domingo, 22 de dezembro de 2013

The indian queen de Henry Purcell

Graças ao canal Mezzo, assisto à retransmissão da "semi-ópera" "The indian queen" de Henry Purcell levada à cena em Madrid, em novembro de 2013.
Apesar da crise e dos assaltos à cultura, o Teatro de Madrid realizou, de colaboração com as óperas de Perm (Russia) e a English National, uma versão adaptada ao texto de Rosario Aguilar, escritora nicaraguense, em "La niña blanca e los pajaros sin pies" ("Lost chronics of Tierra Ferma").
(eu penso que o teatro de S.Carlos tambem podia fazer co-produções mais ousadas do que as que faz, e suscetiveis de algum retorno através de venda de direitos e de apresentação em salas maiores como o Coliseu; porém não culpo a sua administração, mas antes a desastrosa e inculta politica do governo).

Desconhecia a ópera de Purcell (século XVII), que a deixou incompleta. Ela baseava-se numa peça de um autor contemporaneo descrevendo a luta entre maias e aztecas, representados pelas suas duas trainhas, provavelmente numa alusão à guerra entre Isabel I e Maria Stuart.
Vem à ideia "O Guarani" de Carlos Gomes, sobre o heroi indio brasileiro, com  seu romance com fidalga portuguesa, ou a rocambolesca "A africana" de Meyerbeer (a tal que esteve para ser apresentada na Expo 98 mas como Vasco da Gama não fazia grande figura na sua paixão pela escrava negra, a ideia foi abandonada).
Não tendo tratamento operático, vem-me também à ideia a figura retratada no livro "Escravos e traficantes no império português" de Arlindo Manuel Caldeira, a escrava angolana que se tornou fidalga e senhora de um grande negócio de tráfico de escravos até à sua morte em 1848, Ana Francisca Ferreira Ubertali.  

O encenador Peter Sellars "colou" a musica de Purcell a bailados e ao texto da novela que trata do contacto entre espanhois, maias e aztecas do ponto de vista da rainha maia Teculihuatzin e da sua submissão, e do heroi Tecun Uman, ao conquistador Pedro Alvarado.
Resultou assim uma homenagem aos povos colonizados e uma proposta de reconciliação e de progresso comum.
Mais uma vez a ópera como fator de intervenção politica,chamando a atenção para as atrocidades históricas que sucessivamente se vão cometendo.

http://www.teatro-real.com/en/espectaculos/1771








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