terça-feira, 7 de junho de 2011

Resultados das eleições de 5 de Junho de 2011

No seguimento do post de dia 2 de junho,
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2011/06/o-argumento-inatacavel-para-as-proximas.html
verifico que o trabalho das sondagens foi bem desenvolvido.
Talvez se deva trabalhar melhor a amostragem dos indecisos, mas o afastamento não foi significativo.
Atingimos assim a situação de, em domínios de amostragem bem escolhidos, os sondadores saberem com antecedencia em quem vão votar os eleitores que ainda não decidiram o seu voto.
Por outras palavras, apesar da racionalidade e da especificidade do cérebro humano, há movimentos análogos aos movimentos estatísticos moleculares de que não podemos, nem devemos libertar-nos.

Fez ainda este blogue umas pequenas contas, que não viu feitas nos meios de comunicação social, aliás poucos, que consultou, e que têm a pretensão de avaliar o grau de representatividade das formações políticas.
Sublinho grau de representatividade, que julgo que podemos discutir.
Já a legitimidade não estará em discussão, a menos que se invente melhor sistema do que a democracia, parafraseando Churchill.
Infelizmente pensadores políticos com influencia na forma de pensar da população e poder de decisão, não parecem exprimir publicamente grandes preocupações com o crescimento da abstenção.
No entanto, a hipótese de haver mais abstencionistas do que votantes é de uma gravidade extrema.
Por isso, menosprezar a abstenção e adiantar desculpas (embora seja uma hipótese admissível que 10% dos inscritos já faleceu) é um mau serviço à democracia, do tipo enfiar a cabeça na areia.
Porque abstenção significa principalmente marginalização e marginalização significa que a quem vive de forma desestruturada, como se costuma dizer, sem emprego, com expedientes de venda de droga ou assalto a multibancos, que desistiu de estudar, não interessa votar.
Por outro lado, afirmar que quem se absteve não tem o direito de criticar as soluções governativas que vierem a ser tomadas é um exemplo da gravidade com que inconscientemente se está a tratar o problema da abstenção.
É discutível, mas defensável após debate democrático, limitar  temporariamente o exercício de alguns direitos políticos como penalização por não votar, como fazem os nossos irmãos brasileiros, mas coartar o direito de expressão consignado na constituição e na declaração universal dos direitos humanos não é legítimo, nem para um presidente de república.
Se as pessoas não participam, vamos analisar porquê e estudar medidas corretivas.
Marginalização significa afastamento das pessoas das tomadas de decisão.
E tomadas de decisão por poucas pessoas são normalmente fonte de mal estar.

Vamos então aos números:

Quadro 1 -  considerando a totalidade dos inscritos como 100%


Tem-se assim, se considerarmos a totalidade dos inscritos como 100%, que o partido mais votado teve uma percentagem de 22,75%, significativamente inferior aos 38,63% da contagem oficial, e que, se a abstenção fosse um partido e se fosse possivel encarregar os seus representantes de formar governo, teria ganho.
Como não é possível, podemos experimentar tirar-lhe importancia admitindo que 10% dos inscritos já faleceram e foram deixados nos registos, e que 5% estavam impossibilitados fisica ou mentalmente de exprimir a sua opção.
Teriamos o quadro 2, com uma abstenção já não de 41,10%, mas "apenas" de 26,10%, o que colocaria o partido mais votado em primeiro lugar, com 28,55%.

Quadro 2 - considerando 85% dos inscritos como a totalidade dos eleitores com capacidade de votar


De notar que atendendo à situação do país, à elevada abstenção e à necessidade que os portugueses têm de aprender a trabalhar em equipa conforme sistematizado no livro A Sabedoria das Multidões, seria desejável que o apoio parlamentar do governo fosse superior a 50%, para o que seriam necessários pelo menos 4 partidos, de acordo com as contas do quadro 1, ou apenas 3, conforme o quadro 2.

Infelizmente, não há suporte legal para descontar 15% de eleitores inscritos.
Logo, parece-me legítimo concluir que a solução governativa a escolher, se não incluir pelo menos 4 partidos, não o será em meu nome (lema da campanha belga que defende a criação de um governo de ampla coligação por oposição à opção pela desagregação da Bélgica).
Pelo que terei pena.

PS - Informações posteriores da comissão de eleições dão conta de que os cadernos eleitorais não merecerão tanta desconfiança assim, uma vez que o universo dos portugueses é de cerca de 10 milhões no território nacional e mais 5 milhões no estrangeiro. 
Mesmo admitindo uma percentagem significativa de registos correspondentes a eleitores falecidos, será preferível considerar como válido o quadro 1 anterior. 
Pena que a abstenção seja tão elevada, nomeadamente entre os emigrantes.

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