quarta-feira, 27 de abril de 2011

Discurso do presidente, Parte III - em Abril de 2011

O presidente estava agora seguro de si.
Enquanto passeava os olhos pela ilustre assistencia de convidados, protegidos do sol pelas tendas de casamento e protegidos pelo próprio palácio da brisa do norte e  da poeira das obras nos terrenos que o palácio alienara para equilibrar as contas, recordava os progressos que devia à sua professora de dicção.
Estavam as mais importantes figuras da politica do pais nos ultimos 35 anos, que era a idade da Constituição.
Sem nenhuma espécie de intimidação, mas com algum excesso de auto-estima e esquecendo que a nossa pequenez não poderia resistir à crise internacional, o presidente começou o seu discurso:


- "Nós, a classe política reponsável pelo que tudo de bom e de mau nos acontece, começámos a compreender, ao fim de 35 anos de governos constitucionais, que não podemos esperar que os eleitores dêem a maioria absoluta a um só partido.


Finalmente compreendemos que existe diversidade e que não é possível todos pensarem da mesma forma.
Por isso mesmo, e porque o objetivo das instituições políticas é o bem-estar geral, embora não saibamos exatamente o que isso é, vamos todos  desenvolver as técnicas de organização do trabalho em equipa, de modo a aumentarmos a nossa produção de bens transacionáveis, e a moderarmos as nossas importações e assegurarmos a nossa autonomia alimentar.
Por isso mesmo, e porque a diversificação do grupo que toma decisões impede que se cometam sempre os mesmos erros , estou a pensar em alargar o Conselho de Estado a representantes de sensibilidades políticas que ainda não estão lá representadas e vou pedir aos partidos políticos que ainda não reuniram com os negociadores europeus que o façam e que discutam.


Ainda não compreendemos por que a abstenção está a crescer tanto, mas ela diminuirá quando se corrigir o que de mal tem sido feito na educação e na segurança física dos cidadãos e será reduzida à expressão infíma quando nos aceitarmos uns aos outros sem querermos sobrepor-nos a quem quer que seja.


Tambem ainda não compreendemos porque não é solidária a Europa, se não podemos eliminar o papel que a tradição judaico-cristã desempenhou na sua formação; imposta pela força , é verdade, especialmente a dos cavaleiros teutónicos no Báltico Oriental, mas bem clara e coerente com os ideais redistributivos de Adam Smith, por exemplo, nos Atos dos Apóstolos, capitulo 4:

"32 A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum. 33 Com grande poder, os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e uma grande graça operava em todos eles.  34 Entre eles não havia ninguém necessitado, pois todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas, traziam o produto da venda   35 e depositavam-no aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um conforme a necessidade que tivesse."

Esta é a mensagem que vos deixo hoje: nenhum especialista, seja do que for, economista do PIB ou técnico projetista de traçados do TGV, tem por si só uma solução melhor do que os não especialistas; mas deverá estudar as soluções possíveis e debatê-las sem secretismos com os cidadãos e cidadãs.

A nossa democracia não precisa de personalidades que sobrestimam os seus conhecimentos, mas sim de trabalho coletivo, quer ele seja movido pelo interesse egoista de quem o faz, quer pelo interesse do bem estar da comunidade, vulgo serviço público.

Temos de deixar de ser púdicos com as discussões na praça pública; não nos envergonhemos de dizer diaparates, embora devamos conter-nos.

Temos de difundir informação especializada para encher os debates, cortar nos programas televisivos de entretenimento vazio e insistir nos programas de informação.

Temos de nos organizar todos em todas as estruturas das comunidades sem que nenhum partido queira ser vanguardista.

Temos de identificar e resolver os problemas cognitivos para o que os respetivos especialistas deverão divulgar as razões técnicas e as melhores soluções técnicas, com alternativas.

Temos de identificar e resolver os problemas de coordenação cuja solução  tem de emergir da nossa inteligencia coletiva para que os nossos grupos de decisão evitem a polarização em torno de ideias feitas, elaborem agendas de trabalho sistemáticas e dêem a todos os participantes a oportunidade de falar; e que se preparem para viver melhor com a incerteza da dúvida do que com a certeza de soluções virtuais.

Temos de identificar e resolver os problemas de cooperação que também têm de provir da nossa capacidade de trabalhar em conjunto, mesmo pensando de maneira diferente, como o jogador que discorda do treinador, mas foi a tática que foi debatida nos treinos e que foi a escolhida (não é o treinador que ganha os jogos, é a equipa, e mesmo assim a vitória tambem depende de muita aleatoriedade).

A nossa democracia não garante que as soluções que formos adotando sejam as melhores, mas que a forma democrática, mais alargada e proporcional possível, sim, será a melhor."


Referências:
- Discurso do presidente da República em 2011-04-25 no palácio de Belem
- Texto dos Atos dos apóstolos retirado de:          
                                                http://www.paroquias.org/ 
- Caracterização dos problemas cognitivos, de coordenação e de cooperação em: "A sabedoria das multidões" de James Surowiecki, ed. Lua de Papel, ver:
      http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=8324446730271013022&postID=5635026065388885961
                                             http://youtu.be/SMwJTI23bAI


Discursos anteriores do presidente, neste blogue, nos posts de 13 e 28 de Março de 2011

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