sexta-feira, 24 de junho de 2011

As galdérias e a metáfora

Nem de propósito, como se costuma dizer.
Estava eu à procura de uma metáfora, que eu gosto muito de metáforas, deve ter sido por causa do Pablo Neruda e dos conselhos que dava ao carteiro, por metáforas, por metáforas, se bem que com intenções mais interessantes do que esta minha agora, para aplicar ao pobre sistema financeiro internacional vítima das pequenas economias da periferia da UE (e a propósito, já repararam nesta fotografia em que um grupo de 3 energumenos gregos ataca de mãos nuas a policia, de que se vê um pontapeador, enquanto uma multidão de outros energumenos executa uma perigosa carga, fugindo da policia? ), quando se me depara esta metáfora
ideal, com a devida vénia ao DN.

A de que a marcha das galdérias ou das desvergonhadaxs (slut walk) é a manifestação contra a violencia sexual que chama a atenção para que a violencia é cometida pelo agressor (os herois do Lehman Bros, dos organismos que não vigiaram nem regularam, dos "académicos" sacerdotes dos mercados e da Goldman Sachs, os Paulsen, os Geitner e os Bernanke, que foram premiados com lugares no governo - ver o Inside Job) e não pelas vítimas (as tais economias fortissimas da periferia da UE que condicionam a economia do resto do mundo).
Também me podia ter lembrado da fábula do La Fontaine, a defender o direito à liberdade do lobo comer o cordeiro, por que senão não havia liberdade e os mercados livres eram uma fantasia, mas esta da slut walk é melhor.
Não, é mesmo não, tem de ser explicito, e sim é mesmo sim e tambem tem de ser explicito.
E devo dizer que assim tambem sabe melhor (refiro-me ao sim), como certamente concordarão a manifestante brasileira do cartaz "Sou minha"
 e as manifestantes da Slut walk portuguesa
Manifesto da Slut walk de Lisboa:

Se ponho um decote...não é não!
Se pus aquelas calças de que tanto gostas... não é não!
Se uso burka... não é não!
Se durmo com quem me apetece...não é não!
Se sou virgem...não é não!
Se passo naquela rua...não é não!
Se vamos para os copos...não é não!
Se me sinto vulnerável ...não é não!
Se sou deficiente ...não é não!
Se saio com axs maiores galdériaxs ...não é não!
Se ontem dormi contigo ...não é não!
Se sou trabalhadora sexual ...não é não!
Se és meu chefe ...não é não!
Se somos casadexs, companheirexs, namoradexs ...não é não!
Se sou tua paciente ...não é não!
Se sou tua parente ...não é não!
Se sou imigrante ilegal ...não é não!
Se tenho relações poliamorosas ...não é não!
Se sou empregada de hotel ...não é não!
Se tens dúvidas de que aquilo foi um sim ...não é não!
Se és padre, irmã, rabi ou poojary ...não é não!
Se beijo outra mulher no meio da rua ...não é não!
Se sou brasileira, cabo-verdiana,angolana ou de outro país que sofreu colonização ...não é não!
Se tenho mamas e pila ...não é não!
Se disse sim e já não me apetece ...não é não!
Se sou empregada doméstica ...não é não!
Se adoro ver pornografia ou ler artigos de revista ousada ...não é não!
Se ando à boleia ...não é não!
Se comprei um pacote com desconto para um gabinete de  massagens, não é não!
Se estamexs numa festa swing, numa sex-party ou numa cena BDSM ...não é não!
Se já abrimos o preservativo ...não é não!
NÃO é sempre NÃO.
Quando é SIM, não há ambiguidades ou dúvidas, porque sabemos o que queremos e sabemos ser claras.

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