terça-feira, 16 de outubro de 2012

Quem, eles?

No período final do fascismo de Salazar morria gente por causa da cegueira do primeiro ministro.
Pintores em Alcântara ou generais na fronteira alentejana.
Jovens na guerra, portugueses e dos países ocupados.
Mas nunca faltou o humor político no teatro de revista e nas conversas, até por causa disso mesmo.
Vamos continuar a usar o humor no atual momento de crise.

O padre de uma aldeia próxima da fronteira com Espanha, na Beira Alta, na região  que no tratado de Alcanices optou pela integração em Portugal, vituperava sistematicamente, nas suas homilias, os espanhóis.
Que eram eles os culpados de tudo o que de  mal acontecia na região e em Portugal.
E para o provar, chegava ao ponto de afirmar que os espanhóis tinham estado na origem do sacrifício de Jesus Cristo.
A coisa tomou tais proporções que chegaram queixas ao bispo, nomeadamente de colegas padres espanhóis que não viam com bons olhos tanta animosidade.
Já bastava o provérbio que de Espanha nem bom vento nem bom casamento.
O padre foi chamado ao bispo e teve de lhe prometer que deixava de culpar os espanhóis pelos  malefícios da vida.
Mas estava-se na Páscoa, e o padre , na sua homilia, descreveu a ultima ceia e o sofrimento pungente de Cristo ao aproximar-se a hora da morte.
“Um de vós irá trair-me”, e poisou os olhos sobre Pedro.
Pedro, com os seus modos bruscos, interrogou-se “Quem, eu?”
O olhar de Cristo demorou-se então em João, que com voz doce também se interrogou “Quem, eu?”
E deteve-se finalmente em Judas.
E também este se interrogou, pretextando surpresa:
 “Quien, yo?”.  

Lembrei-me desta anedota ao ler a notícia da senhora diretora do FMI, a lembrar que as medidas de austeridade são tomadas pelos governos, não pelo FMI, e do senhor presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que são os governos que tomam as medidas, não a união europeia.

Quem? Eles?




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