No meio das crónicas de fim de ano e das mais e menos frívolas escolhas das personalidades do ano, naquele espírito provinciano e bairrista, como dizia Sofia de Melo Breyner das vistas curtas da capital e das vistas curtas do Norte, encontro a melhor análise no Jornal de Notícias, pela voz do subdiretor Paulo Ferreira.
Foi o senhor Madureira a figura do ano, o porteiro da escola dos seus filhos, em Vila Nova de Gaia.
Funcionário atento a quem vem buscar os miúdos, facilitador de jogos tradicionais, sentindo na pele os cortes dos rendimentos do trabalho enquanto a câmara municipal distribui livros grátis independentemente do rendimento dos pais.
Como diz o cronista, “o ministério da Educação terá em muito baixa escala a vida do senhor Madureira” e a dos porteiros dessas escolas pelo país fora, e “a esquizofrenia do caso é reveladora de que o Estado que decide à distancia será sempre incapaz de resolver problemas como o do senhor Madureira”.
É uma pena os senhores governantes e quem os determina não compreenderem ou não quererem compreender isto.
Porque é nas pessoas que fazem o seu trabalho discreto e simples, sem alardes de holofotes e sem rasgos de génio, mas de força honesta de trabalho, que o esforço deste país deve concentrar-se para sair da crise.
De reforçar e revalorizar o pouco que a troika e o governo atribui a cada um dos muitos como o senhor Madureira, como as trabalhadoras da limpeza que enchem os transportes públicos às 5 da manhã, como os trabalhadores pouco qualificados que precisam de apoio para que os seus filhos tenham capacidades profissionais e literárias, para os que estão no desemprego sem que as suas potencialidades possam ser organizadas.
A crónica do senhor Madureira vale mais do que todas as revistas sobre famosos, socialites, intelectualoides e pretensiosos.
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