Nota prévia – este blogue não pretende desmerecer da obra realizada no parque de escultura de Vila Nova da Barquinha e deseja deixar bem expresso que se trata de uma realização de elevado cultural, que deveria causar inveja a outras câmaras e à gestão do governo, primeiro por isso mesmo, por ser de elevado valor cultural, segundo porque foi realizada com tempo para o projeto amadurecer e ser concretizado, e terceiro porque para a realização se foram buscar dinheiros ao QREN (mais uma ez se provando que só se podem obter este tipo de fundos se os projetos estiverem bem elaborados). O que não impede que este blogue exprima as suas críticas.
http://camaraclara.rtp.pt/#/arquivo/265
O camara clara dedicou o seu programa de 22 de julho de 2012 ao castelo de Almourol, ao parque de escultura contemporânea de Vila Nova da Barquinha, e à escola primária (1º ciclo) da sua câmara municipal.
Sobre o castelo de Almourol a curiosa informação do especialista de história militar, Francisco Lobo, de que os castelos funcionavam em rede, comunicando entre si por sinais visuais ou de fumo.
Sobre o parque de escultura contemporânea, inserido no parque da cidade, é interessante a génese do projeto. O presidente da câmara contactou a fundação EDP e esta organizou um processo de seleção e convite a 11 artistas para documentar a arte pública desde os anos 60 do século passado, ao mesmo tempo que organizava o processo de candidatura ao QREN.
Recordo os processos de convite a artistas para fazerem as suas intervenções nas novas estações do metropolitano.
Sempre foi adotado o processo de escolha e convite do artista, normalmente por iniciativa da administração, e com parecer de um colega arquiteto.
Estações desenhadas por arquitetos de renome premiados internacionalmente ou decoradas por artistas gráficos, estão, decorrendo deste método, cheias de disfuncionalidades ou de desperdícios construtivos ou energéticos. Nalguns casos, apesar da subjetividade de qualquer critério de apreciação estética, as intervenções artísticas parecem ser de claro mau gosto ou de incapacidade de atingir um nível mínimo de qualidade.
Por vicissitudes várias, com elevada probabilidade por imprudência de um dos administradores do metropolitano, esteve-me atribuída por alguns meses a gestão da área em que trabalhava o colega arquiteto responsável pelo contacto com os artistas.
Foi um caso interessante, em que na posição intermédia em que me encontrava na estrutura hierárquica eu defendia a opinião exatamente contrária à opinião da administração e do colega executivo.
Não terá sido por isso que a administração diligenciou para me reduzir o meu nível de inervenção no metropolitano, mas o episódio , do meu ponto de vista, ilustra o modo provinciano praticado em Portugal de ir atrás do reconhecimento mediático, ou de perguntar às pessoas do círculo restrito de quem tem o poder decisório quais as figuras de maior valor, para serem convidadas.
Será um método primitivo de mecenato.
Que contraria inclusive as regras da contratação pública.
No caso das estações, a contratação de arquitetos famosos até tinha uma contraindicação: é que o metropolitano dispunha nos seus quadros de técnicos com capacidade para projetar as estações. No caso dos artistas, custa-me a encontrar argumentos que impedissem a realização de concursos de ideias e de seleção de interventores, a que pudessem concorrer jovens artistas.
É essa a crítica que faço ao parque de escultura de Vila Nova da Barquinha. Não foi aberto concurso a que pudessem responder jovens artistas (se o objetivo era representar a evolução, isso podia ter ficado no caderno de encargos como imposição aos artistas).
Longe de mim querer questionar os critérios de atribuição de fundos QREN, até porque as diretivas europeias prevêem mecanismos de exceção. Mas não posso concordar com o método do convite só a personalidades “conhecidas”. Porque se trata de um “conhecimento” subjetivo (embora se reconheça a legitimidade de “reserva” de algumas intervenções para artistas como Alberto Carneiro, responsável por anterior parque de Santo Tirso).
E para ser franco, parece-me acontecer aqui no parque de Vila Nova da Barquinha o mesmo que me pareceu ter acontecido com algumas intervenções artisticas nas estações que me pareceram pouco conseguidas (é conhecida aquela anedota sobre arte de rua passada numa cidade alemã: o camião do lixo levou no dia seguinte a escultura que tinha sido inaugurada no centro de uma rotunda). Embora me permita destacar as obras de Alberto Carneiro (pedra) e de Rui Chafes (metal).
Sobre a escola municipal do 1º ciclo, do arquiteto Aires Mateus, em colaboração com a universidade de Aveiro (mais uma vez com fundos QREN e com procedimento excecional para a contratação publica) estamos efetivamente perante uma obra de elevado interesse arquitetonico pela importância que foi dado ao cárter passivo da energia (isto é, o isolamento térmico e as caraterísticas do edifício permitem economizar energia de climatização). O projeto do edificio, com vários pátios interiores, exigiu muito tempo para a conceção, prática que não costuma ser seguida pelas empresas quando pretendem maximizar os seus lucros.
Este caso deveria ser estudado e aplicado em outras escolas (o próprio arquiteto criticou, não os desperdícios da Parque Escolar, mas os equívocos da regulamentação térmica dos edifícios públicos que pode conduzir ao exagero da climatização por parte de projetistas mais apressados).
Por tudo isto, trata-se de um programa do câmara clara a rever.
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