terça-feira, 8 de junho de 2010

O almirante vermelho

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O almirante Rosa Coutinho era meu vizinho, numa rua ao lado da minha.
Por mais de uma vez calhou, eu, de automóvel, parar na passadeira de peões para ele passar, com o seu boné posto. E ele mandava-me avançar e eu tinha de lhe dizer que não, que primeiro passa o senhor almirante e depois passo eu. E como eu sou muito teimoso e nestes casos ligo pouco às pressas de quem vem atrás, ele lá me fazia a vontade.
Já há uns tempos que não o via.
De modo que me sinto obrigado a citar os senhores coroneis Vasco Lourenço e Sousa e Castro, que poderão ser acusados de tudo, menos de adeptos do Partido Comunista.
Foram muito claros, os dois, a confirmar que o almirante era de esquerda mas não esteve nunca "colado" ao partido comunista.
E que:
"Rosa Coutinho é, porventura, o militar de Abril mais caluniado, sobre quem inventaram uma série de falsidades, conseguindo criar-lhe uma imagem muito distorcida, principalmente na sua acção em Angola, onde Rosa Coutinho se portou sempre como Português e nunca como agente ao serviço de qualquer potência estrangeira"

(ver em  http://www.aventar.eu/2010/06/07/almirante-rosa-coutinho-testemunho-de-vasco-lourenco/).

Mas deixem-me escrever vermelho, e deixem-me acreditar no DN, quando diz que nem a presidencia da republica nem o gabinete do primeiro ministro emitiram uma nota de condolencias sobre o antigo membro da junta de salvação nacional e governador de Angola.
Porque quero recordar uma afirmação dele, engenheiro hidrográfico e por isso pouco dado a eufemismos e argumentações florentinas, quando disse para os jornalistas que o quiseram ouvir, na sua interpretação da promiscuidade e das ligações do poder económico ao poder político, que eles, os que detêm os cargos do poder político, são normalmente uns "paus mandados" do poder económico.
Ainda bem que não houve mensagens de condolências; assim não houve hipocrisia.
Mas pode ser que um dia sejam aprovados os impostos sobre os lucros da banca, mesmo que os taxados fujam (para onde? para países com taxas maiores?).
Pode ser.
E aí está por que eu parava sempre para o almirante passar primeiro, com o seu boné posto.


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3 comentários:

  1. Talvez haja que explicar a posição de Rosa Coutinho no 25 de Novembro...

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  2. O comentário anteiror e anónimo meu.
    PJP

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  3. Confesso que no dia 25 de Novembro de 1975 estava no metropolitano, em tarabalho. Recordo-me de ter comentado para jovens colaboradores mais entusiasmados com a saída dos paraquedistas e com a manifestação em Belém junto do presidente da Republica, que ação militar era um disparate.
    Como não participei ativamente, limitei-me a citar o testemunho de dois participantes ativos, Vasco Lourenço e Sousa e Castro; este veio a substituir, logo a seguir, Rosa Coutinho.
    Estou convencido de que estes dois estão mais dentro do assunto do que eu. Perdoará o ilustre leitor que eu esteja convencido de que também são mais conhecedores do assunto do que o ilustre leitor.
    Mas agradeço muito a contribuição, que vem ilustrar mais uma vez o que dizia a minha professora de História, que temos de avaliar o grau de fidedignidade dos testemunhos, e comparando o grau de fidedignidade dos detratores de Rosa Coutinho com o destes dois, parecerá que o destes fica acima ...

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