Cai-me na caixa de correio dos emails um comunicado da administração conjunta da Carris e Metro.
Esclarecimentos de pormenor sobre os cortes nas remunerações.
E no meio de outras informações, esta de que cessa, em 1 de Fevereiro de 2013, o transporte gratuito para reformados.
Eu sou de temperamento secundário.
Embora tenha sido treinado para analisar friamente e fazer cálculos fundamentadores do que for capaz, reajo emocionalmente.
Sinto que a minha ligação ao Metro sofreu uma agressão.
Mas é uma ligação sentimental, não é uma agressão mensurável ou sequer detetável.
Não é uma regalia grande que cortam, nem vale a pena discutir o montante que provavelmente será poupado.
Nem discutir se o transporte gratuito era discriminação que ofendia os concidadãos que não beneficiavam da regalia.
Aliás, se eu tivesse de fazer os tais cálculos fundamentadores, chegaria não a uma equação mas a uma inequação; num dos membros as incomensuráveis mesquinhez e falta de respeito pelos velhos (velhos; idosos ou seniores era no tempo do regular funcionamento das instituições), e no outro a pequenez, quase valor simbólico, da regalia.
Na verdade, de acordo com os padrões internacionais de trabalho, não era uma regalia, era uma forma de remuneração e, no caso dos reformados, uma compensação complementar devidamente informada e contratualizada na altura da entrada para a empresa; embora o pensamento dominante ache que não deve passar-se a vida numa empresa, que é como quem diz, o princípio de Peter passou a ser: quando tiver algum nível de competência numa empresa mude, para ser incompetente durante uns tempos noutra empresa.
Nem a administração podia contrariar o desatino da decisão tutelar, proferida com determinação entusiástica e pose estudada, com o espírito de missão de salvar o país pelo sacrificio e redenção.
Provavelmente achando que eu também ajudei a descapitalizar a empresa e o país e apelando aos despeitados das caixas de comentários que diabolizem os trabalhadores das empresas públicas, todas, e os dos transportes principalmente.
Mas como digo, não vale a pena discutir, até porque de facto é pouca coisa, não vale a pena.
Se escrevo isto, é porque eu me emociono.
Sou eu que tenho um temperamento secundário.
E nasce-me uma meia lágrima.
Sei que é uma meia lágrima porque escorreu e secou a meio da face.
Não foi uma lágrima inteira, porque essa nasce-me quando vejo um sem abrigo numa estação do Metro, e de raiva impotente por não poder pôr os senhores financeiros dos centros do poder a debater e a tomar decisões que melhorem a vida do sem abrigo.
Não é isso que diz a Declaração universal dos direitos humanos, perseguir o bem-estar?
(Ler-se-á sem um vergonhoso sorriso escarninho a declaração universal dos direitos humanos nos gabinetes dos financeiros?).
E não vou agora chorar uma lágrima inteira por ficar sem o transporte gratuito no Metro em que criei uma ligação sentimental.
Só meia lágrima, já secou.
Vou comprar um cartão recarregável, desses com nome de marketing de que nunca gostei.
Também tenho a mania de não gostar de certas coisas.
Mas carrego-o à mesma.
Para poder sentir o Metro de perto.
Continuar a senti-lo.
Continuar a senti-lo.
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