Podiamos começar por aqui.
Fazer as contas a todas as nossas dívidas para um juro de 1%.
Fazer como na Idade Média, quando o papa fixava o valor limite do juro aos Sforza, aos Medici, aos Templários.
Mas parece que não, que os economistas que nos governam acham pouco, 1%.
E então acham, os credores privados da dívida grega, que pelo menos 4,5% a 30 anos era uma boa solução para perdoarem 100 mil milhões de euros de dívida.
Vêm os credores públicos e dizem que o melhor é baixar a taxa para 3,5%.
Vou recordar aqui, para quem não viu o filme Inside Job, as intervenções da senhora nas entrevistas do filme, cujo objetivo é o de explicar como a crise de setembro de 2008 aconteceu:
"Preocupa-me haver muita gente que quer voltar ao antigamente, ao modo de operar de antes da crise".
Perguntada se como ministra das finanças de França não tinha previsto a crise, respondeu que em fevereiro de 2008 tinha perguntado a Hank Paulsen, dirigente da Goldman Sachs e secretário de estado do tesouro de Bush, se estava a tomar medidas para resistir ao tsunami que se aproximava, e que este lhe respondeu que estava tudo sob controle (o que era mentira).
Perguntada se tinha tido conhecimento de que o Lehman Bros , o Fanni Mae e a AIG iam falir e qual a reação que teve, respondeu que só teve conhecimento depois do facto consumado e que a sua reação foi "holly cow" (expressão idiomática, traduzível por fogo, poças, c'o caraças, ou macacos me mordam).
Portanto, parece tratar-se de uma senhora lúcida e honesta, mas a quem falta algum poder para dar umas boas bofetadas nos dirigentes económicos e impor-lhes soluções. De modo que vai dizendo umas coisas, a ver se os convence, mas sem lhes dizer que são uns ignorantes, mesmo do ponto de vista de Adam Smith, de que se confessa seguidora. Aliás, contrariamente à opinião mais vulgarizada, Adam Smith punha em primeiro lugar o interesse social e só depois o interesse egoista.
Nesta fotografia, retirada da noticia do DN sobre o encontro de Davos, a senhora diz uma coisa óbvia: que os grandes economistas do BCE ainda não devem ter entendido,que o FMI (e o BCE) precisam de fundos para estabilizar as dívidas dos países.
Numa altura em que tanto se dicute e em que são apresentadas soluções em cimeiras de chefes de governo, talvez seja altura de insistir:
- no aspeto técnico-financeiro, que o BCE deveria assumir o papel de um banco central liberto da obrigação de só emprestar aos bancos privados, de modo a que os estados pudessem financiar-se a taxas baixas;
- no aspeto político, que o parlamento europeu e os seus eurodeputados, eleitos pelos eleitores europeus, assumam o seu papel decisório (desde sempre o órgão soberano numa coletividade é a assembleia de sócios, nunca a sua direção) em substituição das cimeiras de chefes de governo, como claramente se exprimiu o presidente do parlamento, Martin Schulz.
Mas duvido que os principais governos da Europa, ideologicamente agarrados aos ideais neo liberais e à ideia de supremacia económica, aceitem esse programa.
Talvez por isso a senhora Christine Lagarde ande por aí a falar por rodeios.
Assunto a seguir.
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