Caro concidadão
Relativamente ao seu texto publicado no DN em 23 de
dezembro, gostaria de lhe apresentar outro ponto de vista sobre os estaleiros
de Viana do Castelo, para o que sugiro as seguintes ligações, sobre o Atlântida
e sobre os estaleiros:
Basicamente, no caso do Atlântida temos uma empresa do
governo regional dos Açores que apresenta aos estaleiros um projeto para
executar que adquirira a uma empresa russa e que revelou insuficiências,
algumas das quais da responsabilidade da empresa do governo regional mas
decisivas para limitar a velocidade do navio.
Quanto ao estado de falência, é conhecida a ofensiva dos
estaleiros sul-coreanos no fim do século passado, inundando o planeta com
navios mais baratos e de projeto simplificado e mais sujeito a acidentes (ver o
caso do Exxon Valdez e do Prestige no caso de petroleiros e do Costa Concórdia
em que um rombo com 10% do comprimento do navio o inutilizou). Estaleiros
fecharam e os preços subiram dificultando a renovação das frotas.
Entretanto o normativo internacional tornou-se mais
exigente, como a obrigação de casco duplo para petroleiros.
Os custos de produção elevados no caso dos estaleiros de
Viana foram tmbém provocados pela dimensão das pequenas séries e pela
necessidade de desenvolver tecnologia nacional de comunicações aliás de elevado
mérito).
De realçar ainda, no caso da má gestão dos estaleiros de
Viana do Castelo, que nem sempre a responsabilidade por essa má gestão coube
aos gestores. Veio agora a saber-se que a construção do NRP Figueira da Foz
esteve parada mais de um ano não por culpa da CGTP nem dos gestores, mas porque
o governo não quis inscrever verbas para aquisição de equipamentos para essa
construção no orçamento de Estado para 2012 (isto é, há 2 anos). Isto para não
falar na anulação “purista” do primeiro concurso para equipamentos para os
asfalteiros, e na omissão escandalosa de contrapartidas no caso dos submarinos.
Assim, com ordens de cima para estar parado, é difícil a um estaleiro não
falir.
Destaco ainda a recusa sistemática dos governos portugueses,
com argumentos jurídicos também “puristas”,
em estabelecer parcerias com estaleiros estrangeiros ou com outros
governos, possíveis nalgumas fases do processo com empresas holandesa (Daiman) e norueguesa.
E ainda a questão
também jurídica dos 180 milhões de euros a devolver a Bruxelas. Com o devido
respeito pelo parecer dos juízes da comissão europeia, o princípio da soberania
sobrepõe-se ao da concorrência. Qualquer país tem o direito de ter um estaleiro
a fabricar material de guerra, como era o caso. E se os juízes acham que o
estaleiro tem baixa produtividade (pelos motivos já expostos) talvez
recordar-lhes que as costas de Portugal integram as costas da união europeia, a
menos que os ditos juízes prefiram que as águas da zona económica sejam
patrulhadas por navios de guerra de outras nacionalidades.
Enfim, faço votos que a concessionária dos estaleiros, uma
empresa com 380 milhões de euros de passivo, superior em 80 milhões ao passivo
dos estaleiros, consiga levar o seu negócio para a frente, embora me pareça que
ele vá centrar-se (aliás com mérito), no fabrico de eólicas. Pode ser que os
seus gestores façam o que referi acima, parcerias com estaleiros estrangeiros,
e que se obtenha valor acrescentado e emprego.
Uma última referencia ao seu texto.
Como marxista que sou (tal como sou adepto das equações de
Newton da mecânica clássica, sem prejuízo de acreditar nas equações
relativistas de Einstein; há domínios em que se aplicam os critérios de Marx, e
há outros domínios em que se aplicam os critérios de economistas mais modernos)
, posso garantir-lhe que há marxistas a
quem não interessa mesmo nada o descontentamento e o empobrecimento dos
trabalhadores.
São aliás conhecidos os textos de Marx propondo a colocação
dos benefícios devidos ao aumento da produtividade resultante do progresso das
tecnologias ao serviço do bem estar dos trabalhadores.
Se economistas de outras escolas e o poder político e
financeiro se encarregam de orientar as coisas no sentido contrário, parecerá
que a culpa não é de Marx, que aliás deixou escrito críticas às experiencias
que no seu tempo foram feitas em nome do marxismo.
E não esqueçamos a politica da nova economia de Lenine, que
foi tudo menos destruir o que existia, antes aumentar a produção e não
destrui-la.
Infelizmente, a experiencia soviética correu mal.
Infelizmente também, na nossa atualidade, a política da
terra queimada e da destruição dita “criativa”, amesquinhando e desmerecendo no
trabalho que os velhos como eu foram desenvolvendo ao longo da sua vida ativa
em empresas públicas, é que me parece, pelo contrário, estar a ser desenvolvida
pelos decisores que nada têm de marxistas.
Sinceramente, não creio que o objetivo do marxismo seja a
destruição da cultura e da civilização ocidental (nem de qualquer cultura ou
civilização que respeite a declaração universal dos direitos humanos). Nos
tempos que correm, acho que devem conviver modos de pensar diferentes. Mas que
esses modos de pensar diferentes devem respeitar a referida declaração, isso acho que sim, que
devem.
Os meus melhores cumprimentos
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