Este blogue é muito crítico para os últimos governantes da Cultura, especialmente o atual. Ver:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/search?q=cultura
A entrevista que o senhor secretário de Estado concedeu ao DN em 15 de Julho de 2012 não tranquiliza.
Salvo melhor opinião, ficou muito por dizer na entrevista, e escusava de ter dito que “o senhor primeiro ministro tem vindo a conhecer mais profundamente os problemas que afetam o universo da cultura; é uma pessoa muito sensivel às artes e ao património”.
Porque não justificou a reorganização em curso e porque achou que ainda se pode cortar mais na Cultura (claro que pode, pode sempre ficar-se mais longe do objetivo de 1% do orçamento de Estado).
Anunciou que o programa Europa criativa injetará 1800 milhões de euros na cultura, mas não se vê uma proposta de organização participativa de todo o país nesse esforço.
Devia estar a assistir-se a uma mobilização do país, de todo o país.
Teme-se que seja uma organização monocromática, da cor do governo e do senhor secretário de Estado, que contratará possivelmente o maestro Vitorino de Almeida para animar anúncios televisivos.
Secretário de Estado que é um excelente escritor (como Gabriela Canavilhas era excelente pianista e por aí se ficava, se excluirmos critérios de apreciação estética visual) mas que se fica por aí. Como parece confirmar-se pela reestruturação em curso: destaque a coisas dos livros, diluição dos arquivos e museus em grandes direções gerais (não seria preferível baixar custos mantendo as direções gerais anteriores?). E pelo despejo de tudo que meta palcos num ACE (agrupamento complementar de empresas), desde a ópera do S.Carlos ao bailado do CNB e aos teatros nacionais. Ignoram o senhor secretário de Estado e a pessoa sensível que toma as decisões que a ópera é mesmo subversiva, que continua a ser subversiva (John Adams, Nuno Corte-Real, António Pinho Vargas). Ou não ignoram e por isso decidem assim.
Decidem mal.
Eu lembro-me de ver o Coliseu dos Recreios cheio nas récitas de ópera.
E vejo no canal Mezzo produções de ópera por essa Europa fora, não necessariamente nas capitais.
Parafraseando Mário Soares a propósito do governo, o senhor secretário de Estado não sabe o que anda a fazer.
E para que não diga que só faço críticas destrutivas, aqui lhe deixo a sugestão: enquanto a RTP é pública, obrigue-a a passar às segundas feiras uma peça de teatro (não, não não me refiro a telenovelas, mas como nos anos 60 do século passado), daquelas dos Ibsen, Strindberg, Tchekov, Beckett, Pinter, Ionesco, e mais modernos, claro. E as privadas, se quisessem, também poderiam passar teatro às segundas feiras, e se não quisessem, poderiam pagar uma taxa para licenciamento da incultura que emitem, como as industrias poluidoras devem pagar as emissões de gases com efeito de estufa.
Ajudava a compensar o défice (público).
PS em 19 de julho de 2012 - os dados sobre as bizarras fusões de direções gerais (racionalizadoras do ponto de vista económico, irracionais do ponto de vista cultural) retirei-os de um artigo de Isabel Pires de Lima, ex ministra da Cultura.
De um artigo de opinião do DN de hoje sobre a crise moral e a politica cultural, em que o autor recorda o conceito de Marx de que a primeira vez que o erro acontece na História é uma tragédia, mas a segunda vez é uma farsa, a propósito da incultura e do percurso académico de José Sócrates e de Miguel Relvas, retiro uma citação de Manuel Maria Carrilho, ex ministro da Cultura: "...é preciso recuar bem para lá do 25 de abril para se encontrar uma combinação tão grotesca de incompetencia, ineficácia e incuria, como a que nesta área (politica cultural) caracteriza o atual governo".
E quem sou eu para contrariar Manuel Maria Carrilho?
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