Montaigne, pensador francês do século XVI, autor da frase "o proveito de um é o prejuízo do outro".
Adam Smith e David Ricardo, economistas do classicismo da economia vieram dizer o contrário, que a necessidade de um se encontra harmoniosamente "no mercado" com a oferta do outro, e que de vantagens comparativas se faz um negócio vantajoso para o vendedor e para o comprador.
Talvez Montaigne tenha intuido o que ia acontecer, ou simplesmente observou a realidade, em vez de a querer subordinar a leis ideais.
Tal como La Fontaine o fez, quando ilustrou a lei da selva, com o lobo a defender a sua liberdade, sua dele, de comer o cordeiro.
Dificilmente se encontram mercados ideais.
A ideia pura dos mercados acaba por ser inquinada pela dureza da realidade através da assimetria de informação que permite negócios de elevada rentabildade mas só para alguns, através da escassez que permite aberrações de desenvolvimento económico assentes nas caraterísticas limitadas e não renováveis dos combustíveis fósseis, através das externalidades da afetação de todos por uma atividade proveitosa para apenas alguns, como as alterações climáticas devidas à emissão de CO2 ou o aumento de epidemias ou da mortalidade por dificuldade de acesso das populações mais carenciadas aos cuidados de saúde.
A verdade é que os sistemas económicos entregues a si próprios estimulam o desenvolvimento continuado dos fortes relativamente aos fracos.
Não vale a pena negar a história e as suas evidencias.
É a lei de Fermat-Weber.
Embora valha a pena os economistas que seguem as ideias dominantes do BCE e do eixo franco-alemão repetir os dogmas do neo-liberalismo muitas vezes, porque uma mentira repetida muitas vezes é percecionada como verdade.
A corrente dominante vai continuar a conter os preços em vez de controlar uma ligeira inflação que estimulasse o consumo e a produção.
As infra-estruturas vão continuar estagnadas, o desemprego vai continuar a aumentar, bem como o índice de desigualdades sociais, o abandono escolar, a criminalidade e a mortalidade.
Montaige também escreveu: "o que me admira não é a sabedoria dos políticos no poder, o que me admira é a multidão de admiradores que têm".
Como já não se fazem revoluções no nosso bairro, e os economistas dominantes conseguiram atrair a maioria dos eleitores e se recusam a aceitar estes argumentos, resta-nos ler Montaigne, século XVI:
O proveito de um é o prejuízo do outro
O ateniense Dêmades condenou um homem da sua cidade que tinha por ofício vender as coisas necessárias para os enterros, sob a alegação de que exigia um lucro excessivo e esse lucro não lhe podia vir sem a morte de muitas pessoas. Tal julgamento parece estar mal pronunciado, na medida em que não se obtém benefício algum a não ser com prejuízo de outrem, e que dessa maneira seria preciso condenar toda a espécie de ganho.
O mercador só faz bem os seus negócios por causa da devassidão dos jovens; o lavrador, pela carestia dos cereais; o arquitecto, pela ruína das casas; os oficiais de justiça, pelos processos e contendas dos homens; mesmo as honras e a actividade dos ministros da religião provêm da nossa morte e dos nossos vícios. Nenhum médico se alegra com a saúde mesmo dos seus amigos, diz o antigo cómico grego, nem o soldado com a paz da sua cidade; e assim sucessivamente. E o que é pior: cada um sonde dentro de si mesmo, e descobrirá que a maioria dos nossos desejos íntimos nascem e alimentam-se às expensas de outrem.
Considerando isso, veio-me à mente que nisso a natureza não contradiz a sua organização geral, pois os naturalistas afirmam que o nascimento, desenvolvimento e aumento de cada coisa são a alteração e degeneração de uma outra: Pois quando algo se transforma e muda de natureza, imediatamente há morte no objecto que existia antes (Lucrécio).
(de http://www.citador.pt/)
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
Montaigne - o proveito de um
domingo, 26 de fevereiro de 2012
Provérbio chinês
Chang-Pu-Lang (nome fictício) veio integrado no grupo chinês que formalizou a compra de parte da REN, desempenhando uma função discreta.
No jantar comemorativo do ato ficou sentado ao lado dum técnico português, também com uma função discreta no processo.
Chang-Pu-Lang, na conversa amena que mantiveram, mostrou-se apreensivo apenas com um aspeto do negócio, citando o provérbio chinês: quem salva a vida a uma criança, fica responsável por ela o resto da sua vida. Por isso, se ao crescimento chinês suceder o declínio, e a enormidade de apartamentos construídos e vazios por a maioria dos trabalhadores chineses não os poder comprar já é uma ameaça, Chang-Pu-Lang sente que será uma obrigação moral a sua companhia não abandonar a EDP. Embora possa não ser eseo entendimento dos seus superiores hierárquicos.
O técnico português achou um ponto de vista interessante e comentou que o provérbio deveria ser aplicado em democracia: governo que quisesse salvar um país deveria ficar responsável por todas as decisões que tomasse, mesmo depois de ser substituido. Por exemplo, constituir-se devedor de todos os cortes cobrados aos contribuintes para os salvar. Ou repositor dos prejuízos causados pelas suas decisões. Donde, a única hipótese para um governo democrático, não existindo companhia de seguros que pudesse cobrir tal risco, seria o governo tomar decisões em parceria com os próprios cidadãos e cidadãs.
Mas as análises de um e outro, no jantar comemorativo, não tiveram seguimento.
No jantar comemorativo do ato ficou sentado ao lado dum técnico português, também com uma função discreta no processo.
Chang-Pu-Lang, na conversa amena que mantiveram, mostrou-se apreensivo apenas com um aspeto do negócio, citando o provérbio chinês: quem salva a vida a uma criança, fica responsável por ela o resto da sua vida. Por isso, se ao crescimento chinês suceder o declínio, e a enormidade de apartamentos construídos e vazios por a maioria dos trabalhadores chineses não os poder comprar já é uma ameaça, Chang-Pu-Lang sente que será uma obrigação moral a sua companhia não abandonar a EDP. Embora possa não ser eseo entendimento dos seus superiores hierárquicos.
O técnico português achou um ponto de vista interessante e comentou que o provérbio deveria ser aplicado em democracia: governo que quisesse salvar um país deveria ficar responsável por todas as decisões que tomasse, mesmo depois de ser substituido. Por exemplo, constituir-se devedor de todos os cortes cobrados aos contribuintes para os salvar. Ou repositor dos prejuízos causados pelas suas decisões. Donde, a única hipótese para um governo democrático, não existindo companhia de seguros que pudesse cobrir tal risco, seria o governo tomar decisões em parceria com os próprios cidadãos e cidadãs.
Mas as análises de um e outro, no jantar comemorativo, não tiveram seguimento.
sábado, 25 de fevereiro de 2012
A novela do PET em 21 de fevereiro de 2012
Em declarações de 21 de Fevereiro de 2012, o senhor secretário de estado dos transportes anunciou que as dividas das empresas públicas serão assumidas pelo Estado e garantiu que não serão nem os utentes (bilhetes) nem os trabalhadores (acordos coletivos) a pagá-las.
Acrescentou que existe muita assimetria nas dívidas e que até Maio conta ter autorização da troica para tomar medidas ( afinal, as medidas não sairam já feitas do relatório e anexo do grupo de trabalho apresentado como solucionador dos transportes de Lisboa e Porto).
Bom, as palavras não foram bem essas, foram: "Esperemos nessa altura já estar em condições de perceber um pouco melhor a situação e propôr algumas alternativas",
Não pode o senhor secretário de estado queixar-se de não ter sido avisado da “assimetria” das dívidas e das suas razões. Bem foi avisado no início das suas funções de que não estava a perceber bem a situação.
Poderiam perfeitamente ter sido evitadas as declarações ofensivas da dignidade profissional dos trabalhadores das empresas públicas de transportes e a evidência do desconhecimento das razões de eficiência energética e de redução de emissão de gases com efeito de estufa, por parte do senhor ministro e do senhor secretário de estado no início das suas funções.
Mas não vale a pena chover no molhado.
Nem ter esperança de que este governo e a troica, caraterizados por preconceitos primários anti-entidades públicas (apesar dos exemplos internacionais de excelência de empresas públicas de transportes; apesar da intuição de Margaret Thatcher de que a privatização dos transportes seria o seu Waterloo), “tolerem” que as novas empresas de transportes de Lisboa sejam públicas.
A “limpeza” das dívidas seria assim uma forma de facilitar a entrada dos grupos privados, isto é, seria um bom serviço aos “investidores”.
Provavelmente continuará a difamação dos seus trabalhadores e a fuga à argumentação com os organismos representativos dos trabalhadores e com as administrações.
É pena, porque com o esforço de todos e com todos os cortes, os prejuízos operacionais do Metro e da Carris reduziram-se em 2011, no caso do metro de 52 para 18 milhões de euros e, no caso da Carris, de 41 para 29 milhões de euros.
Em ambos os casos, os juros dos empréstimos estão subindo de modo inaceitável e as ameaças de despedimento de trabalhadores afetam negativamente a produtividade das empresas.
Numa altura em que, não se podendo investir, existe em contrapartida muito para fazer na reorganização do “know-how” técnico das empresas de modo a que não se perca com a saída dos técnicos (mas este é um argumento de difícil entendimento pelos economistas do pensamento dominante, por evidente desconhecimento do “mercado” das competências técnicas).
Vamos ver, até Maio, se o senhor secretário de estado se “abre” mais com os organismos representativos dos trabalhadores e as administrações, e se a própria troica aprende alguma coisinha com as empresas europeias públicas de transporte.
Simples “benchmarking”.
Acrescentou que existe muita assimetria nas dívidas e que até Maio conta ter autorização da troica para tomar medidas ( afinal, as medidas não sairam já feitas do relatório e anexo do grupo de trabalho apresentado como solucionador dos transportes de Lisboa e Porto).
Bom, as palavras não foram bem essas, foram: "Esperemos nessa altura já estar em condições de perceber um pouco melhor a situação e propôr algumas alternativas",
Não pode o senhor secretário de estado queixar-se de não ter sido avisado da “assimetria” das dívidas e das suas razões. Bem foi avisado no início das suas funções de que não estava a perceber bem a situação.
Poderiam perfeitamente ter sido evitadas as declarações ofensivas da dignidade profissional dos trabalhadores das empresas públicas de transportes e a evidência do desconhecimento das razões de eficiência energética e de redução de emissão de gases com efeito de estufa, por parte do senhor ministro e do senhor secretário de estado no início das suas funções.
Mas não vale a pena chover no molhado.
Nem ter esperança de que este governo e a troica, caraterizados por preconceitos primários anti-entidades públicas (apesar dos exemplos internacionais de excelência de empresas públicas de transportes; apesar da intuição de Margaret Thatcher de que a privatização dos transportes seria o seu Waterloo), “tolerem” que as novas empresas de transportes de Lisboa sejam públicas.
A “limpeza” das dívidas seria assim uma forma de facilitar a entrada dos grupos privados, isto é, seria um bom serviço aos “investidores”.
Provavelmente continuará a difamação dos seus trabalhadores e a fuga à argumentação com os organismos representativos dos trabalhadores e com as administrações.
É pena, porque com o esforço de todos e com todos os cortes, os prejuízos operacionais do Metro e da Carris reduziram-se em 2011, no caso do metro de 52 para 18 milhões de euros e, no caso da Carris, de 41 para 29 milhões de euros.
Em ambos os casos, os juros dos empréstimos estão subindo de modo inaceitável e as ameaças de despedimento de trabalhadores afetam negativamente a produtividade das empresas.
Numa altura em que, não se podendo investir, existe em contrapartida muito para fazer na reorganização do “know-how” técnico das empresas de modo a que não se perca com a saída dos técnicos (mas este é um argumento de difícil entendimento pelos economistas do pensamento dominante, por evidente desconhecimento do “mercado” das competências técnicas).
Vamos ver, até Maio, se o senhor secretário de estado se “abre” mais com os organismos representativos dos trabalhadores e as administrações, e se a própria troica aprende alguma coisinha com as empresas europeias públicas de transporte.
Simples “benchmarking”.
A fé e a meteorologia
Elias, o profeta, por alguma razão tinha aprendido a lei de Buys-Ballot.
Ou porque algum extra-terrestre que não se mostrou a mais ninguém lha tenha explicado, ou porque ele próprio a deduziu depois de muita observação e partilha de informações com os pastores das planícies e das montanhas.
Vivia-se um período de seca e os pastos eram insuficientes para o gado, a base da economia de Israel.
Paradoxalmente, o povo deu ouvidos aos sacerdotes de Baal que lhes prometeram que os sacrifícios que os mais desfavorecidos sofriam com a seca iriam valer a pena.
O crescimento da economia, assente no gado, foi prometido ao povo para daí a um ano, quando regressasse a chuva.
O paradoxo era que os sacerdotes de Baal e os seus mais diretos apoiantes viviam confortavelmente, apesar da seca, enquanto o povo via os seus rendimentos diminuídos.
Mas os sacerdotes de Baal tinham encanto ao falar, ao explicar que as desigualdades eram a própria vontade de Baal, o deus do ouro, e o casal real, Acabe e Jezabel, era simpático aos olhos do povo.
A lei de Buys-Ballot que Elias descobrira, na versão que ele utilizava, era simples: dando as costas ao vento bárico, para a esquerda fica o centro de baixas pressões, sempre sensível às massas de ar marítimo, húmidas, a descambar para a chuva, e à direita fica o centro de altas pressões, a que muito mais tarde, no despertar da ciência iluminista, os primeiros climatologistas chamaram o anti-ciclone, distribuidor do bom tempo sem chuva.
Elias foi entretendo os sacerdotes de Baal com as discussões eternas que desde sempre entretêm o povo sem lhes dar hipótese de aceder às alavancas dos mecanismos económicos.
Até que pressentiu a mudança no vento bárico e, pela variação da direção e da intensidade do vento, percebeu que o anti-ciclone se encaminhava lentamente para o interior do Mediterrâneo, enquanto o centro de baixas pressões se aproximava da Palestina, vindo do Eufrates, criando assim condições para que as massas de ar marítimo, carregadas de humidade, pudessem ser sopradas para a Palestina.
Elias correu a anunciar ao povo que a chuva se aproximava, enviada pelo deus de Israel, e que assim se verificava a superioridade de Yavé sobre Baal porque Yavé era o deus da chuva, não Baal.
Os sacerdotes de Baal não gostaram e continuaram a insistir na teoria da recessão para o imediato e do crescimento e da chuva para mais tarde.
Elias tinha razão, para além da fé que tinha.
Choveu e o povo, convencido, mudou a sua simpatia de Baal para Yavé (Livro 1 dos Reis, 18:38 a 46).
Lembrei-me desta história ao ouvir na Antena 2 uma senhora de Mértola informar que tinham feito uma celebração e agora lhes restava”dar tempo a Deus para que lhes concedesse a graça da chuva que lhes tinham pedido”.
Lembrei-me também por ouvir a senhora ministra Assunção Cristas dizer que era uma mulher de fé e que esperava que chovesse, para além de ter pedido um “levantamento” das situações críticas.
Lembrei-me também por ouvir a fé que ministros das finanças, de economia e o primeiro ministro mostram orgulhosamente.
Por exemplo, as entrevistas dadas a jornais estrangeiros pelo senhor ministro das finanças Vítor Louçã Gaspar, em Setembro de 2011, que o crescimento irá voltar a Portugal em 2013
( http://www.jn.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=1979442&page=-1 ) ,
e em Fevereiro de 2012 que o crescimento voltará em 2014
Fé em Baal ou fé em Elias? Metodologia sacerdotal ou metodologia científica?
Pena este blogue não ter uma solução para tão grave problema que seja aceite pelo povo, que nem liga à lei de Buys-Ballot, mas que acha, este blogue, que a fé deve ser para outros domínios, lá isso acha.
Notas - O texto supra contem algumas adaptações das descrições bíblicas para ilustração de condições atuais, pelo
que essas adaptações não são compatíveis com as versões oficiais da Bíblia.
A parte do texto que se refere ao episódio bíblico dos versículos referidos está compatível com estes.
Omitiram-se os episódios sanguinolentos que se encontram nesta parte do Livro dos Reis.
Ou porque algum extra-terrestre que não se mostrou a mais ninguém lha tenha explicado, ou porque ele próprio a deduziu depois de muita observação e partilha de informações com os pastores das planícies e das montanhas.
Vivia-se um período de seca e os pastos eram insuficientes para o gado, a base da economia de Israel.
Paradoxalmente, o povo deu ouvidos aos sacerdotes de Baal que lhes prometeram que os sacrifícios que os mais desfavorecidos sofriam com a seca iriam valer a pena.
O crescimento da economia, assente no gado, foi prometido ao povo para daí a um ano, quando regressasse a chuva.
O paradoxo era que os sacerdotes de Baal e os seus mais diretos apoiantes viviam confortavelmente, apesar da seca, enquanto o povo via os seus rendimentos diminuídos.
Mas os sacerdotes de Baal tinham encanto ao falar, ao explicar que as desigualdades eram a própria vontade de Baal, o deus do ouro, e o casal real, Acabe e Jezabel, era simpático aos olhos do povo.
A lei de Buys-Ballot que Elias descobrira, na versão que ele utilizava, era simples: dando as costas ao vento bárico, para a esquerda fica o centro de baixas pressões, sempre sensível às massas de ar marítimo, húmidas, a descambar para a chuva, e à direita fica o centro de altas pressões, a que muito mais tarde, no despertar da ciência iluminista, os primeiros climatologistas chamaram o anti-ciclone, distribuidor do bom tempo sem chuva.
Elias foi entretendo os sacerdotes de Baal com as discussões eternas que desde sempre entretêm o povo sem lhes dar hipótese de aceder às alavancas dos mecanismos económicos.
Até que pressentiu a mudança no vento bárico e, pela variação da direção e da intensidade do vento, percebeu que o anti-ciclone se encaminhava lentamente para o interior do Mediterrâneo, enquanto o centro de baixas pressões se aproximava da Palestina, vindo do Eufrates, criando assim condições para que as massas de ar marítimo, carregadas de humidade, pudessem ser sopradas para a Palestina.
Elias correu a anunciar ao povo que a chuva se aproximava, enviada pelo deus de Israel, e que assim se verificava a superioridade de Yavé sobre Baal porque Yavé era o deus da chuva, não Baal.
Os sacerdotes de Baal não gostaram e continuaram a insistir na teoria da recessão para o imediato e do crescimento e da chuva para mais tarde.
Elias tinha razão, para além da fé que tinha.
Choveu e o povo, convencido, mudou a sua simpatia de Baal para Yavé (Livro 1 dos Reis, 18:38 a 46).
Lembrei-me desta história ao ouvir na Antena 2 uma senhora de Mértola informar que tinham feito uma celebração e agora lhes restava”dar tempo a Deus para que lhes concedesse a graça da chuva que lhes tinham pedido”.
Lembrei-me também por ouvir a senhora ministra Assunção Cristas dizer que era uma mulher de fé e que esperava que chovesse, para além de ter pedido um “levantamento” das situações críticas.
Lembrei-me também por ouvir a fé que ministros das finanças, de economia e o primeiro ministro mostram orgulhosamente.
Por exemplo, as entrevistas dadas a jornais estrangeiros pelo senhor ministro das finanças Vítor Louçã Gaspar, em Setembro de 2011, que o crescimento irá voltar a Portugal em 2013
( http://www.jn.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=1979442&page=-1 ) ,
e em Fevereiro de 2012 que o crescimento voltará em 2014
( http://www.agenciafinanceira.iol.pt/economia/gaspar-new-york-times-imprensa-defice-divida-recessao/1325590-1730.html ), isto é, em 5 meses o início do crescimento "escorregou" 1 ano.
Fé em Baal ou fé em Elias? Metodologia sacerdotal ou metodologia científica?
Pena este blogue não ter uma solução para tão grave problema que seja aceite pelo povo, que nem liga à lei de Buys-Ballot, mas que acha, este blogue, que a fé deve ser para outros domínios, lá isso acha.
Notas - O texto supra contem algumas adaptações das descrições bíblicas para ilustração de condições atuais, pelo
que essas adaptações não são compatíveis com as versões oficiais da Bíblia.
A parte do texto que se refere ao episódio bíblico dos versículos referidos está compatível com estes.
Omitiram-se os episódios sanguinolentos que se encontram nesta parte do Livro dos Reis.
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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Uma questão de transportes, a água parlamentar
Ignoro, talvez por incapacidade própria de interpretação das notícias, se a responsabilidade das contas que levaram o conselho de administração da Assembleia da Republica a decidir entre água engarrafada e água da torneira é do seu presidente, Eng.Couto dos Santos.
Consta que o senhor terá dito que há assuntos mais importantes para discutir.
Certamente que haverá, mas a forma como fez ou mandou fazer as contas indiciam um problema grave em Portugal, que é o de não fazer as contas a todos os gastos de transportes.
Dum lado contabilizaram os custos de pessoal para estar durante as reuniões das comissões pronto a encher os jarros com água da torneira. Do outro contabilizaram os gastos com as garrafas de água vulgares. E optaram pela água engarrafada.
Se foi assim, compreende-se o desabafo dodiretor do IST quando o eng.Couto dos Santos foi ministro da Educação: "Ah, sim, formou-se com 11".
Não será esta uma questão de lana caprina, é uma questão de transportes. Não foram contabilizados os custos do transporte da água engarrafada correspondentes ao combustível fóssil importado, à manutenção das rodovias e à emissão de gases com efeito de estufa (a comparar com o transporte em condutas da água da torneira ).
Quando se comparam custos do passageiro.km em transporte individual ou rodoviário com o transporte ferroviário, omitem-se normalmente os custos de manutenção das estradas e o diferencial desfavorável para o transporte rodoviário do consumo específico de energia e das emissões de CO2.
E depois tomam-se decisões em conformidade com essa omissão e continuamos a desperdiçar dinheiro por ineficiência energética nos trnsportes.
Difícil, explicar isto aos senhores governantes que decidem sobre transportes.
Difícil, também, explicar que qualquer deputado pode trazer uma garrafinha de água do café-bar e depois de a esvaziar, enchê-la na torneira da casa de banho mais perto da sua comissão parlamentar. Era o que eu fazia, guardadas as devidas distâncias do prestígio das funções, quando trabalhava numa daquelas empresas públicas de transportes "responsáveis" por aquelas enormes dívidas públicas. Isso, e pagar do meu bolso uns refrigerantes e umas bolachinhas para os convidados quando havia uma reunião mais importante.
PS - Manda a verdade dizer que a decisão do senhor eng.Couto dos Santos não é partilhada pelo seu colega de partido ex-secretário do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, que a criticou vivamente, como pessoa informada em questões ambientais
Consta que o senhor terá dito que há assuntos mais importantes para discutir.
Certamente que haverá, mas a forma como fez ou mandou fazer as contas indiciam um problema grave em Portugal, que é o de não fazer as contas a todos os gastos de transportes.
Dum lado contabilizaram os custos de pessoal para estar durante as reuniões das comissões pronto a encher os jarros com água da torneira. Do outro contabilizaram os gastos com as garrafas de água vulgares. E optaram pela água engarrafada.
Se foi assim, compreende-se o desabafo dodiretor do IST quando o eng.Couto dos Santos foi ministro da Educação: "Ah, sim, formou-se com 11".
Não será esta uma questão de lana caprina, é uma questão de transportes. Não foram contabilizados os custos do transporte da água engarrafada correspondentes ao combustível fóssil importado, à manutenção das rodovias e à emissão de gases com efeito de estufa (a comparar com o transporte em condutas da água da torneira ).
Quando se comparam custos do passageiro.km em transporte individual ou rodoviário com o transporte ferroviário, omitem-se normalmente os custos de manutenção das estradas e o diferencial desfavorável para o transporte rodoviário do consumo específico de energia e das emissões de CO2.
E depois tomam-se decisões em conformidade com essa omissão e continuamos a desperdiçar dinheiro por ineficiência energética nos trnsportes.
Difícil, explicar isto aos senhores governantes que decidem sobre transportes.
Difícil, também, explicar que qualquer deputado pode trazer uma garrafinha de água do café-bar e depois de a esvaziar, enchê-la na torneira da casa de banho mais perto da sua comissão parlamentar. Era o que eu fazia, guardadas as devidas distâncias do prestígio das funções, quando trabalhava numa daquelas empresas públicas de transportes "responsáveis" por aquelas enormes dívidas públicas. Isso, e pagar do meu bolso uns refrigerantes e umas bolachinhas para os convidados quando havia uma reunião mais importante.
PS - Manda a verdade dizer que a decisão do senhor eng.Couto dos Santos não é partilhada pelo seu colega de partido ex-secretário do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, que a criticou vivamente, como pessoa informada em questões ambientais
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custo específico do passageiro.km,
emissões de CO2
De Lijn (pronunciar de-láine) - uma questão de transportes
De Lign é a companhia pública de transportes coletivos, rodo e ferroviários, da região flamenga da Bélgica.
Da sua campanha publicitária fazem parte estes videos que me parecem ser um bom contributo para privilegiar o transporte coletivo. Referem o autocarro (take the bus), mas obviamente que é aplicável ao comboio (apesar do menor atrito do contacto roda de ferro-carril relativamente ao contacto pneu-asfalto, o fator decisivo para obtenção do menor custo unitário de trasnporte é o volume de passageiros.km transportados):
Pode parecer brincadeira, mas não é.
Os seres vivos desenvolveram através da evolução mecanismos de defesa em grupo de modo a sobreviver em meio adverso. Por exemplo, os bufalos defendem-se dos leões em circulo, os pássaros em bandos resistem melhor aos predadores mantendo na formação de voo as posições relativas entre eles.
Igualmente a espécie teve de viver em grupo para subsistir.
E a utilização de transportes coletivos é, contrariamente ao dito de Margaret Thatcher, uma forma da espécie humana resistir à ameaça do predador que é o custo da energia e as emissões de CO2 .
Podemos interpretar assim os videos da De Linj.
Da sua campanha publicitária fazem parte estes videos que me parecem ser um bom contributo para privilegiar o transporte coletivo. Referem o autocarro (take the bus), mas obviamente que é aplicável ao comboio (apesar do menor atrito do contacto roda de ferro-carril relativamente ao contacto pneu-asfalto, o fator decisivo para obtenção do menor custo unitário de trasnporte é o volume de passageiros.km transportados):
Pode parecer brincadeira, mas não é.
Os seres vivos desenvolveram através da evolução mecanismos de defesa em grupo de modo a sobreviver em meio adverso. Por exemplo, os bufalos defendem-se dos leões em circulo, os pássaros em bandos resistem melhor aos predadores mantendo na formação de voo as posições relativas entre eles.
Igualmente a espécie teve de viver em grupo para subsistir.
E a utilização de transportes coletivos é, contrariamente ao dito de Margaret Thatcher, uma forma da espécie humana resistir à ameaça do predador que é o custo da energia e as emissões de CO2 .
Podemos interpretar assim os videos da De Linj.
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transportes coletivos
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
Crítica de cinema - uma separação, filme iraniano
http://www.imdb.com/title/tt1832382/
O cinema iraniano é muito interessante.
A cultura iraniana está muito próxima da nossa cultura.
Aliás, os gregos antigos fizeram a síntese da cultura daquela zona.
Desde a matemática, às finanças, à escultura à arquitetura, à legislação, está lá o berço da nossa cultura.
Quando se vem do extremo oriente, Teerão faz lembrar Paris.
É uma cidade bonita, com gente simpática que mete conversa com os estrangeiros e lhes oferece chávenas de chá.
Os seus museus são interessantíssimos, vêem-se lá as gravuras dos nossos livros de história.
Por isso, independentemente do que nos separa, e o fundamentalismo religioso (Ahmadinjhad, ayatolas…) é uma coisa muito eficaz a separar as pessoas, tudo o que possa contribuir para aproximar os povos é bem vindo.
E o cinema iraniano tem esse valor.
A história de “uma separação” é curiosa, inclui uma investigação sobre um caso do quotidiano que obriga o espetador a pensar e a considerar as condicionantes religiosas e morais que oprimem o comportamento das mulheres, especialmente.
O interesse principal é mostrar a humanidade das personagens.
O que poderá ajudar os eleitores do ocidente a não apoiar os disparates da diplomacia, a qual amplia perigosamente os fatores de conflito em vez de os atenuar.
Mas tudo isto é pretexto para eu ir aos meus arquivos e repor a crónica que escrevi depois de ter estado em Teerão, na reunião de representantes de serviços técnicos de metropolitanos da UITP, em 2004
metro de Teerão, tecnologia francesa e chinesa |
O TAPETE DE SHIRAZ OU RELATÓRIO DA VISITA AO METRO DE TEERÃO
Tenho, não ao cimo da escada como José Régio, mas debaixo da minha escada e com igual devoção, um tapete de Shiraz, de oração, que me foi oferecido pelo meu amigo Moamed Sandidzadé.
A mancha dominante é de vermelho vivo, dividida em duas figuras geométricas onde pontuam, estilizados, pavões, gansos e cordeirinhos, como se nos convidassem a ajoelhar no paraíso.
É um tapete persa, sem as restrições à representação de animais que outras confissões islâmicas impõem.
Sandidzadé é meu colega no Metropolitano de Teerão e foi nosso anfitrião numa das nossas reuniões do subcomité de Instalações Eléctricas.
O subcomité é uma espécie de clube de poetas mortos com representantes de uma dezena de metropolitanos de todo o mundo, onde discutimos as nossas questões técnicas, apresentamos os nossos relatórios, lamentamos a dificuldade em conseguir a aplicação das nossas soluções e onde de cada vez que nos encontramos confirmamos a insignificância das nossas diferenças.
O meu colega Jean Claude Clement, francês do Vietnam, casado com uma francesa do Vietnam que sempre o acompanhou, fez um discurso quando cessou as suas funções de secretário, por ter trocado Paris pelo Cairo, em missão de projecto.
Comovido (os engenheiros também se comovem) disse:
“Nós, técnicos, promovemos melhor do que os nossos políticos a compreensão e a paz entre os povos, porque trabalhamos para a resolução dos seus problemas de transporte, para que possam viver em zonas urbanas e possam deslocar-se para os locais onde produzem riqueza e são actores da prosperidade económica, porque nos encontramos e definimos as regras por que se regem os metropolitanos, para que todos os povos tenham ao seu dispor sistemas seguros”
Em 2003 o metropolitano de Teerão fez um esforço de abertura e enviou Sandidzadé às reuniões do subcomité. Fê-lo de pleno direito, dado que a sua rede é extensa, bem organizada, projectada com o apoio de técnicos franceses e incorporando em grande parte tecnologia chinesa (o Irão é um grande fornecedor de petróleo à China, a quem compra tecnologia).
A reunião em Teerão veio a verificar-se em 2004, ainda antes da malfadada crise do programa nuclear.
Só eu apareci acompanhado da esposa. Os restantes colegas deixaram-se impressionar pelas ideias feitas da imprensa ocidental sobre a república islâmica e acharam que não era seguro (mais tarde, vim a saber que, num dos casos, houve uma séria crise conjugal quando ficou provado que os iranianos são pessoas como qualquer pessoa deste planeta). Complexo de superioridade? Má informação?
Por razões de economia da tarifa aérea, fomos com dois dias de antecedência, o que nos permitiu percorrer alguns museus da cidade, bazares e ruas.
Sim, é verdade que muitas mulheres andam de chador negro e de saias negras até ao chão. Outras usam calças e casacos ou gabardinas até abaixo dos joelhos, sempre com lenços a cobrir a cabeça. Ao iniciar a manobra de aterragem, o comandante tinha informado que por decreto do governo, todas as passageiras deveriam cobrir a cabeça. E todas as passageiras, persas e estrangeiras, graciosamente e ruidosamente, abrindo as as suas bolsas, cumpriram o decretado.
Também não é agradável a ideia de que os principais dirigentes da sociedade são clérigos e que a república não é laica (o que a Humannidade já passou para se libertar disso...). Souberam entretanto rodear-se de técnicos que gerem bem a coisa pública. O metropolitano de Teerão é um exemplo.
Quando um amigo diz ou faz dois ou três disparates, deixamos de gostar dele, viramos-lhe as costas?
Retenho na memória:
o gesto afável com que o comerciante do bazar empurra a nota do troco,
a pergunta ansiosa do jovem empregado de outra loja: “o que pensam do meu país?”,
a solicitude com que em plena rua me estendem um copo de plástico com chá, num dia quente,
o discurso interminável do director do museu de artesanato quando vê dois ocidentais a olhar para as caixinhas de embutidos,
os sucessivos guardas de trânsito que acorrem depois de termos perguntado a um deles onde era o posto de turismo, cada um deles sugerindo um local ou perguntando aos passantes se falavam inglês para explicar melhor (não há posto de turismo em Teerão),
a conversa pela Avenida Vali Asr acima, (a antiga Palevi, 12 Km de comprimento, de sul a norte de Teerão) com um cidadão que se interessa pelo que fazemos e que nos conta o que faz e porque não vêm a minha casa?,
o trânsito insuportável nas ruas de Teerão (“Teeran, Teeran” ... dizia o motorista do táxi do hotel, situado na periferia, quando chegava ao início do engarrafamento – o preço da gazolina é muito baixo),
o movimento dos jovens à volta das universidades e das livrarias do bairro universitário,
os jardins de Teerão (paraíso é uma palavra persa)… num deles há um museu de arte contemporânea como se estivéssemos em Serralves…
a réplica do código de Hamurabi (o original está no Museu do Louvre) no museu nacional, juntamente com os alto-relevos, baixos-relevos e esculturas que eu tinha no meu livro de história do liceu, os altares de Zoroastro (a primeira religião que nos falou do paraíso e do inferno...) ; a nossa civilização começou aqui, à volta de Susa; estão aqui as nossas raízes...
os olhos bonitos e azuis, contrastando com o negro do chador, da jovem professora de inglês que vive em Shiraz e meteu conversa connosco na cafetaria do museu nacional,
o ar maroto da guia que acompanhou minha mulher no programa organizado pelo metropolitano de Teerão e que a levou a participar numa cerimónia religiosa numa mesquita; minha mulher, uma agnóstica confessa…
Sandidzadé tinha sofrido havia pouco a morte da mulher e de uma filha num acidente de automóvel, mas superou e recebeu-nos muito bem. A sua intervenção sobre os consumos energéticos em função do tipo de marcha do comboio foi correctíssima. A oferta de um tapete de oração a cada um de nós foi um gesto de amizade.
Infelizmente, na reunião seguinte, em Nova York, não nos foi possível rever Sandidzadé. Os políticos, mais uma vez, sobrepuseram-se aos técnicos e não houve visto.
Mas pudemos rever-nos em Lisboa no ano seguinte.
Espero que os versículos do Corão que apelavam à não amizade com os infiéis, por terem sido escritos em contexto completamente diferente e referindo-se apenas ao povo árabe e numa altura de guerras tribais, não sejam seguidos por Sandidzadé e pela confissão da republica islâmica do Irão.
E é por isto que debaixo da minha escada o tapete de Shiraz é objecto da mesma devoção que José Régio tinha pela sua Nossa Senhora de madeira. Devoção minha, eu, um agnóstico confesso...
Tenho ao cimo da escada, de maneira
Que, logo entrando, os olhos me dão nela,
Uma Nossa Senhora de madeira
Arrancada a um Calvário de capela.
Põe as mãos com fervor e angústia. O manto
Cobre-lhe a testa, os ombros, cai composto;
E uma expressão de febre e espanto
Quase lhe afeia o fino rosto...
Mãe de Deus, seus olhos enevoados
Olham, chorosos, fixos, muito além...
E eu, ao passar, detenho os passos apressados,
Peço-lhe: “A tua benção, Mãe!”.
Sim, fazemo-nos boa companhia.
E não me assusta a sua dor, quase me apraz:
O Filho desta Mãe nunca mais morre. Aleluia!
Só isto bastaria a me dar paz!
“Porque choras, mulher?” – docemente a repreendo.
Mas à minha alma, então, chega de longe a sua voz
Que eu bem entendo:
“Não é por Ele...”. “Eu sei! Teus filhos somos nós.”
José Régio, "Mas Deus É Grande"
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O mundo em 23 de fevereiro de 2012 - acidente ferroviário em Buenos Aires
Espetáculo no S.Luis, de que faz parte a frase de Clarisse Lispector “tenho medo de entender, o mundo assusta-me com os seus planetas e baratas” :
http://www.teatrosaoluiz.pt/catalogo/detalhes_produto.php?id=275&month=3&year=2012
O dia 23 de fevereiro de 2012 começa com notícias angustiantes.
Não bastava o clima de desânimo deste país.
As notícias justificam o tema do espetáculo do S.Luis.
Antigamente as notícias circulavam menos e com mais lentidão.
O jornal não era lido todos os dias e trazia apenas uns vagos relatos de longínquas guerras, a que chamavam questões: a questão da Crimeia, a questão afegã, e refiro-me à segunda metade do século XIX.
Havia um círculo protetor da vida calma, no fundo ignorando os desastres extra círculo, mesmo que se vivesse em plena bancarrota , e refiro-me ao ano de 1892, o ano da bancarrota. De que se saiu com o apoio do Barings (desaparecido nos confins da crise de Singapura) e da concessão do imposto do tabaco (a Califórnia também se saiu há pouco tempo com a taxaçã e a legalização da droga).
Mas as desgraças alheias fazem esquecer as nossas próprias:
- 12 mortos no Paquistão, num atentado numa paragem de autocarros
- 32 mortos em Bagdad, em mais um atentado
- continua a selvajaria na Siria
- 50 mortos no acidente ferroviário de Buenos Aires.
Clarisse Lispector diria que deveríamos atenuar os efeitos dos planetas e das baratas.
Planetas, demasiada convicção e segurança de convicções, dificuldade em ouvir o outro que fala. Nunca mais se discutem os textos sagrados de modo a argumentar contra os fudamentalistas.
Baratas, demasiado dinamismo em pôr-se por cima ou à frente do outro. Os argumentos perdem-se na luta emotiva com que uns ofendem outros.
O sistema ferroviário de Buenos Aires sofre há muito de falta de investimento, carece de equipamentos de controle do movimento de comboios que possam compensar uma falha humana, o material circulante é obsoleto.
Sempre que ocorre um acidente em Buenos Aires (9 mortos em setembro de 2011, quando um autocarro numa passagem de nivel fez descarrilar um comboio que em seguida embateu noutro; 17 feridos em dezembro de 2011 no choque de uma automotora com um comboio) recordo o ar convencido do representante de uma companhia argentina à assembleia de metros sul-americanos e ibéricos Alamys: "orgulho-me de enquanto ministro dos transportes ter legislado para viabilizar a privatização dos transportes ferroviários na Argentina e de ser agora o presidente da principal companhia".
Assim, deste modo, é muito difícil garantir o transporte das pessoas em condições de segurança.
Buenos Aires é uma cidade populosa e de muito trabalho.
São muitas as deslocações diárias. Depois da crise cambial de 2000 muitos cidadãos e cidadãs não têm rendimentos suficientes para se deslocarem de transporte privado. Por razões políticas o transporte ferroviário é subsidiado mas os investimentos são extremamente parcos.
A situação é, em termos do normativo internacional, intolerável.
Mas certamente que os decisores lá do sítio garantirão que a culpa foi do maquinista que não travou ou dos trabalhadores da manutenção que deixaram sair o comboio com deficiência (é sempre muito fácil aos decisores virar a população contra os trabalhadores de uma empresa de transportes; como disse o representarnte de um sindicato argentino ao entrevistador da TV, "não somos assassinos, quando isto acontece ficamos de luto").
O acidente consistiu no embate de um comboio nos para-choques da estação terminal (configuração geográfica semelhante à chegada à estação Cais do Sodré ou Rossio da REFER, com os para-choques adjacentes à posição de paragem) a uma velocidade próxima de 25 km/h.
Aparentemente, os comboios argentinos não estarão equipados com o sistema automático de balizas de travagem (controle pontual de ultrapassagem de pontos limite de segurança) nem de controle contínuo de velocidade (ATP). Quer isto dizer que uma pequena desatenção do maquinista ou uma falha do comboio pode ter estas consequencias.
Alem disso, o material circulante é obsoleto. A deformação da testa do comboio nos para-choques não foi grande (seria desejável que os para-choques fossem do tipo de arrasto e que tivessem uma folga de segurança antes da posição final de paragem).
No entanto, a inércia de um comboio com 6 carruagens cheias (1500 a 2000 passageiros), possivelmente a circular com algumas carruagens com o sistema de travagem deficiente, e a ausencia dos dispositivos de anti-climbing que impedem, por efeito de "enganchamento" o encavalitamento entre carruagens, levou a que a segunda carruagem esmagasse a cabeceira da primeira carruagem, e terá sido aí que houve a maior parte das vítimas mortais.
Um sistema de transportes é um fator de produção para qualquer economia. Se se corta o seu investimento, as consequencias são estas, acidentes, e influencia negativa sobre a economia no seu todo, porque o fator trabalho não é posto no seu local de produção em condições de segurança, conforto e rapidez.
São assuntos já muito estudados, mas há decisores que ainda acham que não é assim e só olham aos números, ou à invocação de "crowding out", que o sistema de transportes está a roubar investimento à iniciativa privada...
Esperemos que no nosso país não cortem na segurança e na manutenção necessária.
E que ponderem bem quando o material circulante já é obsoleto, como no caso da linha de Cascais onde, e ainda bem, funciona um sistema de travagem automática ... (recordo que uma das razões de mortes no acidente do metro de Washington em 2009 foi a inexistencia de dispositivos "anti-climbing"; no caso desse acidente, a causa principal foi a obsolescencia dos circuitos de via, ou dispositivos detetores da presença dos comboios).
http://www.teatrosaoluiz.pt/catalogo/detalhes_produto.php?id=275&month=3&year=2012
O dia 23 de fevereiro de 2012 começa com notícias angustiantes.
Não bastava o clima de desânimo deste país.
As notícias justificam o tema do espetáculo do S.Luis.
Antigamente as notícias circulavam menos e com mais lentidão.
O jornal não era lido todos os dias e trazia apenas uns vagos relatos de longínquas guerras, a que chamavam questões: a questão da Crimeia, a questão afegã, e refiro-me à segunda metade do século XIX.
Havia um círculo protetor da vida calma, no fundo ignorando os desastres extra círculo, mesmo que se vivesse em plena bancarrota , e refiro-me ao ano de 1892, o ano da bancarrota. De que se saiu com o apoio do Barings (desaparecido nos confins da crise de Singapura) e da concessão do imposto do tabaco (a Califórnia também se saiu há pouco tempo com a taxaçã e a legalização da droga).
Mas as desgraças alheias fazem esquecer as nossas próprias:
- 12 mortos no Paquistão, num atentado numa paragem de autocarros
- 32 mortos em Bagdad, em mais um atentado
- continua a selvajaria na Siria
- 50 mortos no acidente ferroviário de Buenos Aires.
Clarisse Lispector diria que deveríamos atenuar os efeitos dos planetas e das baratas.
Planetas, demasiada convicção e segurança de convicções, dificuldade em ouvir o outro que fala. Nunca mais se discutem os textos sagrados de modo a argumentar contra os fudamentalistas.
Baratas, demasiado dinamismo em pôr-se por cima ou à frente do outro. Os argumentos perdem-se na luta emotiva com que uns ofendem outros.
O sistema ferroviário de Buenos Aires sofre há muito de falta de investimento, carece de equipamentos de controle do movimento de comboios que possam compensar uma falha humana, o material circulante é obsoleto.
Sempre que ocorre um acidente em Buenos Aires (9 mortos em setembro de 2011, quando um autocarro numa passagem de nivel fez descarrilar um comboio que em seguida embateu noutro; 17 feridos em dezembro de 2011 no choque de uma automotora com um comboio) recordo o ar convencido do representante de uma companhia argentina à assembleia de metros sul-americanos e ibéricos Alamys: "orgulho-me de enquanto ministro dos transportes ter legislado para viabilizar a privatização dos transportes ferroviários na Argentina e de ser agora o presidente da principal companhia".
Assim, deste modo, é muito difícil garantir o transporte das pessoas em condições de segurança.
Buenos Aires é uma cidade populosa e de muito trabalho.
São muitas as deslocações diárias. Depois da crise cambial de 2000 muitos cidadãos e cidadãs não têm rendimentos suficientes para se deslocarem de transporte privado. Por razões políticas o transporte ferroviário é subsidiado mas os investimentos são extremamente parcos.
A situação é, em termos do normativo internacional, intolerável.
Mas certamente que os decisores lá do sítio garantirão que a culpa foi do maquinista que não travou ou dos trabalhadores da manutenção que deixaram sair o comboio com deficiência (é sempre muito fácil aos decisores virar a população contra os trabalhadores de uma empresa de transportes; como disse o representarnte de um sindicato argentino ao entrevistador da TV, "não somos assassinos, quando isto acontece ficamos de luto").
Aparentemente, o para-choques não tem capacidade de absorção de energia para um choque a 25 km/h; deveria ter um espaço de recuo e deveria estar afastado da posição normal de paragem |
Esmagamento da parte de trás da primeira carruagem por encavalitamento da segunda |
A segunda carruagem, contrariamente à primeira, não parece ter sofrido muito, embora a energia do choque em carruagens completametne cheias possa tambem ter provocado vítimas por pressão excessiva |
O acidente consistiu no embate de um comboio nos para-choques da estação terminal (configuração geográfica semelhante à chegada à estação Cais do Sodré ou Rossio da REFER, com os para-choques adjacentes à posição de paragem) a uma velocidade próxima de 25 km/h.
Aparentemente, os comboios argentinos não estarão equipados com o sistema automático de balizas de travagem (controle pontual de ultrapassagem de pontos limite de segurança) nem de controle contínuo de velocidade (ATP). Quer isto dizer que uma pequena desatenção do maquinista ou uma falha do comboio pode ter estas consequencias.
Alem disso, o material circulante é obsoleto. A deformação da testa do comboio nos para-choques não foi grande (seria desejável que os para-choques fossem do tipo de arrasto e que tivessem uma folga de segurança antes da posição final de paragem).
No entanto, a inércia de um comboio com 6 carruagens cheias (1500 a 2000 passageiros), possivelmente a circular com algumas carruagens com o sistema de travagem deficiente, e a ausencia dos dispositivos de anti-climbing que impedem, por efeito de "enganchamento" o encavalitamento entre carruagens, levou a que a segunda carruagem esmagasse a cabeceira da primeira carruagem, e terá sido aí que houve a maior parte das vítimas mortais.
Um sistema de transportes é um fator de produção para qualquer economia. Se se corta o seu investimento, as consequencias são estas, acidentes, e influencia negativa sobre a economia no seu todo, porque o fator trabalho não é posto no seu local de produção em condições de segurança, conforto e rapidez.
São assuntos já muito estudados, mas há decisores que ainda acham que não é assim e só olham aos números, ou à invocação de "crowding out", que o sistema de transportes está a roubar investimento à iniciativa privada...
Esperemos que no nosso país não cortem na segurança e na manutenção necessária.
E que ponderem bem quando o material circulante já é obsoleto, como no caso da linha de Cascais onde, e ainda bem, funciona um sistema de travagem automática ... (recordo que uma das razões de mortes no acidente do metro de Washington em 2009 foi a inexistencia de dispositivos "anti-climbing"; no caso desse acidente, a causa principal foi a obsolescencia dos circuitos de via, ou dispositivos detetores da presença dos comboios).
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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
http://en.wikipedia.org/wiki/The_Girl_with_the_Dragon_Tattoo
http://www.dragontattoo.com/site/
"The girl with dragon tatoo", filme de 2011 de David Fincher,em inglês, sobre o livro de Stieg Larsson "Men who hate women". Existe outro filme de 2009 com o mesmo tema, em sueco, de 2009, de Niels Oplev.
Trata-se de um policial com a investigação de um desaparecimento 40 anos atrás, aspetos psiquiátricos e sociológicos interessantes e ingredientes da cultura mediática atual.
A heroína é uma "hacker" de aspeto "funck" que deixa mal vista a segurança social sueca mas que tem dotes de memória fotográfica e de capacidade informática notáveis.
Como o filme é comprido e de ação temporal irrealista, varre temas atuais como a corrupção e os off-shores internacionais, a violencia contra as mulheres, a liberdade de expressão, o anti-semitismo, o fundamentalismo religioso.
O que acaba por cansar o espetador, embora o cansaço não deva ser motivo para impedir a atividade artística.
Interessou-me ver de mais perto a questão do fundamentalismo religioso que o filme ( e o livro) aflora.
Na agenda da desaparecida encontravam-se alguns numeros que, ao serem interpretados como versículos do livro Levítico, da Bíblia, permitiram o esclarecimento de uma série de crimes que tinham ficado por resolver e que estavam ligados aos "homens que odeiam mulheres".
data do crime, nome da vítima, local do crime e versiculo do livro 3 do Levítico relacionado com o crime |
A forma de execução dos crimes sobre as mulheres revelou também o perigo de interpretações literais da Bíblia, o que remete para a questão do fundamentalismo e da dificuldade em aceitar a Bíblia como guia de orientação social.
Como Saramago dizia, a Bíblia é um bocado sanguinária e o seu deus também.
Aliás, quem pôs na boca de Jesus Cristo a afirmação de que os antigos eram brutais e que o novo testamento privilegiava a ideia da misericórdia, também achava o mesmo.
A não violencia de Gandhi também contrasta com o clima sanguinário, vingativo, invasor e opressor da Bíblia, pelo que da discussão destes temas se poderia fazer uma arma contra os conflitos religiosos e fundamentalistas que nos atormentam nos tempos que correm.
Explicar a um fundamentalista islâmico (o que exige mediadores, claro) que as suas ações são contra os mandamentos de Alá porque a interpretação literal não pode opor-se ao significado de Islam, que quer dizer paz, talvez fosse mais eficaz do que enviar drones que matam camponeses que não estão a fazer a guerra.
Mas vamos aos versículos do filme Homens que odeiam mulheres", aplicáveis a algumas das vítimas:
Levítico, 07.27 - os que comerem sangue serão ostracizados
« , 18.22 - dois varões que coabitem sexualmente serão mortos
« , 20.10 - o homem e a mulher que cometerem adultério serão mortos
« , 20.14 - homem e sogra que tiverem relações serão mortos
« , 20.16 - quem tiver relações com um animal será morto
« , 20.18 - quem tiver relações durante o período menstrual será ostracizado
« , 20.27 - quem praticar espiritismo será morto por apedrejamento
« , 21.09 - a prostituta que seja filha de um sacerdote será morta pelo fogo
Um bocadinho preocupante, de facto, se uma mente perturbada optar por uma interpretação literal.
Aliás, é no Levítico que vem a lei de Talião, a tal da espiral de violencia.
Mas valha a verdade que algumas coisas que vêm na Bíblia tinham a sua justificação (por exemplo, a proibição de comer carne três dias depois de cozinhada, atendendo a que não havia frigoríficos nem terem ainda sido descobertas as virtudes conservativas do fumeiro) e a muitas outras apetecia dar uma interpretação literal, por exemplo, Exodus, 22.24 - não cobrarás juros pelos empréstimos de ajuda que fizeres (que dirão os gregos ortodoxos, que têm de pagar 190% de juros).
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Crítica de cinema - Merryl Streep como Margaret Thatcher
Como se costuma dizer, todos nós temos um pouco de poeta, de louco e de médico.
Mas o provérbio é muito antigo, e acho que podemos acrescentar que todos temos também um pouco de crítico de cinema.
O filme sobre Margaret Thatcher utiliza técnicas eficazes para atrair os espetadores e apesar de não esconder os aspetos negativos acabará por dar uma imagem simpática, até pela iterpretação de Merryl Streep.
Nisso segue a tendencia de branda tolerancia e de abertura para concessões, coisa que não era com ela, que Clint Eastwood manifestou no seu J.Edgar, humanizando o grande inquisidor do FBI Edgar Hoover.
Talvez humanizar a dama de ferro seja perigoso nos tempos que correm, por sugerir a aplicação das suas receitas de "capitalismo de casino", responsáveis pela desindustrialização do país e pelo predomínio da especulação financeira mais ou menos declaradamente "off-shore", que com grande probabilidade conduziram à crise financeira atual.
Pareceu-me um filme pesado e cansativo, com recurso obssessivo ao diálogo com o fantasma do marido e a constantes "flash-backs".
Mas a senhora era obssessiva, na sua ansia de aplicar as ideias de Hayeck (minimização do Estado, privatizações, fé bíblica na iniciativa privada), não há que admirar o filme ser obssessivo e deprimente quando retrata o maior desemprego na Inglaterra depois de 1930.
Só ao fim de 11 anos o mecanismo democrático do próprio partido conseguiu acabar com o seu autoritarismo.
Pena o filme não incluir a frase célebre da senhora, que quem aos 30 anos tem de andar de transportes públicos é um falhado.
Pena não referir o falhanço reconhecido que foi a privatização dos transportes em Inglaterra, com graves falhas de segurança e acidentes como consequencia dos cortes.
Nem a parcial nacionalização a contragosto da BP e da Chrysler inglesa.
Nem o envio de mensagens de mentira aos passageiros de um voo bloqueado num país do golfo pérsico.
Mas o filme não esconde a frieza do crime de guerra cometido com o afundamento do cruzador Belgrano fora da zona de exclusão e com a proa virada ao continente, não esconde a intolerancia e a incapacidade de aplanar o caminho para a intermediação no conflito com a Irlanda do Norte (ficou provado que a mediação resulta), não esconde a insensibilidade perante o desemprego.
E contudo, assim como muitos votaram nela e lhe deram a maioria apesar das suas medidas, também no momento do nosso descontentamento muitos apoiam o seu dedicado e inflexível seguidor contra todas as evidencias, o primeiro ministro portugues, dela e de Hayeck.
Contra, por exemplo, o próprio continuador de Thatcher, primeiro ministro inglês Cameron, ao dinamizar com Mario Monti o manifesto "Um plano para o crescimento da Europa", com medidas privilegiando o emprego e o crescimento, ao arrepio das ideias de Hayeck e da estratégia do BCE (lei de Philips: conter os preços e as taxas de juro através de um desemprego elevado e uma procura contida).
O primeiro ministro português, pelo menos até agora, não quis assinar o manifesto, já assinado por 11 primeiros ministros europeus.
Deve ser contra as ideias dele.
Escreveu Cameron: "As garantias implícitas de sempre resgatar os bancos, que distorcem o mercado único, devem ser reduzidas. São os bancos, e não os contribuintes, que devem ser responsáveis por suportar os custos dos riscos que correm" (eu acrescentaria, os bancos e as holdings que os detinham, como a SLN).
Como é diferente o neo-liberalismo na Inglaterra, ou como dizia Julio Dantas, como é diferente o amor em Portugal.
Mas o provérbio é muito antigo, e acho que podemos acrescentar que todos temos também um pouco de crítico de cinema.
O filme sobre Margaret Thatcher utiliza técnicas eficazes para atrair os espetadores e apesar de não esconder os aspetos negativos acabará por dar uma imagem simpática, até pela iterpretação de Merryl Streep.
Nisso segue a tendencia de branda tolerancia e de abertura para concessões, coisa que não era com ela, que Clint Eastwood manifestou no seu J.Edgar, humanizando o grande inquisidor do FBI Edgar Hoover.
Talvez humanizar a dama de ferro seja perigoso nos tempos que correm, por sugerir a aplicação das suas receitas de "capitalismo de casino", responsáveis pela desindustrialização do país e pelo predomínio da especulação financeira mais ou menos declaradamente "off-shore", que com grande probabilidade conduziram à crise financeira atual.
Pareceu-me um filme pesado e cansativo, com recurso obssessivo ao diálogo com o fantasma do marido e a constantes "flash-backs".
Mas a senhora era obssessiva, na sua ansia de aplicar as ideias de Hayeck (minimização do Estado, privatizações, fé bíblica na iniciativa privada), não há que admirar o filme ser obssessivo e deprimente quando retrata o maior desemprego na Inglaterra depois de 1930.
Só ao fim de 11 anos o mecanismo democrático do próprio partido conseguiu acabar com o seu autoritarismo.
Pena o filme não incluir a frase célebre da senhora, que quem aos 30 anos tem de andar de transportes públicos é um falhado.
Pena não referir o falhanço reconhecido que foi a privatização dos transportes em Inglaterra, com graves falhas de segurança e acidentes como consequencia dos cortes.
Nem a parcial nacionalização a contragosto da BP e da Chrysler inglesa.
Nem o envio de mensagens de mentira aos passageiros de um voo bloqueado num país do golfo pérsico.
Mas o filme não esconde a frieza do crime de guerra cometido com o afundamento do cruzador Belgrano fora da zona de exclusão e com a proa virada ao continente, não esconde a intolerancia e a incapacidade de aplanar o caminho para a intermediação no conflito com a Irlanda do Norte (ficou provado que a mediação resulta), não esconde a insensibilidade perante o desemprego.
E contudo, assim como muitos votaram nela e lhe deram a maioria apesar das suas medidas, também no momento do nosso descontentamento muitos apoiam o seu dedicado e inflexível seguidor contra todas as evidencias, o primeiro ministro portugues, dela e de Hayeck.
Contra, por exemplo, o próprio continuador de Thatcher, primeiro ministro inglês Cameron, ao dinamizar com Mario Monti o manifesto "Um plano para o crescimento da Europa", com medidas privilegiando o emprego e o crescimento, ao arrepio das ideias de Hayeck e da estratégia do BCE (lei de Philips: conter os preços e as taxas de juro através de um desemprego elevado e uma procura contida).
O primeiro ministro português, pelo menos até agora, não quis assinar o manifesto, já assinado por 11 primeiros ministros europeus.
Deve ser contra as ideias dele.
Escreveu Cameron: "As garantias implícitas de sempre resgatar os bancos, que distorcem o mercado único, devem ser reduzidas. São os bancos, e não os contribuintes, que devem ser responsáveis por suportar os custos dos riscos que correm" (eu acrescentaria, os bancos e as holdings que os detinham, como a SLN).
Como é diferente o neo-liberalismo na Inglaterra, ou como dizia Julio Dantas, como é diferente o amor em Portugal.
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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
O artigo do DN sobre as "regalias" dos trabalhadores dos transportes
Fiquei chocado quando li o artigo do DN aqui referido:
http://www.dn.pt/inicio/tv/interior.aspx?content_id=2316670&seccao=Media&page=-1
Por isso tomei a liberdade de enviar ao senhor diretor o seguinte email.
Veremos se tem seguimento.
Exmo Senhor Diretor
O DN de 2012-02-21 titula a toda a largura da primeira página “Trabalhadores dos transportes não pagam medicamentos e recebem baixa por inteiro” e remete para uma página interior com o título “Empresas de transportes mantêm regalias e benefícios em crise”.
O DN não pode ser acusado de faltar à verdade, porque infelizmente alguns trabalhadores se aproveitaram abusivamente das disposições do acordo coletivo.
Porém, quando escreve deste modo, o DN pode ser acusado de induzir alguns leitores a uma generalização (em vez de “trabalhadores”, facilmente se lerá “os trabalhadores”) que é desprimorosa para a maioria dos trabalhadores.
A notícia baseia-se num “levantamento” pelo ministério dos transportes que facilmente e desejavelmente poderá ser contrastada e melhor esclarecida junto das organizações de trabalhadores e das próprias administrações.
Por este motivo e por ter sido trabalhador do Metropolitano de Lisboa, sinto-me chocado com o tratamento desta questão pelo DN.
Embora não sendo a pessoa indicada para esclarecimentos por ter trabalhado na parte técnica, sobre as baixas, direi que as empresas deixam de pagar ao fim de um intervalo de tempo legal do início da baixa e que têm mecanismos de comprovação da licitude da baixa através de visitas domiciliárias (infelizmente, a Segurança Social carece de meios para resolver as situações de doença crónica que atinge alguns dos trabalhadores).
Sobre os “remédios à borla”, direi que as exigências burocráticas são tão grandes que no meu caso desisti do complemento.
Sobre as horas extraordinárias, direi que em 37 anos nunca recebi nenhuma, e como eu muitos colegas, o que não impediu o nosso trabalho em fins de semana e feriados para que os comboios pudessem entrar em serviço nas ampliações da rede, precisamente nesses dias para facilidade de correção de alguma deficiência imprevista.
Sobre como escrever “oferta superior à procura em 400%” pode induzir em erro o leitor desprevenido, terei todo o prazer em esclarecê-lo do ponto de vista técnico à distância de um clique, se V.Exa tiver interesse nisso.
Sobre os montantes das dívidas das empresas de transportes, recordo que até 1988 as dívidas para as expansões do metro eram consideradas dívida pública e não da empresa, coisa alterada a partir de 1993, salvo erro.
Sobre o complemento de reforma direi que a partir de há alguns anos os trabalhadores admitidos no metro já a ele não têm direito. No meu caso, devido a 40 anos de descontos, nos termos da lei, resultou um complemento de reforma de 65 euros. Somado à pensão, totaliza 3.200 euros (líquido), que compara com o ultimo ordenado de 3.600 euros (líquido), contrariando o vosso texto. É verdade que é uma boa reforma, mas tomo a liberdade de recordar que em 1974, data da minha admissão no metro, o ordenado ilíquido de um técnico de engenharia no primeiro ano era de 54,5 euros e na grande empresa privada que para mim foi alternativa possível era de 85 euros, sendo que ninguém na altura, à exceção do MRPP, criticava as “regalias” dos vencimentos dos técnicos de engenharia.
Por tudo isto, muito apreciaria que a vossa notícia fosse alvo de melhorias
Poderá V.Exa dispor da presente missiva como bem entender.
Com os melhores cumprimentos
F.Santos e Silva
PS - Ainda sobre horas extrardinárias e outros subsídios, gostaria de recordar, sem prejuízo de uma negociação em função da crise atual, que os valores recebidos pelos trabalhadores, quando aplicável, não contam para a reforma e que existem disposições legais, como a isenção de horário de trabalho, que podem reduzir o montante global respetivo.
http://www.dn.pt/inicio/tv/interior.aspx?content_id=2316670&seccao=Media&page=-1
Por isso tomei a liberdade de enviar ao senhor diretor o seguinte email.
Veremos se tem seguimento.
Exmo Senhor Diretor
O DN de 2012-02-21 titula a toda a largura da primeira página “Trabalhadores dos transportes não pagam medicamentos e recebem baixa por inteiro” e remete para uma página interior com o título “Empresas de transportes mantêm regalias e benefícios em crise”.
O DN não pode ser acusado de faltar à verdade, porque infelizmente alguns trabalhadores se aproveitaram abusivamente das disposições do acordo coletivo.
Porém, quando escreve deste modo, o DN pode ser acusado de induzir alguns leitores a uma generalização (em vez de “trabalhadores”, facilmente se lerá “os trabalhadores”) que é desprimorosa para a maioria dos trabalhadores.
A notícia baseia-se num “levantamento” pelo ministério dos transportes que facilmente e desejavelmente poderá ser contrastada e melhor esclarecida junto das organizações de trabalhadores e das próprias administrações.
Por este motivo e por ter sido trabalhador do Metropolitano de Lisboa, sinto-me chocado com o tratamento desta questão pelo DN.
Embora não sendo a pessoa indicada para esclarecimentos por ter trabalhado na parte técnica, sobre as baixas, direi que as empresas deixam de pagar ao fim de um intervalo de tempo legal do início da baixa e que têm mecanismos de comprovação da licitude da baixa através de visitas domiciliárias (infelizmente, a Segurança Social carece de meios para resolver as situações de doença crónica que atinge alguns dos trabalhadores).
Sobre os “remédios à borla”, direi que as exigências burocráticas são tão grandes que no meu caso desisti do complemento.
Sobre as horas extraordinárias, direi que em 37 anos nunca recebi nenhuma, e como eu muitos colegas, o que não impediu o nosso trabalho em fins de semana e feriados para que os comboios pudessem entrar em serviço nas ampliações da rede, precisamente nesses dias para facilidade de correção de alguma deficiência imprevista.
Sobre como escrever “oferta superior à procura em 400%” pode induzir em erro o leitor desprevenido, terei todo o prazer em esclarecê-lo do ponto de vista técnico à distância de um clique, se V.Exa tiver interesse nisso.
Sobre os montantes das dívidas das empresas de transportes, recordo que até 1988 as dívidas para as expansões do metro eram consideradas dívida pública e não da empresa, coisa alterada a partir de 1993, salvo erro.
Sobre o complemento de reforma direi que a partir de há alguns anos os trabalhadores admitidos no metro já a ele não têm direito. No meu caso, devido a 40 anos de descontos, nos termos da lei, resultou um complemento de reforma de 65 euros. Somado à pensão, totaliza 3.200 euros (líquido), que compara com o ultimo ordenado de 3.600 euros (líquido), contrariando o vosso texto. É verdade que é uma boa reforma, mas tomo a liberdade de recordar que em 1974, data da minha admissão no metro, o ordenado ilíquido de um técnico de engenharia no primeiro ano era de 54,5 euros e na grande empresa privada que para mim foi alternativa possível era de 85 euros, sendo que ninguém na altura, à exceção do MRPP, criticava as “regalias” dos vencimentos dos técnicos de engenharia.
Por tudo isto, muito apreciaria que a vossa notícia fosse alvo de melhorias
Poderá V.Exa dispor da presente missiva como bem entender.
Com os melhores cumprimentos
F.Santos e Silva
PS - Ainda sobre horas extrardinárias e outros subsídios, gostaria de recordar, sem prejuízo de uma negociação em função da crise atual, que os valores recebidos pelos trabalhadores, quando aplicável, não contam para a reforma e que existem disposições legais, como a isenção de horário de trabalho, que podem reduzir o montante global respetivo.
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empresas de transportes
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
Rappresentatione di Anima e di Corpo, de Emilio d'Cavalieri
A cultura dominante privilegia a surpresa como fator de apreciação.
Valoriza-se quem e o que tem capacidade de surpreender os cidadãos e cidadãs.
A mim me parece que estamos assim a menosprezar o trabalho honesto, rotineiro e discreto, que afinal, por criar bens essenciais à sobrevivencia, permite os picos de destaque de quem consegue surpreender.
Mas a verdade é que me surpreendi, também por demérito meu por ignorancia, quando tomei conhecimento da igreja de Marvila a propósito do concerto pelo grupo vocal Olisipo e o grupo instrumental Melleo Harmonia.
http://www.paroquiamarvila.pt.vu/
Pela igreja, construida durante o declinio económico da primeira metade do século XVII, pela qualidade dos intérpretes, e pela beleza da musica da oratória "Rappresentatione di Anima e di Corpo".
Música da transição do renascimento para o barroco, mas com sonoridades modernas, contemporanea da construção da igreja.
O interesse da oratória é o de ter sido a primeira oratória na história da música, contando as contradições entre a alma, o corpo e o intelecto, com as pinturas da capela sixtina como inspiração.
Aparentemente é um texto moralista e subordinado à moral católica, mas a mim me pareceu, que estou sempre a querer desnudar as intenções piedosas, que o convite à fruição dos prazeres da vida é explícito, depois de protestar a submissão do corpo à alma e ao intelecto.
Excertos do texto:
"eu choro, filho, o teu desumano âmago"
"fugi do pecado e felizes retornai aos vossos lares
"dificil concordarem, o corpo, a alma e o intelecto"
"festa, festa para todos"
Tenho pena por não conseguir convencer ninguém a gostar deste tipo de música e de literatura, que as pessoas acham aborrecido, mas o valor cultural desta oratória e desta igreja são enormes.
Aplausos para os intérpretes.
Valoriza-se quem e o que tem capacidade de surpreender os cidadãos e cidadãs.
A mim me parece que estamos assim a menosprezar o trabalho honesto, rotineiro e discreto, que afinal, por criar bens essenciais à sobrevivencia, permite os picos de destaque de quem consegue surpreender.
Mas a verdade é que me surpreendi, também por demérito meu por ignorancia, quando tomei conhecimento da igreja de Marvila a propósito do concerto pelo grupo vocal Olisipo e o grupo instrumental Melleo Harmonia.
http://www.paroquiamarvila.pt.vu/
a igreja de Marvila |
azulejos da igrea de Marvila |
os intérpretes, coordenados por Jenny Silvestre |
Música da transição do renascimento para o barroco, mas com sonoridades modernas, contemporanea da construção da igreja.
O interesse da oratória é o de ter sido a primeira oratória na história da música, contando as contradições entre a alma, o corpo e o intelecto, com as pinturas da capela sixtina como inspiração.
Aparentemente é um texto moralista e subordinado à moral católica, mas a mim me pareceu, que estou sempre a querer desnudar as intenções piedosas, que o convite à fruição dos prazeres da vida é explícito, depois de protestar a submissão do corpo à alma e ao intelecto.
Excertos do texto:
"eu choro, filho, o teu desumano âmago"
"fugi do pecado e felizes retornai aos vossos lares
"dificil concordarem, o corpo, a alma e o intelecto"
"festa, festa para todos"
Tenho pena por não conseguir convencer ninguém a gostar deste tipo de música e de literatura, que as pessoas acham aborrecido, mas o valor cultural desta oratória e desta igreja são enormes.
Aplausos para os intérpretes.
Sic transit gloria mundi
Navio Funchal, atracado no Poço do Bispo, aguardando talvez a ida para a sucata.
Navegou desde 1961 até recentemente.
Navegou desde 1961 até recentemente.
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navio Funchal
domingo, 19 de fevereiro de 2012
Nossa Senhora da República
Nossa Senhora da República,
protege o teu heroi
e os que aqui se reuniam,
no tempo da outra senhora
quando os capacetes do capitão Maltez
lhes apontavam as coronhas das espingardas aos peitos
Nossa Senhora da República,
o teu heroi não gostava de estar no meio dos pobres e dos ofendidos,
não gostava de sindicalistas, anarco-sindicalistas,
socialistas ou comunistas,
era a voz da burguesia esclarecida,
mas a República deve ir além dos seus heróis, não é?
Por isso, Nossa Senhora da República,
protege os que agora são os pobres de recursos,
e os humilhados pelo menosprezo dos que se assenhorearam da República
Nossa Senhora da República e da Democracia,
que já conquistastes a Liberdade,
afaga o caminho para a Igualdade e a Fraternidade
E pronto, sou um sentimental, ou piegas, na versão dos senhores governantes, os betinhos do governo, na pitoresca expressão do bastonário da ordem dos advogados.
Depois de ler o conto da Marília, do livro "O homem do turbante verde", de Mário Vieira de Carvalho, evocando as manifestações dos 5 de Outubro, não resisti aos encantos da estátua.
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sábado, 18 de fevereiro de 2012
Politica cultural - Europa criativa
Ficou célebre uma afirmação atribuída ao senhor secretário de estado da cultura em resposta às dúvidas de um entrevistador: “que parte da frase ‘não há dinheiro’ é que não percebeu?”
Mas ficou uma questão.
Existe uma politica cultural na UE que reconhece que a cultura estimula o crescimento económico.
Existe atualmente um programa de apoio com validade de 2007 até 2013 dotado com 400 milhões de euros e acaba de ser formalizado o programa de apoio "Europa creativa" para 2014-2020, dotado com 1800 milhões de euros.
Estranha-se assim muito a informação do senhor secretário de estado e receia-se que a afirmação, a ter sido proferida, revele ignorância, mentira, ou simplesmente execução das diretivas da turma de contabilidade aplicada de alunos inexperientes, voluntaristas e incultos (imagem de Gabriela Canavilhas, antiga ministra da cultura de que este blogue discordava na maioria das questões, mas nesta concorda).
Evidentemente que o recurso às verbas disponíveis exige, tal como no caso da comparticipação nos fundos QREN, a elaboração de projetos rigorosos.
Que era do que a secretaria de estado deveria estar a tratar.
Estará?
Mais informação sobre o programa e sobre a sua fundamentação em:
http://ec.europa.eu/culture/creative-europe/
donde retirei a primeira frase:
“Europe needs to invest more in its cultural and creative sectors because they significantly contribute to economic growth, employment, innovation and social cohesion”
Mas ficou uma questão.
Existe uma politica cultural na UE que reconhece que a cultura estimula o crescimento económico.
Existe atualmente um programa de apoio com validade de 2007 até 2013 dotado com 400 milhões de euros e acaba de ser formalizado o programa de apoio "Europa creativa" para 2014-2020, dotado com 1800 milhões de euros.
Estranha-se assim muito a informação do senhor secretário de estado e receia-se que a afirmação, a ter sido proferida, revele ignorância, mentira, ou simplesmente execução das diretivas da turma de contabilidade aplicada de alunos inexperientes, voluntaristas e incultos (imagem de Gabriela Canavilhas, antiga ministra da cultura de que este blogue discordava na maioria das questões, mas nesta concorda).
Evidentemente que o recurso às verbas disponíveis exige, tal como no caso da comparticipação nos fundos QREN, a elaboração de projetos rigorosos.
Que era do que a secretaria de estado deveria estar a tratar.
Estará?
Mais informação sobre o programa e sobre a sua fundamentação em:
http://ec.europa.eu/culture/creative-europe/
donde retirei a primeira frase:
“Europe needs to invest more in its cultural and creative sectors because they significantly contribute to economic growth, employment, innovation and social cohesion”
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Europa criativa
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
O Carnaval
Este blogue saúda com admiração a lição do antropólogo António Pedro Pires no DN de hoje sobre a origem do Carnaval:
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2309881&page=-1
Penso que está muito bem explicada a necessidade de um escape social deste tipo.
Aliás, o facto da igreja católica ter proibido a festa antecessora do Carnaval, a festa dos doidos (descendente das saturnais romanas) no concilio de Bale de 1431 já não augurava nada de bom.
A eliminação da festa dos doidos coincidiu com o ascenso da centralização absolutista na Europa e o aparecimento do dogma da infalibilidade papal (já repararam como quem critica o Carnaval é sempre infalível?)
É bom que o Carnaval se mantenha, para que as pessoas importantes não tenham a desagradável tendencia para acharem que têm sempre razão, que estão no caminho certo, que já sabiam que isto e aquilo ia acontecer, que depois melhora, etc, etc.
Que os grandes decisores percebam, ao menos uma vez por ano, que "os políticos (e os grandes contabilistas, acrescento eu) não passam de pigmeus".
Ou como ele cita, que "uma sociedade que tenha perdido o gosto pelos divertimentos reduzir-se-á bem depressa a uma simples tribo de autómatos".
Pelo que fica a esperança nas crianças, que bruscamente, num verão futuro, uma nova geração se desligue desta tristeza e da síndroma que atacou os novos economistas e os novos governantes, de serem "incapazes de reconhecer os contributos válidos das gerações anteriores ou de os articular numa lógica de aperfeiçoamento evolutivo" (citação de João Lobo Antunes, neurocirurgião) .
Entretanto, a propósito das crianças mascaradas de carteiro, fica também a esperança de que a moda das privatizações, outro exemplo da síndroma referida, se suspenda a pensar no filme de Kevin Costner, o carteiro, que explicou que "os correios" são um fator de coesão de um povo, coisa que nenhuma empresa em busca de lucros poderá ser, porque não é rentável levar à aldeia desertificada uma carta nem o sinal de rede de internet.
Um grande aplauso para o antropólogo.
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Finalmente, o presidente da Republica demitiu-se
Finalmente, após poucos meses de angustia, acusado de tráfico de influencias e de beneficio de informação privilegiada, embora sem nenhuma acusação de ter cometido qualquer ilegalidade, o pobre senhor teve a honestidade e a coragem de se demitir.
Refiro-me ao presidente demissionário da Republica alemã.
A senhora Merkel e a sua política perdem assim um aliado, um soldado que sai da sua luta tão segura dos conceitos e das virtudes do neo-liberalismo.
Como dizia Julio Dantas, como é diferente o amor em Portugal.
Refiro-me ao presidente demissionário da Republica alemã.
A senhora Merkel e a sua política perdem assim um aliado, um soldado que sai da sua luta tão segura dos conceitos e das virtudes do neo-liberalismo.
Como dizia Julio Dantas, como é diferente o amor em Portugal.
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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Que querem da minha Alma Mater?
Não se deve deixar a parte emocional sobrepor-se à parte racional.
Não gostei que tivessem afrontado a minha Alma Mater.
E é a minha própria parte racional que me diz que nalguns casos devemos fazer o que não se deve.
E então deixo a parte emocional sobrepor-se à parte racional.
Também porque foi uma gota de água para esgotar a paciencia com que recebo as medidas do atual governo a notícia sobre a hipótese do Instituto Superior Técnico, por motivo do orçamento de estado para 2012, ter de desistir de alguns projetos de investigação para que já recebeu verbas comunitárias.
Se entendi bem, será um caso semelhante ao da paragem da obra adjudicada do TGV.
Os economistas decisores preferem perder os fundos comunitários a ter de contribuir com a parte nacional.
Não obstante o próprio presidente da comissão europeia ter obtido uma maior comparticipação dos fundos comunitários para os projetos QREN (condição básica pra acesso aos fundos QREN: que os projtos estejam bem feitos; neste momento, deveria estar a assisati-se a um esforço acelerado por todo o país na elaboração de projetos, mas nem isso).
Os economistas decisores não fazem a mais pequena ideia das implicações técnicas, utilizando a palavra em ambiente de engenharia.
Só entendem quadros com verbas.
Não percebem que as viagens aéreas e rodoviárias para Madrid emitem muito mais gases com efeito de estufa do que o TGV.
E como não percebem, ou não querem perceber, ou ainda acreditam nas fadas do petróleo barato e nos duendes que dizem que o CO2 não faz mal nenhum (claro que nem todo o CO2 é de origem antropogénica, mas que não convem nada agravar a situação, não convem) e que o Ártico não está a derreter (claro que não está a derreter tanto como os alarmistas irresponsavelmente disseram, mas que está ,está), decidem cortar nos investimentos de melhorias dos sistemas de transporte.
E decidem cortar nos programas de investigação da Alma Mater, em vez de ajudarem a operacionalizá-los.
O novo diretor do IST já informou que vão fazer cortes onde for possível, da vigilancia à limpeza (eu escrevi possível, não escrevi preciso porque ainda sei a diferença entre os dois adjetivos, coisa que os autores dos cortes no orçamento, por exemplo, da saúde, no respeitante a transplantes pediátricos, às isenções de taxas moderadoras para os dadores de sangue e aos custos mais elevados dos transportes para os hospitais centrais relativamente aos locais, ignoram).
E ficaria muito agradecido se não repetissem a mentira de que não há dinheiro, depois do escandalo dos 750 milhões de euros para o BPN antes da venda por 40 milhões, e da garantia de 3.500 milhões, ou de como um banco integrado numa holding (Sociedade Lusa de Negócios) não reflete a sua falencia nessa holding.
Podem os senhores economistas decisores estar muito contentes com o amparo moral que recebem dos seus homólogos da fação dominante na UE, servidores cegos dos cortes orçamentais e das privatizações, independentemente dos casos concretos, mas em questões técnicas, de engenharia, são ignorantes e incompetentes e, mais grave ainda, serão mal aconselhados por técnicos de engenharia que teriam a obrigação moral de aconselhar de outro modo.
PS - Um artigo do Publico veio pormenorizar: trata-se do decreto que proibe o comprometimento de verbas quando não exista disponibilidade orçamental imediata.
Eu continuo a ser um ignorante em contabilidade, apesar de pensar que os pricípios básicos, os condicionantes e os determinantes da economia me foram ensinados na cadeira de economia da Alma Mater pelo engenheiro Daniel Barbosa.
Outra coisa é a elevada competencia contabilistica dos decisores do governo português e dos orgãos determinantes da UE, do FMI e do BCE. Mas um decreto assim, de que não desdenharia a escola de finanças públicas da universidade de Coimbra da década de 20 do século passado, parece-me a mais sincera confissão do regime de "marcha à vista".
A marcha à vista é utilizada nas ferrovias quando os sistemas de controle avariaram, e em náutica quando o navegante não dispõe de cartas confiáveis ou de instrumentos de navegação.
No primeiro caso, a velocidade tem de ser muito reduzida, isto é, o desemprego aumenta e o crescimento não vem; no segundo caso, o pobre navegante arrisca-se a bater numa rocha submersa (nem todos os navegantes dominam a técnica que Cristovão Colomb usava: guiava-se pela cor da água para avaliar a profundidade e a proximidade de terra, mas mesmo essas competencias não evitaram o encalhe fatal da Santa Maria num banco de areia).
Em qualquer caso, a marcha à vista é o oposto do que ensina a ciência em termos de predição tal como a Alma Mater ensina (ver Norbert Wiener) e trata-se de funcionamento irregular dos sistemas, situação prevista na constituição da Republica Portuguesa.
Não gostei que tivessem afrontado a minha Alma Mater.
E é a minha própria parte racional que me diz que nalguns casos devemos fazer o que não se deve.
E então deixo a parte emocional sobrepor-se à parte racional.
Também porque foi uma gota de água para esgotar a paciencia com que recebo as medidas do atual governo a notícia sobre a hipótese do Instituto Superior Técnico, por motivo do orçamento de estado para 2012, ter de desistir de alguns projetos de investigação para que já recebeu verbas comunitárias.
Se entendi bem, será um caso semelhante ao da paragem da obra adjudicada do TGV.
Os economistas decisores preferem perder os fundos comunitários a ter de contribuir com a parte nacional.
Não obstante o próprio presidente da comissão europeia ter obtido uma maior comparticipação dos fundos comunitários para os projetos QREN (condição básica pra acesso aos fundos QREN: que os projtos estejam bem feitos; neste momento, deveria estar a assisati-se a um esforço acelerado por todo o país na elaboração de projetos, mas nem isso).
Os economistas decisores não fazem a mais pequena ideia das implicações técnicas, utilizando a palavra em ambiente de engenharia.
Só entendem quadros com verbas.
Não percebem que as viagens aéreas e rodoviárias para Madrid emitem muito mais gases com efeito de estufa do que o TGV.
E como não percebem, ou não querem perceber, ou ainda acreditam nas fadas do petróleo barato e nos duendes que dizem que o CO2 não faz mal nenhum (claro que nem todo o CO2 é de origem antropogénica, mas que não convem nada agravar a situação, não convem) e que o Ártico não está a derreter (claro que não está a derreter tanto como os alarmistas irresponsavelmente disseram, mas que está ,está), decidem cortar nos investimentos de melhorias dos sistemas de transporte.
E decidem cortar nos programas de investigação da Alma Mater, em vez de ajudarem a operacionalizá-los.
O novo diretor do IST já informou que vão fazer cortes onde for possível, da vigilancia à limpeza (eu escrevi possível, não escrevi preciso porque ainda sei a diferença entre os dois adjetivos, coisa que os autores dos cortes no orçamento, por exemplo, da saúde, no respeitante a transplantes pediátricos, às isenções de taxas moderadoras para os dadores de sangue e aos custos mais elevados dos transportes para os hospitais centrais relativamente aos locais, ignoram).
E ficaria muito agradecido se não repetissem a mentira de que não há dinheiro, depois do escandalo dos 750 milhões de euros para o BPN antes da venda por 40 milhões, e da garantia de 3.500 milhões, ou de como um banco integrado numa holding (Sociedade Lusa de Negócios) não reflete a sua falencia nessa holding.
Podem os senhores economistas decisores estar muito contentes com o amparo moral que recebem dos seus homólogos da fação dominante na UE, servidores cegos dos cortes orçamentais e das privatizações, independentemente dos casos concretos, mas em questões técnicas, de engenharia, são ignorantes e incompetentes e, mais grave ainda, serão mal aconselhados por técnicos de engenharia que teriam a obrigação moral de aconselhar de outro modo.
PS - Um artigo do Publico veio pormenorizar: trata-se do decreto que proibe o comprometimento de verbas quando não exista disponibilidade orçamental imediata.
Eu continuo a ser um ignorante em contabilidade, apesar de pensar que os pricípios básicos, os condicionantes e os determinantes da economia me foram ensinados na cadeira de economia da Alma Mater pelo engenheiro Daniel Barbosa.
Outra coisa é a elevada competencia contabilistica dos decisores do governo português e dos orgãos determinantes da UE, do FMI e do BCE. Mas um decreto assim, de que não desdenharia a escola de finanças públicas da universidade de Coimbra da década de 20 do século passado, parece-me a mais sincera confissão do regime de "marcha à vista".
A marcha à vista é utilizada nas ferrovias quando os sistemas de controle avariaram, e em náutica quando o navegante não dispõe de cartas confiáveis ou de instrumentos de navegação.
No primeiro caso, a velocidade tem de ser muito reduzida, isto é, o desemprego aumenta e o crescimento não vem; no segundo caso, o pobre navegante arrisca-se a bater numa rocha submersa (nem todos os navegantes dominam a técnica que Cristovão Colomb usava: guiava-se pela cor da água para avaliar a profundidade e a proximidade de terra, mas mesmo essas competencias não evitaram o encalhe fatal da Santa Maria num banco de areia).
Em qualquer caso, a marcha à vista é o oposto do que ensina a ciência em termos de predição tal como a Alma Mater ensina (ver Norbert Wiener) e trata-se de funcionamento irregular dos sistemas, situação prevista na constituição da Republica Portuguesa.
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O ramo de flores do sr Abílio e questões económicas
Não devem lembrar-se do sr Abílio, florista, com venda na Avenida da Igreja, ao lado do café Nova Lisboa.
http://fcsseratostenes.blogspot.com/search?q=ab%C3%ADlio
Foi ele que me informou que as rosas, este ano, vieram do Equador.
No ano passado tinham vindo do Quénia.
No Montijo há um produtor, mas as estufas não chegam para as encomendas, e a produção só poderia aumentar se se investisse. Não há economia sem investimento.
O sr Abilio e a sua mulher continuam a trabalhar, mas a filha continua doente. Tem uma doença crónica e o tratamento nos hospitais públicos não tem sido o melhor.
Que pensará uma pessoa assim quando os senhores governantes apelam aos portugueses para trabalharem mais?
Que pensarão os trabalhadores do estaleiro de Viana do Castelo, que não têm crédito para comprar a chapa necessária e não sabem que responder à delegação venezuelana que lhes veio perguntar se já começaram os dois navios asfalteiros?
Que pensarão quando ouvem os apelos para trabalharem mais?
Que pensarão quando lhes recordam que o governo vai injetar 600 milhões de euros no BPN antes de receber por ele 40 milhões, que vai dar mais 150 milhões para outros fins contabiliticos (que eufemismo) e que dará garantia de um empréstimo de 3.500 milhões?
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domingo, 12 de fevereiro de 2012
Cantata BWV 82, Ich habe genug (eu tenho o suficiente) de J.S.Bach
Concerto na Fundação Gulbenkian, em 10 de fevereiro de 2012, com a orquestra Gulbenkian, o maestro Tom Koopman e o baixo Klaus Mertens
A cultura alemã no século XVIII desenvolveu-se no sentido do classicismo.
A urbanização de Berlim foi um sucesso e a pureza das linhas de arquitetura clássica atingiram um nível elevado na avenida Unter den Linen. Sob a expansão prussiana através do exército e da organização estrutural da sociedade germinava a centralização do século seguinte e o desenvolvimento industrial, no meio da pulverização feudal sobrevivente. Na música, Bach fazia a transição do barroco para o clássico e transformava a matematica em música. De cultura luterana, as suas cantatas e paixões são a sua expressão dramática.
A cantata Ich habe genung é um bom exemplo da música ao serviço da mensagem cristã de resignação com a miséria da vida terrena, com a esperança de uma vida triunfal pós morte.
As condições de vida na Alemanha no tempo de Bach não eram confortáveis. Havia guerra demasiadas vezes e havia a necessidade de fazer crescer a economia.
Todos os domingos a música nas igrejas ajudava os burgueses, os camponeses e os manufatureiros a conviver com as dificuldades do quotidiano na esperança de um futuro de felicidade.
Três séculos passados, apesar de todo o progresso tecnológico que se pensava colocaria o conforto ao alcance de todos, continua a ser excessivo o número de pessoas que vivem abaixo do limiar da pobreza, mesmo na Europa. Em Portugal, por exemplo, em que o salário mínimo líquido é de 432 euros e é recebido por 400.000 trabalhadores, o limiar de pobreza está convencionado em 434 euros.
Por isso a cantata Ich habe genug, eu tenho o suficiente, é uma metáfora atual para quem não tem o suficiente.
Pese embora parecer encerrar uma contradição que me parece herdada da mensagem judaico-cristã de resignação: as condições sociais de miséria exigem o crescimento económico para a sua resolução, mas a cantata aspira a que a morte chegue depressa e portanto, antes de serem resolvidas as questões sociais?
A tradição ateísta parecerá mais próxima da resolução do paradoxo; existem problemas de miséria? então devem atacar-se as causas e aplicar as soluções, sem promessas de miragens.
Ich habe genug eu tenho o suficiente
......................... ..............................
Ach! möchte mich von meines Leibes Ketten Ah, que o Senhor me redima
Der Herr erreten! dos grilhões do meu corpo!
Ach! wäre doch mein Abschied hier Ah, se a hora de partir já tivesse chegado,
Mit Freuden sagt'ich, Welt, zu dir: com alegria te diria, ó mundo,
Ich habe genug! eu tenho o suficiente!
......................... ..................................
Hier muss ich das Elend bauen, Aqui vivo na miséria,
Aber dort, dort werd'ich schauen mas lá, já poderei ver
Süssen Friede, stille Ruh. a doce paz, o suave repouso
...................................... .............................................
Ich freue mich auf meinen Tod, Com alegria eu antecipo a minha morte,
Ach! hätt er sich schon eingefunden, Ah, se já tivesse chegado,
Da entkomm ich aller Not então, escaparia a toda a miséria
Die mich noch auf der Welt gebunden que me liga ainda ao mundo
A cultura alemã no século XVIII desenvolveu-se no sentido do classicismo.
A urbanização de Berlim foi um sucesso e a pureza das linhas de arquitetura clássica atingiram um nível elevado na avenida Unter den Linen. Sob a expansão prussiana através do exército e da organização estrutural da sociedade germinava a centralização do século seguinte e o desenvolvimento industrial, no meio da pulverização feudal sobrevivente. Na música, Bach fazia a transição do barroco para o clássico e transformava a matematica em música. De cultura luterana, as suas cantatas e paixões são a sua expressão dramática.
A cantata Ich habe genung é um bom exemplo da música ao serviço da mensagem cristã de resignação com a miséria da vida terrena, com a esperança de uma vida triunfal pós morte.
As condições de vida na Alemanha no tempo de Bach não eram confortáveis. Havia guerra demasiadas vezes e havia a necessidade de fazer crescer a economia.
Todos os domingos a música nas igrejas ajudava os burgueses, os camponeses e os manufatureiros a conviver com as dificuldades do quotidiano na esperança de um futuro de felicidade.
Três séculos passados, apesar de todo o progresso tecnológico que se pensava colocaria o conforto ao alcance de todos, continua a ser excessivo o número de pessoas que vivem abaixo do limiar da pobreza, mesmo na Europa. Em Portugal, por exemplo, em que o salário mínimo líquido é de 432 euros e é recebido por 400.000 trabalhadores, o limiar de pobreza está convencionado em 434 euros.
Por isso a cantata Ich habe genug, eu tenho o suficiente, é uma metáfora atual para quem não tem o suficiente.
Pese embora parecer encerrar uma contradição que me parece herdada da mensagem judaico-cristã de resignação: as condições sociais de miséria exigem o crescimento económico para a sua resolução, mas a cantata aspira a que a morte chegue depressa e portanto, antes de serem resolvidas as questões sociais?
A tradição ateísta parecerá mais próxima da resolução do paradoxo; existem problemas de miséria? então devem atacar-se as causas e aplicar as soluções, sem promessas de miragens.
Ich habe genug eu tenho o suficiente
......................... ..............................
Ach! möchte mich von meines Leibes Ketten Ah, que o Senhor me redima
Der Herr erreten! dos grilhões do meu corpo!
Ach! wäre doch mein Abschied hier Ah, se a hora de partir já tivesse chegado,
Mit Freuden sagt'ich, Welt, zu dir: com alegria te diria, ó mundo,
Ich habe genug! eu tenho o suficiente!
......................... ..................................
Hier muss ich das Elend bauen, Aqui vivo na miséria,
Aber dort, dort werd'ich schauen mas lá, já poderei ver
Süssen Friede, stille Ruh. a doce paz, o suave repouso
...................................... .............................................
Ich freue mich auf meinen Tod, Com alegria eu antecipo a minha morte,
Ach! hätt er sich schon eingefunden, Ah, se já tivesse chegado,
Da entkomm ich aller Not então, escaparia a toda a miséria
Die mich noch auf der Welt gebunden que me liga ainda ao mundo
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sábado, 11 de fevereiro de 2012
Deuses, semideuses, patronos, perdoai-lhes
Xiuhtecuhtli |
Deuses do fogo e do trabalho e semideuses esforçados, gregos ou romanos, celtas, aztecas e maias, indus, guaranis, africanos, cristãos, assim por ordem: Hefasto ou Vulcano, deus do fogo e do trabalho, senhor da forja e do ferro, Brigit e Grovannon, Xiuhtecuhtli e Huracan, Varuna, Angra, Ogum, Dunstan e Santo Eloi.
vós que na vossa forma humana trabalhastes o ferro e enfiastes as vossas mãos na matéria para a transformardes em objetos de afeto, em ferramentas, em utensílios de cozinha e de alimentação, embora também tivesseis temperado o ferro que matou para dar a supremacia a uns grupos sobre outros,
vós para quem o supremo desígnio é a produção de bens para a comunidade,
vós que devíeis ter protegido os vossos seguidores e os deixastes abandonados à fúria de uns poucos de obtenção de lucro acima de todas as preocupações sociais,
vós que assistis de forma comodista ao deslocamento inexorávelmente comandado pela lei dos rendimentos decrescentes da linha divisória da repartição dos rendimentos a caminho do capital em detrimento do trabalho,
ao menos perdoai-lhes,
que não querem ver que o fator trabalho nas empresas de produtos transacionáveis só tem o peso de 15% e portanto o efeito de uma medida vem multiplicado por 0,15, e numa empresa de fator intensivo como o metropolitano de Lisboa o peso é de 53% dos gastos operacionais e de 34% se considerarmos os gastos financeiros da dívida pública,
perdoai-lhes,
que não vêem o que fazem aos que vós devíeis proteger,
quando de forma muito castelhana se inclinam melifluamente ao ouvido dos poderosos e sussurram:
"vamos aprovar uma reforma laboral muito agressiva, reduzir as indemnizações por despedimento"
e os poderosos de forma também muito, mas no seu caso, finlandesa, assentam " muito bem, isso seria estupendo". (pode ser que a redução das indemnizações possa induzir, mais cedo ou mais tarde, diminuição do desemprego como o senhor ministro espanhol veio, comprometido, explicar mais tarde; pessoalmente, não acredito nisso nem em fadas do bem, ou até acreditaria, se a reforma laboral aprovasse medidas para facilitar as admissões; mas não é essa argumentação que interessa; o que interessa é os senhores financeiros terem ou não capacidade para se imaginarem na pele de quem é despedido; como se sabe, a impossibilidade de imaginar o que sente outra pessoa é um sintoma grave de psicopatologia associada a funcionamento deficiente dos neurónios espelho)
Perdoai-lhes,
se puderdes,
se é que ainda ligais alguma coisa ao vosso mister,
depois deste tempo todo
e de toda esta culpabilização dos ferreiros.
Com a devida vénia ao DN que relatou as conversas informais antes da reunião dos senhores ministros das finanças, ou de como televisões privadas também fazem serviço público, ou de como vamos aguardar o próximo movimento dos senhores da finanças no sentido de preservar a sua privacidade para poderem dispor impunemente dos bens comuns.
Com a devida vénia também à wikipedia e ao seu artigo sobre os deuses ferreiros:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Deuses_ferreiroshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Deuses_ferreiros
Etiquetas:
trabalho e capital
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
Uma noticia discreta relacionada com o teorema de Fermat-Weber
A noticia foi dada de forma discreta.
Feitas as contas ao ano de negócios, a balança externa da Alemanha, diferença entre os valores das exportações e das importaçºoes, foi positiva, em 2011, em 154 mil milhões de euros.
Em 2010 o resultado positivo tinha sido de 136 mil milhões de euros.
Houve assim um crescimento do resultado positivo da balança externa de 2010 para 2011 de cerca de 18 mil milhões de euros.
Para fora da Europa,
as exportações foram de 381 mil milhões
e as importações de 293 mil milhões.
Para a Europa
as exportações foram de 570 mil milhões
e as importações de 504 mil milhões.
Para a zona euro
as exportações foram de 386 mil milhões dos referidos 570.
Porque são as coisas assim?
Porque são os juros dos empréstimos à Grécia de 196% !?!?!?
Porque sairam de Portugal em 2011, só em titulos de capital de estrutura acionista, 18 mil milhões de euros?
Porque conta o Eurostat 2,7 milhões de pessoas em situação de pobreza ou risco de pobreza em Portugal?
Será apenas uma questão de melhor produtividade, de melhor capacidade de gestão, de disciplina e de organização do trabalho na Alemanha?
Ou serão fatores externos, ambientais ou históricos, que determinam estes resultados?
Terão os economistas e os políticos as suas explicações, mas o modelo matemático que simula as exportações e importações do conjunto de países europeus obedece às mesmas leis a que muitos modelos da física obedecem.
Numa representação de Fermat-Weber o fluxo para os elementos dominantes tende a aumentar e a concentrar-se neles cada vez mais, em detrimento dos outros elementos, mesmo que no início seja muito ligeira a predominancia daqueles.
(ver:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/08/o-problema-de-fermat-weber-da.html )
Talvez seja por isso que a Inglaterra não está na zona euro.
Talvez seja por isso que os políticos dirigentes da UE, cuja formação em Física ou, pelo menos, a assimilação que fizeram dos conceitos físicos, deixa muito a desejar, e só muito lentamente vão adotando medidas eficazes, como a taxa Tobin.
Deixando de fora as medidasde solidarização entre os países da Europa, como a igualização das condições de crédito para as empresas de todos os países, a maior intervenção do BCE com capacidade de empréstimo a taxas de 1% diretamente aos governos, a reindustrialização e produção descentralizada para diminuição dos custos de transporte.
Existe assim um casamento de conveniencia entre o fundamentalismo ideológico neo-liberal que privilegia a concorrencia desregulada, e a ignorancia das leis da Física.
Diz a História que qualquer casamento de um fundamentalismo com uma ignorancia gera monstros, como Goya desenhou.
Como em qualquer sistema físico, o conhecimento das leis que regem o seu comportamento quando em regime livre permite regulá-los para benefício das comunidades, intervindo no conjunto do sistema e das relações da rede dos elementos (a lei da gravidade continua a existir, mas é possível viver em segurança a muitos metros de altitude).
Por isso, sem prejuízo da preocupação em melhorar constantemente a eficiência dos processos produtivos, por mais que se intervenha localmente onde os elementos fraquejam, por mais medidas de austeridade ou de reestruturação, sem intervenções corretivas integradas, a lei de Fermat-Weber continuará a fazer crescer os indicadores da região dominante.
É uma pena os economistas e os políticos não terem apreendido este conceito físico.
Perdemos todos, e interpretamos mal (é uma hipótese) o que o novo presidente do Parlamento europeu, Martin Schulz, disse sobre o declínio de toda a Europa, se não encontrar dentro dela própria os mecanismos de desenvolvimento integrado.
Seria interessante que os críticos de Martin Schulz dessem mais atenção às suas anteriores declarações de que os eurodeputados do Parlamento europeu, por terem sido eleitos, deveriam participar mais ativamente nas decisões da UE, reduzindo a importancia e a "fulanização"das cimeiras de primeiros ministros e ministros das finanças.
Seria interessante que reconhecessem que a visita a Angola do primeiro ministro português foi bem caraterizada por Martin Schulz, quando o governo português desencanta 600 milhões de euros para enterrar num ativo que vendeu por 40 milhões (a diferença será o preço a pagar pela atração de outros capitais) e quando a concentração da riqueza nuns poucos em Angola (lá está a lei de Fermat-Weber) trai toda a formação anterior dos políticos angolanos.
Seria interessante reconhecer que a crítica de Schulz se refere a toda a Europa, numa altura em que a própria Alemanha reforça as relações com a China apesar dos regulamentos de segurança no trabalho e do controle de emissões de CO2 serem diferentes e de o respeito pela democracia não ser o forte da China em muitos domínios da sua vida.
A esta hora, talvez alguem já tenha explicado a Schulz a conjetura do embaixador de Filipe II de Espanha ao governo português, para apresentação da sua candidatura ao trono de Portugal: "os portugueses são uma gente estranha".
Ou talvez recordado a solidariedade alemã através da colaboração do conde de Lippe e dos seus artilheiros (curioso, havia um Schulz e um Juncker na sua lista) na reorganização do exército português e da defesa do país, no século XVIII.
Transcrições de cartas do conde de Lippe para o marquês de Pombal (grafia segundo o acordo ortográfico da altura):
"será para mim a mais doloroza situaçaõ o ver Portugal em perigo, e naõ poder ir em pessoa ser-lhe util...O mais perigozo fraco, o maior defeito que há no armamento, e defensa de Portugal he, que o Reino naõ produz em seu próprio terreno quanto baste para nutrir seos habitantes, mesmo em tempo de paz".
Valerá a pena discutir o sexo dos anjos ou as minudencias bizantinas, quando as questões principais são a autonomia alimentar e energética e as formas corretas de cooperação dos países de maior sucesso com os de menor sucesso ? (mas por favor, não nos enviem mais economistas do tipo troica, precisávamos mais de especialistas em industrialização)
Créditos: informações sobre o conde de Lippe retiradas do livro "A estrada de Rio Maior a Leiria em 1791" de Ricardo Charters de Azevedo, ed.textiverso
Feitas as contas ao ano de negócios, a balança externa da Alemanha, diferença entre os valores das exportações e das importaçºoes, foi positiva, em 2011, em 154 mil milhões de euros.
Em 2010 o resultado positivo tinha sido de 136 mil milhões de euros.
Houve assim um crescimento do resultado positivo da balança externa de 2010 para 2011 de cerca de 18 mil milhões de euros.
Para fora da Europa,
as exportações foram de 381 mil milhões
e as importações de 293 mil milhões.
Para a Europa
as exportações foram de 570 mil milhões
e as importações de 504 mil milhões.
Para a zona euro
as exportações foram de 386 mil milhões dos referidos 570.
Porque são as coisas assim?
Porque são os juros dos empréstimos à Grécia de 196% !?!?!?
Porque sairam de Portugal em 2011, só em titulos de capital de estrutura acionista, 18 mil milhões de euros?
Porque conta o Eurostat 2,7 milhões de pessoas em situação de pobreza ou risco de pobreza em Portugal?
Será apenas uma questão de melhor produtividade, de melhor capacidade de gestão, de disciplina e de organização do trabalho na Alemanha?
Ou serão fatores externos, ambientais ou históricos, que determinam estes resultados?
Terão os economistas e os políticos as suas explicações, mas o modelo matemático que simula as exportações e importações do conjunto de países europeus obedece às mesmas leis a que muitos modelos da física obedecem.
Numa representação de Fermat-Weber o fluxo para os elementos dominantes tende a aumentar e a concentrar-se neles cada vez mais, em detrimento dos outros elementos, mesmo que no início seja muito ligeira a predominancia daqueles.
(ver:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/08/o-problema-de-fermat-weber-da.html )
Talvez seja por isso que a Inglaterra não está na zona euro.
Talvez seja por isso que os políticos dirigentes da UE, cuja formação em Física ou, pelo menos, a assimilação que fizeram dos conceitos físicos, deixa muito a desejar, e só muito lentamente vão adotando medidas eficazes, como a taxa Tobin.
Deixando de fora as medidasde solidarização entre os países da Europa, como a igualização das condições de crédito para as empresas de todos os países, a maior intervenção do BCE com capacidade de empréstimo a taxas de 1% diretamente aos governos, a reindustrialização e produção descentralizada para diminuição dos custos de transporte.
Existe assim um casamento de conveniencia entre o fundamentalismo ideológico neo-liberal que privilegia a concorrencia desregulada, e a ignorancia das leis da Física.
Diz a História que qualquer casamento de um fundamentalismo com uma ignorancia gera monstros, como Goya desenhou.
Como em qualquer sistema físico, o conhecimento das leis que regem o seu comportamento quando em regime livre permite regulá-los para benefício das comunidades, intervindo no conjunto do sistema e das relações da rede dos elementos (a lei da gravidade continua a existir, mas é possível viver em segurança a muitos metros de altitude).
Por isso, sem prejuízo da preocupação em melhorar constantemente a eficiência dos processos produtivos, por mais que se intervenha localmente onde os elementos fraquejam, por mais medidas de austeridade ou de reestruturação, sem intervenções corretivas integradas, a lei de Fermat-Weber continuará a fazer crescer os indicadores da região dominante.
É uma pena os economistas e os políticos não terem apreendido este conceito físico.
Perdemos todos, e interpretamos mal (é uma hipótese) o que o novo presidente do Parlamento europeu, Martin Schulz, disse sobre o declínio de toda a Europa, se não encontrar dentro dela própria os mecanismos de desenvolvimento integrado.
Seria interessante que os críticos de Martin Schulz dessem mais atenção às suas anteriores declarações de que os eurodeputados do Parlamento europeu, por terem sido eleitos, deveriam participar mais ativamente nas decisões da UE, reduzindo a importancia e a "fulanização"das cimeiras de primeiros ministros e ministros das finanças.
Seria interessante que reconhecessem que a visita a Angola do primeiro ministro português foi bem caraterizada por Martin Schulz, quando o governo português desencanta 600 milhões de euros para enterrar num ativo que vendeu por 40 milhões (a diferença será o preço a pagar pela atração de outros capitais) e quando a concentração da riqueza nuns poucos em Angola (lá está a lei de Fermat-Weber) trai toda a formação anterior dos políticos angolanos.
Seria interessante reconhecer que a crítica de Schulz se refere a toda a Europa, numa altura em que a própria Alemanha reforça as relações com a China apesar dos regulamentos de segurança no trabalho e do controle de emissões de CO2 serem diferentes e de o respeito pela democracia não ser o forte da China em muitos domínios da sua vida.
A esta hora, talvez alguem já tenha explicado a Schulz a conjetura do embaixador de Filipe II de Espanha ao governo português, para apresentação da sua candidatura ao trono de Portugal: "os portugueses são uma gente estranha".
Ou talvez recordado a solidariedade alemã através da colaboração do conde de Lippe e dos seus artilheiros (curioso, havia um Schulz e um Juncker na sua lista) na reorganização do exército português e da defesa do país, no século XVIII.
Transcrições de cartas do conde de Lippe para o marquês de Pombal (grafia segundo o acordo ortográfico da altura):
"será para mim a mais doloroza situaçaõ o ver Portugal em perigo, e naõ poder ir em pessoa ser-lhe util...O mais perigozo fraco, o maior defeito que há no armamento, e defensa de Portugal he, que o Reino naõ produz em seu próprio terreno quanto baste para nutrir seos habitantes, mesmo em tempo de paz".
Valerá a pena discutir o sexo dos anjos ou as minudencias bizantinas, quando as questões principais são a autonomia alimentar e energética e as formas corretas de cooperação dos países de maior sucesso com os de menor sucesso ? (mas por favor, não nos enviem mais economistas do tipo troica, precisávamos mais de especialistas em industrialização)
Créditos: informações sobre o conde de Lippe retiradas do livro "A estrada de Rio Maior a Leiria em 1791" de Ricardo Charters de Azevedo, ed.textiverso
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Estaleiros de Viana do Castelo
Este blogue manifesta a sua indignação pelo tratamento dado aos estaleiros de Viana do Castelo.
O senhor ministro da Defesa respondeu há meses a um jornalista que tambem ele sentia o problema, e que estava a estudar soluções.
Passado este tempo, não é admissível a continuação do secretismo perante a população nem a situação insustentável de haver encomendas (navios asfalteiros que exigem uma construção específica) e não haver crédito para encomendar a chapa.
Se o problema é assim tão difícil de resolver, se foi tão fácil vender o BPN (e neste caso não foi impossível encontrar 600 milhões de euros para injetar num bem que se vende por 40 milhões) , se foi fácil e rápido vender a REN e a EDP (não em meu nome) , aceita-se uma venda rápida dos estaleiros, aos holandeses, aos sul-coreanos, aos chineses (ainda recentemente um superpetroleiro chinês teve um problema grave que deu grande prejuízo ao armador brasileiro), a quem quiserem, desde que garantam os salários, de acordo com os padrões nacionais, e os postos de trabalho do estaleiro.
Manter este naufrágio pior que na praia, como disse um trabalhador dos estaleiros, é que não.
Felizmente um armador nacional já encomendou a reparações de alguns dos seus portacontentores, mas lamenta-se a permanência da recusa do contrato inicial com a empresa dos Açores, com todo o respeito pelos senhores governantes da região.
Especialmente se compararmos os 21 milhões de euros para 3 anos de aluguer, por ajuste direto, de dois navios gregos, com os 50 milhões que custou o Atlântida.
Talvez o exemplo do Costa Concórdia dê uma ajuda para que se retome o contrato inicial (repristinar, como dizem os jurídicos) , apesar da velocidade ser efetivamente inferior ao contratado.
Acontece que é inferior porque o estaleiro entendeu, e bem, por razões de segurança, acrescentar robaletes (quilhas laterais ao longo de todo o comprimento do casco, destinadas a diminuir o rolamento ou balanço transversal ou adornamento, que se podem ver nas fotografias do Atlantida) ao casco do Atlântida.
Embora os robaletes melhorem a estabilidade do navio e reduzam os riscos de adornamento (como ingloriamente aconteceu com o Costa Concórdia por falta deles e por insuficiencia dos estabilizadores), aumentam o atrito ao deslocamento e portanto reduzem a velocidade máxima.
Acresce que, por razões de economia de combustíveis fósseis e ambientais, é aceitável fazer as ligações entre as ilhas a velocidades inferiores às previstas no contrato.
Os robaletes vieram eliminar uma deficiência do projeto original (russo, feito para as águas do mar negro) , que infelizmente alguém, no principio, achou que iria embaratecer a construção do navio.
Mas foram acrescentados por razões de segurança.
É apenas mais um exemplo de uma falta de atenção na fase de projeto, mal tão comum no nosso país.
Manter o Atlântida parado e manter a situação de angustia e indefinição dos estaleiros é, salvo melhor opinião, de uma indignidade inadmissível.
O senhor ministro da Defesa respondeu há meses a um jornalista que tambem ele sentia o problema, e que estava a estudar soluções.
Passado este tempo, não é admissível a continuação do secretismo perante a população nem a situação insustentável de haver encomendas (navios asfalteiros que exigem uma construção específica) e não haver crédito para encomendar a chapa.
Se o problema é assim tão difícil de resolver, se foi tão fácil vender o BPN (e neste caso não foi impossível encontrar 600 milhões de euros para injetar num bem que se vende por 40 milhões) , se foi fácil e rápido vender a REN e a EDP (não em meu nome) , aceita-se uma venda rápida dos estaleiros, aos holandeses, aos sul-coreanos, aos chineses (ainda recentemente um superpetroleiro chinês teve um problema grave que deu grande prejuízo ao armador brasileiro), a quem quiserem, desde que garantam os salários, de acordo com os padrões nacionais, e os postos de trabalho do estaleiro.
Manter este naufrágio pior que na praia, como disse um trabalhador dos estaleiros, é que não.
Felizmente um armador nacional já encomendou a reparações de alguns dos seus portacontentores, mas lamenta-se a permanência da recusa do contrato inicial com a empresa dos Açores, com todo o respeito pelos senhores governantes da região.
Especialmente se compararmos os 21 milhões de euros para 3 anos de aluguer, por ajuste direto, de dois navios gregos, com os 50 milhões que custou o Atlântida.
Talvez o exemplo do Costa Concórdia dê uma ajuda para que se retome o contrato inicial (repristinar, como dizem os jurídicos) , apesar da velocidade ser efetivamente inferior ao contratado.
Acontece que é inferior porque o estaleiro entendeu, e bem, por razões de segurança, acrescentar robaletes (quilhas laterais ao longo de todo o comprimento do casco, destinadas a diminuir o rolamento ou balanço transversal ou adornamento, que se podem ver nas fotografias do Atlantida) ao casco do Atlântida.
Embora os robaletes melhorem a estabilidade do navio e reduzam os riscos de adornamento (como ingloriamente aconteceu com o Costa Concórdia por falta deles e por insuficiencia dos estabilizadores), aumentam o atrito ao deslocamento e portanto reduzem a velocidade máxima.
Acresce que, por razões de economia de combustíveis fósseis e ambientais, é aceitável fazer as ligações entre as ilhas a velocidades inferiores às previstas no contrato.
Os robaletes vieram eliminar uma deficiência do projeto original (russo, feito para as águas do mar negro) , que infelizmente alguém, no principio, achou que iria embaratecer a construção do navio.
Mas foram acrescentados por razões de segurança.
É apenas mais um exemplo de uma falta de atenção na fase de projeto, mal tão comum no nosso país.
Manter o Atlântida parado e manter a situação de angustia e indefinição dos estaleiros é, salvo melhor opinião, de uma indignidade inadmissível.
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