpretação que me parece muito próxima da realidade.
Por um lado, está em fase de promulgação um diploma para redução do numero de juizes em Lisboa (compreende-se porque os juizes são uma classe muito bem remunerada).
Por outro, alguem terá sugerido à troica/triade que seria bom recrutar mais juizes para acelerar a resolução dos processos pendentes.
Perante esta contradição, o leitor interroga-se se não seria melhor contratar tambem psiquiatras.

Este blogue acha que sim, que deveria ser estudada a componente psicopatológica nas atividades deste país, no pressuposto de que o diagnóstico de uma doença é um primeiro passo para a sua cura.

Por exemplo, baseando-me na entrevista de Poul Thomsen    (http://fcsseratostenes.blogspot.com/2011/05/poul-thomsen-entrevistado-pelo-dn-e.html )   e em exemplos como este, o episódio da troica/tríade é mais uma manifestação da prática tradicional dos portugueses que, segundo a minha professora de instrução primária, já vinha do tempo dos lusitanos.
Perante uma dificuldade ou uma doença, o lusitano fazia os possíveis para evitar discutir as questões técnicas com os especialistas, e preferia sentar-se à porta de casa, perguntando a quem passava se já tinha tido a mesma doença e o que tinha feito para a curar. E o que os interrogados respondiam seria qualquer coisa do género: "o que era bom para isso era...". (o mal não estava em questionar as pessoas; o mal estava em que a maior parte das respostas era dada por pessoas sem os conhecimentos técnicos necessários, na maior parte dos casos porque esses conhecimentos não estavam disponíveis na altura; o método estava correto, embora não houvesse meios para que o método fosse eficaz).
Grupos de pessoas importantes deste país acorreram às reuniões com a troica/tríade e disseram aos seus membros que "o que era bom era..." contratar juizes para acelerar os processos, privatizar, baixar a TSU, etc, etc e utilizaram tambem a outra vertente da ineficiencia gestionária dos portugueses, o método do "já agora" : cortar tambem nos orçamentos dos hospitais, do transporte de doentes (primeiro aumentam-se as necessidades de transporte centralizando os hospitais, e depois propõe-se a redução dos custos de transportes, e não querem que se diga que isto está a precisar de psiquiatras para analisar estes cérebros?).
Estranho não terem aparecido pessoas importantes a sugerir medidas de fundo na segurança interna, mas como não havia especialistas de segurança na troica/tríade, ninguem achou mal (dir-se-ia que para atrair turistas seria necessário inverter a tendencia de agravamento das condições de segurança, não era? onde teriam a cabeça os senhores da troica/tríade?).
E a troica/tríade sistematizou as sugestões, provavelmente admirando-se por que não tinham tão perclaras personagens aplicado já essas recomendações.
Seria possível os membros das delegações serem especialistas de tantas coisas?
Parece evidente que não; pelo menos aquelas ideias de privatizar "a tout prix" transportes e água só podem vir de quem não conhece os respetivos negócios, embora veja neles um campo fértil de receitas para grupos económicos que controlam o poder político da UE (na verdade, se a Goldman Sachs condiciona o governo dos USA - vidé Inside job, que não é um filme de Michael Moore -  por que cargas de água haveria de ser diferente na UE?).
Vejamos outro exemplo muito simples.
Manda a troica/triade reforçar os capitais dos bancos.
Sabendo-se da falta de liquidez e que o capital desses bancos já está disperso pelo estrangeiro, a desconfiança surge, de forma legítima. O programa proposto será o capital estrangeiro aumentar o seu peso na estrutura acionista dos principais bancos portugueses.

Se fôr assim, compreende-se então o anuncio do Millenium BCP incentivando o aumento do consumo premiando-o com milhas de desconto em viagens de avião. Os acionistas estrangeiros do banco estarão interessados em que os cidadãos portugueses vão lá deixar parte significativa do dinheiro que a UE, o BCE e o FMI emprestam tão generosamente. A privatização da TAP vem aliás ajudar a esta festa.

Se não fôr assim, isto é, se afinal a maioria do capital dos bancos permanece em Portugal, então, fazer publicidade a milhas ganhas para ir de avião gastar combustível pago com dinheiro português é um caso simples  de loucura, de ignorancia autista do desequilibrio entre importações e exportações, e que merece, consequentemente, o tratamento adequado por neurologistas e psiquiatras.
Choca-me não ouvir os sindicatos e as comissões de trabalhadores da aviação pronunciarem-se sobre isto, a não pressionarem as suas administrações a privilegiar as rotas que "canalizem" turistas estrangeiros para Portugal e que fazem a ligação aos destinos de emigração portuguesa.

Salvo melhor opinião, claro.

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