domingo, 20 de junho de 2010

Jose Saramago

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Quando José Saramago se aproximava do assento etéreo, John Lennon destacou-se do grupo e avançou para o receber.
Cantou baixinho, a capela, “Imagine”. Faltava o piano para fazer as escalas ondulantes, e o canto era sussurrante e pausado, mas Saramago ouviu encantado, distintamente, as palavras
“…
Imagina

Que não há nada por que matar ou morrer,
nem nenhuma religião, também.

Imagina não haver a posse

Não haver necessidade de ganância ou fome
Antes uma fraternidade humana.
Imagina todas as pessoas
A partilhar todo o mundo.”

O grupo ouvia em silencio, religiosamente (escrevo religiosamente de propósito). Gostaria de descrever todos os do grupo, uns muito conhecidos dos nossos livros de História e Filosofia, outros das atualidades, outros anónimos , mas para isso remeto para o desenho que João Abel Manta está a ultimar, embora não resista a falar-vos do sorriso beatífico de Spinosa, nem do ar sereno de Puccini e de Mascagni, apesar de um pouco contrafeitos por terem chegado a acreditar em Mussolini.

Saramago sorriu e disse: também vim preparado; e desembrulhou a partitura e o libreto da ópera Blimunda, com texto baseado no Memorial do Convento e musica de Azio Corghi. Já apresentada no S.Carlos. Duvido muito que “Blimunda” corresponda às expetativas que a senhora ministra da Cultura pretextou nos espetadores do S.Carlos para demitir o diretor, mas eu gostava de rever a ópera, de preferência no S.Carlos. Aguardemos.

Saramago esboçou ainda o gesto de retirar um papel dobrado do bolso, mas virou-se para o grupo e disse: tinha escrito um novo discurso de Estocolmo, mas resolvi deixar as palavras para as próprias pessoas. Que as utilizem e que as utilizem bem.



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