quinta-feira, 27 de junho de 2013

Os malefícios do tabaco e a lei da física, o governo dos nibelungos paralisado perante o que há a fazer (e há tanto, como é que eles não vêem?) e o diagnóstico do livro de Pedro Adão e Silva "E agora?"

Os malefícios do tabaco e a lei da física
Tentemos analisar alguns dos maleficios do tabaco segundo as leis da física.
Segundo o diretor geral da Saúde, a diminuição do consumo do tabaco permitiria poupanças nos hospitais públicos.
Porém, e aqui entra a lei da conservação num sistema isolado, a diminuição das despesas públicas seria compensada pela diminuição da receita fiscal devida pelo consumo do tabaco.
Para complicar a coisa, e de acordo com a lei do aumento da entropia de um sistema entregue a ele próprio (os economistas talvez falem em auto-regulação do sistema) a redução do consumo do tabaco levaria a uma taxa de mortalidade menor e consequentemente, ao aumento da longevidade, com o aumento das despesas com a segurança social.
Nesta perspetiva, para os contabilistas do ministerio das finanças o ideal seria um grande consumo de tabaco para contribuir para  a receita fiscal e, através do aumento da mortalidade,  levar à redução da despesa pública, compensando os encargos com o tratamento com o encurtamento da vida do doente.
Sendo o assunto tétrico, parece evidente que o critério de prioridade deverá ser o do bem estar da sociedade, gastando-se em despesa pública na educação e na publicidade (ou obrigando por normalização as entidades privadas que exercem a educação e a publicidade) o que for preciso para informar a população de que "fumar mata", compensando-se o prazer da dopamina estimulada pela nicotina com o encurtamento da vida do fumador.
O governo dos nibelungos paralisado perante o que há para fazer
Pode-se transpor isto para, por exemplo, "a austeridade mata", contrariando assim o prazer que o governo dos nibelungos tem em de forma masoquista insistir em que a austeridade estimula o prazer da consolidação orçamental (o primeiro momento da última construção da realidade virtual do primeiro ministro nibelungo) a que se segue o estado de síndroma de abstinencia, de ansiedade por falta do estímulo (o segundo momento do mesmo delírio, a que o primeiro ministro nibelungo chamou da reforma estrutural, pese embora primeiro ter definido que ia cortar 4,7 mil milhões de euros de despesa pública sem saber onde), terminando tudo, agora, na hora do investimento para repor os níveis de dopamina (como repete o ministro das finanças dos mais nibelungo que o país teve, que o momento é de investimento, que agora que não chove, que ele descobriu que "prejedica" o investimento, volta a ser a hora do investimento; pese embora o valor exagerado do défice, 10% no primeiro trimestre, quando o objetivo anual passou de 4,5 para 5,5%, o crescimento da dívida pública, o aumento das taxas de juro).
O governo, pela voz do seu primeiro ministro, insiste na ideia peregrina de que a austeridade é expansionista, apesar da demonstração dos erros do excel de Rheinart e Rogoff  (nunca contrariada com cálculos, a demonstração dos erros, pelos próprios nem pelo ministro nibelungo das finanças, que com ar vitimizado se queixou que os blogues andavam a dizer mal duma crença dele) e da evidencia do alheamento da realidade dos rapazes de Bocconi, Alesina e Ardagna (que fizeram poutro Excel concluindo que a austeridade do corte das despesas públicas provocava aumento da confiança dos privados e esta, tal como a euforia da dopamina devida à nicotina,  levava ao aumento do investimento privado (esta é outra crença cega dos haieckistas, que a diminuição do investimento público "dá espaço" ao investimento privado sem necessidade de planeamento integrado e transversal).
E contudo, nenhum governante nibelungo parece ter conhecimento em que área deve investir-se para retomar o crescimento.
Nem que a solução de maior disponibilidade para o investimento público, os fundos QREN/Horizonte 2020, têm um grande inconveniente: exigem um programa e um projeto bem elaborado para cada empreendimento, e os governantes nibelungos não sabem, não aprenderam a fazer projetos deempreendimentos, só ccronogramas financeiros, mas até nisso ignoram a relação entre um pagamento e as condições técnicas (técnicas do ponto de vista de engenharia) que justificam o pagamento.
Provavelmente porque são economistas de aviário, formados em faculdades seguidoras de Haieck, que depois confirmaram as suas crenças em gabinetes de bancos centrais ou não, reforçando a sua fé por interação com outros economistas de aviário, portugueses ou europeus, sem experiencia de vida em empresas, sem nunca terem feito ou pegado num cronograma de execução de um empreendimento, de obra real,  que não fosse o cronograma financeiro teórico de empréstimos.
Esta ignorancia é muito grave porque inviabiliza o aproveitamento dos fundos europeus do QREN/Horizonte 2020 para investimento com benefícios (não admira, quando o passado do primeiro ministro nibelungo incluiu empresa de formação insinuando-se em câmaras municipais para, com fundos QREN, dar formação  a arquitetos ou, mais prosaicamente, a operadores de aeródromos municipais contra a ameaça de ataque terrorista).
E há tanto para fazer, como é que eles não vêem?
Assim se compreende o alheamento do governo dos nibelungos em resolver o problema dos estaleiros de Viana do Castelo, apesar das diretivas europeias admitirem, como era o caso dos patrulhões, a intervenção de fundos públicos em questões de defesa nacional.
Ou a submissão ao ditado das empresas de energia contendo o investimento nas renováveis (o excesso de produção pode ser exportado para a Europa, embora isso exija investimento em linhas de transmissão; a energia renovável pode ser utilizada na produção de combustíveis para aquecimento e para o setor do transporte, requerendo evidentemente investimento ).
Ou a incapacidade de compreender os benefícios de uma central solar de sais fundidos.
Ou os benefícios de incluir na obra do porto de contentores da Trafaria o fecho da Golada (para conter a perda de areia da Caparica).
Ou a incompreensão dos benefícios do transporte de passageiros em alta velocidade para Madrid, sem prejuízo das mercadorias de Sines, e que isso tem de ser feito compreendendo , o que os nibelungos não têm conseguido, todas, mas todas as questões técnicas dos percursos do lado espanhol (viram algum nibelungo apoiar a travessia dos Pirineus por Huesca? a médio prazo, claro, mas os planos fazem-se a médio prazo tambem, quando a curto nem sequer se sabe que projetos se estão fazendo do lado português - o segredo é a morte do negócio).
Ou a importancia que tem concentrar investimento público (com fundos QREN/Horizonte 2020) no programas de reabilitação urbana (reabilitação urbana não é pintar fachadas, é emparcelar artigos de matriz em novas construções (recuperando alguns elementos da construção primitiva) de acordo com os requisitos de habitação moderna).
Ou a incapacidade de ver que o desemprego é grande na agricultura (vamos dizer assim: a senhora ministra da agricultura do governo nibelungo gostaria de, por uma manifestação de fé, que fosse verdade que o desemprego na agricultura era baixo, mas a informação que retiro de um estudo de Pedro Lourtie é de que é  na agricultura, silvicultura e pescas que é maior a percentagem de desempregados entre os diplomados de um dado ano letivo). Precisamente num setor em que a qualificação é essencial para o sucesso dos investimentos em aquacultura (consumo anual de peixe: 600 mil toneladas das quais 300 mil são de aquacultura, a maior parte importada; o que vale por dizer que é num dos setores em que mais importante era investir em "know how" que se está paralisado)
Ou a necessidade de prescindir da alguma receita fiscal para promover a transferencia do transporte individual para o transporte coletivo nas áreas metropolitanas, reduzindo com isso o desperdicio em combustiveis fósseis dado que a eficiencia energética do transporte coletivo é superior?
Não, os governantes nibelungos não compreendem isso, como demonstrou o secretário de estado Paulo Nuncio em entrevista com José Gomes Ferreira: "só o investimento privado pode fazer crescer o PIB", recitando a frase com o mesmo ar com que recitaria o Pai Nosso, sem admitir contraditório, nem sequer o risco das mais valias dos investimentos privados irem parar aos offshores ou, na melhor das hipóteses, à Holanda ou à Suiça.
E contudo, o próprio correlegionário presidente da câmara do Porto, Rui Rio, já explicou que por cada euro que o Estado investe na reabilitação vem o investimento privado e investe até 10 euros (eu penso que era isso que Haieck tambem pensava, mas os haieckistas são mais haieckistas que Haieck).
E muito triste (confesso que penso compreender a tristeza) Rui Rio diz "Não compreendo o governo".
O diagnóstico do livro de Pedro Adão e Silva
Perante este triste panorama, é de citar o livro de Pedro Adão e Silva "E agora?"
Não o li, mas assisti com gosto à sua entrevista de apresentação do livro.
O diagnóstico está correto. Com estes partidos não se consegue.
Os partidos deviam abrir-se, como dizia António Coutinho, com os meios da internet isso agora é fácil. As assembleias de freguesia deviam ser orgãos de informação e consulta obrigatória pelo governo central para recolha e sondagem de opinião dos cidadãos.
As eleições internas dos partidos deveriam ser acessíveis a qualquer cidadão segundo a votação preferencial (ordenamento dos candidatos por ordem de preferencia; obviamente votação apenas num partido).
Os partidos têm de mudar, a alternancia não resolve. E porque tem o dirigente máximo do partido que ganhou as eleições de ser o primeiro ministro até ao fim da legislatura? (nas democracias anglo-saxónicas o primeiro ministro muda, como recentemente aconteceu na Austrália sem que o partido deixe de estar no poder).
Caímos nas casas negras do jogo da Glória, temos de recuar , e quando voltamos a avançar caimos outra vez. Não há esperança que uma alternancia departidos resolva isto nas próximas eleições. Estes partidos são círculos fechados, são pequenos meios dominados por pequenos tiranos. E os tiranos que agora compõem o governo são fanáticos radicais, fundamentalistas da austeridade mítica, quanto mais cortes mais depressa se começa crescer. Falta abertura e debate alargado para soluções técnicas com retorno. Não se pode sair deste ciclo nos tempos mais próximos, apesar de personalidades da mesma cor politica do governo dos nibelungos advogarem medidas contra o desemprego e a favor do crescimento. Nem sequer se pode sair do euro, ele próprio vítima dos tratados paralisantes (nem sequer se fabricam euros para estimular o investimento nos paises que precisam, não se reduzem os juros aos governos que precisam, não se transferem os excedentes para os défices, não se "autoriza" uma pequena inflação para haver mais dinheiro em circulação...).
Mas, como diz o livro, devemos ser otimistas.

1 - Informação sobre a "austeridade expansionista dos rapazes de Bocconi" retirada do artigo de Paul Krugman no Quociente de Inteligencia do DN de 22 de junho de 2013 citando os seguintes livros:
-"The alchemists: three central bankers and a world on fire" de Neil Irwin, ed. Penguin
-"Austerity: the history of a dangerous idea" de Mark Blyth, ed.Oxford University Press
-"The great deformation: the corruption of capitalism in America" de David Stockman, ed. Public Affairs

2 - Informação sobre o estudo de Pedro Lourtie sobre a empregabilidade dos cursos superiores com base no relatório do Gabinete de planeamento, estratégia, avaliação e relações internacionais do ministério da educação e ciência (GPEARI), retirado do suplemento Zoom do DN de 27 de junho de 2013.







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