A acusação é forte: o senhor ministro das finanças já tinha tido tempo, ao fim de mais de um ano de governo, de apresentar um plano de cortes na despesa pública. Especialmente depois de se ter enganado nas previsões da receita fiscal. Não deve por isso ficar contente por no 1º semestre de 2012 o défice público se ter quedado por 4.100 milhões de euros, abaixo do valor contratado com a troika de 4.400 milhões.
Já não é a acusação que tenho feito ao senhor ministro das finanças de mau desempenho e de uma experiencia até aqui longe das realidades comezinhas mas dramáticas que as cidadãs e cidadãos sofrem (no mesmo noticiário da RTP2: um desenhador-projetista desempregado está a poucos meses de ficar sem o subsídio e o centro de emprego não lhe arranja nada; também não recebe abono de família para os filhos; será que os senhores ministros não relacionam os cortes com estes casos?). É uma crítica especializada. Com a agravante de, durante a campanha eleitoral de 2011, o partido vencedor das eleições dizer nos seus comícios que sabia muito bem onde cortar “nas gorduras do Estado”. Afinal estavam a enganar os eleitores, naquela ótica de que podem prometer-se coisas e depois de eleitos não cumprirem, como disse o próprio primeiro ministro espanhol. Na ótica dos ciclos eleitorais que permite aos governos em períodos de excedentes aumentar a despesa pública e ganhar as eleições (caso das eleições de 1991 a seguir ao aumento de 12% dos salários da função pública e ao aumento de 7,8% do “peso” do Estado no PIB , num governo de Cavaco Silva).
Para além de inexperiência e de limitados conhecimentos da realidade, quando se diz que há muita gordura no estado para se cortar confundir-se-á possivelmente com ineficiências e burocracias a corrigir (evidentemente que não pode aceitar-se uma sinecura para Armando Vara numa fundação principescamente instalada para a segurança rodoviária, mas a verdade é que o ministério da administração interna entrava o funcionamento de entidades que devem existir para fiscalizar e dinamizar medidas corretivas para diminuição da sinistralidade rodoviária). E isso não se corrige com cortes cegos e sangrias. Nem a por a circular na Internet listas de observatórios que as pessoas não sabem para que servem. É o mesmo populismo de dizer que os engenheiros não são precisos num gabinete de estudos e desenvolvimento (pensarão as pessoas que as soluções são descidas de infusa, possivelmente graças à excelência das empresas e dos consultores privados que oferecem as suas soluções a administradores de empresas públicas ignorantes da essência do seu negócio). E que serve para deixar os ministros a falar a uma só voz, sem contradição.
Eis por que mais uma vez se deixa aqui registado que as soluções para esta crise não podem ser estudadas e decididas em secretismo, sem a participação alargada dos cidadãos e cidadãs. Os partidos que não estão no governo e a sociedade civil têm de participar. Apesar das conhecidas dificuldades portuguesas na organização de equipas mistas.
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