“Infelizmente, alguns estudantes de Macroeconomia sentem-se tão confiantes em relação àquilo que aprenderam que se recusam a ver quaisquer desvios, preferindo acreditar que as relações económicas definidas nos seus manuais são regras invioláveis. Este tipo de arrogância (ou estreiteza de pensamento) torna-se um verdadeiro perigo para a sociedade quando afeta os responsáveis pela macroeconomia. O responsável pela politica que acredita que sabe exatamente como a economia irá responder a um estímulo específico é na verdade um responsável político muito perigoso.”
Questionado sobre o falhanço da quebra de receitas do IVA, do ISP e do IRC e do aumento da despesa pública apesar da diminuição dos gastos de pessoal e do investimento (foi o serviço da divida que cresceu), o senhor ministro Vítor Gaspar teve a honestidade de se assumir como único responsável (não é verdade, mas se fosse, seria uma prova de que assunto tão complexo não pode depender de uma pessoa só, por mais iluminada que seja) e, de forma superior e pouco urbana como já é seu timbre, afirmar o “enorme desvio entre o que os portugueses acham que devem ser as funções sociais do Estado e os impostos que estão dispostos a pagar”.
Há uns anos , houve um senhor ministro que disse: “Quem quer saúde, paga-a”. Não parece pois ter havido grandes progressos.
Insistiu ainda que a queda do PIB em 2013 será de 1%, e que o multiplicador do impacto da austeridade sobre a queda do PIB não estava compreendido entre 0,9 e 1,7, mas é apenas de 0,8.
Quanto ao dia do regresso aos mercados, anteriormente anunciado para 21 de Setembro de 2013, nada disse.
Não é o facto das medidas serem duras que choca.
É a falta de humildade de quem se acha detentor das soluções únicas, de quem reconhece acriticamente o erro e insiste nele, é a ausência de disponibilidade para aceitar outra forma de pensar e agir , é recusar a renegociação dos juros, da disponibilização do BCE para empréstimos diretos, da regulação fiscal na Europa.
É deixar sem resposta as perguntas concretas, enquanto, provavelmente, vai estudando soluções, como reconheceu quanto aos limites do défice, em negociação com a troika desde julho:
1 – é verdade que estão 7.500 milhões de euros, que sobraram da recapitalização dos bancos, “aparcados” sem objetivo à vista (que não seja uma reserva para tapar erros de estimativa)?
2 – é verdade que não quer recomprar divida portuguesa no mercado secundário, agora que os juros estão mais favoráveis?
3 – é verdade que não sente premência em ampliar as verbas do QREN que tanto jeito davam ao seu colega da Economia? (ou está a contar com elas para limitar a recessão do PIB a 1% em 2013?)
Como diz o professor de Harvard, é perigoso.
PS - Mais um erro meu, confirmando que não é só o senhor ministro que se engana. A data marcada para o "regresso aos mercados" era 23 de setembro, e não 21, que, este, será um sábado. Também o senhor ministro dise alguma coisa, contrariamente ao que escrevi. Disse que não faz sentido estar a marcar datas. Nalguma coisa haviamos de estar de acordo, especialmente depois daquele anuncio descabido que "já voltámos aos mercados", felicitando a senhora secretária de estado por ter transferido as obrigações de setembro de 2013 para 2015, graças à generosidade dos credores nacionais, não internacionais. Perigoso, dar poder a um senhor assim.
PS - Mais um erro meu, confirmando que não é só o senhor ministro que se engana. A data marcada para o "regresso aos mercados" era 23 de setembro, e não 21, que, este, será um sábado. Também o senhor ministro dise alguma coisa, contrariamente ao que escrevi. Disse que não faz sentido estar a marcar datas. Nalguma coisa haviamos de estar de acordo, especialmente depois daquele anuncio descabido que "já voltámos aos mercados", felicitando a senhora secretária de estado por ter transferido as obrigações de setembro de 2013 para 2015, graças à generosidade dos credores nacionais, não internacionais. Perigoso, dar poder a um senhor assim.
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