sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Daniel Bessa e os estaleiros de Viana do Castelo

A comparação que Vitor Gaspar fez entre a ciencia económica e a ciencia meteorológica parece-me correta.
Os macroeconomistas gostam de se comportar como os feiticeiros que explicavam a chuva, quando era necessária, graças às suas danças,preocupando-se pouco com as relações efetivas de causa e efeito.
Isto a propósito do desabafo triste de Daniel Bessa num dos programas televisivos que gostam de ouvir os macroeconomistas:
- Não sei porque ao longo de 20 anos não se fechou uma empresa deficitária como os estaleiros de Viana.
Não podendo esclarecer todo a questão, direi apenas:
Internacionalmente assistiu-se ao fecho de muitos estaleiros no mundo ocidental enquanto os estaleiros sul-coreanos lançavam barcos cada vez mais baratos, porque economizavam nas condições de trabalho (não estou a ver o sr dr Daniel Bessa a trabalhar nessas condições) e porque otimizavam a construção naval.
Os barcos são um bom exemplo do que acontece com este tipo de otimizações.
Em Portugal houve no século XVI a experiencia da querena italiana: permitia calefetar os barcos sem os tirar da água, inclinando-os a 90º. Era mais rápido e barato e, porque na maior parte das vezes o trabalho era mal feito, responsável por muitos naufrágios no Índico (os neoliberais de agora culpam os pilotos e os marinheiros de sobrecarga dos navios).
Mais recentemente, tivemos o caso do Prestige, que morreu, simplesmente de velhice. O casco simples (as diretivas agora obrigam a casco duplo) e sujeito a corrosão devido à natureza da carga, não resistiu à idade e à otimização da construção.
É muito complicado dizer que um estaleiro não é viável porque outros fazem mais barato.
Entretanto, à medida que iam fechando estaleiros, os preços subiam, dificultando a renovação das frotas, com a agravante de agora ser obrigatório  construir com casco duplo.
Os estaleiros como os finlandeses e italianos que se aguentaram beneficiaram do fator de escala (ou curva dos rendimentos ainda crescentes).
Num ponto mais baixo da curva, não admira muito que os custos de produção sejam mais elevados.
Notar ainda que a otimização dos custos de construção conduz a situações como as do Costa Concordia, em que um rombo no casco de menos de 10% do comprimento do casco condena irremediavelmente o navio pela economia do projeto.
Mas enfim, concordo que se devem controlar os custos, é evidente.
Não posso é ligar muito ao argumento de que outros fazem mais barato.
Só vendo, em pormenor e discutindo-os bem, incluindo o fator segurança e comportamento em situações de emergencia.
Não são coisas que se resolvam com cadernos de encargos (qualquer fornecedor pode dizer que os cumpre e é dificil confirmar a satisfação de todas as especificações, embora as firmas de certificação possam ser uma ajuda).
E não são os senhores macroeconomistas que têm competencias técnicas para avaliar a relação custo-qualidade da construção de um navio comparativamente com outros estaleiros.
Melhorar a gestão dos estaleiros sim, degradá-los e fechá-los não.

PS em 22 de dezembro - dentre a informação surgida agora a propósito do encerramento dos estaleiros, destaca-se a de que a construção do ultimo patrulheiro, o Figueira da Foz, esteve parada durante m ano porque o orçamento de estado de 2012 não incluiu verbas para isso. Assim não admira que a produtividade tivesse sido baixa e o prazo de construção exagerado. A lei da concorrencia impede que um Estado beneficie uma sua empresa em detrimento de empresas privadas, mas não diz que um Estado pode prejudicar a sua própria empresa em beneficio de empresas privadas. Concorrencia não é isso.

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