E não é só o amor que é diferente, é a subserviencia aos neoliberais de Bruxelas e Frankfurt dos senhores governantes em Portugal enquanto em Espanha polidamente informam os benfeitores da troika que se quiserem mandar dinheiro para os bancos é o que quiserem mas memorandos não.
vista panorâmica do anfiteatro do parque da Bela Vista, com o palco à direita, o bar em frente e contentores para garrafas e copos por todo o lado |
trabalhos preparatórios do espetáculo; é verdade que felizmente dá trabalho a muita gente, mas qual é a componente transacionável? |
E outro exemplo tão interessante em como é diferente em Espanha:
- Custo do bilhete mais barato no parque da Bela Vista para assistir em Lisboa ao espetáculo de Bon Jovi em 26 de junho de 2013: 59 euros.
- custo do bilhete mais barato no estádio Vicente Calderon para assistir em Madrid ao mesmo espetáculo em 27 de junho de 2013: 15 euros.
Não vale a pena argumentar (apesar, ou talvez "et pour cause", porque "contra factos há sempre argumentos", como dizia aquele senhor novo governante de quem Batista Bastos diz que tem a voz em formação, coisa estranha num professor tão cotado, sabendo-se que os professores interessados em que a sua mensagem chegue aos alunos aprendem a colocar a voz, muitos deles com algum esforço, mas também é verdade que o tempo de trabalho dos professores não é só o tempo em que estão em cima do estrado) porque as pessoas não mudam os seus esquemas de raciocinio que consideram superiores à realidade, mas choca, e muito, ver como parte da sociedade portuguesa está imune à crise (cerca de 500 bilhetes vip vendidos a cerca de 300 euros) e nada se faz para reduzir o fosso entre ricos e pobres, para repartir com mais eficácia os sacrificios por todos, e canhestramente vai-se cortando nas despesas do funcionalismo público, que representa 10% da população ativa.
Graves dificuldades de interpretação da realidade, a mim me parece, quando se chega a este ponto.
Imagino a "organização" do espetáculo de Lisboa a explicar a Bon Jovi que não há problema, que há poder de compra para encher o recinto. E a de Madrid a dizer que há uma grande crise e o senhor a prescindir do seu "cachet" para ter o estádio cheio.
Enfim, faz tudo parte da encenação em que na peça atual figuramos como provincianos.
Já era assim no tempo do rei da pimenta; os fidalgos de Lisboa andavam vestidos de sedas caras, embora nada produzissem de transacionável.
Tambem no Brasil é diferente.
Perante manifestações de protesto a presidente anunciou:
- elaboração do plano nacional de mobilidade urbana (a senhora já percebeu uma coisa que o senhor secretário de estado em Portugal tem dificuldade: é que tem de se cortar no desperdicio do transporte individual com uma quota exagerada nas deslocações urbanas relativamente ao transporte coletivo, nomeadamente ferroviário; e que o direito à mobilidade é um direito constitucional);
- afetação prioritária dos recursos do petróleo à educação (não há petróleo explorável em Portugal, mas a eletricidade com origem renovável em Portugal pode ser exportada, embora isso não contribua para já para resolver o problema da educação em Portugal; é que segundo a OCDE, no relatório "Education at a glance 2013", o desafio em Portugal continua a ser "aumentar s baixas taxas de escolaridade"; como são polidos, apenas dizem que quanto menor for a escolarização, maior é o risco de desemprego; se fossem mais crus diriam que o estado da educação que temos, indesejável já no anterior governo e indesejável no atual, proporciona abandono escolar, desemprego, vandalismo e criminalidade ; mas como os senhores governantes acham que se deve deixar o mercado funcionar, assim continuamos)
- importar médicos para reforço do sistema unico de saúde (será que Portugal vai exportar médicos?)
- reuniões com representantes dos manifestantes (já imaginaram o senhor presidente português, o senhor primeiro ministro ou o senhor presidente do supremo tribunal a receber representantes de manifestantes e discutor com eles propostas e medidas concretas? já imaginaram? caíam os parentes na lama, não era? num país em que nem os ministros sabem as linhas com que se cose o tal guião da reforma do Estado, e muito menos que medidas concretas para o crescimento económico, pese embora as conferencias de imprensa mais ou menos surrealistas do senhor ministro Alvaro)
- "quero contribuir para ... uma profunda reforma política, que amplie a participação popular" declarou a senhora (idem, idem, idem, idem ... ... ... ... ... ... ...)
- "precisamos de oxigenar o nosso sistema politico, encontrar mecanismos que tornem as nossas instituições mais transparentes mais resistentes aos malfeitores e, acima de tudo, mais permeáveis à influencia da sociedade", declarou também a senhora (idem, idem, idem, idem ... ... ... ... ... ... ...)
É verdade que o Brasil não é Portugal, que tem recursos que não temos e que tem indicadores de bem estar que têm de melhorar.
Mas não é o mercado a funcionar que resolve os indicadores, nem reduz as desigualdades.
E uma cooperação mais apertada entre Portugal e o Brasil seria bem vinda, quanto mais não fosse para picar o crâneo dos burocratas neoliberais de Bruxelas e Frankfurt.
Era bonito, para que nos libertássemos da maldição de Fernandes Tomás, quando em 1820 disse com despudor "passe o senhor Brasil muito bem".
Como é diferente em Portugal, onde governos que prometem no 5º mês do ano que "agora", com a diminuição do défice e com a estabilização financeira, é a hora do investimento, para um mês depois reconhecer que o défice foi de 10% no 1º trimestre quando a meta é de 5,5% em 2013 (já foi de 4,5%) e que os juros estão a subir.
É que nos outros países quando um governo diz uma coisa e acontece outra muda-se de primeiro ministro e de ministro das finanças, mesmo sem mudar mais nada (aqui discordo de quem quer eleições já; eu por mim esperava por 2015).
Mas aqui é isto que se vê.
PS em 27 de junho de 2013 - Realizou-se o espetáculo, parece que a contento dos apreciadores. Terão sido 20.000? 1,4 milhões de euros de receita? Quanto terá ficado para receita fiscal? 400.000 euros?quanto terá ido para o exterior? 800.000 euros? E os combustiveis fósseis consumidos por 10.000 deslocações? Pobre país, com uma dívida externa tão grande (não, não é só a dívida pública, a privada também é externa), a continuar a endividar-se. Mas o poder de compra existe...
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