Susana Gaspar, soprano, a quem desejo as maiores felicidades na sua carreira, incluindo o concurso Singer of the world em Cardiff.
Tenho pena de não a ter visto no S.Carlos, numa representação tipo estudio da ópera Comedy on the bridge, de Martinu. Mas tive o prazer de a ver como uma esplendida Lauretta em Gianni Schicchi de Puccini (ou de como a apropriação de uma herança pode envolver-se em muitas duvidas)
Já se sabe que a ópera é subversiva, ou pode querer dizer o contrário do que os senhores governantes de serviço querem que se diga.
No caso da Comedy on the bridge, composta imediatamente antes da II grande guerra por um compositor checo, denuncia-se o carater desumano e a irracionalidade da guerra.
Foi representada em Lisboa com Susana Gaspar em 2008, na programação de Cristopher Damon, que a senhora ministra de então, Canavilhas, acabou por demitir.
Com a desculpa de que a sua programação não era a que os espetadores do S.Carlos desejavam.
Eu, espetador do S.Carlos, nunca deleguei na senhora Canavilhas o meu desejo de programação e senti-me defraudado por perder a continuaçao do trabalho de Cristopher Damon (de todas as óperas que ele apresentou confesso que não gostei de uma delas, mas gostei muito da maioria).
Por isso comparei a ação da senhora ministra à da heroina da ópera Sansão e Dalila, e achei que mais uma vez, agora na Cultura, o anterior governo preparou o terreno para o descalabro do atual governo.
Com um orçamento exiguo e impedimentos burocráticos que limitam a possibilidade de retorno do investimento (publicidade, patrocinios de intercambios com outros teatros, ...) o S.Carlos definha.
Mas convem aos senhores governantes, a ópera pode ser subversiva.
Excerto da entrevista a Susana Gaspar, pelo DN, depois de lhe perguntar se esperava ter mais convites de Portugal e como vê a situação do S.Carlos:
"... vou cantar a Portugal, em setembro, os Ruckert lieder, com outros musicos portugueses que estudam no estrangeiro... não espero ter mais convites, mas gostava de ter...sei que a situação do S.Carlos está muito mal, o que me põe muito triste...a cultura é mesmo muito importante e saber que a estão a matar,a destruir, e mais , à própria vontade de se fazer cultura e arte em Portugal... isso para mim é destruir um país."
Este é o testemunho de uma pessoa de 32 anos, que trabalha no estrangeiro como alguns dos senhores governantes atuais gostam, revelando incultura e ignorancia de que, de acordo com as regras do sistema de repartição da segurança social "pay as you go", o Estado português teve despesa com a formação dos emigrantes, que depois vão pagar as reformas dos reformados estrangeiros.
Enfim, malhas que o império tece.
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