sábado, 9 de abril de 2011

Festival internacional de orgão de Lisboa

Domingo de Primavera em Mafra.
É o concerto de encerramento do festival com os seis orgãos da basílica de Mafra.
Em plena crise, mais uma série de concertos gratuitos.
Em termos de mercado, será excesso de oferta, ou as alternativas de mecenato a funcionar.
Graças à produção da Juventude Musical Portuguesa, ao "alto patrocínio" da Câmara municipal de Lisboa e aos apoios da embaixada de Espanha, Antena 2, europa 90,4 fm, Instituto Cervantes de Lisboa, Turismo de Lisboa e Echo.

Aguardando a abertura dos portões

O orgão da Epístola (à direita) e o do Evangelho (à esquerda)

Os seis orgãos de Mafra são posteriores a D.João V. A sua instalação é contemporanea das invasões francesas.
Motivo de reflexão: todo o século XVIII, graças à vinda do ouro do Brasil (ainda bem que o que veio, e foi muito, não chegou a 10% do extraído, o principal ficou no Brasil), à fuga para Portugal de capitais europeus devida às guerras da sucessão de Espanha e da Áustria e à guerra dos 7 anos, e à intensiva, "iluminada" e "estrangeirada" politica de industrialização, conduziu a uma situação em que a balança de pagamentos de Portugal foi francamente positiva, ao mesmo tempo que o país beneficiava de autonomia alimentar. A Europa esteve muito entretida a guerrear, e as guerras incluiram o território da América do Norte, a India e as Filipinas (1ª guerra mundial, a do Kaiser Wilhelm?!).
 Infelizmente, a revolução francesa não acabou com o interesse pela guerra, e tivemos as invasões francesas. Ainda hoje está por resolver o contencioso entre Portugal e França para a devolução das obras de arte que foram levadas pelo invasor.
A rapina cultural dos exércitos franceses, apesar das contrapartidas como a preservação de algumas peças e a descodificação da escrita hieroglifica, abateu-se sobre vários paises, do Egito a Portugal.
Deveria talvez juntar-se ao contencioso cultural com a França os prejuizos para a economia portuguesa decorrentes das invasões, de que o principal terá sido a desindustrialização (mais precisamente, o não acompanhamento das inovações tecnológicas e, nos casos em que houve atualização tecnológica, deficiente aproveitamento, como no caso das infraestruturas ferroviárias).
Mais uma vez,  excelentes ideias,  liberdade e  democracia, e a reforma do código civil, atraiçoadas pelos executantes, dessa vez napoleónicos.
De modo que os orgãos de Mafra, tal como as finanças e a estrutura produtiva do país, estagnaram. Recuperados em 2010, apesar das dificuldades do país e do seu ministério da cultura, têm feito as delicias dos organistas portugueses e estrangeiros, e dos frequentadores dos festivais de orgão.
Embora neste caso os beneficios se estendam a  um publico mais vasto (cerca de 1500 espetadores) do que o festival das terras sem sombra do baixo Alentejo, talvez que uma politica mais dinamica de divulgação através da televisão e da comunicação social rentabilizasse o investimento, nomeadamente com a venda a televisões estrangeiras (lá está, a cultura transformada em bem transacionável; e para a televisão francesa deveria haver um preço especial).
Pena a economia de Mafra pouco ter beneficiado deste concerto. Apesar da intensa procura de restaurantes para jantar, antes do concerto, por parte de quem vinha de fora, apenas um restaurante e uma cervejaria tinham as portas abertas. Terá sido uma metáfora à moda de Keynes: estão as infraestruturas prontas a produzir, estão disponíveis os meios de produção (pese embora alguns dos meios de produção, os alimentos, serem importados, vá que a taxa de cobertura pelos produtos alimentares autóctones seja significativa nesta região), mas as entidades produtivas estão fechadas.
Acho que os senhores engravatados que explicam aos portugueses as políticas bancárias, deviam estudar bem o programa de restrições de consumos supérfluos e de investimento maciço em empresas produtoras de bens com retorno elaborado nos fins do século XVII pelo conde da Ericeira, ali perto de Mafra. Mas depois chegou o ouro do Brasil, no século XVIII, e esquecemo-nos todos da parte restritiva.
Que fado.

2 comentários:

  1. Vocês protugueses ficaram com todo o ouro do BRasil e depois enfiou na Inglaterra, porque vocês estavam na merda !!
    Agora então com a crise ....
    Vocês no Brasil foram saqueadores !! Os legados de vocês no Brasil foram: corrupção deslavada, malandragem, enfim ... nada que preste !!A única cosia que presta é o idioma!! Vcs também ao longo da história foram aves de rapina !!
    Odeio Portugal !!

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  2. Chi! que ódio.
    O ódio é um fundamentalismo mau conselheiro, pelo menos assim parece pelas consequencias.
    E se fizessemos as pazes, uma vez que quando se verificou a tal rapina ainda não eramos nascidos?
    Vá lá, e repare tambem que os portugueses saquearam o ouro do Brasil, mas saquearam 10%. O resto ficou no Brasil.
    Aliás, quando toda a corte de D.João VI, com o apoio logistico da Inglaterra, pois claro, para abichar mais uns ouritos, e desloca para o Brasil, o que fez foi criar condições para o fortalecimento da estrutura de uma nação. Os frutos vêem-se agora. A colonização portuguesa desde o século XVI traduziu-se pela estruturação de uma organização politica e social (muito à custa das populações indias e das populações negras trazidas como escravos) com identidade própria.
    Salvo melhor opinião, quando diz que odeia Portugal, corre o risco de dizer que se odeia a si próprio, e isso eu gostaria que não acontecesse.
    A menos que o estimado comentador preferisse a colonização francesa (os tais que levaram tesouros culturais durante as invasões em Portugal)ou holandesa que, como sabe pelos exemplos nas Caraíbas, nas Guianas e na África do Sul, se baseavam na ideia de superioridade étnica. Coisa que há muitos anos não existe no Brasil.
    Enfim, viva Fernando Pessoa e viva Carlos Drummond de Andrade, Camões e Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Chico Buarque de Holanda, pela forma e pelo conteudo do que exprimem na lingua portuguesa.

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