quinta-feira, 26 de julho de 2012

Os ladrões de bicicletas e a menina que vendia fósforos

Comecemos pelos ladrões de bicicletas.


A imagem não pertence ao filme, representa um dos componentes de A Família, um conjunto de esculturas hiper-realistas do escultor Melício, junto do fórum de Lisboa, antigo cinema Roma.

Está aqui neste blogue apenas para eu refletir sobre o que pensei quando há 30 anos vi o filme de Vitoriode Sica, de 1948:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ladri_di_biciclette

Que se tratava de um filme neo-realista, com a miséria do desemprego, da falta de proteção social e da inconsistência do crescimento económico em Itália, logo a seguir à segunda guerra mundial.

E que graças ao progresso tecnológico o bem estar iria espalhar-se pelas sociedades.

Afinal estava enganado.

Embora me pareça que os senhores bem postos que tomaram decisões nos governos e nos grupos económicos e financeiros dominantes, e que sistematizaram as teorias da nova economia nas universidades, também estavam enganados, a avaliar pelos indicadores da atualidade (ameaça de subida dos preços dos cereais, outra vez? proridade às culturas de etanol relativamente às alimentares, dando preferência ao desemprego relativamente à tendência inflacionista? sem preocupações pela consequencia, a fome?).

E como agora não há regimes ditos comunistas que se vejam, os ditos senhores bem postos acham que o mal é do estado social que não é sustentável.
Apetece dizer “olhem que não, olhem que não”, e citar, de cor, o poeta alemão: primeiro levaram os comunistas (não, não estou a dizer que devíamos voltar a ter regimes destes, nem práticas agrícolas erradas, não dêem mais razão ao PISA do que ele tem), depois levaram os judeus, depois levaram os sindicalistas, agora estão-me a levar a mim e não há ninguém para me ajudar.

(Interessante a “defesa” do Estado social pelo cronista economista, suspeito de muita coisa, menos de ser de extrema esquerda:
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2687051 ).

Mas pode ser que passe, a crise, e que o filme Ladrões de bicicletas volte a perder a atualidade.

Vamos agora à ópera, que como eu costumo dizer, é subversiva.

Sobre um conto de Hans Christian Andersen (contos tristes, de incompletude, de incapacidade de atingir o grãozinho de felicidade que devia ser distribuída a cada um, nostalgia permanente do que não se conseguiu) , a menina que vendia fósforos, mas que não conseguiu vender nenhum no ultimo dia do ano, e morreu de frio depois de tentar aquecer-se com eles, mas sonhando de cada vez que acendia um, como se tivesse o tal quinhão de felicidade, Helmut Lachenmann escreveu a ópera “A menina dos fósforos” estreada em 1996.
Com a devida vénia à Antena 2 e ao programa Véu diáfano de Paulo Amaral:

http://www.rtp.pt/play/p407/e88461/veu-diafano





Continua atual e subversiva, a ópera. Duvido que os senhores governantes que nos governam a quisessem ver representada no S.Carlos.

Contar histórias tristes da falencia dos sistemas económicos e financeiros montados e geridos por quem tem o poder para isso… quando a culpa é das próprias meninas que não têm iniciativa, criatividade, competitividade e produtividade para criarem melhor negócio do que vender fósforos.

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