Com o devido respeito por quem foi eleito, pese embora com falsas promessas documentadas na televisão, ou nomeado por quem foi eleito, não reconheço ao senhor primeiro ministro nem ao senhor ministro das finanças competencia técnica para opinar, ainda por cima sem apresentar cálculos fundamentadores ou dados tratados, sobre a influencia da chuva nos contratos de investimento na construção civil nem sobre a estrutura organizacional de um Estado (fala do senhor ministro das finanças: “Naturalmente que a diminuição do investimento é muito preocupante, sendo no entanto que o investimento no primeiro trimestre
é adversamente afetado pelas condições meteorológicas no início do ano, que
afectaram a atividade da construção”).
E não reconheço porque o percurso profissional desses senhores não apresenta credenciais para isso.
Tive contactos com a construção civil ao longo da minha vida profissional e os contratos de investimento não se faziam à chuva, mesmo que estivesse a chover. Faziam-se no interior de edifícios, e a chuva não impedia os negociadores do contrato de se deslocarem. Alguns desses contratos que metiam remoção de terras argilosas estipulavam que, se chovesse e houvesse muita lama, o cronograma era suspenso, para não prejudicar o cumprimento do prazo pelo empreiteiro. Bem critiquei os meus colegas da construção civil que assinavam essas cláusulas quando exageravam nas facilidades, mas nada consegui (pudera, as empreitadas que eu controlava nunca excederam 20 milhões de euros). Os empreiteiros levavam para as reuniões 5 advogados e um engenheiro (que sorria cinicamente quando via o meu ar frustrado) e um deles ficou muito contente por até ter recebido um prémio de antecipação da conclusão de uma obra de 170 milhões de euros com um ano de atraso mas 6 meses de avanço descontando a chuva.
Isto só para dizer que as condições meteorológicas são uma coisa e o plano financeiro da execução de um contrato é outra, que nem todas as obras são afetadas pela chuva e que o inverno português é muito mais suave que nos países de maior PIB. Ou que as obras a realizar no verão são planeadas no inverno. Ou que as obras de contenção de cheias se projetam em períodos de seca. Ou que os planos de investimento se fazem quando não há dinheiro para fazer obra.
Mas não tenho esperanças que o senhor primeiro ministro ou o senhor ministro das finanças aceitem isto.
Estão na deles, agarrados à sua ideia de missão histórica (deuses, que sintoma de hipomania), de que a diminuição do PIB (não atire areia para os olhos das pessoas com a segunda derivada, que o PIB contraiu mas a uma taxa menor do que no ano passado) e o crescimento da divida, do defice e do desemprego são menos importantes do que um juro de obrigações a 10 anos de 6% (deuses, a taxa de referencia está a 0,5%), e de que estrutura de um Estado é um esqueleto seco como quadro de pessoal do funcionalismo público.
Não, senhor primeiro ministro, o peso do Estado em Portugal e a despesa com os seus funcionários não são elevados em valor absoluto, compare com os outros países, não apenas com alguns.
O que estraga os indicadores é o baixo valor do PIB. É o PIB que tem de aumentar, para que em valor relativo a despesa pública baixe.
Mas a missão de aumentar o PIB, porque obriga a selecionar os investimentos (sem investimento não haverá crescimento, e sem abaixamento das taxas de juro dos empréstimos às empresas ou ao Estado também não) e a conter despesas por aumento de eficiencia, exige uma competencia técnica (não apenas do ponto de vista financeiro, mas principalmente do ponto de vista das engenharias) que os senhores ministros não têm e exige concentrar as atenções nas frentes de trabalho com independencia do poder politico, financeiro e empresarial.
E como não têm essas competencias (farão ideia do que é uma central solar térmica de sais fundidos?), nem aceitam a descentralização das decisões ao nivel dos técnicos nas frentes de trabalho, nem a separação entre o poder politico e o poder económico e financeiro, e como os orgãos institucionais de controle do poder executivo ainda acham que as instituições estão a funcionar regularmente, resta aguardar que os mecanismos eleitorais dos partidos e o formalismo democrático das eleições legislativas funcionem no sentido do crescimento do PIB.
Aguardemos, citando o texto de um psicólogo, D.Goleman, autor do livro "Inteligencia emotiva", ao estudar a educação contra a intolerancia para a transformar em altruismo, e que dedico ao senhor primeiro ministro e ao senhor ministro das finanças, um segurissimo de que detem a verdade, e outro que só reconhece como erro o não ter cometido mais ações que muitos à sua volta classificam como erros:
"... a educação das emoções leva à empatia, que é a capacidade de ler as emoções dos outros, e como sem perceção das exigencias e do desespero dos outros não pode existir a preocupação pelos outros, a raiz do altruismo está na empatia, que permite a cada um alcançar a atitude moral de que o nosso tempo tem grande necessidade: a compaixão".
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