Tiago, vendedor de boas de Berlim e de pasteis de nata e de amendoa, no verão de uma praia do Algarve, informa-nos, confiante, de que concluiu o segundo ano de Psicologia.
Financiou o curso secundário com o seu trabalho de jardineiro nas vivendas algarvias, e agora tem uma bolsa.
Chega o verão e tem este trabalho em tempo parcial.
Altero-lhe o nome para que não o descubram os inspetores do fisco admitidos este ano, a contra corrente da restante função púbica, zelosos investigadores do último cêntimo que o particular mais necessitado deve ao fisco.
Do alto da nossa intelectualidade, pensamos comentar por que não escolheu uma carreira mais técnica, mais ligada à realidade produtiva.
Mas já Tiago atalhava, que gostava muito de Psicologia e que isto não podia continuar assim e que há-de melhorar.
Confiante, Tiago, e com razão.
Primeiro porque Psicologia, desde que ganhou os reforços da etatística e da neurologia instrumental, permite tratsr dados cientificmente,m isto é, conhecer menos mal a realidade e prescreer tratamentos.
Segundo, porque a confiança de um jovem vale mais, muito mais do que os mesmos verbos na boca dos senhores ministros das finanças, que não acharam melhores verbos para as alterações do "ajustamento" da troica do que "melhorar e favorecer".
Perante o esforço de jovens que estudam e trabalham, só podemos desprezar os iupis que tomaram o poder partidário e através dele acederam ao governo guiados pela bíblia de Hayeck e Friedman.
Mas por isso mesmo tambem a Psicologia é essencial, para percebermos as motivações dos iupis, a sua capacidade de fugir à realidade e privilegiar as suas ideologias, como, por exemplo, a propósito da nova lei eleitoral.
Querem que os executivos camarários sejam monocromáticos? Não aprenderam nada com os 48 anos do protofascismo português? nem com o estalinismo?
Não se trata de uma discussão ideológica.
Todas as disciplinas de Psicologia atualizadas sabem que um grupo em que predomina uma só opinião tem muito maiores probabilidades de falhar a atuação correta do que um grupo com diversidade (se não acreditam em mim, vejam o "Sabedoria das Multidões" de James Surowiecki).
E não venham com a possibilidade da assembleia municipal poder "derrubar" o executivo. Vejam a discussão entre comadres do mesmo partido a propósito da administraçao do metropolitano do Porto (ainda não aprenderam que o critério de nomeação não deve ser ideológico, mas técnico?) . A assembleia municipal apenas mudaria clientes do mesmo partido.
Já há exemplos de que é possivel vereadores de cores diferentes entenderem-se no serviço das suas comunidades, não é preciso mudar o método de Hondt.
Os vereadores da oposição não têm de fazer oposição, nem os vereadores da maioria de impor o seu programa eleitoral.
Democracia é ir a votos e proceder com o contributo de todas as sensibilidades.
Para melhorar a cooperação entre todos, lá estará a Psicologia para fornecer meios.
Mas para isso é preciso que os Tiagos concluam os seus cursos.
Esta proposta de lei eleitoral é, graças aos conhecimentos de Psicologia, um verdadeiro retrocesso na gestão da coisa pública e a sua simples discussão já é um facto que um psicólogo facilmente classificará como grave e indicador de disfuncionalidade organizacional.
Por razões de cidadania não podemos calar isso.
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