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As fotos nos meios de comunicação social mostraram passageiros mortos no atentado no metropolitano de Moscovo.
Contesto o direito indiscriminado à informação.
Nenhum ser humano devia poder ser aproveitado para exibição da sua morte ou dos seus ferimentos.
Aceito que as suas fotos possam ser utilizadas para fins médicos e de estudo dos efeitos das bombas, para exibição pública, não.
A ética jornalística podia pronunciar-se sobre isto.
Noutra foto, uma mulher jovem e um rapaz são mostrados com os rostos ensanguentados enquanto esperam o tratamento. A senhora é muito bonita, loura do tipo de beleza russa a que a globalização já nos habituou. Preferiria que ela não fosse notícia. Os dois são um exemplo de vida, que é o que nos compete ser. É fácil imaginar como sofrem, e isso é o que nos distingue das outras espécies. Por isso é uma aberração mulheres matarem mulheres. Se sofrem, compreendem quem sofre.
Há um provérbio português que talvez pudesse ser compreendido, que assim se perde a razão de quem tem razão. Assim perde aceitação a causa chechena (aliás, nos tempos que correm, uma causa independentista não devia merecer muitos apoios).
Oiço o primeiro ministro da Federação russa dizer que vão tirar as pessoas que matam do inferno de trevas em que vivem.
Talvez seja assim, embora, por mim, continue a votar na não violência, para ambos os lados.
Mas expliquem, por favor, que passados os ímpetos guerreiros próprios da época e do local do seu profeta, o islão é uma mensagem de paz em que só Alá tem o direito de tirar a vida seja a quem for, mais ninguém. É o que vem no Corão, é o que vem no édito da tolerância do califa Omar. Já não há infiéis. Que mania que os dirigentes religiosos têm de se afastar da religião.
Ou então façam como John Reed explicou nos 10 dias que abalaram o mundo, que a guerra santa deve ser pela produção, pela paz e pela economia (no original era pela construção do socialismo, mas não devemos contrariar as pessoas).
Pensemos também que já temos alguma informação sobre o que acontece quando um império é implodido.
Os casos mais flagrantes são o do império austro-húngaro e o do império otomano. A sua desintegração por força da vitória dos aliados na primeira grande guerra veio a criar condições para a desgraça da Jugoslávia e do Iraque. Cheios de boas intenções para satisfazer as causas independentistas, para alem dos interesses económicos óbvios, que os tanques e os submarinos já se moviam a gasolina e gasóleo nessa altura, os políticos vencedores traçaram fronteiras administrativas e fictícias. O relativo sucesso da União Europeia confirmará o que estou dizendo. Que a solução das independências não seria a melhor.
Parece que o mesmo se passa para os lados do Cáucaso petrolífero. Se escrevo isto, é para justificar por que não tenho confiança nos políticos e nos chefes militares quando vêm publicamente justificar as suas guerras.
E é a incapacidade e a inflexibilidade dos políticos dos dois lados que acaba por provocar mortes nos metropolitanos.
Se não conseguirmos convencer os políticos (isto é, se são eles que nos convencem a nós), resta-nos esperar, já perto do fim de tudo, que tenham êxito os nossos concidadãos que se dedicam à prevenção e deteção de atentados (preocupação com os embrulhos ou bagagem abandonada – obrigatoriedade de frequência da escola por todas as crianças – cultura da tolerância mas com aceitação do controle policial aleatório - combate ao desemprego – aceitação do levantamento do sigilo bancário para identificação de comportamentos suspeitos – facilidade de circulação da informação ente polícias e dentro de cada polícia, isto é, não aos compartimentos estanques – acesso público à informação dos negócios bancários “off-shore”).
Aqui estamos pois, todos, sujeitos à doença dos que matam e à imperícia dos que a não sabem combater ao nível político da prevenção, nem querem ouvir outras razões.
Sim, apesar dos riscos, vamos ter de apanhar o Metro; temos de trabalhar, e os passageiros são o mais importante.
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quarta-feira, 31 de março de 2010
Homenagem às vítimas no Metro de Moscovo
terça-feira, 30 de março de 2010
Almoço na esplanada da Gulbenkian – 3 . O funil
Quando cheguei ao átrio da loja da biblioteca da Gulbenkian vi o meu amigo concentradíssimo, debruçado sobre o seu telemóvel.
Estava a manipular uma série de fotografias que tinha tirado na estação de metro de S.Sebastião.
- Estás a ver –disse-me ele – as pessoas que querem entrar para o comboio espremem-se todas contra as que acabaram de chegar.
E, de facto, o aspeto não era brilhante, de modo que propus-lhe:
- E se fossemos indo para o balcão das vitualhas?
Lá fomos confrontar-nos com o quiche lorraine com espinafres, o tomate recheado com beringelas e atum, e os ovos verdes, enquanto o meu amigo continuava:
- Podes não aceitar, mas isto revolta-me. Esta estação parece que foi amaldiçoada desde o princípio.
Primeiro, teve de se alterar o sentido de escavação do túnel que acabou por ser da Alameda para S.Sebastião, o que atrasou logo toda a construção.
Depois, por causa das complicações do transito à superfície e dos medos da câmara por se estar em eleições, alterou-se o processo construtivo da nova estação de S.Sebastião. Olha, por isso é que as escadas que vês nas fotografias são tão apertadinhas.
E agora, era lógico prolongar a linha que vem da estação do Oriente e atravessar a cidade, ir ao centro comercial das Amoreiras, servir Campo de Ourique junto da encosta Poente e passar para o outro lado do vale de Alcantara.
- É isso que está nos planos, não é?
- Quais planos. Não há visão estratégica nenhuma, nem dentro nem fora da empresa. Prolongou-se a linha que vem do Oriente pela avenida Duque d’Ávila, muito bem. Chegando a S.Sebastião devia continuar em frente para se fazer uma estação no limite norte de Campolide, junto da Avenida Calouste Gulbenkian
- Não estás a gostar dos profiteroles, pois não? Nem estás a apreciar o ar risonho das moças naquela mesa, ao sol.
- Pois não! Estas coisas fazem-me mal. Os senhores da urbanização que lá se fez disseram que precisavam do espaço por baixo para fazer as suas caves de estacionamento e os promotores da urbanização do terreno onde era a tropa, ali ao lado da Valenciana acharam que ficava melhor a estação lá ao pé.
- Ah! Então por isso é que a linha do metro curva tanto na nova estação de S.Sebastião.
- Pois é. E depois sobe que se farta. Por isso é que tu vês os comboios a despejar e meter passageiros no mesmo sítio, o que dá os engarrafamentos das fotografias, para o maquinista não estar a mudar de cabina num plano inclinado.
Foi lá o senhor ministro dos transportes inaugurar a estação numa cerimónia muito bonita, com os cartazes dos quadros da Gulbenkian por trás, mas a verdade é que ainda há muita coisa pendurada naquela estação para além da precariedade da entrada e saída de passageiros. Não foram concluídos os procedimentos de licenciamento dos elevadores, há infiltrações em instalações técnicas, há telecomandos da estação que não funcionam.
- É a nossa sina - obtemperei eu - o que é preciso é a fachada estar bem pintada.
- Os comboios com rodas de ferro têm a mania de não poder subir grandes rampas, não convem mais de 4%, para as rodas não escorregarem. E apesar disso a estação projetada de Campolide ainda fica muito profunda. A dez andares de profundidade.
- Eh pá, isso gasta muita energia, só as escadas mecânicas necessárias, mais a iluminação do poço e a ventilação. O melhor era chegar a estação para o lado, onde a cota da superfície fosse menor.
- Pois era, mas agora, depois de todo o trabalho dos projetos, já todos feitos e negociados com a EPAL por causa do aqueduto e com a câmara por causa das comichices deles… os colegas que fizeram os projetos matavam-te. Poupava-se dinheiro na exploração futura da estação mas matavam-te.
- Complicado. E agora com a falta de dinheiro e o PEC, é complicado…esta linha estava mesmo a precisar de ser ampliada. A correspondência entre linhas é ótimo.
- É mesmo. Vamos ver se sempre sai o tal plano integrado de transportes de que o ministério falou. Vamos ver
E , terminada a refeição, saímos olimpicamente, como Mercúrio, que era o deus dos transportes, depois do hidromel.
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segunda-feira, 29 de março de 2010
Leitura do DN no domingo, 28 de Março de 2010
Com a devida vénia, leio no DN e na sua revista de domingo:
1 – Eyad Allawi tem a maioria relativa de deputados no parlamento do Iraque: 91 em 325 ; a segunda força é a do anterior primeiro ministro, com 89 lugares.
O que é extremamente importante e é uma vitória para o povo iraquiano, é que a coligação de Eyad Allawi é secular. Isto é, independentemente das culturas dos seus participantes, é o fator laico que determina as suas estratégias. Não é o caso da segunda força, confessional.
Como dizia o primeiro presidente do Paquistão, em 1947, o verdadeiro muçulmano exerce a sua cidadania independentemente da sua religião.
Talvez interprete bem o Corão quando destaco o que lá vem escrito: “Não sejais agressores. Deus não ama os agressores”.
Passado o período guerreiro da pregação de Maomé para a unificação política da península arábica (não estou a justificar, estou a recordar a história), passada a época das cruzadas (que também não tenho a intenção de justificar), faço votos que no Iraque os muçulmanos exerçam os seus direitos de cidadãos independentemente da sua religião, apesar da ameaça das seitas confessionais, e que o novo primeiro ministro não sofra mais atentados.
Pena que alguns meios de comunicação social portugueses e algum pensamento norte-americano não tenham dado destaque à condição laica de Allawi.
2 – Mais uma estatística: em 2009 aumentou o número de fugas das prisões portuguesas. Consta que foi um efeito da redução dos quadros de pessoal (isto contraria aquela ideia de que os gestores tanto se orgulham quando nos seus powerpoint realçam a diminuição dos quadros de pessoal – só que aqui no caso das prisões não parece haver “outsourcing” que valha)
3 – O Alto Comissariado para a Integração e Diálogo Intercultural (deuses, como tenho de dobrar a língua para dizer isto) negou um subsídio de 150.000 euros ao centro de formação profissional do pároco da Bela Vista, o bairro de Setúbal onde no ano passado andaram aos tiros. Pessoalmente não me agradam as atividades da igreja católica. Mas quando são úteis (neste caso, ocupar os jovens com a aprendizagem dum “ofício”, como se dizia antigamente), só posso concordar com a recusa se imediatamente, mas imediatamente mesmo, um organismo oficial retomar esse esforço de formação profissional. Onde está esse organismo e essa ação? Estamos a convidar ao vandalismo e à criminalidade juvenil, não estamos? Claro que há pouco dinheiro, mas os prejuízos do fim da ação de formação podem ser superiores aos 150.000 euros.
4 – Andam a fechar consultórios dentários por falta de licenciamento, especialmente da aparelhagem de raios X - é uma pena sermos, em Portugal, tão perfeitos nas leis e nos regulamentos que fazemos a exigir boas condições, mas depois as dificuldades burocráticas e a falta de iniciativa e de organização na resolução das deficiências e dos problemas concretos deixam as coisas por acabar (já estarão licenciados todos os elevadores das estações Saldanha e S.Sebastião, com tanta pompa e circunstancia inauguradas em Agosto de 2009?)
5 – O senhor diretor nacional da PSP afirmou que “não há qualquer problema em termos de segurança” na realização da missa do papa prevista para 2010-05-11 no Terreiro do Paço - permito-me discordar:
primeiro, se o patriarcado prevê 250.000 assistentes, os caminhos de evacuação são efetivamente limitados;
segundo, recordando a minha sogra, há um problema grave de segurança de ocupação de um espaço público sem perguntar aos cidadãos se o espaço está disponível (salvo melhor opinião, as eleições autárquicas não conferem o poder de gestão dos espaços públicos para fins confessionais) porque deste modo, como ela dizia, ver em http://fcsseratostenes.blogspot.com/search?q=sogra , “não parece um país republicano”.
A minha argumentação neste ponto 5 é rigorosamente a mesma do ponto 1: não privilegiar nenhuma confissão religiosa. Privilegiar poderá ser fator de insegurança social.
6 – A tabela das idades da reforma – Poupa-me o DN o esforço de fazer uma pesquisa sobre as idades de reforma na Europa. Eis um resumo, quanto mais não seja para desfazer a ideia de que somos dos mais beneficiados (atenção que é a idade em anos dos homens e em regime geral, não o das profissões de desgaste):
Áustria – 61,5 (aumento para 65 gradualmente até 2017)
Bélgica – 65
R.Checa – 65
Dinamarca – 65 (aumento para 67 até 2027)
Alemanha – 65 (aumento para 67 antes do prazo anterior que era 2029)
Espanha – 65 (aumento em preparação para 67)
França – 60
Itália – 62
Polónia – 65
Finlândia – 68 (com compensações para quem permanecer no ativo após os 63)
UK – 65 (aumento para 68 até 2046)
Suécia – 61 (compensações para quem permanecer no ativo até aos 67).
Seria interessante analisar as restantes condições para os números serem comparáveis: condições de trabalho, segurança social, idade com que se começou a trabalhar e com que qualificação profissional, comodidade do transporte de e para o trabalho.
Seria também interessante analisar o princípio de que são os trabalhadores no ativo que sustentam os reformados. Então os descontos dos reformados, ao longo da sua vida ativa, não serviram para investir em investimentos reprodutivos? Ou terão sido apenas para pagar as reformas dos anteriores reformados?Convinha esclarecer isso, porque, segundo as estatísticas, de momento há 4 ativos para 1 reformado mas as previsões apontam para 1 ativo para 1 reformado dentro de 40 anos.
Entretanto, a sugestão de Eugénio Rosa, um economista de há muito não afeto aos governos , é a de substituir a tributação sobre os rendimentos dos trabalhadores pela tributação sobre o valor acrescentado líquido das empresas (lá vão os adamsmithistas dizer que vão afugentar os investidores; talvez, mas para onde? Para países onde a tributação ainda é mais forte? Sabiam que a Espanha taxa em 25% qualquer transferência para os “off-shores”, a Holanda em 20% e Portugal em 0%?; e olhem que os depósitos registados dos portugueses nos “off-shores” são da mesma ordem de grandeza dos outros dois países: cerca de 16.000 milhões de euros…).
Seria também interessante divulgar com mais visibilidade os casos de pequenas histórias de reformas antecipadas:
- a professora que saiu antes de tempo porque não quis avaliar colegas com base em quotas
- a professora que saiu com uma penalização de 40%
- o médico de 59 anos que vai sair com 18% de penalização
- a metade do quadro de ginecologistas do Hospital Garcia de Orta que saíram com reforma antecipada mas que foram todos contratados pelo Hospital privado de Cascais
- os 300 inspetores de finanças que sairam duma assentada, prejudicando as cobranças fiscais
Tudo isto me parece ser o resultado de decisões anteriormente tomadas… e mal tomadas, sendo que o primeiro passo para corrigir um erro é reconhecê-lo.
7 – Mas falemos de transportes: o DN também me poupou o trabalho de fazer o levantamento do volume de passageiros transportados na área metropolitana de Lisboa em 2009 (parece que o movimento de decréscimo está a inverter-se desde o 4º trimestre de 2009; será o desemprego, a diminuição do poder de compra restringindo as deslocações de lazer, o arrefecimento da economia).
Valores em milhões de passageiros; estimativa minha (aguardo o inquérito prometido pelo IMTT) para os casos dos autocarros suburbanos e do transporte individual:
Carris - 233 16,1%
ML - 165 11,4%
CP - 95 6,6%
Fertagus - 23 1,6%
Transtejo - 28 1,9%
Autocarros - 100 6,9%
TI - 800 55,4%
Total - 1444 100,0%
Não parecem muito saudáveis, estes números. Especialmente pela dependência energética suscitada pela elevada percentagem de transporte individual. Requererão talvez, os números, medidas estratégicas. Por exemplo, integrar os TP numa "régie"...
Assunto a retomar.
1 – Eyad Allawi tem a maioria relativa de deputados no parlamento do Iraque: 91 em 325 ; a segunda força é a do anterior primeiro ministro, com 89 lugares.
O que é extremamente importante e é uma vitória para o povo iraquiano, é que a coligação de Eyad Allawi é secular. Isto é, independentemente das culturas dos seus participantes, é o fator laico que determina as suas estratégias. Não é o caso da segunda força, confessional.
Como dizia o primeiro presidente do Paquistão, em 1947, o verdadeiro muçulmano exerce a sua cidadania independentemente da sua religião.
Talvez interprete bem o Corão quando destaco o que lá vem escrito: “Não sejais agressores. Deus não ama os agressores”.
Passado o período guerreiro da pregação de Maomé para a unificação política da península arábica (não estou a justificar, estou a recordar a história), passada a época das cruzadas (que também não tenho a intenção de justificar), faço votos que no Iraque os muçulmanos exerçam os seus direitos de cidadãos independentemente da sua religião, apesar da ameaça das seitas confessionais, e que o novo primeiro ministro não sofra mais atentados.
Pena que alguns meios de comunicação social portugueses e algum pensamento norte-americano não tenham dado destaque à condição laica de Allawi.
2 – Mais uma estatística: em 2009 aumentou o número de fugas das prisões portuguesas. Consta que foi um efeito da redução dos quadros de pessoal (isto contraria aquela ideia de que os gestores tanto se orgulham quando nos seus powerpoint realçam a diminuição dos quadros de pessoal – só que aqui no caso das prisões não parece haver “outsourcing” que valha)
3 – O Alto Comissariado para a Integração e Diálogo Intercultural (deuses, como tenho de dobrar a língua para dizer isto) negou um subsídio de 150.000 euros ao centro de formação profissional do pároco da Bela Vista, o bairro de Setúbal onde no ano passado andaram aos tiros. Pessoalmente não me agradam as atividades da igreja católica. Mas quando são úteis (neste caso, ocupar os jovens com a aprendizagem dum “ofício”, como se dizia antigamente), só posso concordar com a recusa se imediatamente, mas imediatamente mesmo, um organismo oficial retomar esse esforço de formação profissional. Onde está esse organismo e essa ação? Estamos a convidar ao vandalismo e à criminalidade juvenil, não estamos? Claro que há pouco dinheiro, mas os prejuízos do fim da ação de formação podem ser superiores aos 150.000 euros.
4 – Andam a fechar consultórios dentários por falta de licenciamento, especialmente da aparelhagem de raios X - é uma pena sermos, em Portugal, tão perfeitos nas leis e nos regulamentos que fazemos a exigir boas condições, mas depois as dificuldades burocráticas e a falta de iniciativa e de organização na resolução das deficiências e dos problemas concretos deixam as coisas por acabar (já estarão licenciados todos os elevadores das estações Saldanha e S.Sebastião, com tanta pompa e circunstancia inauguradas em Agosto de 2009?)
5 – O senhor diretor nacional da PSP afirmou que “não há qualquer problema em termos de segurança” na realização da missa do papa prevista para 2010-05-11 no Terreiro do Paço - permito-me discordar:
primeiro, se o patriarcado prevê 250.000 assistentes, os caminhos de evacuação são efetivamente limitados;
segundo, recordando a minha sogra, há um problema grave de segurança de ocupação de um espaço público sem perguntar aos cidadãos se o espaço está disponível (salvo melhor opinião, as eleições autárquicas não conferem o poder de gestão dos espaços públicos para fins confessionais) porque deste modo, como ela dizia, ver em http://fcsseratostenes.blogspot.com/search?q=sogra , “não parece um país republicano”.
A minha argumentação neste ponto 5 é rigorosamente a mesma do ponto 1: não privilegiar nenhuma confissão religiosa. Privilegiar poderá ser fator de insegurança social.
6 – A tabela das idades da reforma – Poupa-me o DN o esforço de fazer uma pesquisa sobre as idades de reforma na Europa. Eis um resumo, quanto mais não seja para desfazer a ideia de que somos dos mais beneficiados (atenção que é a idade em anos dos homens e em regime geral, não o das profissões de desgaste):
Áustria – 61,5 (aumento para 65 gradualmente até 2017)
Bélgica – 65
R.Checa – 65
Dinamarca – 65 (aumento para 67 até 2027)
Alemanha – 65 (aumento para 67 antes do prazo anterior que era 2029)
Espanha – 65 (aumento em preparação para 67)
França – 60
Itália – 62
Polónia – 65
Finlândia – 68 (com compensações para quem permanecer no ativo após os 63)
UK – 65 (aumento para 68 até 2046)
Suécia – 61 (compensações para quem permanecer no ativo até aos 67).
Seria interessante analisar as restantes condições para os números serem comparáveis: condições de trabalho, segurança social, idade com que se começou a trabalhar e com que qualificação profissional, comodidade do transporte de e para o trabalho.
Seria também interessante analisar o princípio de que são os trabalhadores no ativo que sustentam os reformados. Então os descontos dos reformados, ao longo da sua vida ativa, não serviram para investir em investimentos reprodutivos? Ou terão sido apenas para pagar as reformas dos anteriores reformados?Convinha esclarecer isso, porque, segundo as estatísticas, de momento há 4 ativos para 1 reformado mas as previsões apontam para 1 ativo para 1 reformado dentro de 40 anos.
Entretanto, a sugestão de Eugénio Rosa, um economista de há muito não afeto aos governos , é a de substituir a tributação sobre os rendimentos dos trabalhadores pela tributação sobre o valor acrescentado líquido das empresas (lá vão os adamsmithistas dizer que vão afugentar os investidores; talvez, mas para onde? Para países onde a tributação ainda é mais forte? Sabiam que a Espanha taxa em 25% qualquer transferência para os “off-shores”, a Holanda em 20% e Portugal em 0%?; e olhem que os depósitos registados dos portugueses nos “off-shores” são da mesma ordem de grandeza dos outros dois países: cerca de 16.000 milhões de euros…).
Seria também interessante divulgar com mais visibilidade os casos de pequenas histórias de reformas antecipadas:
- a professora que saiu antes de tempo porque não quis avaliar colegas com base em quotas
- a professora que saiu com uma penalização de 40%
- o médico de 59 anos que vai sair com 18% de penalização
- a metade do quadro de ginecologistas do Hospital Garcia de Orta que saíram com reforma antecipada mas que foram todos contratados pelo Hospital privado de Cascais
- os 300 inspetores de finanças que sairam duma assentada, prejudicando as cobranças fiscais
Tudo isto me parece ser o resultado de decisões anteriormente tomadas… e mal tomadas, sendo que o primeiro passo para corrigir um erro é reconhecê-lo.
7 – Mas falemos de transportes: o DN também me poupou o trabalho de fazer o levantamento do volume de passageiros transportados na área metropolitana de Lisboa em 2009 (parece que o movimento de decréscimo está a inverter-se desde o 4º trimestre de 2009; será o desemprego, a diminuição do poder de compra restringindo as deslocações de lazer, o arrefecimento da economia).
Valores em milhões de passageiros; estimativa minha (aguardo o inquérito prometido pelo IMTT) para os casos dos autocarros suburbanos e do transporte individual:
Carris - 233 16,1%
ML - 165 11,4%
CP - 95 6,6%
Fertagus - 23 1,6%
Transtejo - 28 1,9%
Autocarros - 100 6,9%
TI - 800 55,4%
Total - 1444 100,0%
Não parecem muito saudáveis, estes números. Especialmente pela dependência energética suscitada pela elevada percentagem de transporte individual. Requererão talvez, os números, medidas estratégicas. Por exemplo, integrar os TP numa "régie"...
Assunto a retomar.
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Arquitectorium 6 - a quinta, de Mahler
Refiro-me à quinta sinfonia, de Gustav Mahler. Tocada brilhantemente pela orquestra metropolitana de Lisboa, no CCB no domingo, 28 de Março de 2010.
A musica é uma arte eminentemente abstrata. Pelo menos Stravinsky assim queria que a entendêssemos, sem que nos preocupássemos em perceber o que ela pudesse exprimir.
Mas podendo nós, apesar disso, tentar exprimir alguma coisa com ela, ou utilizá-la, se precisarmos dela para um fim concreto.
E eu estou a tentar utilizar a quinta (a do Adagietto, utilizado na Morte em Veneza, de Visconti) para aplaudir a afluência de publico ao concerto (ver foto da saída), às exposições no CCB, aos museus de Belém, e para chamar a atenção para a questão dos acessos ao CCB.
O problema de transportes é mesmo grave.
O parque de estacionamento do CCB estava cheio.
Como podem ver pela fotografia, tirada depois do espetáculo, as bichas do elétrico eram grandes… será que o grande arquiteto do novo museu dos coches (as escavações prosseguem) faz ideia da gravidade do problema dos transportes para o “seu” museu? Ver em http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/02/arquitectorium-5-catalinaria-contra-o.html
As infraestruturas dimensionam-se para a sua máxima solicitação.
Quando entendem os grandes arquitetos que um edifício precisa de se integrar harmoniosamente numa rede de energia, de telecomunicações, de águas, de admissão e de esgoto, de transportes, de ida e vinda?
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domingo, 28 de março de 2010
Outra vez a ópera no S.Carlos – Niobe, rainha de Tebas
Discordando da senhora ministra da Cultura, que anunciou a demissão do diretor do S.Carlos, expresso aqui o meu reconhecimento ao diretor pelo magnífico espetáculo Niobe, rainha de Tebas.
É um exemplo esplendoroso do barroco do fim do século XVII, de um compositor italiano sediado em Munique, Agostino Steffani.
Desconhecia a obra e o seu autor. Aliás, foi estreia em Portugal.
Os intérpretes são de bom nível, incluindo um barítono português. Este diretor tem a preocupação de pôr cantores portugueses a cantar (tive muita pena de faltar ao “Trouble in Tahiti”, de Lenard Bernstein, com cantores de ópera portugueses finalistas do Conservatório). Na orquestra foram incluídos instrumentos da época, como um alaúde, uma viola de gamba e um cravo. O maestro evidenciou entusiasmo. O público aplaudiu. Enfim, o contrário do que a senhora ministra disse, que o público estava muito desagradado com o diretor.
Mas a senhora ministra é pianista. Não tem que ser uma “expert” em ópera. Ainda por cima ópera barroca.
É verdade que o espetáculo anterior, com o “Morcego” de Johannan Strauss, desagradou; mas, primeiro, não se demite um diretor a quem faltam 2 anos de contrato como é hábito no futebol quando a equipa perde um jogo importante (a programação de um teatro de ópera é feita com 2 anos de antecedência). E depois, o “Morcego” é uma opereta para ter “buchas” do anedotário da atualidade. Pelo menos, quando foi composto era assim. Se desagradou, isso significa que retratou corretamente uma sociedade decadente e com péssimo gosto cultural. Terá sido um espetáculo adaptado à realidade portuguesa que se vive (justifico: a encenação girava a volta da moda dos vampiros e das piadas “stand up comedy”). E isso custa a aceitar por quem achará que a realidade portuguesa não é tão medíocre.
A tendência de exercer o poder apesar de não se ser especialista daquilo sobre que se está a decidir faz-me lembrar, por contraste, o tempo em que estive no exército, na arma de Transmissões. Assisti à substituição, por antiguidade, dos oficiais generais que eram engenheiros civis por engenheiros de telecomunicações. Foi uma evolução natural.
No caso do S.Carlos não parece ser assim. Temos a senhora ministra pianista a decidir sobre ópera. Faz-me lembrar também algumas empresas de transporte ferroviário. Gostam de pôr técnicos da especialidade de construção civil nos lugares de decisão. Mas nos tempos que correm, com a evolução da informática, das telecomunicações, da eletrónica de potência, soa a alguma confusão. As empresas de transporte não são empresas de construção civil, têm como objetivo transportar pessoas em condições de segurança, rapidez e conforto. Quem as gere não deve reduzir a partitura à do piano…nem aplicar cortes orçamentais indiscriminados aos planos de atividades. Não devem decidir sozinhos, sem ouvir os técnicos da especialidade… aumentam as probabilidades de decidir mal…
A ópera, baseada nas Metamorfoses de Ovídio, conta a história da rainha de Tebas, Niobe, que ousa combater os deuses e que acaba vencida.
Imaginemos o que o compositor e o seu libretista quereriam dizer com a sua ópera, no fim do século XVII, numa Alemanha em que os principes eleitores dominavam:
"Desordenadas potencias, acordai.
A mente enganada por falsas aparencias,
já vencida e presa,
não mais desfaleça
... ... ... ... ... ...
Que fazeis, impios tebanos?
por que furores insanos
loucamente agitados,
os falsos dogmas de loucos seguis?
Ousais assim preferir
imagens vãs e objetos inexistentes?"
Aplausos pela sua visão para Agostino Steffani e o seu libretista, Luigi Orlandi.
É um exemplo esplendoroso do barroco do fim do século XVII, de um compositor italiano sediado em Munique, Agostino Steffani.
Desconhecia a obra e o seu autor. Aliás, foi estreia em Portugal.
Os intérpretes são de bom nível, incluindo um barítono português. Este diretor tem a preocupação de pôr cantores portugueses a cantar (tive muita pena de faltar ao “Trouble in Tahiti”, de Lenard Bernstein, com cantores de ópera portugueses finalistas do Conservatório). Na orquestra foram incluídos instrumentos da época, como um alaúde, uma viola de gamba e um cravo. O maestro evidenciou entusiasmo. O público aplaudiu. Enfim, o contrário do que a senhora ministra disse, que o público estava muito desagradado com o diretor.
Mas a senhora ministra é pianista. Não tem que ser uma “expert” em ópera. Ainda por cima ópera barroca.
É verdade que o espetáculo anterior, com o “Morcego” de Johannan Strauss, desagradou; mas, primeiro, não se demite um diretor a quem faltam 2 anos de contrato como é hábito no futebol quando a equipa perde um jogo importante (a programação de um teatro de ópera é feita com 2 anos de antecedência). E depois, o “Morcego” é uma opereta para ter “buchas” do anedotário da atualidade. Pelo menos, quando foi composto era assim. Se desagradou, isso significa que retratou corretamente uma sociedade decadente e com péssimo gosto cultural. Terá sido um espetáculo adaptado à realidade portuguesa que se vive (justifico: a encenação girava a volta da moda dos vampiros e das piadas “stand up comedy”). E isso custa a aceitar por quem achará que a realidade portuguesa não é tão medíocre.
A tendência de exercer o poder apesar de não se ser especialista daquilo sobre que se está a decidir faz-me lembrar, por contraste, o tempo em que estive no exército, na arma de Transmissões. Assisti à substituição, por antiguidade, dos oficiais generais que eram engenheiros civis por engenheiros de telecomunicações. Foi uma evolução natural.
No caso do S.Carlos não parece ser assim. Temos a senhora ministra pianista a decidir sobre ópera. Faz-me lembrar também algumas empresas de transporte ferroviário. Gostam de pôr técnicos da especialidade de construção civil nos lugares de decisão. Mas nos tempos que correm, com a evolução da informática, das telecomunicações, da eletrónica de potência, soa a alguma confusão. As empresas de transporte não são empresas de construção civil, têm como objetivo transportar pessoas em condições de segurança, rapidez e conforto. Quem as gere não deve reduzir a partitura à do piano…nem aplicar cortes orçamentais indiscriminados aos planos de atividades. Não devem decidir sozinhos, sem ouvir os técnicos da especialidade… aumentam as probabilidades de decidir mal…
A ópera, baseada nas Metamorfoses de Ovídio, conta a história da rainha de Tebas, Niobe, que ousa combater os deuses e que acaba vencida.
Imaginemos o que o compositor e o seu libretista quereriam dizer com a sua ópera, no fim do século XVII, numa Alemanha em que os principes eleitores dominavam:
"Desordenadas potencias, acordai.
A mente enganada por falsas aparencias,
já vencida e presa,
não mais desfaleça
... ... ... ... ... ...
Que fazeis, impios tebanos?
por que furores insanos
loucamente agitados,
os falsos dogmas de loucos seguis?
Ousais assim preferir
imagens vãs e objetos inexistentes?"
Aplausos pela sua visão para Agostino Steffani e o seu libretista, Luigi Orlandi.
quinta-feira, 25 de março de 2010
Sansão e Dalila no S.Carlos
'
Na qualidade de público e de assinante de ópera no S.Carlos, venho declarar que não reconheço à senhora ministra da Cultura o direito a utilizar a minha opinião como público e assinante de ópera para fundamentar a demissão do diretor da ópera do S.Carlos a 2 anos do fim do contrato.
Agradeço que utilize outros argumentos.
Mas temo que estejamos a assistir a uma variante da história do passo trocado. Todos os diretores vão de passo trocado (começou por ser o da Arte Antiga, agora é o do S.Carlos, o próximo é o do Museu de Arqueologia), menos a senhora ministra.
Ver o problema dos transportes aplicado ao Museu de Arte Antiga e ao Museu dos Coches em:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/02/ainda-catilinaria-do-museu-dos-coches.html
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/02/outra-vez-catilinaria-do-novo-museu-dos.html
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/02/arquitectorium-5-catalinaria-contra-o.html
Como cidadão não me agrada, até porque:
1 - a senhora ministra é uma mulher bonita, embora me recorde Dalila (estou a falar de ópera, Sansão e Dalila, de Saint-Saens)
2 - a senhora ministra é uma boa pianista, e gosto de a ouvir, como pianista.
___
Na qualidade de público e de assinante de ópera no S.Carlos, venho declarar que não reconheço à senhora ministra da Cultura o direito a utilizar a minha opinião como público e assinante de ópera para fundamentar a demissão do diretor da ópera do S.Carlos a 2 anos do fim do contrato.
Agradeço que utilize outros argumentos.
Mas temo que estejamos a assistir a uma variante da história do passo trocado. Todos os diretores vão de passo trocado (começou por ser o da Arte Antiga, agora é o do S.Carlos, o próximo é o do Museu de Arqueologia), menos a senhora ministra.
Ver o problema dos transportes aplicado ao Museu de Arte Antiga e ao Museu dos Coches em:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/02/ainda-catilinaria-do-museu-dos-coches.html
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/02/outra-vez-catilinaria-do-novo-museu-dos.html
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/02/arquitectorium-5-catalinaria-contra-o.html
Como cidadão não me agrada, até porque:
1 - a senhora ministra é uma mulher bonita, embora me recorde Dalila (estou a falar de ópera, Sansão e Dalila, de Saint-Saens)
2 - a senhora ministra é uma boa pianista, e gosto de a ouvir, como pianista.
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As laranjeiras da Praça de Alvalade
Como referi nos blogues de 30 de Janeiro e de 20 de Fervereiro, já não há laranjeiras na Praça de Alvalade.
Cinco resistentes sobrevivem num separador na Av.Roma, a cerca de 500 metros da Praça.
Mas já estão condenadas.
Assim vamos encolhendo os ombros.
Não é só pelas árvores, é porque não ouvem os cidadãos.
Resposta que enviei aos esclarecimentos (iguais desde Setembro de 2009, a quem reclama):
Exma Senhora Arquiteta Conceição Candeias
Dou por recebido o esclarecimento à minha reclamação sobre a remoção das laranjeiras da Praça de Alvalade, o qual agradeço.
Infelizmente não posso concordar com a argumentação expendida, aliás já do domínio público por ter sido apresentada como resposta aos primeiros protestos.
Infelizmente também, não só a resposta não foi alterada, como não foi alterado o rumo do departamento. Isto é, tudo se passou como se não tivesse havido protestos. Não houve uma consulta formal aos cidadãos.
A conceção de democracia não deverá ser, salvo melhor opinião, a de um cheque em branco aos eleitos, nem a da aceitação acrítica das opções técnicas.
Para facilidade de transmissão dos meus argumentos, junto o vosso esclarecimento com observações a azul e itálico.
Retiro do episódio a conclusão de que nós, cidadãos, não conseguimos mobilizar-nos. Não é só pela ideia das árvores. É porque os cidadãos não são ouvidos.
Mas dele retiro também que vou esperar que apareçam as flores dos jacarandás e as folhas dos gingkos .
Com os melhores cumprimentos
F.Santos e Silva/Municipe ID 231131
(sites com protestos:
http://lisboasos.blogspot.com/2009/12/alvalade-requiem-pelas-laranjeiras.html
http://osverdesemlisboa.blogspot.com/2009/11/laranjeiras-da-praca-de-alvalade.html
http://laranjeirasalvaladelisboa.blogspot.com/2009/09/laranjeiras-da-praca-de-alvalade-em.html
http://lisboalisboa.blogspot.com/2010/03/lisboa-ficar-sem-arvores.html
http://cidadanialx.blogspot.com/2009/09/praca-de-alvalade-conclusao-do-arranjo.html
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/01/as-laranjeiras-da-praca-de-alvalade.html
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/02/estao-ver-isto-e-estao-ver-que-nao.html
)
Resposta aos argumentos do esclarecimento da senhora Arquiteta:
O Projecto de Qualificação para a Praça de Alvalade foi elaborado pela Divisão de Estudos e Projectos, da DMAU, no seguimento das obras de remodelação da Estação Alvalade do Metro, encontrando-se devidamente aprovado pelo município. A execução do projecto, a cargo do Metropolitano de Lisboa (para evitar deficiente interpretação, sugere-se a expressão:”…A execução, a cargo do Metropolitano, da obra correspondente ao Projeto de Qualificação da Praça…”) foi dividida por 2 fases, estando a 2ª fase agora a ser concluída, reconhecendo-se os grandes transtornos que este atraso causou no local, nomeadamente aos residentes.
Em relação à estrutura arbórea da praça, durante as obras do Metro foram removidas as laranjeiras existentes nos principais separadores, paralelos à Av. de Roma, as quais não podem ser replantadas, por questões relacionadas com a subida de cota da laje de cobertura da estação e consequente falta de altura disponível para a plantação de árvores (na realidade podem ser replantadas, dada a disponibilidade duma altura de 80 cm que poderia ser aumentada com muretes se a conceção dos separadores fosse outra; porém, por razões de fiabilidade da laje e de riscos de infiltrações, concorda-se plenamente com a ausência de árvores nestes separadores). Em face desta condicionante, ponderou-se a manutenção das laranjeiras nos separadores de menor dimensão, paralelos à Av. da Igreja, tendo-se optado pela sua remoção pelas seguintes razões:
(i) - a Praça de Alvalade constitui um exemplo de urbanismo dos anos 40 , sendo caracterizada por um traçado de desenho urbano com uma identidade própria, de grande regularidade e simetria em relação aos dois eixos de composição definidos pela Av. de Roma e Av. da Igreja; considerou-se fundamental para a dignificação da praça a manutenção dessa simetria e unidade de tratamento, centralizada no elemento escultural central; (lamenta-se não poder aceitar-se este argumento; a praça de Alvalade não é um exemplo de urbanismo dos anos 40; as avenidas são-no, mas a praça atual é diferente do projetado nos anos 40; os prédios mais altos obedecem a critérios diferentes do pensado originalmente para a praça, julgando-se que se trata de realizações arquitetónicas muito bem conseguidas e integradas no urbanismo da zona; o grupo escultural central não tem nada que ver com a conceção original da praça e só foi pensado a partir de 1969 (inauguração em 1972), bastando recordar que o nome da praça até então foi Praça Frei Luis de Sousa, existindo uma praceta anexa à Rua Carlos Seixas com o nome de Praça de Alvalade; com a inauguração da estátua as designações das duas praças foram trocadas; salvo melhor opinião, o elemento escultural encontra-se perfeitamente desintegrado do urbanismo da zona e quebra a leitura do eixo Igreja S.João de Brito – Campo Grande (vem a propósito recordar que a conceção original da Av.da Igreja era incompatível com o estacionamento de automóveis e privilegiava a circulação pedonal; contrariamente à restante argumentação, esta é de natureza subjetiva e deixa-se aqui registada como protesto por se tratar de uma figura de uma tendência religiosa ocupando um espaço público; admite-se que possa existir uma maioria de cidadãos que queiram a estátua onde está, sendo desejável que essa maioria seja informada de que existe uma minoria que gostaria que aquela estátua não estivesse ali, embora aceite a vontade da maioria se livremente expressa)
(ii) - as laranjeiras não faziam parte do projecto original da praça, tendo constituído uma acção pontual de plantação dos finais da década de 80 (ou princípio de 90); (é verdade, e foi com grande surpresa, pela positiva, que os habitantes e passantes da zona, assistiram à plantação de laranjeiras; é natural que agora, ao vê-las retiradas, protestem; como se viu em i), este argumento não pode ser utilizado com consistência, dado que os edifícios mais altos e o elemento escultural central não faziam parte do projeto original da praça)
(iii) - em face da envolvência arquitectónica da praça, com prédios até 15 andares de altura (C. C. Alvalade), considera-se que as laranjeiras apresentam um porte pouco compatível com a escala da praça, incompatibilidade que surge acentuada pela existência de laranjeiras apenas nos separadores de menor dimensão; (solicita-se alguma benevolência para que se considere ser esta também uma opinião subjetiva; relativamente ao porte, é fácil encontrar laranjeiras com 4 m de altura da copa, algumas até, parece que já condenadas, bem perto desta praça, sendo que não se encontram mais porque é das árvores que melhor suportam a poda e facilmente se contêm as suas dimensões); quanto à compatibilidade do porte, basta comparar as fotografias do antes e depois da retirada ).
A opção de remoção das laranjeiras surge naturalmente (pede-se desculpa por discordar da utilização deste advérbio; a opção de retirada das laranjeiras não foi natural, foi artificial e decidida por quem tem o poder para o fazer, sem atender á expressão da oposição dos moradores e dos passantes que desde Setembro de 2009 o fizeram, e sem ter realizado uma consulta popular) associada à possibilidade de plantação de novos alinhamentos de árvores, de forma a garantir uma amenização ambiental da praça e melhorar as condições de sombra e conforto dos peões (em áreas em que o peão efectivamente circula – (mais uma vez se considera indevidamente utilizado um argumento; os peões têm de atravessar os separadores na Av.Igreja sem sombras, o que não se verificava anteriormente). São propostos 4 novos alinhamentos de árvores de grande porte - Jacarandás - integrados nas 4 bolsas de estacionamento e paralelos ás fachadas edificadas (22 exemplares).(nada a opor, excetuando o recurso a viveiros estrangeiros)
Em face do exposto, voltando a dar à praça a sua imagem original (como visto em i) não estava prevista a estátua de Santo António no projeto original), em que se enriquece a pavimentação dos separadores com lajes de lioz (idêntica ao separador central, base da estátua), considera-se estar a contribuir para a sua dignificação, enquanto “praça dura” emblemática de uma época (como visto em i), concorda-se com a designação de praça dura emblemática, mas da época de 1972, data da inauguração da estátua), abrindo simultaneamente as perspectivas visuais para os eixos das avenidas que se cruzam na praça, nomeadamente para a Igreja S. João de Brito, no topo Nascente da Av. da Igreja.(mais uma vez se pede para considerar este tipo de opiniões como subjetivas; caberá aqui, para além do exposto atrás sobre a leitura do eixo Igreja S.João de Brito-Campo Grande, anotar a incoerência da anterior referencia ao pequeno porte das laranjeiras- se tinham pequeno porte não obstruíam a vista da Igreja…)
De referir ainda, e de não menos importância, que este projecto se integra no Projecto global de Qualificação Urbana da Av. de Roma (já construído no troço envolvente à Estação Roma, entre a Av. dos E.U. da América e a Rua Frei Amador Arrais) o qual em termos de estrutura arbórea define a plantação de alinhamentos de árvores contínuos ao longo dos passeios laterais, de forma a criar condições de conforto directa ao peão e oferecer o devido enquadramento ao eixo urbano, recriando o perfil de alameda (nada a opor, desde que ponderada a opção por árvores de folha caduca com frutos de mau cheiro). Segundo este conceito o Projecto da Av. de Roma prevê a remoção integral das árvores existentes nos separadores centrais ao longo de toda a avenida (embora se trate de uma opinião subjetiva, discorda-se: as árvores no separador central são uma vista agradável para os peões nos passeios), considerando-se que a presente acção de remoção das laranjeiras nos separadores da Praça de Alvalade se integra igualmente nesse conceito de âmbito mais global.
Compreendemos que a remoção das laranjeiras poderá gerar uma reacção negativa por parte dos moradores (duvida-se que o departamento tenha compreendido todas as razões dos opositores: foi a forma prepotente como se recusou a discussão e a sondagem formal, com envolvimento da junta de freguesia mas com consulta efetiva popular aos moradores e aos passantes habituais, o que é muito grave porque desde Setembro de 2009 os protestos foram apresentados; foi ainda o metropolitano ter a obra a seu cargo mas não ter podido discutir atempadamente o projeto de arranjos exteriores através dos seus órgãos próprios), habituados à sua imagem no local, contudo consideramos que as razões que nos ditaram a opção de remoção são válidas e consistentes (julga-se ter demonstrado a inconsistência das razões), tendo em conta o principal objectivo de dignificação do espaço público, numa perspectiva da cidade. As laranjeiras foram transplantadas, com os devidos cuidados e segundo as técnicas adequadas, para jardins e outros espaços da cidade definidos pela Divisão de Jardins, onde deverão igualmente cumprir objectivos de enquadramento.”
Cinco resistentes sobrevivem num separador na Av.Roma, a cerca de 500 metros da Praça.
Mas já estão condenadas.
Assim vamos encolhendo os ombros.
Não é só pelas árvores, é porque não ouvem os cidadãos.
Resposta que enviei aos esclarecimentos (iguais desde Setembro de 2009, a quem reclama):
Exma Senhora Arquiteta Conceição Candeias
Dou por recebido o esclarecimento à minha reclamação sobre a remoção das laranjeiras da Praça de Alvalade, o qual agradeço.
Infelizmente não posso concordar com a argumentação expendida, aliás já do domínio público por ter sido apresentada como resposta aos primeiros protestos.
Infelizmente também, não só a resposta não foi alterada, como não foi alterado o rumo do departamento. Isto é, tudo se passou como se não tivesse havido protestos. Não houve uma consulta formal aos cidadãos.
A conceção de democracia não deverá ser, salvo melhor opinião, a de um cheque em branco aos eleitos, nem a da aceitação acrítica das opções técnicas.
Para facilidade de transmissão dos meus argumentos, junto o vosso esclarecimento com observações a azul e itálico.
Retiro do episódio a conclusão de que nós, cidadãos, não conseguimos mobilizar-nos. Não é só pela ideia das árvores. É porque os cidadãos não são ouvidos.
Mas dele retiro também que vou esperar que apareçam as flores dos jacarandás e as folhas dos gingkos .
Com os melhores cumprimentos
F.Santos e Silva/Municipe ID 231131
(sites com protestos:
http://lisboasos.blogspot.com/2009/12/alvalade-requiem-pelas-laranjeiras.html
http://osverdesemlisboa.blogspot.com/2009/11/laranjeiras-da-praca-de-alvalade.html
http://laranjeirasalvaladelisboa.blogspot.com/2009/09/laranjeiras-da-praca-de-alvalade-em.html
http://lisboalisboa.blogspot.com/2010/03/lisboa-ficar-sem-arvores.html
http://cidadanialx.blogspot.com/2009/09/praca-de-alvalade-conclusao-do-arranjo.html
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/01/as-laranjeiras-da-praca-de-alvalade.html
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/02/estao-ver-isto-e-estao-ver-que-nao.html
)
Resposta aos argumentos do esclarecimento da senhora Arquiteta:
O Projecto de Qualificação para a Praça de Alvalade foi elaborado pela Divisão de Estudos e Projectos, da DMAU, no seguimento das obras de remodelação da Estação Alvalade do Metro, encontrando-se devidamente aprovado pelo município. A execução do projecto, a cargo do Metropolitano de Lisboa (para evitar deficiente interpretação, sugere-se a expressão:”…A execução, a cargo do Metropolitano, da obra correspondente ao Projeto de Qualificação da Praça…”) foi dividida por 2 fases, estando a 2ª fase agora a ser concluída, reconhecendo-se os grandes transtornos que este atraso causou no local, nomeadamente aos residentes.
Em relação à estrutura arbórea da praça, durante as obras do Metro foram removidas as laranjeiras existentes nos principais separadores, paralelos à Av. de Roma, as quais não podem ser replantadas, por questões relacionadas com a subida de cota da laje de cobertura da estação e consequente falta de altura disponível para a plantação de árvores (na realidade podem ser replantadas, dada a disponibilidade duma altura de 80 cm que poderia ser aumentada com muretes se a conceção dos separadores fosse outra; porém, por razões de fiabilidade da laje e de riscos de infiltrações, concorda-se plenamente com a ausência de árvores nestes separadores). Em face desta condicionante, ponderou-se a manutenção das laranjeiras nos separadores de menor dimensão, paralelos à Av. da Igreja, tendo-se optado pela sua remoção pelas seguintes razões:
(i) - a Praça de Alvalade constitui um exemplo de urbanismo dos anos 40 , sendo caracterizada por um traçado de desenho urbano com uma identidade própria, de grande regularidade e simetria em relação aos dois eixos de composição definidos pela Av. de Roma e Av. da Igreja; considerou-se fundamental para a dignificação da praça a manutenção dessa simetria e unidade de tratamento, centralizada no elemento escultural central; (lamenta-se não poder aceitar-se este argumento; a praça de Alvalade não é um exemplo de urbanismo dos anos 40; as avenidas são-no, mas a praça atual é diferente do projetado nos anos 40; os prédios mais altos obedecem a critérios diferentes do pensado originalmente para a praça, julgando-se que se trata de realizações arquitetónicas muito bem conseguidas e integradas no urbanismo da zona; o grupo escultural central não tem nada que ver com a conceção original da praça e só foi pensado a partir de 1969 (inauguração em 1972), bastando recordar que o nome da praça até então foi Praça Frei Luis de Sousa, existindo uma praceta anexa à Rua Carlos Seixas com o nome de Praça de Alvalade; com a inauguração da estátua as designações das duas praças foram trocadas; salvo melhor opinião, o elemento escultural encontra-se perfeitamente desintegrado do urbanismo da zona e quebra a leitura do eixo Igreja S.João de Brito – Campo Grande (vem a propósito recordar que a conceção original da Av.da Igreja era incompatível com o estacionamento de automóveis e privilegiava a circulação pedonal; contrariamente à restante argumentação, esta é de natureza subjetiva e deixa-se aqui registada como protesto por se tratar de uma figura de uma tendência religiosa ocupando um espaço público; admite-se que possa existir uma maioria de cidadãos que queiram a estátua onde está, sendo desejável que essa maioria seja informada de que existe uma minoria que gostaria que aquela estátua não estivesse ali, embora aceite a vontade da maioria se livremente expressa)
(ii) - as laranjeiras não faziam parte do projecto original da praça, tendo constituído uma acção pontual de plantação dos finais da década de 80 (ou princípio de 90); (é verdade, e foi com grande surpresa, pela positiva, que os habitantes e passantes da zona, assistiram à plantação de laranjeiras; é natural que agora, ao vê-las retiradas, protestem; como se viu em i), este argumento não pode ser utilizado com consistência, dado que os edifícios mais altos e o elemento escultural central não faziam parte do projeto original da praça)
(iii) - em face da envolvência arquitectónica da praça, com prédios até 15 andares de altura (C. C. Alvalade), considera-se que as laranjeiras apresentam um porte pouco compatível com a escala da praça, incompatibilidade que surge acentuada pela existência de laranjeiras apenas nos separadores de menor dimensão; (solicita-se alguma benevolência para que se considere ser esta também uma opinião subjetiva; relativamente ao porte, é fácil encontrar laranjeiras com 4 m de altura da copa, algumas até, parece que já condenadas, bem perto desta praça, sendo que não se encontram mais porque é das árvores que melhor suportam a poda e facilmente se contêm as suas dimensões); quanto à compatibilidade do porte, basta comparar as fotografias do antes e depois da retirada ).
A opção de remoção das laranjeiras surge naturalmente (pede-se desculpa por discordar da utilização deste advérbio; a opção de retirada das laranjeiras não foi natural, foi artificial e decidida por quem tem o poder para o fazer, sem atender á expressão da oposição dos moradores e dos passantes que desde Setembro de 2009 o fizeram, e sem ter realizado uma consulta popular) associada à possibilidade de plantação de novos alinhamentos de árvores, de forma a garantir uma amenização ambiental da praça e melhorar as condições de sombra e conforto dos peões (em áreas em que o peão efectivamente circula – (mais uma vez se considera indevidamente utilizado um argumento; os peões têm de atravessar os separadores na Av.Igreja sem sombras, o que não se verificava anteriormente). São propostos 4 novos alinhamentos de árvores de grande porte - Jacarandás - integrados nas 4 bolsas de estacionamento e paralelos ás fachadas edificadas (22 exemplares).(nada a opor, excetuando o recurso a viveiros estrangeiros)
Em face do exposto, voltando a dar à praça a sua imagem original (como visto em i) não estava prevista a estátua de Santo António no projeto original), em que se enriquece a pavimentação dos separadores com lajes de lioz (idêntica ao separador central, base da estátua), considera-se estar a contribuir para a sua dignificação, enquanto “praça dura” emblemática de uma época (como visto em i), concorda-se com a designação de praça dura emblemática, mas da época de 1972, data da inauguração da estátua), abrindo simultaneamente as perspectivas visuais para os eixos das avenidas que se cruzam na praça, nomeadamente para a Igreja S. João de Brito, no topo Nascente da Av. da Igreja.(mais uma vez se pede para considerar este tipo de opiniões como subjetivas; caberá aqui, para além do exposto atrás sobre a leitura do eixo Igreja S.João de Brito-Campo Grande, anotar a incoerência da anterior referencia ao pequeno porte das laranjeiras- se tinham pequeno porte não obstruíam a vista da Igreja…)
De referir ainda, e de não menos importância, que este projecto se integra no Projecto global de Qualificação Urbana da Av. de Roma (já construído no troço envolvente à Estação Roma, entre a Av. dos E.U. da América e a Rua Frei Amador Arrais) o qual em termos de estrutura arbórea define a plantação de alinhamentos de árvores contínuos ao longo dos passeios laterais, de forma a criar condições de conforto directa ao peão e oferecer o devido enquadramento ao eixo urbano, recriando o perfil de alameda (nada a opor, desde que ponderada a opção por árvores de folha caduca com frutos de mau cheiro). Segundo este conceito o Projecto da Av. de Roma prevê a remoção integral das árvores existentes nos separadores centrais ao longo de toda a avenida (embora se trate de uma opinião subjetiva, discorda-se: as árvores no separador central são uma vista agradável para os peões nos passeios), considerando-se que a presente acção de remoção das laranjeiras nos separadores da Praça de Alvalade se integra igualmente nesse conceito de âmbito mais global.
Compreendemos que a remoção das laranjeiras poderá gerar uma reacção negativa por parte dos moradores (duvida-se que o departamento tenha compreendido todas as razões dos opositores: foi a forma prepotente como se recusou a discussão e a sondagem formal, com envolvimento da junta de freguesia mas com consulta efetiva popular aos moradores e aos passantes habituais, o que é muito grave porque desde Setembro de 2009 os protestos foram apresentados; foi ainda o metropolitano ter a obra a seu cargo mas não ter podido discutir atempadamente o projeto de arranjos exteriores através dos seus órgãos próprios), habituados à sua imagem no local, contudo consideramos que as razões que nos ditaram a opção de remoção são válidas e consistentes (julga-se ter demonstrado a inconsistência das razões), tendo em conta o principal objectivo de dignificação do espaço público, numa perspectiva da cidade. As laranjeiras foram transplantadas, com os devidos cuidados e segundo as técnicas adequadas, para jardins e outros espaços da cidade definidos pela Divisão de Jardins, onde deverão igualmente cumprir objectivos de enquadramento.”
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paisagismo urbano
quarta-feira, 24 de março de 2010
País esquizofrénico, país bipolar - Ditirambo á moda de Cesariny
.
País que arde mansinho junto ao mar (Ortofrenia)
Que em todas as ruas se encontra e em todas as ruas se perde (Pena capital)
Capaz de vender geradores eólicos aos marroquinos,
Mas capaz de condenar as gerações futuras à ignorância , à incultura, ao vandalismo e à insegurança,
porque ostracizou , dentro dele mesmo país,
os professores e os médicos.
E porque os sábios que dizem que sabem
não sabem como organizar os empregos produtivos.
País em que chove de noite e de dia brilha o sol,
País que sofre de doenças mentais
sem que os sábios que o governam soubessem
E talvez “et pour cause”
ficassem surpreendidos por verificarem a distancia
entre a realidade e a perceção que dela tinham.
Mas que faz pulseiras e brincos de filigrana,
que escreve o Scherzo fantástico muito antes de Stravinsky
e que ensina as crianças quando
dezenas de mãos femininas trabalham a atmosfera. (Dorme meu filho)
Senhores sábios e poderosos,
Mais respeito por quem limpa as casas e os escritórios
e por quem faz o vinho da Amareleja e da Granja,
e que merece
aclamações. (Ortofrenia)
Este texto foi motivado pela notícia de que de um estudo feito com algum cuidado por especialistas resultou que 23% de portugueses sofre de doenças mentais.
É um escandalo que os sábios que recomendam ao povo que aumente a sua produtividade e a sua competitividade ainda não se tivessem apercebido do desastre e tivessem sistematicamente ignorado os avisos que lhes chegaram, ou que não quiseram ler, de quem se defrontava com os efeitos dessas doenças no trabalho diário nas empresas.
Se continuarmos assim, a fazer só apelos aos aumentos de produtividade e de competitividade, que, como se sabe doutras sociedades industrializadas, é um dos principais fatores das depressões nervosas, pode ser que de 23% se chegue aos 51%.
E então, ser normal será ser psicótico?
Se 51% de cidadãos duma democracia não forem democratas a democracia continua a ser democracia?
Foram respigados alguns versos de poemas de Mário Cesariny, indicando-se entre parênteses os nomes do poema a que pertence o verso.
Luis de Freitas Branco compõs o Scherzo Fantástico.
Ortofrenia é um neologismo que significa pensamento (frenia) correto (orto).
_____
País que arde mansinho junto ao mar (Ortofrenia)
Que em todas as ruas se encontra e em todas as ruas se perde (Pena capital)
Capaz de vender geradores eólicos aos marroquinos,
Mas capaz de condenar as gerações futuras à ignorância , à incultura, ao vandalismo e à insegurança,
porque ostracizou , dentro dele mesmo país,
os professores e os médicos.
E porque os sábios que dizem que sabem
não sabem como organizar os empregos produtivos.
País em que chove de noite e de dia brilha o sol,
País que sofre de doenças mentais
sem que os sábios que o governam soubessem
E talvez “et pour cause”
ficassem surpreendidos por verificarem a distancia
entre a realidade e a perceção que dela tinham.
Mas que faz pulseiras e brincos de filigrana,
que escreve o Scherzo fantástico muito antes de Stravinsky
e que ensina as crianças quando
dezenas de mãos femininas trabalham a atmosfera. (Dorme meu filho)
Senhores sábios e poderosos,
Mais respeito por quem limpa as casas e os escritórios
e por quem faz o vinho da Amareleja e da Granja,
e que merece
aclamações. (Ortofrenia)
Este texto foi motivado pela notícia de que de um estudo feito com algum cuidado por especialistas resultou que 23% de portugueses sofre de doenças mentais.
É um escandalo que os sábios que recomendam ao povo que aumente a sua produtividade e a sua competitividade ainda não se tivessem apercebido do desastre e tivessem sistematicamente ignorado os avisos que lhes chegaram, ou que não quiseram ler, de quem se defrontava com os efeitos dessas doenças no trabalho diário nas empresas.
Se continuarmos assim, a fazer só apelos aos aumentos de produtividade e de competitividade, que, como se sabe doutras sociedades industrializadas, é um dos principais fatores das depressões nervosas, pode ser que de 23% se chegue aos 51%.
E então, ser normal será ser psicótico?
Se 51% de cidadãos duma democracia não forem democratas a democracia continua a ser democracia?
Foram respigados alguns versos de poemas de Mário Cesariny, indicando-se entre parênteses os nomes do poema a que pertence o verso.
Luis de Freitas Branco compõs o Scherzo Fantástico.
Ortofrenia é um neologismo que significa pensamento (frenia) correto (orto).
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terça-feira, 23 de março de 2010
A água e as privatizações
Com a devida vénia, cito a entrevista do DN, sobre a água, a William Cosgrove, antigo vice-presidente do Banco Mundial, atual coordenador do ONU Third World Water Development Report:
http://dn.sapo.pt/bolsa/interior.aspx?content_id=1525160
O senhor diz simplesmente, relativamente ao problema da água e à necessidade de garantir a sua disponibilidade e qualidade, que “o principal desafio é não deixar que a água seja privatizada. Pertencer sempre às pessoas é essencial. Mas deve ser legislada. As pessoas podem viver sem petróleo, mas não sem água.”
Eu penso que este é um excelente exemplo de uma externalidade (o uso que alguns possam fazer da água é um fator externo que pode influenciar o uso ou a falta de uso da água por outros) que tem de ser internalizada, como dizem os economistas, sem esperar que os mecanismos de mercado encontrem respostas, porque a dependência da água é uma necessidade pública.
Felizmente, como diz William Cosgrove, os custos dessa internalização são um investimento reprodutível.
Eu penso que as decisões coletivas não devem ser tomadas com base em ideologias de aplicação universal, porque não parece ser possível arranjar aplicações universais que dêem bom resultado.
Cada qual tem direito às ideologias que quiser, mas em chegando a hora em que decisões erradas podem prejudicar muita gente, as questões devem ser analisadas caso a caso e escolher a solução aplicável ao caso concreto.
Aqui na água parece ser prudente seguir a recomendação do especialista William Cosgrove, não privatizar, se fazem favor.
Noutros domínios será melhor fazê-lo.
Depende…
Mas é preciso debater bem as questões, com a participação dos técnicos que estão dentro do assunto…
Sem dar muita importância aos critérios economicistas, julgo eu… também pode haver benefícios e, no caso da água, o senhor William Cosgrove estima-os em 5 vezes os custos…
Entretanto, por falar em água, se fosse possível , embora eu saiba que o país tem falta de dinheiro, e pese embora o facto de no Instituto público da água as novas gerações de técnicos e altos dirigentes utilizarem todos os meios informáticos e telemáticos e os programas de gestão de recursos mais eficientes, gostaria que se pudesse remediar a situação para que se alerta no sítio do instituto da água (INAG):
http://www.inag.pt/ e http://snirh.pt/snirh.php?main_id=2&item=2
na página dedicada à rede nacional de monitorização da água:
“A manutenção das estações de monitorização (redes Meteorológica, Hidrométrica e Qualidade Automática) está suspensa desde Junho de 2009, pelo que poderão ocorrer falhas na disponibilização de dados ao público.”
Como cidadão contribuinte eu agradecia, não vá aparecer alguém com poderes de persuasão dizendo que se se privatizasse o INAG a rede seria prontamente reparada, e colocasse o INAG no PEC da PARPÚBLICA.
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http://dn.sapo.pt/bolsa/interior.aspx?content_id=1525160
O senhor diz simplesmente, relativamente ao problema da água e à necessidade de garantir a sua disponibilidade e qualidade, que “o principal desafio é não deixar que a água seja privatizada. Pertencer sempre às pessoas é essencial. Mas deve ser legislada. As pessoas podem viver sem petróleo, mas não sem água.”
Eu penso que este é um excelente exemplo de uma externalidade (o uso que alguns possam fazer da água é um fator externo que pode influenciar o uso ou a falta de uso da água por outros) que tem de ser internalizada, como dizem os economistas, sem esperar que os mecanismos de mercado encontrem respostas, porque a dependência da água é uma necessidade pública.
Felizmente, como diz William Cosgrove, os custos dessa internalização são um investimento reprodutível.
Eu penso que as decisões coletivas não devem ser tomadas com base em ideologias de aplicação universal, porque não parece ser possível arranjar aplicações universais que dêem bom resultado.
Cada qual tem direito às ideologias que quiser, mas em chegando a hora em que decisões erradas podem prejudicar muita gente, as questões devem ser analisadas caso a caso e escolher a solução aplicável ao caso concreto.
Aqui na água parece ser prudente seguir a recomendação do especialista William Cosgrove, não privatizar, se fazem favor.
Noutros domínios será melhor fazê-lo.
Depende…
Mas é preciso debater bem as questões, com a participação dos técnicos que estão dentro do assunto…
Sem dar muita importância aos critérios economicistas, julgo eu… também pode haver benefícios e, no caso da água, o senhor William Cosgrove estima-os em 5 vezes os custos…
Entretanto, por falar em água, se fosse possível , embora eu saiba que o país tem falta de dinheiro, e pese embora o facto de no Instituto público da água as novas gerações de técnicos e altos dirigentes utilizarem todos os meios informáticos e telemáticos e os programas de gestão de recursos mais eficientes, gostaria que se pudesse remediar a situação para que se alerta no sítio do instituto da água (INAG):
http://www.inag.pt/ e http://snirh.pt/snirh.php?main_id=2&item=2
na página dedicada à rede nacional de monitorização da água:
“A manutenção das estações de monitorização (redes Meteorológica, Hidrométrica e Qualidade Automática) está suspensa desde Junho de 2009, pelo que poderão ocorrer falhas na disponibilização de dados ao público.”
Como cidadão contribuinte eu agradecia, não vá aparecer alguém com poderes de persuasão dizendo que se se privatizasse o INAG a rede seria prontamente reparada, e colocasse o INAG no PEC da PARPÚBLICA.
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O PEC e os sapatos
Com a devida vénia ao Oje de hoje, retransmito a informação de que o setor português do calçado exportou em 2009, para 132 países, 59 milhões de pares de sapatos no valor de 1 208 milhões de euros.
O volume de sapatos produzidos para o mercado nacional foi de cerca de 2,5 milhões de pares de sapatos.
Eu, que sou ignorante em economia, diria que o PEC deveria estimular a produção e a exportação de sapatos, nem que pusesse os senhores embaixadores a angariar compradores no Brasil, na India, na China e na Africa do Sul (seriam os países BICA) . Na Russia não era muito preciso porque já se exporta para lá (pensando melhor, talvez eles nos pudessem comprar ainda mais sapatos).
Quem também nos compra sapatos é a Bolívia (é bom, pode vender-nos lítio para as baterias dos carros eletricos) e até o Iraque (venha daí o petróleo).
O senhor dr Manuel Pinho movia-se bem nesta problemática, assim como o senhor dr Basílio Horta. Mas quem já ouviu dizer a propósito do PEC que era preciso aumentar a produção e a exportação de sapatos?
E o vinho verde, já viram?
Também com a devida vénia ao Oje, exportaram-se 13,6 milhões de litros no valor de 30 milhões de euros, incluindo para a França do champanhe, para a Alemanha do riesling, para os USA dos vinhos californianos e para Angola (que há-de produzir muito bons vinhos do planalto quando a família dos Santos estiver mais próxima dos seus princípios ideológicos) .
E não se podiam exportar alentejanos para onde só se vêm chilenos, australianos, italianos e espanhois? Já provaram o syrah de origem australiana mas agora alentejano? Ainda há por lá muitos hectares em pousio. Lá pelo Alentejo.
Não era isto que devia discutir-se na televisão? em lugar de se discutir a taxa do imposto e do seu aumento e as empresas públicas que dão lucro que têm de ser sacrificadas no altar da religião da privatização?
Não devia ser isto a discutir-se?
Como aumentar a produção e como arranjar quem nos compre as exportações? Como diminuir a dependência alimentar de um país que importa 80% de alimentos e 80% da energia que consome?
Como dizia Keynes, as máquinas até já estão instaladas…
Não terei razão? (eu não, quem ainda trabalha neste país com benefício para o dito)
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O volume de sapatos produzidos para o mercado nacional foi de cerca de 2,5 milhões de pares de sapatos.
Eu, que sou ignorante em economia, diria que o PEC deveria estimular a produção e a exportação de sapatos, nem que pusesse os senhores embaixadores a angariar compradores no Brasil, na India, na China e na Africa do Sul (seriam os países BICA) . Na Russia não era muito preciso porque já se exporta para lá (pensando melhor, talvez eles nos pudessem comprar ainda mais sapatos).
Quem também nos compra sapatos é a Bolívia (é bom, pode vender-nos lítio para as baterias dos carros eletricos) e até o Iraque (venha daí o petróleo).
O senhor dr Manuel Pinho movia-se bem nesta problemática, assim como o senhor dr Basílio Horta. Mas quem já ouviu dizer a propósito do PEC que era preciso aumentar a produção e a exportação de sapatos?
E o vinho verde, já viram?
Também com a devida vénia ao Oje, exportaram-se 13,6 milhões de litros no valor de 30 milhões de euros, incluindo para a França do champanhe, para a Alemanha do riesling, para os USA dos vinhos californianos e para Angola (que há-de produzir muito bons vinhos do planalto quando a família dos Santos estiver mais próxima dos seus princípios ideológicos) .
E não se podiam exportar alentejanos para onde só se vêm chilenos, australianos, italianos e espanhois? Já provaram o syrah de origem australiana mas agora alentejano? Ainda há por lá muitos hectares em pousio. Lá pelo Alentejo.
Não era isto que devia discutir-se na televisão? em lugar de se discutir a taxa do imposto e do seu aumento e as empresas públicas que dão lucro que têm de ser sacrificadas no altar da religião da privatização?
Não devia ser isto a discutir-se?
Como aumentar a produção e como arranjar quem nos compre as exportações? Como diminuir a dependência alimentar de um país que importa 80% de alimentos e 80% da energia que consome?
Como dizia Keynes, as máquinas até já estão instaladas…
Não terei razão? (eu não, quem ainda trabalha neste país com benefício para o dito)
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segunda-feira, 22 de março de 2010
Notícias do mundo anglo-saxónico – Março de 2010
Desejo relacionar o meu recente comentário sobre o “Hurt locker” com as notícias que vejo hoje, dos USA e do UK, os principais instigadores da guerra do Iraque, não validada pelos órgãos institucionais internacioniais, e do prolongamento do esforço de guerra no Afeganistão.
1 – A reforma da saúde nos USA
Dos USA chega o quadro da votação no Congresso sobre a reforma da saúde quando faltavam 1:56 : 213 votos a favor, 203 contra.
Felicitações , presidente Obama, e votos de sucesso para a reforma (seguro obrigatório de saúde, com comparticipação pública quando necessário).
Pode ser que isto represente um princípio muito simples: que a solidariedade distingue a espécie humana das outras.
E falo assim porque uma boa maneira de melhorar a economia e o bem estar é reduzir os gastos com a guerra.
Os adamsmithistas vociferarão que quem desconta mais ficará desmotivado porque está a sustentar quem não consegue produzir o suficiente para ter rendimentos que lhe possa pagar um bom seguro.
Mas agora a lei passa a ser assim.
Importam-se de cumprir?
Seja A o volume de rendimentos fixos e de atividade liberal que era declarado por um crente adamsmithista e B o volume de rendimentos da sua atividade liberal que ele não declarava antes da aprovação da lei.
Seja “t” a taxa ou imposto recolhido pelo fisco dos USA. O montante recolhido oficialmente era t1A.
Sobre B não há recolha direta de imposto, mas como tem um efeito multiplicador como economia paralela (lavagem de dinheiro, por exemplo), admitamos que produziu uma recolha de t1x0,1B.
Logo, o que o fisco recolhia era t1A+ t1x0,1B, ou seja, t1(A+0,1B)
Admitamos de seguida que a desmotivação da nova lei levava o adamsmithista a trabalhar menos 20% na sua atividade declarada (se não declarava a outra parte, não se iria desmotivar nessa parte por os dinheiros públicos andarem a subsidiar seguros pouco rentáveis).
Teríamos como recolha de imposto depois da lei:
t1x0,8A+ t1x0,1B, ou seja t1(0,8A+0,1B)
Vamos ver o que perdeu o adamsmithista em percentagem na transição da lei.
Situação anterior: rendimento líquido (1-t1)A+B
Situação posterior: rendimento líquido (1-t1)x0,8A+B , ou seja, (0,8-0,8 t1)A+B
Perda de rendimento do adamsmithista : (1-t1)A+B – [(0,8-0,8 t1)A+B] = 0,2A-0,2 t1A
Se a taxa for 0,3 a perda será : 0,14A
Isto é, trabalhou menos 20% na atividade declarada e teve uma diminuição de rendimento de 14%
E quanto perderá o fisco?
Situação anterior: t1(A+0,1B)
Situação posterior: t1(0,8A+0,1B)
Perda da recolha pelo fisco: t1(A+0,1B) - t1(0,8A+0,1B) = 0,2 t1A
Para uma taxa de 0,3 teremos para a perda do fisco: 0,06A
Isto é, o adamsmithista perdeu mais do dobro do que o fisco.
Será portanto uma hipótese provável que Adam Smith teria dito ao adamsmithista:
Não sejas urso, eu fartei-me de explicar que o interesse individual revertia sempre para o bem comum. Mantem ou aumenta o rendimento de A e não te importes se o respetivo imposto vai pagar o seguro do cidadão preguiçoso. Se não fizeres o que te digo, perdes mais do que o fisco.
2 – O cabo Katrine Hodge
A notícia vem do UK. O cabo Katrine Hodge é a atual miss Inglaterra. Já cumpriu a sua missão de combate no Iraque e ajuda neste momento a levantar o moral das tropas e a convencer jovens a alistarem-se no exército.
Como o “Hurt locker”.
Biologicamente, a Natureza entregou ao género feminino uma função física de preservação da espécie.
Porém o cérebro humano evoluiu e qualquer ser humano pode, independentemente do género e como explica o “Hurt locker”, criar adição pelas circunstancias da guerra e pelas endorfinas e dopaminas daí emergentes.
Fascinante, como diria Mr Spock, da nave Entreprise.
Fascinante, mas ameaçador, como ele, Mr Spock, também explicava, enquanto agia em conformidade.
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1 – A reforma da saúde nos USA
Dos USA chega o quadro da votação no Congresso sobre a reforma da saúde quando faltavam 1:56 : 213 votos a favor, 203 contra.
Felicitações , presidente Obama, e votos de sucesso para a reforma (seguro obrigatório de saúde, com comparticipação pública quando necessário).
Pode ser que isto represente um princípio muito simples: que a solidariedade distingue a espécie humana das outras.
E falo assim porque uma boa maneira de melhorar a economia e o bem estar é reduzir os gastos com a guerra.
Os adamsmithistas vociferarão que quem desconta mais ficará desmotivado porque está a sustentar quem não consegue produzir o suficiente para ter rendimentos que lhe possa pagar um bom seguro.
Mas agora a lei passa a ser assim.
Importam-se de cumprir?
Seja A o volume de rendimentos fixos e de atividade liberal que era declarado por um crente adamsmithista e B o volume de rendimentos da sua atividade liberal que ele não declarava antes da aprovação da lei.
Seja “t” a taxa ou imposto recolhido pelo fisco dos USA. O montante recolhido oficialmente era t1A.
Sobre B não há recolha direta de imposto, mas como tem um efeito multiplicador como economia paralela (lavagem de dinheiro, por exemplo), admitamos que produziu uma recolha de t1x0,1B.
Logo, o que o fisco recolhia era t1A+ t1x0,1B, ou seja, t1(A+0,1B)
Admitamos de seguida que a desmotivação da nova lei levava o adamsmithista a trabalhar menos 20% na sua atividade declarada (se não declarava a outra parte, não se iria desmotivar nessa parte por os dinheiros públicos andarem a subsidiar seguros pouco rentáveis).
Teríamos como recolha de imposto depois da lei:
t1x0,8A+ t1x0,1B, ou seja t1(0,8A+0,1B)
Vamos ver o que perdeu o adamsmithista em percentagem na transição da lei.
Situação anterior: rendimento líquido (1-t1)A+B
Situação posterior: rendimento líquido (1-t1)x0,8A+B , ou seja, (0,8-0,8 t1)A+B
Perda de rendimento do adamsmithista : (1-t1)A+B – [(0,8-0,8 t1)A+B] = 0,2A-0,2 t1A
Se a taxa for 0,3 a perda será : 0,14A
Isto é, trabalhou menos 20% na atividade declarada e teve uma diminuição de rendimento de 14%
E quanto perderá o fisco?
Situação anterior: t1(A+0,1B)
Situação posterior: t1(0,8A+0,1B)
Perda da recolha pelo fisco: t1(A+0,1B) - t1(0,8A+0,1B) = 0,2 t1A
Para uma taxa de 0,3 teremos para a perda do fisco: 0,06A
Isto é, o adamsmithista perdeu mais do dobro do que o fisco.
Será portanto uma hipótese provável que Adam Smith teria dito ao adamsmithista:
Não sejas urso, eu fartei-me de explicar que o interesse individual revertia sempre para o bem comum. Mantem ou aumenta o rendimento de A e não te importes se o respetivo imposto vai pagar o seguro do cidadão preguiçoso. Se não fizeres o que te digo, perdes mais do que o fisco.
2 – O cabo Katrine Hodge
A notícia vem do UK. O cabo Katrine Hodge é a atual miss Inglaterra. Já cumpriu a sua missão de combate no Iraque e ajuda neste momento a levantar o moral das tropas e a convencer jovens a alistarem-se no exército.
Como o “Hurt locker”.
Biologicamente, a Natureza entregou ao género feminino uma função física de preservação da espécie.
Porém o cérebro humano evoluiu e qualquer ser humano pode, independentemente do género e como explica o “Hurt locker”, criar adição pelas circunstancias da guerra e pelas endorfinas e dopaminas daí emergentes.
Fascinante, como diria Mr Spock, da nave Entreprise.
Fascinante, mas ameaçador, como ele, Mr Spock, também explicava, enquanto agia em conformidade.
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sábado, 20 de março de 2010
Educação XI - factos passados em Fevereiro e Março de 2010 para registo
A gravidade dos erros cometidos pela senhora ministra Lurdes Rodrigues e dos órgãos institucionais que a deixaram cometê-los, com as consequências desastrosas para a qualificação profissional das gerações que passaram pela escola nessa época, justifica a minha insistência, pelo que deixo os seguintes registos:
1 – A nova ministra visita uma escola e afirma que tem de ser dada mais autoridade aos professores
2 – enquanto isto, como se diz em coloquial, uma aluna de 10 anos morde uma professora que lhe retirou a esferográfica com que riscava o tampo da carteira
3 – noutra escola, esta de ensino especial para casos mais difíceis, um aluno de 17 anos, frequentando mais uma vez o 5º ano (antigo 1º ano do liceu), segura uma colega pelo pescoço e bate repetidamente na parede com a cabeça dela. A colega é tratada no hospital a traumatismos cranianos
4 – nessa mesma escola, 2 meses depois, o mesmo aluno conversa afavelmente com as professoras e declara que se sente melhor e mais calmo. A aula é de modelagem de barro e pede mais uma bola de barro ao colega do lado, que recusa. O rapaz perde a cabeça com a recusa e envolvem-se os dois à pancada. Com a imagem da outra aluna a ir para o hospital, as duas professoras precipitam-se a tentar separá-los. Um delas coloca mal o pé e parte a tíbia. Vai estar vários meses em casa porque surgiram algumas complicações para a operação necessária. O seguro da escola ainda não assumiu os custos
5 – uma escola de Trás os Montes é acusada de nada ter feito para evitar o suicídio de uma criança. Feito o inquérito, não parece ter sido o caso, mas há um facto certo: o menino não sabia nadar (é verdade que qualquer pessoa, mesmo sabendo nadar, corre o risco de se afogar; mas não saber nadar é correr riscos intoleráveis)
6 – numa escola já referida neste blogue, o professor substituto de uma professora reformada faltou em 3 dos 5 dias da primeira semana e, na segunda semana, entrou de baixa prolongada para ser operado conforme já tinha planeado antes de aceitar o lugar;
7 – nessa mesma escola, cerca de 10% das crianças vivem em instituições de acolhimento por reconhecida incapacidade da mãe ou dos pais em mantê-los em casa
Alguns comentários a alguns dos pontos anteriores:
Há um grande risco, perante notícias trágicas ou por razões emocionais, de se entrar em processo de histeria coletiva (não é ofensa, é um facto psico-sociológico) e de não dar atenção às causas e circunstancias determinantes.
Caso 1: não sou eu que digo, é a nova ministra, e tudo indica que a anterior senhora ministra nunca o diria (ficou para história: “perdi os professores mas ganhei o povo”, o que era mentira, obviamente)
Caso 2: para além de revelar problemas comportamentais da aluna, casos como ete revelam também alguma impreparação da professora: não se deve retirar a um adolescente problemático o telemóvel ou qualquer objeto com que tenha relação estreita: a boa prática é chamar a senhora auxiliar para acompanhar a aluna para fora da aula
Caso 3 e 4: provavelmente o aluno sofre de esquizofrenia, terá zonas cerebrais afetadas e não tem sido devidamente tratado (o tratamento é caro, exige o domínio e o equilíbrio dos antagonistas dos recetadores da serotonina e, a não fazer-se, rapidamente se chegará ao ponto de irreversibilidade).
Caso 5: não é admissível que as crianças deste país não saibam nadar. Algumas aulas de educação física têm de ser dadas em piscinas (invocando o interesse público, pode sempre “expropriar-se” o direito de utilização para essas aulas; o problema será o aumento da despesa pública e o PEC, mas o facto é que não saber nadar, não havendo incapacidade física, é intolerável; estas considerações estendem-se ao caso dos jovens que vão exercer a profissão de pescador, e que muitas vezes escondem a sua inqualificação para nadar)
Caso 6: possivelmente para não fazer mentirosa da anterior ministra da Educação, como costumava argumentar Fernão Lopes, as escolas estarão a encher-se de oportunistas e aproveitadores; é o que acontece quando se desprestigia uma profissão; a professora reformada ainda se ofereceu para continuar a dar aulas, porque os alunos e alunas sempre se tinham revelado interessados nas aulas e a maioria tinha apoio dos pais em casa; mas foi-lhe dito que era contra a lei (faz lembrar os médicos reformados do SNS); esperemos que a diretora da escola consiga encontrar novo substituto sem perder muito tempo com os prazos legais (quem faz as leis não dá aulas…)
Caso 7: continuando a cortar na despesa pública, continuaremos a condenar estas crianças à criminalidade, ao vandalismo, à insegurança, à inqualificação profissional, ao falhanço como nação, embora nos condomínios fechados e em áreas restritas se possam fazer brilharetes com os jovens qualificados, enchendo páginas e páginas de revistas com casos de sucesso; mas não é isso que diz a declaração universal dos direitos do Homem
Comentário final: acham , em consciência, que o governo anterior devia ter feito tanta pressão pela “avaliação” dos professores e pelo estatuto da carreira docente? Acham que eram esses os problemas fundamentais a atacar? Não é claro que os principais problemas são exteriores à escola? Não foi isso que foi oportunamente dito a quem tem o poder político? Não deram muito ouvido, pois não?
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1 – A nova ministra visita uma escola e afirma que tem de ser dada mais autoridade aos professores
2 – enquanto isto, como se diz em coloquial, uma aluna de 10 anos morde uma professora que lhe retirou a esferográfica com que riscava o tampo da carteira
3 – noutra escola, esta de ensino especial para casos mais difíceis, um aluno de 17 anos, frequentando mais uma vez o 5º ano (antigo 1º ano do liceu), segura uma colega pelo pescoço e bate repetidamente na parede com a cabeça dela. A colega é tratada no hospital a traumatismos cranianos
4 – nessa mesma escola, 2 meses depois, o mesmo aluno conversa afavelmente com as professoras e declara que se sente melhor e mais calmo. A aula é de modelagem de barro e pede mais uma bola de barro ao colega do lado, que recusa. O rapaz perde a cabeça com a recusa e envolvem-se os dois à pancada. Com a imagem da outra aluna a ir para o hospital, as duas professoras precipitam-se a tentar separá-los. Um delas coloca mal o pé e parte a tíbia. Vai estar vários meses em casa porque surgiram algumas complicações para a operação necessária. O seguro da escola ainda não assumiu os custos
5 – uma escola de Trás os Montes é acusada de nada ter feito para evitar o suicídio de uma criança. Feito o inquérito, não parece ter sido o caso, mas há um facto certo: o menino não sabia nadar (é verdade que qualquer pessoa, mesmo sabendo nadar, corre o risco de se afogar; mas não saber nadar é correr riscos intoleráveis)
6 – numa escola já referida neste blogue, o professor substituto de uma professora reformada faltou em 3 dos 5 dias da primeira semana e, na segunda semana, entrou de baixa prolongada para ser operado conforme já tinha planeado antes de aceitar o lugar;
7 – nessa mesma escola, cerca de 10% das crianças vivem em instituições de acolhimento por reconhecida incapacidade da mãe ou dos pais em mantê-los em casa
Alguns comentários a alguns dos pontos anteriores:
Há um grande risco, perante notícias trágicas ou por razões emocionais, de se entrar em processo de histeria coletiva (não é ofensa, é um facto psico-sociológico) e de não dar atenção às causas e circunstancias determinantes.
Caso 1: não sou eu que digo, é a nova ministra, e tudo indica que a anterior senhora ministra nunca o diria (ficou para história: “perdi os professores mas ganhei o povo”, o que era mentira, obviamente)
Caso 2: para além de revelar problemas comportamentais da aluna, casos como ete revelam também alguma impreparação da professora: não se deve retirar a um adolescente problemático o telemóvel ou qualquer objeto com que tenha relação estreita: a boa prática é chamar a senhora auxiliar para acompanhar a aluna para fora da aula
Caso 3 e 4: provavelmente o aluno sofre de esquizofrenia, terá zonas cerebrais afetadas e não tem sido devidamente tratado (o tratamento é caro, exige o domínio e o equilíbrio dos antagonistas dos recetadores da serotonina e, a não fazer-se, rapidamente se chegará ao ponto de irreversibilidade).
Caso 5: não é admissível que as crianças deste país não saibam nadar. Algumas aulas de educação física têm de ser dadas em piscinas (invocando o interesse público, pode sempre “expropriar-se” o direito de utilização para essas aulas; o problema será o aumento da despesa pública e o PEC, mas o facto é que não saber nadar, não havendo incapacidade física, é intolerável; estas considerações estendem-se ao caso dos jovens que vão exercer a profissão de pescador, e que muitas vezes escondem a sua inqualificação para nadar)
Caso 6: possivelmente para não fazer mentirosa da anterior ministra da Educação, como costumava argumentar Fernão Lopes, as escolas estarão a encher-se de oportunistas e aproveitadores; é o que acontece quando se desprestigia uma profissão; a professora reformada ainda se ofereceu para continuar a dar aulas, porque os alunos e alunas sempre se tinham revelado interessados nas aulas e a maioria tinha apoio dos pais em casa; mas foi-lhe dito que era contra a lei (faz lembrar os médicos reformados do SNS); esperemos que a diretora da escola consiga encontrar novo substituto sem perder muito tempo com os prazos legais (quem faz as leis não dá aulas…)
Caso 7: continuando a cortar na despesa pública, continuaremos a condenar estas crianças à criminalidade, ao vandalismo, à insegurança, à inqualificação profissional, ao falhanço como nação, embora nos condomínios fechados e em áreas restritas se possam fazer brilharetes com os jovens qualificados, enchendo páginas e páginas de revistas com casos de sucesso; mas não é isso que diz a declaração universal dos direitos do Homem
Comentário final: acham , em consciência, que o governo anterior devia ter feito tanta pressão pela “avaliação” dos professores e pelo estatuto da carreira docente? Acham que eram esses os problemas fundamentais a atacar? Não é claro que os principais problemas são exteriores à escola? Não foi isso que foi oportunamente dito a quem tem o poder político? Não deram muito ouvido, pois não?
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O chocolate
A grande superfície comercial apareceu neste fim de semana com grandes quantidades de tabletes de chocolate de 100 gramas e com muitos sabores.
A 79 centimos.
Origem: Alemanha.
É uma pena. Duvido que na Alemanha se vendam estas tabletes a 79 cêntimos.
Segundo o meu professor de Economia, Daniel Barbosa, é “dumping”, custos de produção marginais.
“Dumping” é proibido.
http://europa.eu/legislation_summaries/external_trade/r11005_pt.htm
Mas estão ali à venda, orgulhando-se a grande superfície comercial de estar a contribuir para os preços baixos ao alcance de todos os consumidores.
É, pode ser que seja o lado bom.
O lado mau (sem falar nas cáries e nos desarranjos gástricos) é a sangria de divisas, a dependência alimentar do país e o estrangulamento económico dos fabricantes nacionais de chocolate.
“Come chocolates pequena, come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.Come, pequena suja, come!”*
Com esta metafísica e com esta religião ficas mesmo mais pobre.
E depois vem a senhora chanceler alemã ralhar com os cidadãos dos países que estão com dificuldades em pagar-lhes os BMW e os chocolates? ! Ao menos não podiam aplicar a teoria da vantagem comparativa (tu fazes BMW, eu faço chocolates, ah, e também sapatos, nas quantidades que quiserem porque temos as máquinas já instaladas)?
Espero que nas agencias de viagens alemãs e nos guias turísticos que lá se vendem (certamente que o senhor adido comercial da embaixada portuguesa na Alemanha já terá providenciado isso) venha mencionado o fabricante de chocolate puro de S.Tomé e Príncipe (e que não é nada barato, claro; nada que se pareça com 79 centimos; digamos que é um preço digno de um condutor de um BMW), que tem loja ali ao pé do Príncipe Real:
http://www.claudiocorallo.com/
Não percam, passe a publicidade.
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* Fernando Pessoa, a Tabacaria
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A grande superfície comercial apareceu neste fim de semana com grandes quantidades de tabletes de chocolate de 100 gramas e com muitos sabores.
A 79 centimos.
Origem: Alemanha.
É uma pena. Duvido que na Alemanha se vendam estas tabletes a 79 cêntimos.
Segundo o meu professor de Economia, Daniel Barbosa, é “dumping”, custos de produção marginais.
“Dumping” é proibido.
http://europa.eu/legislation_summaries/external_trade/r11005_pt.htm
Mas estão ali à venda, orgulhando-se a grande superfície comercial de estar a contribuir para os preços baixos ao alcance de todos os consumidores.
É, pode ser que seja o lado bom.
O lado mau (sem falar nas cáries e nos desarranjos gástricos) é a sangria de divisas, a dependência alimentar do país e o estrangulamento económico dos fabricantes nacionais de chocolate.
“Come chocolates pequena, come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.Come, pequena suja, come!”*
Com esta metafísica e com esta religião ficas mesmo mais pobre.
E depois vem a senhora chanceler alemã ralhar com os cidadãos dos países que estão com dificuldades em pagar-lhes os BMW e os chocolates? ! Ao menos não podiam aplicar a teoria da vantagem comparativa (tu fazes BMW, eu faço chocolates, ah, e também sapatos, nas quantidades que quiserem porque temos as máquinas já instaladas)?
Espero que nas agencias de viagens alemãs e nos guias turísticos que lá se vendem (certamente que o senhor adido comercial da embaixada portuguesa na Alemanha já terá providenciado isso) venha mencionado o fabricante de chocolate puro de S.Tomé e Príncipe (e que não é nada barato, claro; nada que se pareça com 79 centimos; digamos que é um preço digno de um condutor de um BMW), que tem loja ali ao pé do Príncipe Real:
http://www.claudiocorallo.com/
Não percam, passe a publicidade.
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* Fernando Pessoa, a Tabacaria
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Declarações do novo ministro da agricultura
Por ser parte interessada (tenho pinheiros no meu terreno) expus o caso do nemátodo no blogue em 15 de Novembro de 2009.
Não fui simpático para o senhor ministro da agricultura de então.
Leio nos jornais, há poucos dias, uma declaração do novo ministro da agricultura, referindo-se a outras omissões do anterior ministro: “Não sei como os senhores agricultores não fizeram uma revolução”.
Não é crime nem é uma vergonha cometer erros e omissões. Mas ter deixado o anterior ministro da agricultura fazer e não fazer o que fez e o que não fez, não foi bom.
Como se vê, não só sou eu que “acho” isso.
É o novo ministro, em quem se depositam portanto algumas esperanças.
E não lhe atirem pedras por estar a pôr a nu as insuficiencias do antecessor.
É verdade, é para se dizer.
Há uma diretiva europeia que diz que o povo tem direito à verdade dos factos políticos e que é crime ocultá-la.
Mas isto devia ser amplamente falado nos meios de comunicação social.
Mais importante do que discutir percentagens de redução de défices públicos seria reduzir mesmo a percentagem de alimentos importados (80%).
Não há país saudável com uma dependência alimentar tão grande do exterior.
Mas não vejo esta discussão a propósito do PEC.
"Acho" mal.
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Não fui simpático para o senhor ministro da agricultura de então.
Leio nos jornais, há poucos dias, uma declaração do novo ministro da agricultura, referindo-se a outras omissões do anterior ministro: “Não sei como os senhores agricultores não fizeram uma revolução”.
Não é crime nem é uma vergonha cometer erros e omissões. Mas ter deixado o anterior ministro da agricultura fazer e não fazer o que fez e o que não fez, não foi bom.
Como se vê, não só sou eu que “acho” isso.
É o novo ministro, em quem se depositam portanto algumas esperanças.
E não lhe atirem pedras por estar a pôr a nu as insuficiencias do antecessor.
É verdade, é para se dizer.
Há uma diretiva europeia que diz que o povo tem direito à verdade dos factos políticos e que é crime ocultá-la.
Mas isto devia ser amplamente falado nos meios de comunicação social.
Mais importante do que discutir percentagens de redução de défices públicos seria reduzir mesmo a percentagem de alimentos importados (80%).
Não há país saudável com uma dependência alimentar tão grande do exterior.
Mas não vejo esta discussão a propósito do PEC.
"Acho" mal.
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sexta-feira, 19 de março de 2010
Diálogos de Siracusa – 1 (Tema e variações sobre ficções mais ou menos históricas)
Os textos sob esta rubrica são uma adaptação anacrónica e discrónica de um papiro encontrado recentemente perto de Taormina, nas escavações de uma vila romana cuja presença insuspeita até agora se ocultava sob uma camada de 2 metros de terra, arrastada pelos ventos do Mediterraneo, e de cinzas de uma erupção do Etna, com lava a escorrer pelas ribeiras até ao mar, no século V DC, poucos anos depois de mais um maremoto em Olissipo, na Ibéria.
Os testes do carbono datam o papiro do século IV DC, parecendo ser uma cópia de cópias sucessivas de um texto escrito em Siracusa, pouco tempo depois da tomada da cidade pelos soldados do general romano Marcelo.
Tema:
O soldado de Marcelo e Arquimedes: cada um com a sua linguagem; duas linguagens incompatíveis, porque reproduzem mundos diferentes, e porque o soldado e Arquimedes nunca existiram.
Existiram sim as suas sombras, como explicou Platão, e foram as suas sombras que vimos refletidas sobre o fundo da caverna em que vivemos.
E, pior ainda do que pensou Platão, nem as sombras que vemos existem. O que existe é uma sucessão de preenchimentos de vazios que o nosso cérebro executa, decidindo, arbitrariamente, que movimentos as sombras fazem entre os breves instantes em que se insinuam mais próximas da realidade, e enganando-nos com o resultado do seu trabalho.
1º diálogo – A morte de Arquimedes
Caio Indivisio – No ano 541 da era romana, uma esquadra romana cercou, uma vez mais, a colónia grega de Siracusa. O general Marcelo demonstrou as suas qualidade de líder ocupando a cidade
Publius Coletius – Eu, que estudei com quem estudou com Arquimedes, diria que foram os soldados de Marcelo, e não Marcelo, que conquistaram a cidade. Uma pena que tenham sido uma força bruta. Que tenham morto o mestre.
Caio Indivisio – Arquimedes criava engenhos para destruir vidas romanas. Os soldados tinham ordens para abater quem não lhes obedecesse. Arquimedes não respondeu ao soldado; o soldado matou-o.
Publius Coletius – A violência é quase sempre a fraqueza dos mais fortes. Já o dizia Sigmund Freud, das terras do Danubio. Se o soldado se sentisse seguro, se compreendesse a linguagem de Arquimedes, tinha-se debruçado sobre o seu ombro e discutido o que ele estava a desenhar na areia.
Caio Indivisio – Que era?
Publius Coletius – Entretinha-se a desenhar polígonos, com o número de lados cada vez maior, tentando aproximar os polígonos do círculo perfeito.
Caio Indivisio – Isto é, com o comprimento do lado a ficar cada mais pequeno, até ao infinitamente pequeno.
Publius Coletius – Isso mesmo, calculus infinitesimus, a partir da geometria, no melhor da escola grega. Arquimedes teria chegado lá, teria chegado à noção de limite, se a espada do soldado não lhe tivesse cortado a cabeça.
Caio Indivisio – Aconteceu o mesmo com Anton Webern, também nas margens do Danubio, quando o exército norte americano ocupou a cidade. O compositor estava a fumar à noite, no seu jardim, o soldado assustou-se com o lume do cigarro, pediu a identificação de Webern e, como ele estivesse imerso a pensar nas suas séries atonais, disparou
Publius Coletius – Lá está, o soldado com a arma mortífera era dos dois quem estava assustado.
Caio Indivisio – Os deuses espalham o medo pela terra como poeira soprada por Eolo. Mas é uma poeira que sufoca os inermes e a que os fortes são imunes. O medo desperta a violência, que é a grande ilusão dos fracos. Enquanto os fortes se contêm, ou cínicos, manobram para que os fracos e inseguros constituam os seus exércitos e ponham a violência ao seu serviço.
Publius Coletius – Eolo espalha o medo pelos homens como a cornucópia da deusa da Fortuna quando, e só quando, ela quer. Por ti próprio chegaste à caracterização da distribuição da riqueza a partir da distribuição do medo. Tu, tão cioso das tuas virtudes individuais de busca e conquista do sucesso.
Caio Indivisio – Estás a querer confundir-me? Eu disse isso?
Publius Coletius – Disseste. O medo da multidão é a força do senhor que a domina. Jupiter domina os homens pelo terror dos seus relâmpagos. Jeová domina os seus próprios soldados, e até Jupiter, porque é o senhor deus dos exércitos, porque segreda aos hititas a composição metalúrgica ideal para a rijeza das suas armas e porque deixou Juliano sozinho com a sua razão, derrotado por Constantino.
Eu desejaria que fosse pela razão e pela demonstração da ciência que a coisa pública fosse gerida. Sem tiranos, escolhidos ou não pelo povo, sem guerras.
Mas não consigo que assim seja.
Caio Indivisio – Quando os que estudaram com os que estudaram com Pitágoras e com Platão montaram a sua república e os seus governos de tiranos esclarecidos, acabou por não dar bom resultado.
Publius Coletius – Estamos todos de acordo. Não deu bom resultado. Mas o individualismo dos que estudaram com os que estudaram com Aristoteles também não dá bom resultado, como tu sabes mas não queres reconhecer.
Caio Indivisio – Não reconheço, por Jupiter. Os insucessos que vejo no individualismo, como tu dizes, ou em linguagem mais moderna, no liberalismo de Adam Smith, esse anglo clarividente das ilhas de Albion, são apenas clivagens ou diferenças de linguagem entre os protagonistas da vida económica. Não, não me parece possível entender-se um parto com um romano, mesmo que aprendam o significado das palavras, o parto em romano e o romano em parto.
Publius Coletius – Talvez seja possível entendermo-nos. Vamos encher Roma de sábios gregos. Temos aqui em Siracusa todo o “know how” que os gregos desenvolveram. Eles serão os precetores dos filhos dos imperadores. Os patrícios e os generais, e os grandes negociantes e os grandes proprietários de terras irão querer para os seus filhos uma educação semelhante, e os artesãos e os soldados e toda a plebe quererão o mesmo e viveremos em paz e prosperidade.
Caio Indivisio – Sempre iludido, amicus mei. Tens de deixar funcionar os mercados do trigo e do circo. Tens de deixar que os cônsules enviem os exércitos para recolher os cereais e os metais, e lembra-te que, depois, ainda têm de entreter a plebe.
Mas repara, o sol já se pôs atrás do Etna. Como está vermelho o céu. Vamos ter de continuar a conversa noutro dia. Gostava de discutir contigo o pensamento dos sacerdotes daquele Jeová de que falaste.
Publius Coletius – Estou de acordo contigo e partilho a tua vontade de discutirmos esse assunto. Até amanhã.
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Os testes do carbono datam o papiro do século IV DC, parecendo ser uma cópia de cópias sucessivas de um texto escrito em Siracusa, pouco tempo depois da tomada da cidade pelos soldados do general romano Marcelo.
Tema:
O soldado de Marcelo e Arquimedes: cada um com a sua linguagem; duas linguagens incompatíveis, porque reproduzem mundos diferentes, e porque o soldado e Arquimedes nunca existiram.
Existiram sim as suas sombras, como explicou Platão, e foram as suas sombras que vimos refletidas sobre o fundo da caverna em que vivemos.
E, pior ainda do que pensou Platão, nem as sombras que vemos existem. O que existe é uma sucessão de preenchimentos de vazios que o nosso cérebro executa, decidindo, arbitrariamente, que movimentos as sombras fazem entre os breves instantes em que se insinuam mais próximas da realidade, e enganando-nos com o resultado do seu trabalho.
1º diálogo – A morte de Arquimedes
Caio Indivisio – No ano 541 da era romana, uma esquadra romana cercou, uma vez mais, a colónia grega de Siracusa. O general Marcelo demonstrou as suas qualidade de líder ocupando a cidade
Publius Coletius – Eu, que estudei com quem estudou com Arquimedes, diria que foram os soldados de Marcelo, e não Marcelo, que conquistaram a cidade. Uma pena que tenham sido uma força bruta. Que tenham morto o mestre.
Caio Indivisio – Arquimedes criava engenhos para destruir vidas romanas. Os soldados tinham ordens para abater quem não lhes obedecesse. Arquimedes não respondeu ao soldado; o soldado matou-o.
Publius Coletius – A violência é quase sempre a fraqueza dos mais fortes. Já o dizia Sigmund Freud, das terras do Danubio. Se o soldado se sentisse seguro, se compreendesse a linguagem de Arquimedes, tinha-se debruçado sobre o seu ombro e discutido o que ele estava a desenhar na areia.
Caio Indivisio – Que era?
Publius Coletius – Entretinha-se a desenhar polígonos, com o número de lados cada vez maior, tentando aproximar os polígonos do círculo perfeito.
Caio Indivisio – Isto é, com o comprimento do lado a ficar cada mais pequeno, até ao infinitamente pequeno.
Publius Coletius – Isso mesmo, calculus infinitesimus, a partir da geometria, no melhor da escola grega. Arquimedes teria chegado lá, teria chegado à noção de limite, se a espada do soldado não lhe tivesse cortado a cabeça.
Caio Indivisio – Aconteceu o mesmo com Anton Webern, também nas margens do Danubio, quando o exército norte americano ocupou a cidade. O compositor estava a fumar à noite, no seu jardim, o soldado assustou-se com o lume do cigarro, pediu a identificação de Webern e, como ele estivesse imerso a pensar nas suas séries atonais, disparou
Publius Coletius – Lá está, o soldado com a arma mortífera era dos dois quem estava assustado.
Caio Indivisio – Os deuses espalham o medo pela terra como poeira soprada por Eolo. Mas é uma poeira que sufoca os inermes e a que os fortes são imunes. O medo desperta a violência, que é a grande ilusão dos fracos. Enquanto os fortes se contêm, ou cínicos, manobram para que os fracos e inseguros constituam os seus exércitos e ponham a violência ao seu serviço.
Publius Coletius – Eolo espalha o medo pelos homens como a cornucópia da deusa da Fortuna quando, e só quando, ela quer. Por ti próprio chegaste à caracterização da distribuição da riqueza a partir da distribuição do medo. Tu, tão cioso das tuas virtudes individuais de busca e conquista do sucesso.
Caio Indivisio – Estás a querer confundir-me? Eu disse isso?
Publius Coletius – Disseste. O medo da multidão é a força do senhor que a domina. Jupiter domina os homens pelo terror dos seus relâmpagos. Jeová domina os seus próprios soldados, e até Jupiter, porque é o senhor deus dos exércitos, porque segreda aos hititas a composição metalúrgica ideal para a rijeza das suas armas e porque deixou Juliano sozinho com a sua razão, derrotado por Constantino.
Eu desejaria que fosse pela razão e pela demonstração da ciência que a coisa pública fosse gerida. Sem tiranos, escolhidos ou não pelo povo, sem guerras.
Mas não consigo que assim seja.
Caio Indivisio – Quando os que estudaram com os que estudaram com Pitágoras e com Platão montaram a sua república e os seus governos de tiranos esclarecidos, acabou por não dar bom resultado.
Publius Coletius – Estamos todos de acordo. Não deu bom resultado. Mas o individualismo dos que estudaram com os que estudaram com Aristoteles também não dá bom resultado, como tu sabes mas não queres reconhecer.
Caio Indivisio – Não reconheço, por Jupiter. Os insucessos que vejo no individualismo, como tu dizes, ou em linguagem mais moderna, no liberalismo de Adam Smith, esse anglo clarividente das ilhas de Albion, são apenas clivagens ou diferenças de linguagem entre os protagonistas da vida económica. Não, não me parece possível entender-se um parto com um romano, mesmo que aprendam o significado das palavras, o parto em romano e o romano em parto.
Publius Coletius – Talvez seja possível entendermo-nos. Vamos encher Roma de sábios gregos. Temos aqui em Siracusa todo o “know how” que os gregos desenvolveram. Eles serão os precetores dos filhos dos imperadores. Os patrícios e os generais, e os grandes negociantes e os grandes proprietários de terras irão querer para os seus filhos uma educação semelhante, e os artesãos e os soldados e toda a plebe quererão o mesmo e viveremos em paz e prosperidade.
Caio Indivisio – Sempre iludido, amicus mei. Tens de deixar funcionar os mercados do trigo e do circo. Tens de deixar que os cônsules enviem os exércitos para recolher os cereais e os metais, e lembra-te que, depois, ainda têm de entreter a plebe.
Mas repara, o sol já se pôs atrás do Etna. Como está vermelho o céu. Vamos ter de continuar a conversa noutro dia. Gostava de discutir contigo o pensamento dos sacerdotes daquele Jeová de que falaste.
Publius Coletius – Estou de acordo contigo e partilho a tua vontade de discutirmos esse assunto. Até amanhã.
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segunda-feira, 15 de março de 2010
Educação X - Crime, disse eu, crime na escola
Não resisto, tenho de vos contar.
Minha mulher, professora de Matemática de miúdos e miúdas dos 10 aos 15 anos, reformou-se.
Só lhes disse, a eles e elas, na última aula. Um deles vociferou: Eu mato o novo professor. Mas era linguagem figurada. Apenas para dizer que gostavam dela.
Apesar de já ter 65 anos (ela até ficava mais um ou dois anos se não a obrigassem a dar aulas de substituição; não era por serem de substituição, era porque com 65 anos já custa dar um horário de 22 horas, e para mais, sem guião para seguir nas tais aulas de substituição).
Quando entendeu necessário pôr um aluno na rua, sempre chamou a senhora auxiliar para acompanhar o aluno ao exterior. Isto para evitar aquelas cenas que passaram na televisão da disputa do telemóvel.
Nunca foi agredida por pais de alunos, mas ajudou, juntamente com a polícia da “Escola segura”, a evitar que o fizessem a uma colega.
E sempre disse que as medidas da ministra Lurdes Rodrigues eram ofensivas e que eram a desconsideração dos professores.
O que só poderia dar mau resultado, como se comprovou.
O professor Carlos Fiolhais chama à situação que agora se vive a remoção pela atual ministra dos destroços da luta, sendo que o enfraquecimento dos professores foi o pior que podia ter acontecido.
Sistema de avaliação, estatuto da carreira docente, estatuto do aluno, não eram reformas, eram erros. Não respondia ao cerne da questão, que é exterior à escola e se traduz pela dificuldade das famílias, com a agravante delas muitas vezes não existirem, promoverem o acompanhamento educacional das crianças e o respetivo suporte financeiro.
Que os erros tivessem sido cometidos pela ministra já é grave.
Mas que tivessem sido validados pelo restante governo e pelo presidente da republica (deixem trabalhar a senhora ministra, foi uma frase que ficou na história; quando se cometem erros, quem os comete não deve ser deixado á solta) é extremamente grave, porque compromete as novas gerações e o futuro da nação.
De modo que a diretora da escola rapidamente selecionou um substituto para a minha mulher, que combinou com ele, na segunda feira, ás 9 horas, antes da aula das 10, um pequeno encontro para o informar da matéria dada, dos principais problemas da turma, dos tipos de teste que deram melhor resultado com os alunos.
O professor substituto chegou no dia aprazado, às 10 horas, quando a aula estava a começar. Desculpou-se que lhe tinham batido por trás, no carro, por estar a chover muito. Combinaram para o dia segunite, terça feira, em que o horário era idêntico. A minha mulher esperou até às dez e meia. O substituto não apareceu.
Na quarta feira, voltou a minha mulher à escola. Questões de regular burocracias. Ninguém lhe soube dar novas do substituto. Alguém disse: Ele parecia aterrorizado, ontem.
Ah, parece que na sexta feira andava por lá. Pobre moço, engenheiro mecânico de formação. Nunca quis dar aulas. Está ali na escola como quem vende cafés a recibo verde no Colombo.
Mas isto é um crime, disse eu para a minha mulher, é um crime na escola. E com efeitos na sociedade futura.
Quem tinha vocação para professor agora escolhe outra profissão, numa altura em que tantos professores com experiencia se reformaram. Foi no que deu a campanha descredibilizadora da ministra Lurdes Rodrigues (coitados dos opinadores dos jornais: tão convencidos com aquela de que os professores portugueses trabalhavam muito menos do que na Finlandia; encontro num recorte antigo de jornal um opinador a chamar “campanha imobilizadora” às posições dos professores contra o autoritarismo de Lurdes Rodrigues; podem estar contentes com as suas opiniões: os professores de agora trabalham mais horas na escola, e os alunos já aparecem com armas de fogo, como na Finlandia e nos países evoluídos).
Isto não é uma generalização. Isto é apenas um exemplo do que se está a passar. Quem tem capacidade para ser professor não vai para o ensino público. Quando muito irá para o privado. Mas os custos do privado estão a afastar crianças novamente para o público, porque na educação não existem os seguros que vemos na saúde. Por outro lado, o crescimento do ensino privado traduziu-se por alguma degradação (exceções honrosas à parte, claro).
Conclusão: depois da catástrofe de anos e anos de má gestão excessivamente centralizadora dos ministérios, culminando com os erros da ministra Lurdes Rodrigues, tem de se traçar um plano de recuperação e de melhoria para evitar a catástrofe de gerações sem preparação cultural e sem capacidade para a qualificação tecnológica (o que desembocará fatalmente em menores PIBs).
Podemos ser um país sem dinheiro. Mas para a educação das crianças, em igualdade de oportunidades, deveríamos canalizar os nossos esforços e o máximo das nossas capacidades.
Depois da catástrofe devíamos aplicar os métodos da “Sabedoria das multidões” para traçar o plano de recuperação. A equipa central de técnicos experientes (não esquecer que a senhora ministra Lurdes nunca deu aulas nos ciclos de ensino que tutelou), escolhida sem ligar às simpatias partidárias dos seus técnicos, em debate alargado com equipas de especialistas e com a participação dos cidadãos…e depois, aplicar o plano de recuperação, para evitar a repetição da catástrofe.
É um direito das crianças e é uma obrigação dos adultos.
Não a cumprir é crime (de acordo com o meu tribunal interior, apenas, estejam os “criminosos” descansados).
Digo eu, que é crime, crime na escola, e com efeitos, agora e no futuro.
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Minha mulher, professora de Matemática de miúdos e miúdas dos 10 aos 15 anos, reformou-se.
Só lhes disse, a eles e elas, na última aula. Um deles vociferou: Eu mato o novo professor. Mas era linguagem figurada. Apenas para dizer que gostavam dela.
Apesar de já ter 65 anos (ela até ficava mais um ou dois anos se não a obrigassem a dar aulas de substituição; não era por serem de substituição, era porque com 65 anos já custa dar um horário de 22 horas, e para mais, sem guião para seguir nas tais aulas de substituição).
Quando entendeu necessário pôr um aluno na rua, sempre chamou a senhora auxiliar para acompanhar o aluno ao exterior. Isto para evitar aquelas cenas que passaram na televisão da disputa do telemóvel.
Nunca foi agredida por pais de alunos, mas ajudou, juntamente com a polícia da “Escola segura”, a evitar que o fizessem a uma colega.
E sempre disse que as medidas da ministra Lurdes Rodrigues eram ofensivas e que eram a desconsideração dos professores.
O que só poderia dar mau resultado, como se comprovou.
O professor Carlos Fiolhais chama à situação que agora se vive a remoção pela atual ministra dos destroços da luta, sendo que o enfraquecimento dos professores foi o pior que podia ter acontecido.
Sistema de avaliação, estatuto da carreira docente, estatuto do aluno, não eram reformas, eram erros. Não respondia ao cerne da questão, que é exterior à escola e se traduz pela dificuldade das famílias, com a agravante delas muitas vezes não existirem, promoverem o acompanhamento educacional das crianças e o respetivo suporte financeiro.
Que os erros tivessem sido cometidos pela ministra já é grave.
Mas que tivessem sido validados pelo restante governo e pelo presidente da republica (deixem trabalhar a senhora ministra, foi uma frase que ficou na história; quando se cometem erros, quem os comete não deve ser deixado á solta) é extremamente grave, porque compromete as novas gerações e o futuro da nação.
De modo que a diretora da escola rapidamente selecionou um substituto para a minha mulher, que combinou com ele, na segunda feira, ás 9 horas, antes da aula das 10, um pequeno encontro para o informar da matéria dada, dos principais problemas da turma, dos tipos de teste que deram melhor resultado com os alunos.
O professor substituto chegou no dia aprazado, às 10 horas, quando a aula estava a começar. Desculpou-se que lhe tinham batido por trás, no carro, por estar a chover muito. Combinaram para o dia segunite, terça feira, em que o horário era idêntico. A minha mulher esperou até às dez e meia. O substituto não apareceu.
Na quarta feira, voltou a minha mulher à escola. Questões de regular burocracias. Ninguém lhe soube dar novas do substituto. Alguém disse: Ele parecia aterrorizado, ontem.
Ah, parece que na sexta feira andava por lá. Pobre moço, engenheiro mecânico de formação. Nunca quis dar aulas. Está ali na escola como quem vende cafés a recibo verde no Colombo.
Mas isto é um crime, disse eu para a minha mulher, é um crime na escola. E com efeitos na sociedade futura.
Quem tinha vocação para professor agora escolhe outra profissão, numa altura em que tantos professores com experiencia se reformaram. Foi no que deu a campanha descredibilizadora da ministra Lurdes Rodrigues (coitados dos opinadores dos jornais: tão convencidos com aquela de que os professores portugueses trabalhavam muito menos do que na Finlandia; encontro num recorte antigo de jornal um opinador a chamar “campanha imobilizadora” às posições dos professores contra o autoritarismo de Lurdes Rodrigues; podem estar contentes com as suas opiniões: os professores de agora trabalham mais horas na escola, e os alunos já aparecem com armas de fogo, como na Finlandia e nos países evoluídos).
Isto não é uma generalização. Isto é apenas um exemplo do que se está a passar. Quem tem capacidade para ser professor não vai para o ensino público. Quando muito irá para o privado. Mas os custos do privado estão a afastar crianças novamente para o público, porque na educação não existem os seguros que vemos na saúde. Por outro lado, o crescimento do ensino privado traduziu-se por alguma degradação (exceções honrosas à parte, claro).
Conclusão: depois da catástrofe de anos e anos de má gestão excessivamente centralizadora dos ministérios, culminando com os erros da ministra Lurdes Rodrigues, tem de se traçar um plano de recuperação e de melhoria para evitar a catástrofe de gerações sem preparação cultural e sem capacidade para a qualificação tecnológica (o que desembocará fatalmente em menores PIBs).
Podemos ser um país sem dinheiro. Mas para a educação das crianças, em igualdade de oportunidades, deveríamos canalizar os nossos esforços e o máximo das nossas capacidades.
Depois da catástrofe devíamos aplicar os métodos da “Sabedoria das multidões” para traçar o plano de recuperação. A equipa central de técnicos experientes (não esquecer que a senhora ministra Lurdes nunca deu aulas nos ciclos de ensino que tutelou), escolhida sem ligar às simpatias partidárias dos seus técnicos, em debate alargado com equipas de especialistas e com a participação dos cidadãos…e depois, aplicar o plano de recuperação, para evitar a repetição da catástrofe.
É um direito das crianças e é uma obrigação dos adultos.
Não a cumprir é crime (de acordo com o meu tribunal interior, apenas, estejam os “criminosos” descansados).
Digo eu, que é crime, crime na escola, e com efeitos, agora e no futuro.
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Hurt Locker (Estado de guerra)
Existe uma correlação fortemente positiva entre o insucesso escolar, a dificuldade de compreensão dos fenómenos (no sentido científico) e de apreensão das suas causas pelas crianças e adolescentes, de um lado, e o tempo passado a ver televisão, do outro.
A industria cinematográfica tenta combater a televisão e utiliza agora as mesmas armas que afastam as crianças e os adolescentes da compreensão das coisas.
Não pretendo negar a qualidade técnica nem a aproximação realista do filme conseguidas com notável economia de meios, nem o domínio da técnica de Hitchcock.
Mas o herói “sans reproche”, invencível, com métodos não ortodoxos, capaz de apagar o fogo de um automóvel armadilhado com um único extintor (não é possível, a gasolina não se apaga só com um extintor), que abre pacotes de sumo no deserto e os dá aos camaradas exangues enquanto ele não precisa, está, parece-me, a mais nos tempos que correm.
Eu gostaria que os filmes de agora mostrassem as pessoas como elas são, com os seus problemas e as suas limitações, sem fantasiar muito.
Super-homens, dispensam-se, ou colocam-se assumidamente em filmes para não levar a sério.
Esperar-se-ia duma realizadora e da sua sensibilidade, que pusessem mais no filme do que uma conversa em que um dos protagonistas (uma equipa de desminagem) confessa que gostaria de ter filhos; do pudor do herói (o técnico de explosivos e de desativação de bombas) em detonar o cadaver do miúdo armadilhado; do que a rábula da mulher do professor iraquiano cuja casa o herói invade numa missão impossível e que o expulsa a golpes de travessa de cobre (juntamente com o pequeno vendedor de DVDs, são as únicas personagens iraquianas humanizadas, e mesmo assim suspeitas de colaboração com os bombistas); ou ainda do que a rábula da mulher do heroi que lhe diz para trazer uma caixa de cereais do supermercado deixando-o com um problema insolúvel.
É impressionante como um exército estrangeiro ocupa um país e retrata assim os seus naturais (quase todos bombistas e assassinos ou cúmplices).
Ao menos, no Avatar, os invasores eram claramente identificados como invasores em busca de fontes de energia rentáveis (foi o que foram fazer ao Iraque, não foi? Assim como as tropas da Roma imperial iam buscar, longe, os cereais que eram na altura o combustível do principal meio de produção: os escravos). E, contrariamente aos cânones de Hollywood, os Navis sobreviveram.
O sargento York e Gregory Peck ainda tentavam convencer os jovens a alistar-se com argumentos ingénuos. Mas esta senhora e o seu argumentista utilizam os meios visuais mais sedutores para atrai-los para a adição à droga da guerra.
Como se dissessem ao presidente Obama: só mais um ano no Iraque (e outro e mais outro, porque os heróis estão dispostos a tudo, não vão querer passar a vida em compras no supermercado), e só mais 50.000 homens para o Afeganistão (e outros 50.000 e mais os que forem precisos dos países amigos, até dar cabo das economias deles).
Saio como de uma sala de pesadelos. Espero na Av.Praia da Vitória que o sinal passe a verde e curvo para a Av.5 de Outubro, onde o sinal seguinte seguinte já está vermelho. Ouço o Smart que estava atrás de mim, conduzido por uma jovem, a acelerar, ultrapassa-me e passa o sinal vermelho. Ao fundo do quarteirão faz o mesmo e desaparece, enquanto eu espero pelo sinal verde. Talvez viesse de ver o Estado de guerra e se sentisse imbuída do sentimento de heroicidade e de impunidade.
Diz a minha mulher:
- Mais valia que ficasse em casa a coser meias.
- A rapariga do Smart?
- Não, as duas, a rapariga do Smart e a realizadora.
Dito por uma feminista assumida como a minha mulher, pode avaliar-se o que podemos pensar do trabalho da realizadora, não técnico, claro, mas cultural.
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A industria cinematográfica tenta combater a televisão e utiliza agora as mesmas armas que afastam as crianças e os adolescentes da compreensão das coisas.
Os três filmes anunciados antes do inicio da projeção de “Hurt Locker” (traduzido em português por Estado de guerra e, no Brasil, por Guerra ao terror, indiciando pouca atençõ ao filme e à informação relativa) contêm elevadas doses de efeitos especiais de rebentamento de bombas, explosões de automóveis, disparos de espingardas metralhadoras, tudo a acompanhar proezas e poderes imaginários ou simplesmente extraordinários. As histórias repetem-se, são primárias e baseiam-se muitas vezes na morte de inocentes e na vingança solitária do ente querido.
Estamos em peno território de alienação psicológica e sociológica. Toda uma industria de entretenimento que utiliza todas as suas armas de sedução para cativar os jovens numa altura em que os seus córtex pré-frontais ainda não estabilizaram e a mielinização ainda não se concluiu.
Dito de outra forma, numa altura em que o sentido crítico dos jovens ainda não despertou para resistir à droga que lhe é proposta, ficando portanto dela dependente, e acreditando, a exemplo dos heróis que vêem na tela, que são imortais e impunes.
Ainda por outras palavras, esta indústria está a contribuir para:
1 – uma cultura de violência entre os jovens;
2 – inviabilizar a prática pelos jovens de uma cultura de solidariedade e de trabalho em função dos benefícios para a comunidade
Tudo isto a propósito de Hurt Locker, que é mais um filme de guerra de clara propaganda ao exército dos USA e que foi para mim uma grande desilusão por ser isso mesmo: um apelo ao heróico cumprimento do serviço militar em guerra.
Da informação em
Significado em calão de Hurt Locker: ferido em explosão, sítio de tortura, da maior dor, estar em maus lençóis.
Filme realizado na Jordania, sem apoio explícito do exército dos USA, baseado na experiencia do correspondente de guerra Mark Boal.
Citação com que o filme abre: “A fúria de uma batalha é uma potente e muitas vezes letal adição (dependência); por isso a guerra é uma droga”. A citação pertence ao livro “A guerra é uma força que nos dá a razão de ser”, de 2002, do correspondente de guerra Chris Hedges.
Talvez se possa concluir que a interpretação do livro e do filme é a de que quem faz a guerra fá-lo para se sentir realizado e para sentir o prazer, nos seus centros límbicos, do desprendimento da adrenalina e da dopamina associado às situações de risco. Uma das personagens secundárias do filme, coronel Reed (podiam ter escolhido outro nome que não o do único americano enterrado na Praça Vermelha em Moscovo), parece ser a encarnação disso mesmo, fazendo-me lembrar, no meu imaginário, como seria o marquês de Marialva, a combater selvaticamente em Marrocos.
Há aqui uma semelhança entre a guerra e outras atividades. O sistema de transportes de um país melhorará quando os decisores políticos tiverem de ir para os seus ministérios de transporte coletivo; a guerra terminará quando os decisores políticos sofrerem na sua carne a tortura da guerra.
Não pretendo negar a qualidade técnica nem a aproximação realista do filme conseguidas com notável economia de meios, nem o domínio da técnica de Hitchcock.
Mas o herói “sans reproche”, invencível, com métodos não ortodoxos, capaz de apagar o fogo de um automóvel armadilhado com um único extintor (não é possível, a gasolina não se apaga só com um extintor), que abre pacotes de sumo no deserto e os dá aos camaradas exangues enquanto ele não precisa, está, parece-me, a mais nos tempos que correm.
Eu gostaria que os filmes de agora mostrassem as pessoas como elas são, com os seus problemas e as suas limitações, sem fantasiar muito.
Super-homens, dispensam-se, ou colocam-se assumidamente em filmes para não levar a sério.
Esperar-se-ia duma realizadora e da sua sensibilidade, que pusessem mais no filme do que uma conversa em que um dos protagonistas (uma equipa de desminagem) confessa que gostaria de ter filhos; do pudor do herói (o técnico de explosivos e de desativação de bombas) em detonar o cadaver do miúdo armadilhado; do que a rábula da mulher do professor iraquiano cuja casa o herói invade numa missão impossível e que o expulsa a golpes de travessa de cobre (juntamente com o pequeno vendedor de DVDs, são as únicas personagens iraquianas humanizadas, e mesmo assim suspeitas de colaboração com os bombistas); ou ainda do que a rábula da mulher do heroi que lhe diz para trazer uma caixa de cereais do supermercado deixando-o com um problema insolúvel.
É impressionante como um exército estrangeiro ocupa um país e retrata assim os seus naturais (quase todos bombistas e assassinos ou cúmplices).
Ao menos, no Avatar, os invasores eram claramente identificados como invasores em busca de fontes de energia rentáveis (foi o que foram fazer ao Iraque, não foi? Assim como as tropas da Roma imperial iam buscar, longe, os cereais que eram na altura o combustível do principal meio de produção: os escravos). E, contrariamente aos cânones de Hollywood, os Navis sobreviveram.
O sargento York e Gregory Peck ainda tentavam convencer os jovens a alistar-se com argumentos ingénuos. Mas esta senhora e o seu argumentista utilizam os meios visuais mais sedutores para atrai-los para a adição à droga da guerra.
Como se dissessem ao presidente Obama: só mais um ano no Iraque (e outro e mais outro, porque os heróis estão dispostos a tudo, não vão querer passar a vida em compras no supermercado), e só mais 50.000 homens para o Afeganistão (e outros 50.000 e mais os que forem precisos dos países amigos, até dar cabo das economias deles).
Saio como de uma sala de pesadelos. Espero na Av.Praia da Vitória que o sinal passe a verde e curvo para a Av.5 de Outubro, onde o sinal seguinte seguinte já está vermelho. Ouço o Smart que estava atrás de mim, conduzido por uma jovem, a acelerar, ultrapassa-me e passa o sinal vermelho. Ao fundo do quarteirão faz o mesmo e desaparece, enquanto eu espero pelo sinal verde. Talvez viesse de ver o Estado de guerra e se sentisse imbuída do sentimento de heroicidade e de impunidade.
Diz a minha mulher:
- Mais valia que ficasse em casa a coser meias.
- A rapariga do Smart?
- Não, as duas, a rapariga do Smart e a realizadora.
Dito por uma feminista assumida como a minha mulher, pode avaliar-se o que podemos pensar do trabalho da realizadora, não técnico, claro, mas cultural.
.
domingo, 14 de março de 2010
Pedido a Cuba
Compañero Raul
Antes todo, pido perdon por mi castellano e por te hablar asi.
No he sido un revolucionario como tu.
Solamente intenté que mis compañeros de universidad, los que eran también capitanes, comprendiesen que habia que terminar la guerra en Africa y que el pueblo portugues pudiera votar en los partidos que quisiese.
Ahora, en Cuba, es diferente, lo sé.
Pero te pido: salva Fariñas, liberta los prisioneros politicos.
Desde aqui, de fuera de Cuba, se vê mejor la fuerza imensa del sistema economico que engaña al pueblo y perpetua el poder politico, economico y militar en las manos de solamente uns pocos.
Te hace peña y dolor se vês en Cuba partidos de derecha a engañar el pueblo y a abrir las puertas al imperialismo economico.
Crê que a mi tambíen.
Pero dejemos que el pueblo vote, aunque engañado.
Mismo sabiendo que los grandes grupos economicos, los bancos y seguradoras, los negociantes de droga, de energia y de armas se opongan a la educacion del pueblo y a su bien estar y salud.
Y si los prisioneros non son politicos, son de derecho comum, es facil, no entiendas eso como falta de respeto por la soberania de Cuba; hay organizaciones de derecho internacional que podrán ir a Cuba y testimoniar.
Hace eso por todos los que en todo el mondo votan a la izquierda; te pido eso que tambien sera un “marketing” politico para que elos tengan mas votos.
Para que la lucha sea en las eleciones, luchando para la aplicacion de los derechos de la declaracion universal de los derechos del hombre, luchando por la “Bill of Rights”.
Perdona si te hablo asi.
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sexta-feira, 12 de março de 2010
A queda do viaduto sobre o IP4
Custou-me acreditar em mais este acidente, o do viaduto em betonagem no IP4.
Encara-se com naturalidade a nomeação "de imediato", como se apressam a dizer, de uma comissão de inquérito que fará recomendações para se evitar a repetição do acidente.
Parece-me estranho que antes da comissão de inquérito arrancar no local, já os ferros caidos tenham sido retirados.
Encara-se, como um facto natural, não parar a circulação automóvel quando se executam obras críticas.
Parece-me que há demasiada apetencia por bodes expiatórios, enquanto os níveis decisórios mais elevados se consideram isso mesmo, elevados e acima de qualquer culpa, sem estabelecer correlações entre prazos curtos, custos reduzidos dos empreiteiros, ausencia de monitorização instrumental das deformações, deficiente controle da qualidade dos subempreiteiros, dum lado, e deficiencias de execução, do outro.
Pessoalmente, não me interessa agora procurar culpados.
Interessava-me mais que o conceito de segurança em obra em situações críticas fosse mais respeitado e tivesse prioridade sobre os outros critérios, como a rapidez de execução e a economia de meios, produtividade e competitividade.
Para ser mais direto, não é admissível em circunstancia nenhuma que se betone uma laje com pessoas a passar por baixo.
A circulação deveria ter sido interrompida durante o período de betonagem (a água do betão contribui, nesta fase, para o aumento do peso que os prumos de apoio da cofragem têm de suportar; acresce que o colapso de um ou vários prumos vai aumentar o peso que cada um dos outros prumos vai suportar; a saturação dos solos com as chuvadas que cairam também é um fator desfavorável).
Ao longo do tempo, tentei na minha empresa que em situações de trabalhos de risco fosse interrompida a circulação dos comboios.
Infelizmente nem sempre o consegui.
Há por vezes um conceito de facilitismo, de desprezo pelo risco, de maior preocupação em cumprir prazos do que privilegiar calmamente a segurança; muitas vezes já os prazos foram mal definidos porque não o foram com base nas análises técnicas mas sim com base em critérios de impacto mediático.
Eu diria que as empresas correm o grave risco de que decisões importantes como definir um prazo,estimar custos, ou avaliar os riscos de uma fase de uma obra, sejam tomadas por profissionais que ignoram ou não querem cumprir a teoria e prática de engenharia, embora possam e saibam manusear muito bem os conceitos económicos.
Mas neste caso, posso estar enganado, e o tempo o dirá, mas o inquérito será uma perda de tempo.
Quem já fez obras destas sabe que as estruturas de suporte das cofragens podem abater, podem cair.Por isso não devia haver circulação durante a fase da betonagem.
Aguardemos.
Encara-se com naturalidade a nomeação "de imediato", como se apressam a dizer, de uma comissão de inquérito que fará recomendações para se evitar a repetição do acidente.
Parece-me estranho que antes da comissão de inquérito arrancar no local, já os ferros caidos tenham sido retirados.
Encara-se, como um facto natural, não parar a circulação automóvel quando se executam obras críticas.
Parece-me que há demasiada apetencia por bodes expiatórios, enquanto os níveis decisórios mais elevados se consideram isso mesmo, elevados e acima de qualquer culpa, sem estabelecer correlações entre prazos curtos, custos reduzidos dos empreiteiros, ausencia de monitorização instrumental das deformações, deficiente controle da qualidade dos subempreiteiros, dum lado, e deficiencias de execução, do outro.
Pessoalmente, não me interessa agora procurar culpados.
Interessava-me mais que o conceito de segurança em obra em situações críticas fosse mais respeitado e tivesse prioridade sobre os outros critérios, como a rapidez de execução e a economia de meios, produtividade e competitividade.
Para ser mais direto, não é admissível em circunstancia nenhuma que se betone uma laje com pessoas a passar por baixo.
A circulação deveria ter sido interrompida durante o período de betonagem (a água do betão contribui, nesta fase, para o aumento do peso que os prumos de apoio da cofragem têm de suportar; acresce que o colapso de um ou vários prumos vai aumentar o peso que cada um dos outros prumos vai suportar; a saturação dos solos com as chuvadas que cairam também é um fator desfavorável).
Ao longo do tempo, tentei na minha empresa que em situações de trabalhos de risco fosse interrompida a circulação dos comboios.
Infelizmente nem sempre o consegui.
Há por vezes um conceito de facilitismo, de desprezo pelo risco, de maior preocupação em cumprir prazos do que privilegiar calmamente a segurança; muitas vezes já os prazos foram mal definidos porque não o foram com base nas análises técnicas mas sim com base em critérios de impacto mediático.
Eu diria que as empresas correm o grave risco de que decisões importantes como definir um prazo,estimar custos, ou avaliar os riscos de uma fase de uma obra, sejam tomadas por profissionais que ignoram ou não querem cumprir a teoria e prática de engenharia, embora possam e saibam manusear muito bem os conceitos económicos.
Mas neste caso, posso estar enganado, e o tempo o dirá, mas o inquérito será uma perda de tempo.
Quem já fez obras destas sabe que as estruturas de suporte das cofragens podem abater, podem cair.Por isso não devia haver circulação durante a fase da betonagem.
Aguardemos.
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segurança em obra
Homenagem a Costa Martins
Tive muito gosto em ter trabalhado no dia 5 de Outubro de 1974, na campanha “Um dia de trabalho para a Nação”.
Na sequencia dos acontecimentos de 28 de Setembro de 1974, o primeiro ministro propôs e Costa Martins, ministro do Trabalho, dinamizou a campanha.
Tinha entrado havia pouco tempo para a empresa, em Fevereiro de 1974.
Tinha terminado havia muito pouco tempo o serviço militar obrigatório, em Julho de 1974.
O entusiasmo era grande na altura (nem toda a gente partilhava da minha opinião, mas eu andava entusiasmado).
Não tinha gostado nada que os meus colegas da Academia Militar tivessem feito as suas reuniões e executado o 25 de Abril sem me dizerem nada.
Eu estava de pé atrás porque via alguns deles a louvar as qualidades do general Kaulza de Arriaga, outros a defender a posição oficial sobre as “províncias ultramarinas”.
Dizia-lhes que a disciplina científica era mais inflexível que a militar e que esta tinha de se lhe subordinar.
De modo que o facto de estar um capitão da força aérea, Costa Martins, como ministro do Trabalho, a fazer coisas como a implementação do salário mínimo nacional, e a lançar a campanha do dia para a Nação, também me entusiasmou.
Ajudou-me a compreender o valor intelectual e científico de homens como Melo Antunes e Vasco Gonçalves .
Eu sei que a propaganda contrária ocultou coisas como a declaração de guerra de Vasco Gonçalves à política dos subsídios (a propaganda contrária dizia o contrário, pois dizia) e como o esforço de autonomização da produção alimentar nacional (que se conseguiu pouco tempo depois, em contraste com os 80% de dependência externa atual). Uma senhora jornalista muito aplaudida chegou a escrever: “O gonçalvismo deixou os cofres do Estado vazios”, ao mesmo tempo que uma equipa de economistas do MIT publicava um relatório elogioso do controle da economia (claro que o PIB tinha de baixar, mas as contas estavam seguras e os investimentos reprodutores de benefícios sociais estavam listados e aprovados, como no caso da barragem do Alqueva).
Eu sei que os neo-liberais não gostam, mas coisas como o direito ao salário mínimo estão consignados na Declaração Universal dos Direitos do Homem (e no Bill of Rights de Roosevelt, 65 anos antes de Obama, não esquecer) e não devemos ser contra os Direitos do Homem.
Além de que a experiência dos técnicos e técnicas de serviço social ensina que este é um dos mecanismos de recentralização e “ancoragem” de alguma população que de outro modo seria marginalizada e nem mandaria os filhos à escola.
E, depois, é um indicador, é bom para as estatísticas comparativas.
Não me interessa o que investigadores devassaram da vida privada de Costa Martins.
Interessa-me que ele provou em tribunal que as acusações contra ele eram infundadas e que foi reintegrado.
O que leva pessoas de bem a alinhar em campanhas difamatórias como esta? Não há direito de difamar assim.
Vale a mensagem de Melo Antunes: são precisos todos os portugueses; e a de Vasco Gonçalves: é preciso vencer a batalha da produção.
Não era isso que Costa Martins queria?
Foi difamado, lutou pelo seu bom nome.
Como dizia Pitágoras (cito de cor, claro) , mais vale sofrer a infamia do que praticá-la. Nisso somos muito parecidos com os gregos, clássicos ou atuais.
E já terá passado tempo suficiente para que o que escrevi sobre Melo Antunes e Vasco Gonçalves não escandalize ninguém?
É uma pena que a estrutura da sociedade portuguesa, como está, não permita cumprir aqueles objetivos; com a lei de Philips a conter os preços à custa do aumento do desemprego... e quem está desempregado não produz.
Estamos a desperdiçar-nos …
Na sequencia dos acontecimentos de 28 de Setembro de 1974, o primeiro ministro propôs e Costa Martins, ministro do Trabalho, dinamizou a campanha.
Tinha entrado havia pouco tempo para a empresa, em Fevereiro de 1974.
Tinha terminado havia muito pouco tempo o serviço militar obrigatório, em Julho de 1974.
O entusiasmo era grande na altura (nem toda a gente partilhava da minha opinião, mas eu andava entusiasmado).
Não tinha gostado nada que os meus colegas da Academia Militar tivessem feito as suas reuniões e executado o 25 de Abril sem me dizerem nada.
Eu estava de pé atrás porque via alguns deles a louvar as qualidades do general Kaulza de Arriaga, outros a defender a posição oficial sobre as “províncias ultramarinas”.
Dizia-lhes que a disciplina científica era mais inflexível que a militar e que esta tinha de se lhe subordinar.
De modo que o facto de estar um capitão da força aérea, Costa Martins, como ministro do Trabalho, a fazer coisas como a implementação do salário mínimo nacional, e a lançar a campanha do dia para a Nação, também me entusiasmou.
Ajudou-me a compreender o valor intelectual e científico de homens como Melo Antunes e Vasco Gonçalves .
Eu sei que a propaganda contrária ocultou coisas como a declaração de guerra de Vasco Gonçalves à política dos subsídios (a propaganda contrária dizia o contrário, pois dizia) e como o esforço de autonomização da produção alimentar nacional (que se conseguiu pouco tempo depois, em contraste com os 80% de dependência externa atual). Uma senhora jornalista muito aplaudida chegou a escrever: “O gonçalvismo deixou os cofres do Estado vazios”, ao mesmo tempo que uma equipa de economistas do MIT publicava um relatório elogioso do controle da economia (claro que o PIB tinha de baixar, mas as contas estavam seguras e os investimentos reprodutores de benefícios sociais estavam listados e aprovados, como no caso da barragem do Alqueva).
Eu sei que os neo-liberais não gostam, mas coisas como o direito ao salário mínimo estão consignados na Declaração Universal dos Direitos do Homem (e no Bill of Rights de Roosevelt, 65 anos antes de Obama, não esquecer) e não devemos ser contra os Direitos do Homem.
Além de que a experiência dos técnicos e técnicas de serviço social ensina que este é um dos mecanismos de recentralização e “ancoragem” de alguma população que de outro modo seria marginalizada e nem mandaria os filhos à escola.
E, depois, é um indicador, é bom para as estatísticas comparativas.
Não me interessa o que investigadores devassaram da vida privada de Costa Martins.
Interessa-me que ele provou em tribunal que as acusações contra ele eram infundadas e que foi reintegrado.
O que leva pessoas de bem a alinhar em campanhas difamatórias como esta? Não há direito de difamar assim.
Vale a mensagem de Melo Antunes: são precisos todos os portugueses; e a de Vasco Gonçalves: é preciso vencer a batalha da produção.
Não era isso que Costa Martins queria?
Foi difamado, lutou pelo seu bom nome.
Como dizia Pitágoras (cito de cor, claro) , mais vale sofrer a infamia do que praticá-la. Nisso somos muito parecidos com os gregos, clássicos ou atuais.
E já terá passado tempo suficiente para que o que escrevi sobre Melo Antunes e Vasco Gonçalves não escandalize ninguém?
É uma pena que a estrutura da sociedade portuguesa, como está, não permita cumprir aqueles objetivos; com a lei de Philips a conter os preços à custa do aumento do desemprego... e quem está desempregado não produz.
Estamos a desperdiçar-nos …
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