Muito bem, temos um guarda, mas quem guarda o guarda?
É a questão de Juvenal.
Temos um pelourinho, que são as auditorias do Tribunal de Contas e os auditores internos das empresas públicas.
A população gosta de ter um pelourinho, sofre da secreta tendencia sádica de gostar de ver alguem no pelourinho, gosta de saber que há um guarda, mas quem guarda o guarda?
É que o Tribunal de contas vem agora dizer que os auditores internos não apreenderam o conceito e são, alem disso, muito dispendiosos.
O que o guarda custa (ainda por cima não "apreendendo" o que querem dele) é mais do que o valor do roubo que o guarda evita.
Não se cansem, existe uma coisa que se chama auto-controle, e que é a unica coisa que pode funcionar, mas só funciona se for instilada na escola, a todas as criancinhas.
Educação é condicionamento para o resto da vida, é ficar incapaz de pôr a mão no pudim, de ser chico-esperto.
Nem é uma questão de defender valores de honestidade, é antes uma questão de eficiencia da comunidade.
O chico-esperto que ultrapassa todos na bicha do tráfego pode demorar menos tempo no seu percurso individual, mas subiu o valor médio do tempo de todas as deslocações.
Não se cansem, não há pelourinho que valha, nem Tribunal de contas, nem auditores internos.
Só pode ser auto-controle e, claro, controle externo a posteriori (o critério básico de qualquer controle de qualidade numa empresa é existirem sempre pelo menos dois orgãos operacionais de estratégia diferente de funcionamento cuja intervenção seja essencial para a ação em causa, isto é, que se controlem mutuamente; o orgão unico e centralizador é de importancia secundária).
Já diziam os romanos, até prova em contrário, o cidadão é inocente.
Mas não confundam indícios com provas, como já pedia o direito romano.
É que com os pelourinhos das auditorias internas, pensem que é muito fácil um inocente, por mais que antes tenha deduzido meios para combater a corrupção nas empresas públicas, ser vítima de indícios.
Por isso digo, mais vale pôr os auditores internos a contribuir de forma mais direta para o produto real das suas empresas.
E tambem, claro, reformular o famoso novo código de contratação pública, depois de ouvir os técnicos com experiencia no assunto.
Não sei se as boas intenções do Tribunal de contas alinharão neste programa, mas se não alinharem é pena.
Não terão apreendido na escola que a realidade é independente da perceção que se tem dela, por mais sedutora que seja a imagem da perceção.
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