domingo, 2 de junho de 2013

em fins de maio de 2013 em Portugal

Com uma clareza nortenha, a frase de Rui Rio explica muito: "É confrangedora a incapacidade do governo em compreender que o investimento de 5,5 milhões de euros da sociedade de reabilitação urbana do Porto iria gerar dez vezes mais de investimentos privados no quarteirão das Cardosas".
A argumentação baseia-se na experiencia  anterior.
A postura do governo baseia-se na sua ideologia imobilista. Possivelmente compreenderão, mas darão prioridade à perceção que têm da realidade, em detrimento da realidade.
Vê-se pela  maneira como falam: "o governo analisou a evolução da taxa de desemprego e não há nenhuma novidade, não pôde fazer um estimativa otimista" (como se a taxa de desemprego fosse uma coisa decidida em reunião de ministros); "a oposição expressa-se de forma doentia e patológica" (e contudo, a análise freudiana dirá que existe insegurança nessa acusação).
Entretanto, João Lourenço, do Teatro Aberto, faz o diagnóstico: o governo quer-se livrar de todos os agentes artísticos. É a ideologia dos governantes, deixar tudo para a iniciativa privada. Faz então o governo concursos de modo a afastar companhias de teatro como o Teatro Aberto. Curiosamente, João Lourenço recorda que na avaliação das Fundações, a Fundação Gulbenkian tambem ficou mal colocada, ela que parece meio ministério da cultura. E que lhe faz lembrar o governo de Vichy, com uma politica colaboracionista com a anti-cultura, com a agravante deste governo ter sido eleito.
O que faz pensar e recear que este governo possa vir a  ser validado por 45% dos eleitores, que tenham conseguido manter os seus rendimentos, limitando a sua solidariedade, com os 20% de pobres e os 20% que viram os seus rendimentos diminuidos perigosamente, à entrega de sacos de plástico com produtos para o banco alimentar.
Salvo melhor opinião, o caminho não será o confronto mais ou menos violento.
De acordo com os princípios da não violencia, o caminho será a argumentação e o debate fundamentado em dados e factos. Existem regras bem definidas para esses debates. Existem regras bem definidas para a organização do trabalho nas empresas (as quais, no caso das empresas públicas, excluem a nomeação dos seus dirigentes nos moldes atuais).
Donde ser muito importante que os técnicos deste país expressem os seus pareceres, especialmente quando deles resultar a inépcia dos senhores governantes, quer se trate da incapacidade de desbloqueio do tunel do Marão (será que os senhores governantes optaram mesmo pela solução de administração pela entidade pública?) ou dos Estaleiros de Viana (será que afinal já chegou a chapa para os asfalteiros venezuelanos? e o contrato com o certificador reanimou-se?) , quer se trate da incapacidade de compreender a necessidade de instalação de centrais solares de sais fundidos e ou da promoção de veículos rodoviários elétricos e da transferencia de passageiros.km do transporte individual para o transporte ferroviário (isto é, numa altura em que se discute tanto a utilização dos fundos europeus para infraestruturas, como podem os senhores governantes resolver o problema se não entendem os dados e  o enunciado do problema ou, pior ainda, se não querem prejudicar as empresas de importação de combustíveis fósseis?).
Não há excesso de debate na praça pública, há falta de debate, mas assente em dados concretos e em cálculos. E há um "encosto" típico de quem tem aversão ao debate aberto, como é o caso do projeto do terminal de contentores da Trafaria. Como se trata de um projeto para servir uma empresa de transportes de contentores, o projeto do porto fica-se pelas necessidades da empresa que ganhar a concessão, sem que se resolva o problema do fecho da Golada (impede a perda de areias na Caparica, reduz o risco de maremoto intrusivo no Tejo); por outro lado, permitiu-se à REFER retomar o seu conceito de desenvolver os novos traçados (neste caso a ligação ferroviária a Poceirão) em secretismo e apresentar os resultados como factos consumados (recordo as decisões sobre a TTT Beato-Barreiro em detrimento da solução Beato-Montijo, e a imposição da estação central do TGV na gare do Oriente, em colisão com a estação de metro existente).



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