De repente, enquanto conduzo, ocorre-me um argumento inatacável.
É irrespondível e convence qualquer pessoa.
Porque demonstra, na aceção científica do termo, e fá-lo por partes, como o mestre de Platão gostava de fazer com as pessoas simples, como devem as pessoas votar nas eleições do dia 5 de Junho.
Revejo mentalmente os passos da demonstração e lá está, é mesmo inatacável, não tem falhas.
O argumento é independente de qualquer opção ideológica ou de grupo e, portanto, vai certamente convencer as pessoas.
É a solução que vai contribuir para resolver os problemas do país.
É só chegar a casa, escrevê-lo calmamente, enviá-lo aos comunicadores da nossa praça e disseminá-lo pela internet.
Mas surge um problema.
Sento-me ao computador e não consigo lembrar-me do argumento.
Não me ocorre nenhum dos passos que tantas certezas me deram ainda há pouco.
Nem nenhuma série de perguntas e respostas que o mestre de Platão teria feito a propósito, do género vota de qualquer maneira, se votares bem ficarás bem com a tua consciencia, se votares mal terás um motivo para filosofar.
É como se se fechassem as portas para o futuro.
Com este problema de memória sinto-me com a insegurança do último dos mohicanos, sempre com receio que da capital venha a ordem da carga da brigada ligeira.
Ou aflito com a angustiante ameaça de extinção do esforço de todo um povo, como a ameaça de extinção do esturjão e do seu caviar.
Sem forças como os pequenos insetos altruistas sem expressão.
Que ousadia e imprudencia a minha, por momentos ter pensado que um problema matematicamente indeterminado tinha solução, e que podia decidir pelas pessoas o que elas devem ou não devem fazer.
Nota: Escrito no dia da divulgação da ultima sondagem antes das eleições do dia 5 de junho - PSD36%; PS31%;CDS11%;CDU8%;BE7%;peq.partidos3%. Esta ordenação determinou a dos 7º a 2º últimos parágrafos. As sondagens, graças à estatística e aos métodos da sociologia e psicologia, tornaram-se uma disciplina científica. Vamos ver se esta respeitou o método científico.
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