terça-feira, 23 de outubro de 2012

Visão de efeito de túnel

À medida que a velocidade de um automóvel aumenta, acima de um certo valor, o angulo de visão do condutor vai-se fechando.
Isto é, a atenção visual do condutor vai ficando limitada a uma espécie de túnel, ou tubo, que o impede de ver atempadamente a aproximação de um eventual obstáculo na perpendicular do movimento.
O cérebro humano é assim, e deviamos protegê-lo contra erros nessas circunstancias, já que andamos a velocidades elevadas.
É o efeito de túnel e a visão de túnel ou tubular.
Sob pressão de fatores externos de perigo, o cérebro humano elimina o que lhe parece ser menos importante e concentra-se nas poucas questões que pode processar.
Só que essa exclusão do que parece ser menos importante pode ser por si só um erro, e um erro fatal.
Isto a propósito da velha expressão que os economistas usam, "cetera paribus", ou "mantendo-se iguais todas as outras coisas".
Na verdade, as medidas de austeridade e o corte dos rendimentos seriam soluções redentoras se todas as outras variáveis se mantivessem, como seja a procura.
Infelizmente não é assim, a procura baixa.
E o aumento de impostos também seria uma solução, se todas as outras variáveis se mantivessem, como por exemplo os rendimentos ou o consumo.
Infelizmente, como diz a lei de Laffer, os rendimentos e o consumo baixam, e lá se vai o aumento da receita.
Isto para dizer que a fé cega nas medidas de austeridade, isoladamente, é um bom exemplo de visão de túnel ou visão tubular.
Tal como o é o regozijo da propaganda do regime do governo atual ao celebrar o saldo positivo da balança de pagamentos no 3º trimestre de 2012, coisa que é efetivamente de celebrar, mas sem perder a visão para fora do túnel.
Antes de mais, há que felicitar os trabalhadores e as empresas portuguesas que para isso contribuem, desde o setor metalomecanico, ao vestuário e calçado, à auto-Europa, às refinarias da GALP, e aos serviços exportados (que compensam o saldo negativo dos bens).
Como aspetos a merecer atenção, temos a exportação de ouro usado, a queda do poder de compra que induziu a diminuição das importações e as grandes dificuldades para aumentar a exportação de bens e serviços, principal meio para a redução da dívida que não para de crescer.
Isto é, não podemos concentrar-nos apenas num indicador.
Temos de ver o que se passa com a divida, por exemplo.
E não só a divida publica, tambem a privada.
Mas não há informação credivel.
Dai a insistencia na auditoria às dividas (ver o sitio da iniciativa auditoria cidadã:
 http://www.auditoriacidada.info/   ).
Até quando vamos ter de pagar aos bancos privados juros 5 vezes superiores ao juro a que eles se financiam junto do BCE?
E depois de terem sido timidamente implementadas nalguns paises, depois de anos de debate público, a taxa sobre transações bolsistas, quanto tempo teremos de esperar para ser aplicada a mesma medida que foi aplicada à Alemanha do pós-guerra: limitação do serviço da dívida a 5% dos rendimentos das exportações ?
Isto sem falar na proposta da renegociação honrada do memorando da troika, do ex-ministro Miguel Cadilhe (e depois os serviços de propaganda tubular do regime do governo dizem que não há propostas alternativas...)

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