As infiltrações na estação da Baixa do metropolitano têm tido honras de destaque no DN.
Também têm sido faladas nas reuniões da Câmara, mas aí a preocupação é mais com as escadas mecânicas.
Depois de um primeiro diagnóstico de que seriam demasiado delicadas para o serviço intensivo, o que se ouve agora nas reuniões da Câmara é que já são demasiado idosas e têm de ser substituídas.
Salvo melhor opinião, com uma manutenção correta e substituição periódica das peças mais delicadas (cadeias, corrimãos), será desperdício do investimento substitui-las antes de 25 anos, e elas completarão 13 neste ano de 2011.
Mas o tema deste post é infiltrações.
Há 5 anos, a administração do metro pediu ao autor do projeto da ampliação do aeroporto do Funchal que fizesse uma inspeção ao sistema de drenagem e esgoto das galerias das linhas da Baixa.
Não vindo agora a propósito o tema da inspeção, tem sempre atualidade um dos pressupostos do relatório então apresentado: que todas as obras, tal como qualquer equipamento, precisam de manutenção.
Esta afirmação é uma verdade de La Palice, mas as dificuldades de interpretação dos portugueses, já consagradas pelos relatórios do PISA, dos resultados da experiencia de novos métodos de manutenção com apoio de computadores (Computer aided maintenance), foram insidiosamente tornando irresistível a tentação de que é possível dilatar indefinidamente os intervalos de manutenção ou, pelo menos, de avaliação da condição.
Tal como referido na notícia do DN de dia 31 de Março de 2011, e de acordo com informação das relações publicas do metropolitano de Lisba, “as infiltrações existem desde a construção da estação e são monitorizadas e controladas por um sistema de drenagem.”
Efetivamente, do projeto e sua execução fez parte uma tela de isolamento das paredes das abóbadas que deixava entre ela e as paredes uma caixa de ar drenante que conduzia as infiltrações a uma bateria de drenos que descarrega para as caleiras no subcais e daí para os postos de bombagem e coletor municipal.
Mas uma coisa são as intenções e outra é a prática. O projeto, original da cidade de S.Paulo, era otimista, os drenos entopem-se com facilidade requerendo manutenção frequente, a tela foi-se degradando e rompendo com as fraturas a que toda a estrutura está sujeita, especialmente com os assentamentos devidos à construção de caves de estacionamento nos edifícios que fazem esquina da Rua Garret para a Rua Ivens, lado nascente.
A estação é uma barragem para o lençol freático da colina do Carmo e qualquer fratura ou orificio conduz a infiltrações. Tambem pode pensar-se num barco cujo casco está sujeito à pressão hidrostática (omnidireccional e igual em amplitude em todos os pontos).
É possível que, embora os drenos estejam no casco do navio, quando eles entopem a água suba até entrar pelos buracos e fraturas de cima.
Acresce que toda a humidade à volta da estação é má para a integridade química dos cachorros ferrosos que suportam o peso do mezanino (como foi possivel fazer um projeto em que a placa do mezanino está aparafusada às paredes resistentes?). Foi feita uma inspeção aos cachorros e aos drenos há cerca de 3 anos para viabilizar a assinatura do auto de receção definitiva.
Pessoalmente estimo que os pernos resistirão à corrosão 50 anos (por outras palavras, nada fazendo, o mezanino cai daqui a 30 anos).
Logo, parece que deveria fazer-se, ao invés do senso comum português, nova inspeção no horizonte de 5 anos e elaborar desde já o projeto de remodelação da estação.
Conviria, não obstante a estação ter sido projetada por um premiado Pritzker, alterar radicalmente o sistema de ventilação – não é apropriado que se esteja a ventilar as pernas das pessoas sentadas, com ar que passa pelas caleiras de águas pouco limpas no subcais, nem que o desequilíbrio de caudais de ar seja tão grande ao longo dos cais.
As principais infiltrações são efetivamente sob os edifícios referidos e através de fraturas no coroamento do acesso que serve o largo do Chiado. As fraturas são transversais. O agravamento das infiltrações resultará possivelmente do estreitamento da passagem para o lençol freático entre a abóbada e a soleira das novas caves de estacionamento.
Verificam-se outras fraturas transversais, no coroamento da abóbada, na nave da linha verde e apenas do lado norte relativamente ao acesso do Chiado, confirmando a hipótese da barragem e de assentamentos da estrutura da estação.
Tais assentamentos não serão graves, mas deverão ser monitorizados durante anos, considerando a natureza de aterro dos terrenos e o elevado número de remodelações de edifícios sobre a estação e os túneis do metro, todas com construção de novas caves de estacionamento que se aproximam das abóbadas.
Salvo melhor opinião, impõe-se a instrumentação (fissurómetros) das fraturas de azulejos evidentes, por onde entra a água (para alem dos previstos entubamentos para desviar a água dos pavimentos), para confirmar que os terrenos já estabilizaram depois de construídas as caves de estacionamento.
Impõe-se ainda a construção de furos de alivio a sério, chaminés desde a superfície, no quadrante Po e N da estação, relativamente ao acesso ao Chiado, com bombagem de água para o coletor (paineis fotovoltaicos no telhado do nosso edificio na Rua Ivens seriam preciosos para o funcionamento dessas bombas para economizar kWh à rede publica). Como primeira medida (a seguir aos entubamentos de desvio da água, como já dito), obturar todos, mas todos os furos na abóbada que alimentam as luminárias e deslocá-las para uma posição lateral de mais fácil acesso (injeção de resinas expansíveis a partir do interior, por exemplo).
É claro que não há dinheiro para executar esta obra, mas para fazer o plano de intervenção parece-me viável.
Enfim, aguardemos , que parece que é o que a soberania portuguesa pode fazer neste momento, pese embora o esforço de quem ainda trabalha e produz neste país.
Meu caro,
ResponderEliminarA estação da Baixa é, a prazo, um problema de recuperação muito complicado de engenharia. Não falo em termos de financeiros, falo em termos técnicos.
A ventilação foi uma questão a que na altura a DE se opôs, mas o Arquitecto era um nome muito pesado e muito simpático. Entre outras queria substituir a faixa amareka por uma fila de leds de uma cor mais de acordo com as restantes cores da estação.
Desenho e concepção de estações é demasiado especializado!
Pois foi. Ficou o metro com uma estação protótipo boa para umas fotografias num revista da especialidade de arquitetura, não de transportes.
ResponderEliminarMas discordo, a dificuldade é mais financeira do que técnica. Já os romanos faziam chaminés de equilibrio ou furos de alivio nas suas barragens, como em Mérida... há 2000 anos.