quarta-feira, 1 de junho de 2011

As outras mortes de Albufeira

Discordo de Rainer Maria Rilke, quando diz que nos momentos supremos uma pessoa está só.
Quando se  morre nem sempre se está só, como este cidadão inglês assassinado a pontapé perto do seu hotel em Montechoro, Albufeira.
Este ano já houve várias mortes violentas de cidadãos estrangeiros no Algarve.
No ano passado também, a que se juntaram vários assaltos a moradias, com os cidadãos no seu interior.
Num país precisando desesperadamente de desenvolver o seu setor transacionável, de que o dinheiro trazido por estrangeiros é parte importante, isto é matar uma galinha de ovos de ouro.
É por isso que a morte do turista inglês não foi solitária.
Nós todos morremos também um pouco com ele.
E deixamos matar a galinha de ovos de ouro a troco de quê?
A troco de economias na "racionalização" das forças policiais.
Mas não apenas por isso.
Este blogue não põe a tónica na repressão, embora desgraçadamente ela agora seja necessária.
Aumentar a presença da policia e da GNR apenas provoca um decréscimo temporário da criminalidade.
Este blogue partilha a opinião de economistas e sociólogos que estabelecem fortes correlações entre o desemprego e a criminalidade, entre o abandono escolar e a criminalidade.
Não se queiram acusar os imigrantes, porque no Algarve há muitos imigrantes que não são criminosos.
Mas se o desemprego se estende aos imigrantes, eles também estarão sujeitos ao convite à criminalidade.
Eu gostaria muito que os senhores economistas compreendessem que quando fecham empresas porque deixaram de ser competitivas,  a correlação daí decorrente vai aumentar a criminalidade e  diminuir as exportações correspondentes ao turismo quando este se retrai com receio dos assaltos no Algarve.
Mas, infelizmente, este blogue não tem esperanças de que os senhores economistas o compreendam.
Para eles é mais barato contratar polícias de intervenção do que procurar financiamento para os investimentos mínimos de que falava Rui Vilar, indispensáveis para combater o desemprego.
Para eles, é um dogma a cumprir, até à falência total, a manutenção dos preços e das taxas de juro baixas (a maneira mais cómoda de manter os preços baixos é manter uma taxa de desemprego elevada).
Seria bom que ficasse bem claro que quem contribui para o aumento da criminalidade é seu cúmplice.
Trata-se dum problema técnico, não político, independente dos resultados eleitorais.

PS - 
1 - Enquanto as entidades com direito a reporte na comunicação social insistem em reforçar as forças policiais esquecendo o tratamento das causas e circunstancias, leio a notícia de que, em pleno dia, numa esplanada junto da Gulbenkian,em Lisboa, dois cidadãos alvejaram a tiro outro cidadão. Ignoram-se as causas e as circunstancias, temendo-se que sejam varridas para debaixo do tapete. Seria interessante saber se para o facto contribuiram o insucesso escolar, o desemprego, o insucesso da integração de imigrantes ou a economia subterranea de comercialização de armas. 
2 - continua a ser preocupante a reação do MAI: perante as preocupações dos cidadãos, cita as estatísticas  da criminalidade registada de 2010, que reduziu 1,3% relativamente à de 2009 (nenhum processo pode melhorar se colocar as estatísticas à frente da resolução das causas e circunstancias reis);
3 - será verdade, como vem noticiado, que por razões de cortes orçamentais, grande parte dos agentes policiais está nos quarteis a realizar tarefas de eletricista, pedreiro, canalizador, em lugar de fazer patrulhas?

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