No caso do Costa Concordia | vantagens | Inconvenientes | obs |
Casco comprido e estreito | Permite velocidades elevadas | Menor resistência ao rolamento (balanço transversal, adornamento) | O rolamento é provocado pelo binário resultante do centro de gravidade estar acima do centro de impulsão ou metacentro;Compensação por estabilizadores variáveis; compensação por giroscópio? A solução clássica contra o binário de rolamento são os robaletes ou quilhas laterais próximas da linha de flutuação (solução aplicada no Atlântida, com o inconveniente de aumentar a resistência ao deslocamento e diminuir a velocidade) |
Pequeno calado | Permite velocidades elevadas por menor resistência ao desslocamento; permite acesso a portos antigos e assoreados | Menor resistência ao rolamento (balanço transversal, adornamento) | |
Pequeno lastro | Idem | Idem | A existência de lastro junto da quilha baixa o centro de gravidade aproximando-o do metacentro , reduzindo o binário desetabilizador |
Casco simples | Idem | Sensível a abalroamentos, com paralização das máquinas (gerador elétrico que alimenta as manobras) se entrada de água | |
Ausência de casco duplo e de compartimentos estanques no sentido longitudinal e no sentido transversal | | Qualquer abertura no casco conduzirá à diminuição da impulsão, ao adornamento (aumenta a distancia entre o centro de gravidade e o metacentro) e ao afundamento | A compartimentação longitudinal e transversal permitiria manter a flutuação, embora com alguma inclinação, após rotura de uma parte do casco |
Construção acima da água exagerada | Permite lotações elevadas | Sensibilidade a ventos laterais e danificação de cais quando amarrado | |
Baleeiras de salvamento de modelo obsoleto | economia | Impossibilidade de baixar as baleeiras com o navio inclinado; impossibilidade de evacuação rápida | |
Inexistência de hélices azimutais | economia | Maior dificuldade de manobras com o navio degradado | As hélices azimutais, rodando +90º a -90º permitem realizar manobras de forma mais segura e em menos espaço |
Provável não sinalização das rochas | economia | Riscos de navegação | Os regulamentos internacionais prevêem a sinalização de rochas submersas na superfície das águas e o alarme de proximidade da costa ou por semáforos ou por rádio-farois; embora os equipamentos de localização por GPS já sejam precisos, não são considerados de segurança por estarem sujeitos a condicionalismos políticos |
Penso que, para além do dramatismo associado à morte de passageiros e tripulantes e ao sofrimento causado, tem faltado nos meios de comunicação social o aspeto técnico.
É uma pecha do jornalismo.
Aconteceu com os acidentes do Concorde e do voo AF447.
Fala-se muito, o tempo passa e dados técnicos ficam por explicar ao público (por exemplo, no caso do Concorde faltava uma peça no trem de aterragem que desviou o avião do caminho normal de descolagem e destruiu o pneu que fuou o depósito de gasolina - erro de projeto posteriormente corrigido no Concorde; no caso do AF447 procedeu-se posteriormente a substituição de todas as sondas Pitou defeituosas, mas continua nos Airbus a prevalecer o automatismo sobre os pilotos - no caso do acidente os pilotos não tinham experiencia suficiente para lidar com as avarias ou fucionamento deficiente das sondas e do automatismo).
No caso do Costa Concordia, para alem do comportamento incorreto do capitão (na marinharia chama-se dar resguardo a manter uma distancia de segurança relativamente ao obstáculo, para dar conta, por exemplo, duma rocha não assinalada), julgo de notar:
- a exploração de cruzeiros só é rentável e só consegue os preços baixos que se praticam com navios rápidos, de grande capacidade e de pequeno calado. Para serem rápidos têm de ser compridos, estreitos e sem "robaletes" (quilhas laterais que reduzem o balanço transversal ou rolamento ou tendencia para adornar; os estabilizadores (pequenas "asas" submersas) provavelmente necessitam de energia para aumentarem a sua extensão e terá faltado após o acidente; provavelmente idem para eventuais giroscópios.
- Com pequeno calado, a tendencia para estes barcos se virarem é muito grande porque o centro de gravidade é muito elevado e o metacentro ou centro de impulsão pode estar mais abaixo
- provavelmente, para diminuir o peso do navio, o casco não estará dividido em compartimentos estanques tanto longitudinal como transversalmente
- provavelmente o Costa Concordia bateu primeiro, a sul do porto, numa rocha que abriu um rasgão de menos de 50 m (1/6 do comprimento total) com entrada de água a provocar avaria no gerador que alimenta os comandos, e nos estabilizadores e giroscópios (se os tinha); navegou ainda mais mil metros, provavelmente com a intenção do capitão de entrar no pequeno porto, mas a volta terá sido de 360º e adornou para estibordo (direita) até tombar nos rochedos
Penso que é inadmissível que, com um rasgão daquele comprimento, em águas tranquilas, um navio daqueles não ter meios para manter a flutuação. Não tem nada de "fail-safe".
Para mim, é erro de projeto, embora esta classe de navios seja mesmo assim para rentabilizar a exploração .
Calados maiores, robaletes (foi exatamente por se ter acrescentado robaletes para garantir a estabilidade ao Atlantida que ele depois não cumpriu os valores da velocidade), construção acima da linha de água mais baixa, divisórias reforçadas para compartimentos estanques no casco, tudo isso iria aumentar o peso do navio e reduzir a velocidade, ou reduzir a capacidade de transporte de passageiros.
Os preços baixos são tentadores (é mais barato viver num navio de cruzeiros do que num hotel de 4 estrelas) mas as condições de projeto destes navios são precárias, e ainda no último verão houve dois casos de avarias graves no mar alto por provavel economia de manutenção.
Tem havido ainda acidentes com navios desta classe, alguns mortais, devido à sensibilidade ao vento (em caso de tempestade são sistematicamente arremessados contra os cais e danificam-nos). Em 2007 deu-se o afundamento de um navio de cruzeiros junto da ilha de Santorini.
A excessiva concentração de pessoas a bordo torna impossível uma evacuação rápida, agravada no caso do Costa Concórdia pelo modelo obsoleto das baleeiras.
Por tudo isto, o capitão e o imediato não são os únicos culpados, e mais uma vez se verifica que a compressão dos custos e o aumento da taxa de rentabilidade passam por cima de questões básicas de segurança.
Enfim, faz-me lembrar o caso dos super petroleiros, que são agora obrigados a ter casco duplo, depois de várias catástrofes ambientais.
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