Graças ao canal Mezzo, assisto ao concerto da orquestra Divan leste-oeste com Daniel Barenboim no claustro do palácio renascentista de Carlos V, pai de Filipe II de Espanha, no Alhambra em Granada.
O palácio foi construido cerca de 40 anos depois da expulsão do ultimo reino muçulmano da peninsula ibérica.
A sua construção integrou-se na politica despesista e militarista de Carlos V, de endividamento junto da família Fugger (hoje chamar-se-lhes-ia investidores) e de importação do ouro e prata da América central e do sul.
Esta política foi responsável por uma inflação crescente que contribuiu para retardar o progresso da Europa, o que contraria a ideia simplista de que os descobrimentos estimularam a economia da época. E mesmo que o tivessem feito, seria interessante calcular o valor da dívida da Europa à América central e do sul tomando por base o valor do ouro e prata importado, considerando-o como empréstimo e considerando os respetivos juros, e avaliano o que foi feito com tal empréstimo.
Como essas contas serão complexas, o reescalonamento das dívidas é sempre difícil de negociar e a expulsão dos muçulmanos pelos reis católicos é um assunto delicado, voltemos ao concerto de Daniel Barenboim e à sua orquestra com musicos palestinianos e israelitas.
A orquestra existe para mostrar que é possível viver em paz e em conjunto.
Trata-se de uma lição que os politicos e os religiosos têm muita dificuldade em compreender, mas em que Daniel Barenboim insiste, enquanto vai regendo o seu Wagner.
Ainda bem que insiste, porque a não violencia tem de facto muita força e às vezes consegue exitos inesperados.
Falo no concerto ainda por outra razão.
Reparei que os operadores de camara tinham preparado a gravação, estudando a partitura.
Isto é, quando chegava a vez dos fagotes, a imagem mostrava-os em grande plano.
No final dos andamentos, o grande plano da orquestra ou do maestro.
Já tenho reparado nalgumas gravações domésticas com exemplos de des-sincronização entre as imagens da orquestra e o som.
E isso é pena.
É uma metáfora do que se passa em muitas empresas portuguesas: privilegia-se a imagem, mas ignora-se o essencial, o som e a mensagem; quem estiver desatento até pode achar que o trabalho está bem feito, mas quando se ignora a causa e as razões técnicas das coisas, o trabalho não está bem feito.
Depois, as televisões estrangeiras a quem vendemos os concertos cá gravados (a cultura pode gerar receitas), podem tambem achar que o trabalho não está bem feito, o que será mau para a economia.
Essencial, salvo melhor opinião, dar mais atenção às questões técnicas, até porque os musicos da orquestra divan leste-oeste têm uma preparação técnica impecável.
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