Transcrevo do editorial do DN, a propósito da pergunta duma prova de Físico-Químicas do 9º ano sobre quantos planetas tem o sistema solar, encontrando-se os seus nomes no enunciado:
"Focalizar o problema do ensino básico em Portugal na questão da avaliação dos professores, como aconteceu nos últimos anos, serviu para desviar as atenções da opinião pública para este outro problema, bem mais grave: o ser política oculta do Estado para a educação a formação de alunos cultos em facilitismo"
Alguém no DN reconheceu a triste realidade, depois de, durante os referidos últimos anos, ter andado a vender à opinião pública a ideia de que os professores recusavam a avaliação devido aos interesses corporativos instalados.
Nunca é tarde para reconhecer erros ou imprecisões, mas reconhecerá o DN que ao insistir na condenação dos professores se tornou cúmplice dessa política oculta?
E, como tal, vai pedir desculpa a quem sempre denunciou que o problema estava na incapacidade educacional e financeira dos encarregados de educação, portanto em causas e circunstancias externas às escolas?
Ou este editorial foi excecional?
E a propósito da violencia entre estudantes, agora que as filmagens no youtube são consideradas "alarme social", vai continuar a ouvir "especialistas", ou vai explicar que "alarme social" é a correlação entre, dum lado, o abandono escolar e ineficiência (ou inexistencia de quem as substitua) das famílias em apoiar o percurso escolar dos alunos, e do outro, a criminalidade, a inqualificação profissional e o insucesso económico?
Quando acontece um acidente ou um crime, é feito um inquérito às causas e circunstancias sociais de modo a fornecer "inputs", como se diz agora, aos fazedores das tais políticas?
É que, se não é, a experiencia ensina que os fenómenos se agravarão por não serem combatidas as causas na origem, por mais repressivas que sejam as medidas tomadas para tranquilizar consciencias.
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Um editorial do DN em Maio de 2011
domingo, 29 de maio de 2011
Na Moita pintam-se casas
Como seria se o PIB em Portugal e em particular na Moita pudesse expandir esta prática?
Podia considerar-se integrante do setor transacionável, se inserida nos circuitos turísticos.
Aplausos para os artistas.
Podia considerar-se integrante do setor transacionável, se inserida nos circuitos turísticos.
Aplausos para os artistas.
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Die drei Pintos, ópera cómica de Carl Maria von Weber
Não conhecia esta ópera cómica de Weber, sobre a peça de Carl Seide, Der Brautkampf, mas graças à Gulbenkian tive o prazer de assistir à versão de concerto com texto-comentário de David Pountney. A ópera foi deixada incompleta por Weber, e completada por Gustav Mahler quando ainda jovem, a pedido do neto de Weber. Mahler aceitou a incumbencia e apaixonou-se por Marion, a mulher do neto de Weber. Foi uma paixão proibida, conforme o referido texto-comentário.
Resumo: A ação passa-se em Espanha no final do século XVII (numa época em que o endividamento de Espanha era grande, apesar dos benefícios coloniais, graças às aventuras militares e imperiais e graças à política desastrosa de privilégio de grandes proprietários rurais e de proteção de monopólios privados). O grande proprietário rural da província de Salamanca, Pinto da Fonseca, combinou com o próspero comerciante de Madrid, Don Pantaleone, o casamento do seu filho com a filha deste. O casamento é uma ação win-win, visto que implicará o resgate da dívida de Pantaleone a Pinto da Fonseca que contraiu junto deste numa altura de crise do negócio, quando Don Pantaleone ainda não tinha comprado o título nobiliárquico, não podendo assim usufruir das benesses do governo. Mas a rapariga já tem um apaixonado, Don Gomez, um fidalgote, e um pretendente ocasional, Don Gaston, um recem doutor pela universidade de Salamanca (contexto que Weber aproveitou para fazer musica adequada a grupos corais universitários).O pretendente ocasional e o apaixonado recorrem sucessivamente à carta de apresentação que o pai Pinto da Fonseca entregou ao filho como credencial para Don Pantaleone. Daí o nome de três Pintos. A ópera termina com o triunfo do amor entre a rapariga e Don Gaston sobre o interesse mesquinho da liquidação da dívida. A musica de Weber e as contribuições de Mahler são uma maravilha.
E eis como uma inofensiva história para entreter a burguesia florescente alemã, gozando com o gordo e desajeitado filho de Pinto da Fonseca, se torna num perigoso convite à negociação da dívida e ao respeito pelos direitos humanos.
Infelizmente, duvido que seja essa a mensagem captada na plateia da Gulbenkian (apesar do seu presidente, Rui Vilar, em entrevista recente, ter afirmado que é essencial manter um nível mínimo de investimento em ações produtivas, ou no setor de bens transacionáveis, como se diz agora), possivelmente porque os Pinto da Fonseca dos dias de hoje têm mais força.
Mas foi um belo espetáculo.
Resumo: A ação passa-se em Espanha no final do século XVII (numa época em que o endividamento de Espanha era grande, apesar dos benefícios coloniais, graças às aventuras militares e imperiais e graças à política desastrosa de privilégio de grandes proprietários rurais e de proteção de monopólios privados). O grande proprietário rural da província de Salamanca, Pinto da Fonseca, combinou com o próspero comerciante de Madrid, Don Pantaleone, o casamento do seu filho com a filha deste. O casamento é uma ação win-win, visto que implicará o resgate da dívida de Pantaleone a Pinto da Fonseca que contraiu junto deste numa altura de crise do negócio, quando Don Pantaleone ainda não tinha comprado o título nobiliárquico, não podendo assim usufruir das benesses do governo. Mas a rapariga já tem um apaixonado, Don Gomez, um fidalgote, e um pretendente ocasional, Don Gaston, um recem doutor pela universidade de Salamanca (contexto que Weber aproveitou para fazer musica adequada a grupos corais universitários).O pretendente ocasional e o apaixonado recorrem sucessivamente à carta de apresentação que o pai Pinto da Fonseca entregou ao filho como credencial para Don Pantaleone. Daí o nome de três Pintos. A ópera termina com o triunfo do amor entre a rapariga e Don Gaston sobre o interesse mesquinho da liquidação da dívida. A musica de Weber e as contribuições de Mahler são uma maravilha.
E eis como uma inofensiva história para entreter a burguesia florescente alemã, gozando com o gordo e desajeitado filho de Pinto da Fonseca, se torna num perigoso convite à negociação da dívida e ao respeito pelos direitos humanos.
Infelizmente, duvido que seja essa a mensagem captada na plateia da Gulbenkian (apesar do seu presidente, Rui Vilar, em entrevista recente, ter afirmado que é essencial manter um nível mínimo de investimento em ações produtivas, ou no setor de bens transacionáveis, como se diz agora), possivelmente porque os Pinto da Fonseca dos dias de hoje têm mais força.
Mas foi um belo espetáculo.
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quinta-feira, 26 de maio de 2011
O novo terminal de cruzeiros de Santa Apolónia
Este blogue lamenta profundamente a aparente irreversibilidade do desenvolvimento do terminal de cruzeiros de Santa Apolónia em detrimento do terminal de cruzeiros de Alcantara, em benefício da utilização de Alcantara como terminal de contentores e em prejuízo do novo terminal de contentores na Golada, conforme projeto elaborado pelos especialistas nos anos noventa.
Os fundos do rio não são compatíveis com alguns dos grandes navios de cruzeiro, sendo que os grandes navios de cruzeiro que dispõem de pouco calado têm, para compensar, maior largura.
Estas circunstancias agravam as condições operacionais do terminal de Santa Apolónia e levantam preocupações sobre a exploração futura.
Infelizmente, quem faz os projetos não tem de fazer a exploração.
Se tivesse, compreenderia as vantagens de evitar certas opções de projeto.
Pena, quem faz os projetos se considerar sistematicamente acima destas considerações e dispensado de qualquer humildade na aceitação de opiniões contrárias.
Quanto aos argumentos dos gestores, de economia na concentração de meios, de utilização de uma gare mais atrativa (mais atrativa do que a de Almada Negreiros?! as pessoas lêem aquilo que escrevem? acham que os turistas não apreciariam a estética dos anos quarenta?), não valerá a pena discutir porque tudo estará resolvido.
E por isso nem valerá a pena discutir a viabilidade económica (que o crescimento dos cruzeiros justifica), embora nenhuma problemática devesse ficar circunscrita à parte económica e se devessem sempre contabilizar os benefícios e os prejuízos de cada investimento.
Mas fica a metáfora de um dos gestores-decisores: "estamos a agarrar o rio com ambas as mãos".
Hieráclito diria que nunca se apanharia a mesma água de cada vez que se agarrasse o rio.
Este blogue dirá que se devia aproveitar tão capazes mãos para desassorear o rio, agarrando as areias, não as águas.
Ver
Os fundos do rio não são compatíveis com alguns dos grandes navios de cruzeiro, sendo que os grandes navios de cruzeiro que dispõem de pouco calado têm, para compensar, maior largura.
Estas circunstancias agravam as condições operacionais do terminal de Santa Apolónia e levantam preocupações sobre a exploração futura.
Infelizmente, quem faz os projetos não tem de fazer a exploração.
Se tivesse, compreenderia as vantagens de evitar certas opções de projeto.
Pena, quem faz os projetos se considerar sistematicamente acima destas considerações e dispensado de qualquer humildade na aceitação de opiniões contrárias.
Quanto aos argumentos dos gestores, de economia na concentração de meios, de utilização de uma gare mais atrativa (mais atrativa do que a de Almada Negreiros?! as pessoas lêem aquilo que escrevem? acham que os turistas não apreciariam a estética dos anos quarenta?), não valerá a pena discutir porque tudo estará resolvido.
E por isso nem valerá a pena discutir a viabilidade económica (que o crescimento dos cruzeiros justifica), embora nenhuma problemática devesse ficar circunscrita à parte económica e se devessem sempre contabilizar os benefícios e os prejuízos de cada investimento.
Mas fica a metáfora de um dos gestores-decisores: "estamos a agarrar o rio com ambas as mãos".
Hieráclito diria que nunca se apanharia a mesma água de cada vez que se agarrasse o rio.
Este blogue dirá que se devia aproveitar tão capazes mãos para desassorear o rio, agarrando as areias, não as águas.
Ver
Lamenta-se.
Parecer sobre o PDM de Lisboa
O período de discussão pública do Plano diretor municipal de Lisboa terminou em 20 de Maio de 2011.
1 – não é sustentável em termos de respeito pela lei do ruído e das normas de segurança a manutenção de um aeroporto dentro dos limites da cidade, pelo que o estudo do plano de ordenamento dos terrenos e da sua integração na rede de transportes deveria ser desde já iniciado
2 – o plano do nó de Alcântara deveria ser reformulado de modo a contemplar:
2.1 - a saída do terminal de contentores para o novo terminal da Trafaria/fecho da Golada,
2.2 - a reformulação da rede de transportes evitando o enterramento das estações suburbanas e do metropolitano,
2.3 - o projeto de um sistema de retenção e prevenção de inundações no vale de Alcantara
3 – não obstante as obras em curso no Terreiro do Paço e nas Ribeira das Naus, a cidade necessita de uma ligação rodoviária que faça o “by-pass” do Terreiro do Paço, conforme contemplado em anteriores planos diretores (incluindo o projeto do túnel rodoviário que motivou a construção mais profunda do túnel de metropolitano) . Seria por isso altamente conveniente o estudo de alternativas possíveis, ainda que contrariando anterior parecer do IGESPAR que se opõs à “conquista de terreno ao rio”, o que viabilizaria esse “by-pass” em termos mais económicos do que um tunel
4 – não é possível ordenar o território de um município ou de uma área metropolitana sem integrar as redes de transporte coletivos, e não é possível projetar novas linhas de metropolitano e de suburbanos na área metropolitana sem as integrar na estrutura urbana de habitação, escritórios, comércio e oficinas. Neste aspeto, Lisboa teria a ganhar em:
4.1 – criar um operador único, a exemplo de Paris, Bruxelas, Barcelona, Milão
4.2 – reformular o plano de expansão da rede de metropolitano, que padece da intenção de uma linha circular de dispendiosa execução no aproveitamento das linhas existentes, propondo-se, em alternativa, a construção de novos troços com critérios de construção económica, como seja em viaduto (esta problemática, integrando também o nó de Alcântara e a correspondência entre o metropolitano e o serviço suburbano na terceira travessia do Tejo, está analisada em:
Com os melhores cumprimentos
Ver
Este blogue enviou á Câmara Municipal de Lisboa o seguinte parecer no âmbito da consulta pública, centrado em questões estratégicas que de há muito considera importantes para a área metropolitana de Lisboa e, por extensão, para a economia do país.
Este blogue manifesta neste momento profundas dúvidas de que alguma das suas sugestões seja considerada.
Tal não lhe parece, perdoe-se-lhe a imodéstia, um elogio à atual câmara municipal.
Exmos Senhores
Infelizmente, por motivos particulares, não me foi possível estudar a fundo o plano diretor municipal de Lisboa; no entanto, envio o seguinte parecer.
Como principal comentário e sugestão de complementos ao plano diretor municipal, julgo que a manutenção dos atuais limites do município de Lisboa condiciona desfavoravelmente o desenvolvimento de uma plano coordenado de estruturação económica da área metropolitana, pelo que seria de esperar que o PDM desse grande relevo ao objetivo de fusão de municípios ou, pelo menos, de agregação de forma mais eficaz do que o atual modelo da área metropolitana.
Considerando que é dito no site do PDM que se pretende:
- uma estratégia de desenvolvimento para a Lisboa dos próximos anos
- atrair novos habitantes
- reabilitar o edificado
- melhorar o transporte publico
- maior eficiência energética,
junto as as seguintes observações, chamando a atenção que o atual período de constrangimentos financeiros (embora algumas ações possam ser desenvolvidas com o apoio de fundos de coesão da EU e possam contribuir para o crescimento do PIB sem agravamento significativo do endividamento) não impede que se estudem e elaborem desde já planos a médio e longo prazo:
1 – não é sustentável em termos de respeito pela lei do ruído e das normas de segurança a manutenção de um aeroporto dentro dos limites da cidade, pelo que o estudo do plano de ordenamento dos terrenos e da sua integração na rede de transportes deveria ser desde já iniciado
2 – o plano do nó de Alcântara deveria ser reformulado de modo a contemplar:
2.1 - a saída do terminal de contentores para o novo terminal da Trafaria/fecho da Golada,
2.2 - a reformulação da rede de transportes evitando o enterramento das estações suburbanas e do metropolitano,
2.3 - o projeto de um sistema de retenção e prevenção de inundações no vale de Alcantara
3 – não obstante as obras em curso no Terreiro do Paço e nas Ribeira das Naus, a cidade necessita de uma ligação rodoviária que faça o “by-pass” do Terreiro do Paço, conforme contemplado em anteriores planos diretores (incluindo o projeto do túnel rodoviário que motivou a construção mais profunda do túnel de metropolitano) . Seria por isso altamente conveniente o estudo de alternativas possíveis, ainda que contrariando anterior parecer do IGESPAR que se opõs à “conquista de terreno ao rio”, o que viabilizaria esse “by-pass” em termos mais económicos do que um tunel
4 – não é possível ordenar o território de um município ou de uma área metropolitana sem integrar as redes de transporte coletivos, e não é possível projetar novas linhas de metropolitano e de suburbanos na área metropolitana sem as integrar na estrutura urbana de habitação, escritórios, comércio e oficinas. Neste aspeto, Lisboa teria a ganhar em:
4.1 – criar um operador único, a exemplo de Paris, Bruxelas, Barcelona, Milão
4.2 – reformular o plano de expansão da rede de metropolitano, que padece da intenção de uma linha circular de dispendiosa execução no aproveitamento das linhas existentes, propondo-se, em alternativa, a construção de novos troços com critérios de construção económica, como seja em viaduto (esta problemática, integrando também o nó de Alcântara e a correspondência entre o metropolitano e o serviço suburbano na terceira travessia do Tejo, está analisada em:
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/01/as-pontes-de-koenigsberg-ou-um-ponto-de.html )
4.3 – incentivar a construção de parques de estacionamento do tipo “park and ride” com ligação a linhas de metro, à entrada da cidade (o exemplo mais evidente será a construção de um parque deste tipo junto das Amoreiras, prolongando a linha vermelha do metro até lá)
4.4 – fiscalizar severamente o estacionamento indevido, especialmente nos passeios e na obstrução aos veículos de transporte coletivo
4.5 – preparar um plano progressivo de taxação da entrada de veículos na cidade, mantendo a coordenação com as alternativas de transporte coletivo;
4.3 – incentivar a construção de parques de estacionamento do tipo “park and ride” com ligação a linhas de metro, à entrada da cidade (o exemplo mais evidente será a construção de um parque deste tipo junto das Amoreiras, prolongando a linha vermelha do metro até lá)
4.4 – fiscalizar severamente o estacionamento indevido, especialmente nos passeios e na obstrução aos veículos de transporte coletivo
4.5 – preparar um plano progressivo de taxação da entrada de veículos na cidade, mantendo a coordenação com as alternativas de transporte coletivo;
5 – considerando que entre os principais motivos da desertificação da cidade se contam:
5.1 - a degradação dos edifícios
5.2 – a reduzida área por sala ou quarto em cada fogo
5.3 – os custos elevados de reconstrução e comercialização
5.4 – a falta de lugares de estacionamento,
sugere-se a preparação de um plano de reabilitação, com recurso a estudantes das faculdades de arquitetura em estágios, de emparcelamento de fogos (por exemplo, reconstruir2 ou 3 prédios num só), de modo a aumentar as áreas específicas de habitação e obter áreas de quintal e de estacionamento interiores
6 - todas as medidas do ponto 4 podem ser classificadas como ações de melhoria da eficiência energética, sugerindo-se igualmente:
6 - todas as medidas do ponto 4 podem ser classificadas como ações de melhoria da eficiência energética, sugerindo-se igualmente:
6.1 - a incentivação da utilização de terraços e coberturas de edifícios públicos ou partes de parques publicos para instalação de painéis fotovoltaicos de produção de energia.
6.2 – a utilização das águas nascentes no subsolo, nomeadamente as captadas nos túneis do metropolitano, para rega e usos sanitários em instalações públicas.
6.2 – a utilização das águas nascentes no subsolo, nomeadamente as captadas nos túneis do metropolitano, para rega e usos sanitários em instalações públicas.
Com os melhores cumprimentos
terça-feira, 24 de maio de 2011
100 anos do IST
Parabens, velha Alma Mater.
És mais nova do que eu e tens mais energia do que eu para o que é preciso fazer e estás a fazer.
Parabens pelo concerto pelo Grupo de metais Portugal Brass Ensemble.
Como tocaram os blues das American Images de Richard Robble...
Todos tocam bem, mas a tuba, senhores.
Quem disse que os portugueses precisam de melhorar a competitividade?
Este grupo é como muitos engenheiros fazem, falam de igual para igual com os seus colegas estrangeiros.
Discordo do discurso do senhor presidente da Republica.
Não são os engenheiros que se dedicam à política que fazem falta.
São os que se dedicam a fazer as coisas andar.
E felizmente são muitos.
Não são economistas que sabem o custo das coisas, mas não sabem o valor delas, que fazem falta.
Porque se uma coisa custa muito, então a tentação é para que fique parada.
A construção do atual IST obrigou a um empréstimo em 1927 de 3,5 milhões de escudos a um juro de 9% e um prazo de 15 anos.
Concluido o IST em 1934, logo apareceu um senhor engravatado e muito sensato, muito ciente de que "é preciso trabalhar melhor e poupar mais", com um artigo na Gazeta do Caminho de Ferro, a dizer que o IST tinha ido de 8 para 80, saíndo do pardieiro da Boavista (antigo Instituto Industrial) para o colosso da Alameda.
Não é de agora que a falta de visão pode afetar os cidadãos; é de há muito.
Por vontade desses senhores não existia o IST, nem o Alqueva, nem o porto de Sines.
Por vontade desses senhores e das suas contas de deve e haver deixou de existir muita coisa que atenuaria agora o desequilíbrio da balança de pagamentos.
É isso, é difícil saber o valor de uma coisa.
Mais fácil é saber o seu custo, e mais fácil ainda omitir o cálculo do seu benefício.
Mas é difícil explicar estas coisas, quando não se entenderam os princípios da Física nos bancos da escola , antes da universidade, o que limita fortemente a possibilidade de argumentação e contra-argumentação.
clarabóia do pavilhão central do IST |
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segunda-feira, 23 de maio de 2011
Política energética
Leio com surpresa o Manifesto II - energia, competitividade económica e o futuro de Portugal.
Foi publicado na imprensa e está assinado por personalidades ilustres, de economistas a engenheiros (ver
www.energiaparaportugal.com ).
Manifesta preocupação pelo valor das tarifas elétricas como fator afetando a sustentabilidade social e a competitividade das empresas.
Apela à avaliação da politica energética e das formas de financiamento do défice tarifário (o que parecerá vago, para um manifesto).
A energia é uma questão difícil.
Como dizia o professor Ilharco, no IST, no principio dos anos 60 do século passado, a energia é o principal problema da Humanidade.
Basta pensar na necessidade periódica que qualquer um experimenta para repor os níveis energéticos do processo eletro-químico do funcionamento do musculo cardíaco.
Sem a energia potencial dos alimentos, altamente dependente da energia termo-nuclear solar, o coração parava.
Podemos passar sem televisão e sem futebol.
Sem energia não.
Então porque não pede o ManifestoII mais páginas nos jornais sobre a energia do que sobre o futebol e a televisão?
Recordo-me, 5 anos depois do professor Ilharco, o professor Domingos Moura, já na especialidade, nos ter despertado para a problemática da conversão das energias.
Ainda não tinhamos sofrido o choque petrolifero de 1973, mas já se estudava a conversão das energias solar e eólica em eletricidade, apesar da incipiencia tecnológica de então na conversão foto-voltaica e na regulação dos aero-geradores, numa altura em que a eletrónica de potencia elevada e a miniaturização dos circuitos integrados se consolidava e o comando por micro-processadores despontava (permitindo resolver o problema de injeção na rede da energia produzida com pouca constancia).
E naturalmente, estudava-se a energia hídrica, a fio de água e com capacidade de armazenamento e bombagem reversível.
Também já era ponto assente que as novas centrais térmicas deveriam ser de gás natural e, a seu tempo, nucleares.
Carvão e fuel/petróleo só em casos particulares e de pequena potencia.
Já se punha o acento tónico na ocupação certa das diferentes formas de produção no diagrama de cargas e na capacidade de armazenamento das albufeiras através de bombagem, ou armazenamento de hidrogénio produzido por eletrólise (na altura solução com graves dificuldades técnicas) ou até do recurso a depósitos de ar comprimido.
Por isso fiquei surpreendido ao ler, no manifesto II, a crítica ao aumento da capacidade instalada de produção de energias renováveis (embora o aumento da quota das renováveis na produção de energia seja um imperativo da UE), ao mesmo tempo que repete a evidencia de que o consumo de petróleo em Portugal é principalmente no setor dos transportes (evidencia que só por si requereria a transferencia de passageiros.km do transporte rodoviário e aéreo para o setor ferroviário, apesar dos investimentos que isso implica - porem o manifesto II omite esta problemática).
A surpresa é tambem porque o manifesto II omite soluções de armazenamento da eletricidade com origem na energia eólica (dada a potencia instalada - cerca de 4.000 MW suscetiveis de debitar cerca de 2.000 horas por ano - 8.765 horas - não há muitas vezes carga para absorver a energia produzida, pelo que ela deverá ser armazenada): albufeiras com bombagem, produção de hidrogénio por eletrólise e utilização do hidrogénio em pilhas de combustivel fixas ou no transporte rodoviário (já disponiveis as tecnologias de produção, distribuição, armazenamento e motorização).
O manifesto chama "ociosos" aos custos fixos das eólicas e diz que elas apenas trabalham 25% do tempo (para sermos mais precisos, 27,4%). O que a tecnologia teve de evoluir para conseguir esses 25%, para agora apresentarem isso como uma fraqueza.
(Tambem o rendimento das locomotivas de vapor era inferior a 10%, e a Humanidade teve direito a usufruir delas enquanto não surgiu tecnologia de maior rendimento físico, embora haja atualmente economistas a dizer que Portugal não deveria ter investido na mobilidade das suas populações no século XIX - o que pensariam essas pessoas se soubessem que os seus bisnetos teriam preferido que eles só saissem da terra de carroça ou diligencia?).
A afirmação do manifesto II de que "não há poupança bruta na produção de renováveis mas apenas substituição de umas importações por outras" carece, salvo melhor opinião, de demonstração, especialmente numa altura de tendencia de aumento do periodo de amortização dos equipamentos de bombagem e eólicos e de melhoria do rendimento das centrais termicas de gás para compensar a "volatilidade" das eólicas.
Isto porque, não havendo produção por renováveis (não me pareceu este manifesto II esclarecedor sobre o que pensam da política de novas barragens), terá o investimento de ser canalizado de forma massiva para elevadas potencias instaladas em centrais de gás e carvão (para ocupar a base e a maior parte do diagrama), ao arrepio das diretivas europeias no capítulo das emissões de gases com efeito de estufa, ou para a energia nuclear (que obviamente deve ser estudada, mas nas suas tecnologias de melhor aproveitamento do combustivel).
Tambem é surpreendente o manifesto II falar em excesso de produção instalada quando a energia em excesso pode ser exportada (desde que a pulverização de distribuidoras de eletricidade não suscite concorrencia desleal), especialmente numa altura em que a Espanha estuda a redução da produção nuclear.
Parece ainda forçar a nota o manifesto II dizer que a produção de energias renováveis não reduz a fatura petrolifera, quando é certo que os preços do gás natural acabam por seguir as subidas do preço do petróleo e quando as emissões de gases com efeito de estufa da produção por gás (e a fortiori por carvão) são muito superiores às da produção por renováveis (nas quais aliás, continuam os progressos no sentido da redução de emissões e do aumento da fiabilidade, da longevidade e do rendimento dos novos aero-geradores e células foto-voltaicas). A redução das emissões de gases com efeito de estufa é, aliás, um imperativo da UE.
Em resumo, embora ache natural que algumas das personalidades signatárias, menos sensibilizadas para a produção de energias renováveis, aproveitem a real necessidade, de minimizar as tarifas subsidiadas e os investimentos para produção de renováveis e armazenamento, para subscrever uma proposta de redução da produção de energias renováveis, já me custa ver colegas da especialidade darem prioridade imediata às políticas de produção por gás natural e carvão e, eventualmente, nuclear.
Enfim, assunto a seguir, mas de preferencia com explicitação dos cálculos fundamentores, como é das regras.
Ver resumo da produção de renováveis em Portugal em :
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2011/05/energias-renovaveis-em-portugal-no.html
Para informações sobre o binómio renováveis - armazenamento de energia, ver:
Renewable Energy, Bent Sorensen, ed.Elsevier Academic Press
Para informações sobre a estratégia energética da UE para 2020 ver:
http://ec.europa.eu/energy/strategies/2010/2020_en.htm
Foi publicado na imprensa e está assinado por personalidades ilustres, de economistas a engenheiros (ver
www.energiaparaportugal.com ).
Manifesta preocupação pelo valor das tarifas elétricas como fator afetando a sustentabilidade social e a competitividade das empresas.
Apela à avaliação da politica energética e das formas de financiamento do défice tarifário (o que parecerá vago, para um manifesto).
A energia é uma questão difícil.
Como dizia o professor Ilharco, no IST, no principio dos anos 60 do século passado, a energia é o principal problema da Humanidade.
Basta pensar na necessidade periódica que qualquer um experimenta para repor os níveis energéticos do processo eletro-químico do funcionamento do musculo cardíaco.
Sem a energia potencial dos alimentos, altamente dependente da energia termo-nuclear solar, o coração parava.
Podemos passar sem televisão e sem futebol.
Sem energia não.
Então porque não pede o ManifestoII mais páginas nos jornais sobre a energia do que sobre o futebol e a televisão?
Recordo-me, 5 anos depois do professor Ilharco, o professor Domingos Moura, já na especialidade, nos ter despertado para a problemática da conversão das energias.
Ainda não tinhamos sofrido o choque petrolifero de 1973, mas já se estudava a conversão das energias solar e eólica em eletricidade, apesar da incipiencia tecnológica de então na conversão foto-voltaica e na regulação dos aero-geradores, numa altura em que a eletrónica de potencia elevada e a miniaturização dos circuitos integrados se consolidava e o comando por micro-processadores despontava (permitindo resolver o problema de injeção na rede da energia produzida com pouca constancia).
E naturalmente, estudava-se a energia hídrica, a fio de água e com capacidade de armazenamento e bombagem reversível.
Também já era ponto assente que as novas centrais térmicas deveriam ser de gás natural e, a seu tempo, nucleares.
Carvão e fuel/petróleo só em casos particulares e de pequena potencia.
Já se punha o acento tónico na ocupação certa das diferentes formas de produção no diagrama de cargas e na capacidade de armazenamento das albufeiras através de bombagem, ou armazenamento de hidrogénio produzido por eletrólise (na altura solução com graves dificuldades técnicas) ou até do recurso a depósitos de ar comprimido.
Por isso fiquei surpreendido ao ler, no manifesto II, a crítica ao aumento da capacidade instalada de produção de energias renováveis (embora o aumento da quota das renováveis na produção de energia seja um imperativo da UE), ao mesmo tempo que repete a evidencia de que o consumo de petróleo em Portugal é principalmente no setor dos transportes (evidencia que só por si requereria a transferencia de passageiros.km do transporte rodoviário e aéreo para o setor ferroviário, apesar dos investimentos que isso implica - porem o manifesto II omite esta problemática).
A surpresa é tambem porque o manifesto II omite soluções de armazenamento da eletricidade com origem na energia eólica (dada a potencia instalada - cerca de 4.000 MW suscetiveis de debitar cerca de 2.000 horas por ano - 8.765 horas - não há muitas vezes carga para absorver a energia produzida, pelo que ela deverá ser armazenada): albufeiras com bombagem, produção de hidrogénio por eletrólise e utilização do hidrogénio em pilhas de combustivel fixas ou no transporte rodoviário (já disponiveis as tecnologias de produção, distribuição, armazenamento e motorização).
O manifesto chama "ociosos" aos custos fixos das eólicas e diz que elas apenas trabalham 25% do tempo (para sermos mais precisos, 27,4%). O que a tecnologia teve de evoluir para conseguir esses 25%, para agora apresentarem isso como uma fraqueza.
(Tambem o rendimento das locomotivas de vapor era inferior a 10%, e a Humanidade teve direito a usufruir delas enquanto não surgiu tecnologia de maior rendimento físico, embora haja atualmente economistas a dizer que Portugal não deveria ter investido na mobilidade das suas populações no século XIX - o que pensariam essas pessoas se soubessem que os seus bisnetos teriam preferido que eles só saissem da terra de carroça ou diligencia?).
A afirmação do manifesto II de que "não há poupança bruta na produção de renováveis mas apenas substituição de umas importações por outras" carece, salvo melhor opinião, de demonstração, especialmente numa altura de tendencia de aumento do periodo de amortização dos equipamentos de bombagem e eólicos e de melhoria do rendimento das centrais termicas de gás para compensar a "volatilidade" das eólicas.
Isto porque, não havendo produção por renováveis (não me pareceu este manifesto II esclarecedor sobre o que pensam da política de novas barragens), terá o investimento de ser canalizado de forma massiva para elevadas potencias instaladas em centrais de gás e carvão (para ocupar a base e a maior parte do diagrama), ao arrepio das diretivas europeias no capítulo das emissões de gases com efeito de estufa, ou para a energia nuclear (que obviamente deve ser estudada, mas nas suas tecnologias de melhor aproveitamento do combustivel).
Tambem é surpreendente o manifesto II falar em excesso de produção instalada quando a energia em excesso pode ser exportada (desde que a pulverização de distribuidoras de eletricidade não suscite concorrencia desleal), especialmente numa altura em que a Espanha estuda a redução da produção nuclear.
Parece ainda forçar a nota o manifesto II dizer que a produção de energias renováveis não reduz a fatura petrolifera, quando é certo que os preços do gás natural acabam por seguir as subidas do preço do petróleo e quando as emissões de gases com efeito de estufa da produção por gás (e a fortiori por carvão) são muito superiores às da produção por renováveis (nas quais aliás, continuam os progressos no sentido da redução de emissões e do aumento da fiabilidade, da longevidade e do rendimento dos novos aero-geradores e células foto-voltaicas). A redução das emissões de gases com efeito de estufa é, aliás, um imperativo da UE.
Em resumo, embora ache natural que algumas das personalidades signatárias, menos sensibilizadas para a produção de energias renováveis, aproveitem a real necessidade, de minimizar as tarifas subsidiadas e os investimentos para produção de renováveis e armazenamento, para subscrever uma proposta de redução da produção de energias renováveis, já me custa ver colegas da especialidade darem prioridade imediata às políticas de produção por gás natural e carvão e, eventualmente, nuclear.
Enfim, assunto a seguir, mas de preferencia com explicitação dos cálculos fundamentores, como é das regras.
Ver resumo da produção de renováveis em Portugal em :
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2011/05/energias-renovaveis-em-portugal-no.html
Para informações sobre o binómio renováveis - armazenamento de energia, ver:
Renewable Energy, Bent Sorensen, ed.Elsevier Academic Press
Para informações sobre a estratégia energética da UE para 2020 ver:
http://ec.europa.eu/energy/strategies/2010/2020_en.htm
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política energética; energias renováveis
Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição
Não queria que este post fosse mal interpretado.
Não quero de modo nenhum contestar o mérito da ação benemérita das Hospitaleiras da madre Maria Clara em vários países do mundo.
Quero apenas comentar um fenómeno religioso.
Com a devida vénia ao Correio da Manhã, retiro informação de:
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/actualidade/mae-clara-nos-altares-com-video
Parece-me uma reportagem sobre o fenómeno religioso ligado às questões de carencia de saude, segurança e equilibrio social.
E destaco esta informação: "a relíquia da beata Maria Clara – a falange de um dedo – foi transportada pela vice-postuladora da congregação, Maria Lucília Carvalho. Depois da missa, a relíquia foi depositada nas instalações do Patriarcado de Lisboa."
Temos pois que neste fenómeno a relíquia continua a desempenhar um importante papel, como
Eça de Queiroz aliás interpretou noutro contexto.
Seria interessantissimo relacionar esta prática de conservar uma parte do corpo como objeto complementar de veneração com as práticas religiosas tradicionais anteriores ao cristianismo.
Mas deve ser muito dificil fazê-lo.
Noutras áreas dos fenómenos religiosos, porém, que estarão quase sempre relacionados com a capacidade do cérebro humano recriar a realidade, será mais fácil de o fazer. Pode o modelo recriado estar longe da realidade, mas o que foi recriado conforta e faz companhia ao cérebro que tinha necessidade desse conforto e dessa companhia.
Por exemplo, a prática do vudu de espetar alfinetes tinha como objetivo curar a pessoa representada canalizando energias curativas através dos orifícios. O boneco era assim uma efígie protetora. Mas com a competição ente as religiões europeias e africanas durante a colonização, generalizou-se a prática de que os alfinetes se destinavam a fazer sofrer a pessoa representada.
Curioso, mas tendente a dar razão a Aldous Huxley, quando escreveu: "Uma pessoa é a favor de uma religião até visitar um país realmente religioso. A partir daí, é-se a favor da canalização, da maquinaria e do salário mínimo".
Do que estes ateus se lembram.
Não quero de modo nenhum contestar o mérito da ação benemérita das Hospitaleiras da madre Maria Clara em vários países do mundo.
Quero apenas comentar um fenómeno religioso.
Com a devida vénia ao Correio da Manhã, retiro informação de:
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/actualidade/mae-clara-nos-altares-com-video
Parece-me uma reportagem sobre o fenómeno religioso ligado às questões de carencia de saude, segurança e equilibrio social.
E destaco esta informação: "a relíquia da beata Maria Clara – a falange de um dedo – foi transportada pela vice-postuladora da congregação, Maria Lucília Carvalho. Depois da missa, a relíquia foi depositada nas instalações do Patriarcado de Lisboa."
Temos pois que neste fenómeno a relíquia continua a desempenhar um importante papel, como
Eça de Queiroz aliás interpretou noutro contexto.
Seria interessantissimo relacionar esta prática de conservar uma parte do corpo como objeto complementar de veneração com as práticas religiosas tradicionais anteriores ao cristianismo.
Mas deve ser muito dificil fazê-lo.
Noutras áreas dos fenómenos religiosos, porém, que estarão quase sempre relacionados com a capacidade do cérebro humano recriar a realidade, será mais fácil de o fazer. Pode o modelo recriado estar longe da realidade, mas o que foi recriado conforta e faz companhia ao cérebro que tinha necessidade desse conforto e dessa companhia.
Por exemplo, a prática do vudu de espetar alfinetes tinha como objetivo curar a pessoa representada canalizando energias curativas através dos orifícios. O boneco era assim uma efígie protetora. Mas com a competição ente as religiões europeias e africanas durante a colonização, generalizou-se a prática de que os alfinetes se destinavam a fazer sofrer a pessoa representada.
Curioso, mas tendente a dar razão a Aldous Huxley, quando escreveu: "Uma pessoa é a favor de uma religião até visitar um país realmente religioso. A partir daí, é-se a favor da canalização, da maquinaria e do salário mínimo".
Do que estes ateus se lembram.
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domingo, 22 de maio de 2011
Séneca, estoico
Filósofo estoico romano, morto em 65 DC.
Os estoicos centravam a felicidade no conhecimento e na capacidade de refletir sobre as coisas.
Talvez Seneca não tivesse estado tanto acima das preocupações materiais, uma vez que foi conselheiro de Nero e acusado de obtenção ilícita de vantagens materiais a propósito da colonização da Grã-Bretanha, embora seja dele a citação: "Quem beneficia de um crime é cúmplice desse crime".
Seneca escreveu em "Epistolas morais para Lucilio, governador da Sicilia":
"Quando nos reclinamos num banquete, um escravo limpa o vomitado; outro, que se encontra sob a mesa, recolhe a urina dos bêbados".
Tempos difíceis.
Em "Consolação para a mãe Helvia", escreveu:
"Roma procura, decadente, o novo e o exótico; os romanos vomitam o que comem, comem o que podem vomitar e nem se dignam digerir os banquetes pelos quais roubam o mundo inteiro".
Severo, Séneca, para Nero, que aliás o mandou suicidar-se.
Dificil, o entendimento entre as pessoas, desde sempre.
Que acharia Seneca dos espetáculos no Coliseu?
E que diria da tirania dos "reality-shows", das telenovelas e dos argumentos eleitorais das nossas televisões?
Os estoicos centravam a felicidade no conhecimento e na capacidade de refletir sobre as coisas.
Talvez Seneca não tivesse estado tanto acima das preocupações materiais, uma vez que foi conselheiro de Nero e acusado de obtenção ilícita de vantagens materiais a propósito da colonização da Grã-Bretanha, embora seja dele a citação: "Quem beneficia de um crime é cúmplice desse crime".
Seneca escreveu em "Epistolas morais para Lucilio, governador da Sicilia":
"Quando nos reclinamos num banquete, um escravo limpa o vomitado; outro, que se encontra sob a mesa, recolhe a urina dos bêbados".
Tempos difíceis.
Em "Consolação para a mãe Helvia", escreveu:
"Roma procura, decadente, o novo e o exótico; os romanos vomitam o que comem, comem o que podem vomitar e nem se dignam digerir os banquetes pelos quais roubam o mundo inteiro".
Severo, Séneca, para Nero, que aliás o mandou suicidar-se.
Dificil, o entendimento entre as pessoas, desde sempre.
Que acharia Seneca dos espetáculos no Coliseu?
E que diria da tirania dos "reality-shows", das telenovelas e dos argumentos eleitorais das nossas televisões?
Vê, minha cara senhora?
Gnadige Frau Angela Merkel
Siehe, meine Gnädigste?
Lesen Sie nicht meinem Beitrag vom 11. Februar bis2011.05.22
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2011/02/sehr-geehrte-frau-merkel-ich-wende-mich.html (wo ich Ihnen sagen, dass die Deutschen, die an die Algarve kommen früh in den Ruhestandsind ) und er sagte, dass Unsinn, dass die portugiesischekonnte nicht faul, um früher als die Deutschen den Ruhestand.
Hatte seine Botschafter zu einem der OECD vergleichendeTabelle, die Sie dem portugiesischen Außenminister übergabihn zu empfangen.
Es erinnerte mich, wenn ich meine deutschen Kollegen zeigtenE-Mail Kopie der Arbeit, die er mir vorgeworfen, nicht getan zu haben war ...
Nun, ich verstehe, du hast keine Zeit, um meinen Blog zu lesen,hat die Mathematik auf Deutsch Produktivität und diePortugiesen, und kam zu dem Schluss, dass 40 Jahre Arbeit 20 Jahre Portugiesisch deutschen Arbeitsmarkt sind.
Abgeschlossene Böse, scheint es mir, einfach mal die Zahlender Europa Self-Palmela, nicht, wenn die VW Sharan und der EOS zu sehen.
Aber wenn Sie Fragen haben, statt zu reden Unsinn inKundgebungen, senden Sie technische Organisation, die nach Portugal statt Ökonomen Berater (in der Tat produktivität in Deutschland ist höher, aber immer noch nicht erklären, warumso viele Unterschiede bestehen relativ der ehemaligen DDRDeutschland).
Sehr geschätzt.
Vielen Dank!
Vê, minha cara senhora?
Não leu o meu post de 11 de Fevereiro de 2011-05-22
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2011/02/sehr-geehrte-frau-merkel-ich-wende-mich.html (em que eu lhe digo que os alemães que vêm para o Algarve estão a reformar-se muito cedo), e disse aquele disparate de que os portugueses preguiçosos não podiam reformar-se mais cedo do que os alemães.
Teve o seu embaixador de receber aquele quadro comparativo da OCDE que o senhor ministro dos estrangeiros português lhe entregou.
Fez-me lembrar quando eu mostrei ao meu colega alemão cópia do email com o trabalho que ele me tinha acusado de não ter feito…
Bom, eu compreendi, a senhora não tem tempo para ler o meu blogue, fez as contas à produtividade alemã e à portuguesa, e chegou à conclusão de que 40 anos de trabalho português são 20 anos de trabalho alemão.
Concluiu mal, a mim me parece, basta consultar os números da Auto-Europa de Palmela, onde é feito o EOS e o Sharan da VW, para ver que não.
Mas se tem duvidas, em vez de dizer disparates nos comícios, mande técnicos de organização de trabalho para Portugal , em vez de economistas consultores (de facto a produvtividade na Alemanha é superior, mas ainda não se conseguiu explicar por que se mantêm tantas desigualdades relativamente à ex-Alemanha de Leste) .
Muito agradecido.
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Economicómio LXIX - As laranjas do meu país
As laranjas do meu país caem ao chão sem matar a fome de ninguém.
Tal e qual como as azeitonas do meu país.
Típico exemplo de uma produção que não é comercializada.
Ou, simplesmente, não se aproveitam os fatores de produção de que o país dispõe.
Esta é apenas uma metáfora, porque não são as laranjeiras da cidade que resolviam o problema económico.
Mas que o país não aproveita a maior parte dos fatores de produção de que dispõe, não aproveita.
Questão de desorganização , de dificuldade de trabalhar em equipa, de chico-espertismo dos decisores e dos consumidores, sobranceria e auto-suficiencia nas instancias decisórias, deficientes metodos de tomada de decisão e, nos tempos que correm, uma fé religiosa no interesse egoísta de Adam Smith...
Entretanto, porque o interesse egoísta das agencias de viagens precisa de clientes, as crianças portuguesas já podem viajar à Disneylandia grátis, contribuindo assim para o aumento das importações, neste caso de serviços de turismo no exterior.
Dir-se-ia que, nalgum lugar, deveria estar feito um estudo de transição e de reformulação, de reconversão, como se costuma dizer, do setor das agencias de viagens, para exportação do serviço de acolhimento de cruzeiros turisticos, por exemplo (inaugurado no Porto de Leixões o primeiro cais de cruzeiros com o Oceana da Peninsular & Orient - mais uma razão para não abandonar o terminal de cruzeiros de Alcantara).
Com tanta discussão macro-económica, existe a tendencia para esquecer a importancia do que se faz na linha da frente económica.
Como dizia Ingmar Bergman no Ovo da Serpente, através do chefe da esquadra da polícia, a solução é cada um exercer bem a sua profissão.
Mas será dificil, muito dificil, se os senhores economistas não derem prioridade à redução do desemprego, ou se, duma forma mais "académica" como diz hoje Rui Vilar em entrevista ao DN, se não se mantiver o nível mínimo de investimento (para não deixar o desemprego subir tanto e para permitir que a economia cresça, que diabo, não lêem Keynes?).
Já dizia a jovem estudante de uma secundária visitada pela ex-ministra das finanças Ferreira Leite, que tinha ido vender à escola a ideia da produtividade: "senhora doutora, que produtividade quer que a minha mãe aumente se foi despedida esta semana?".
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sexta-feira, 20 de maio de 2011
Dois temas relativos ao metropolitano de Lisboa
Primeiro tema: Os riscos das sondagens exteriores ao túnel
O assunto foi muito bem tratado na revista Metro com Vida nº2, de abril a Junho de 2011, e bem referida a legislação aplicável.
Em Fevereiro deste ano, no decurso de uma campanha de sondagens não submetida a aprovação camarária, num terreno perto da estação de metropolitano da Quinta das Conchas, a sonda perfurou a parede do túnel e caiu sobre a caleira de cabos de 30 kV adjacente à via férrea e ao mesmo nível.
Foi atingido um cabo que se encontrava desativado; na mesma caleira, existia um cabo energizado, sob tensão de 30 kV, da rede interna do metropolitano, que alimenta as suas subestações de tração.
O furo ocorreu entre os planos verticais do gabarit do comboio e da referida caleira de cabos.
Junta-se esquema explicativo.
Verifica-se que foi elevado o risco de colisão da sonda com o maquinista do comboio e com o cabo energizado de 30 kV.
Quer num caso como no outro as consequencias poderiam ter sido catastróficas, pelo que existe grande interesse em minimizar estes riscos.
Admitindo a secção do tunel equivalente a um semi-círculo de 10 m de diametro dividido em 15 setores (cada setor com um arco de 1 m ), a probabilidade de uma sondagem que tenha atingido o tunel atinja também o maquinista é de 1/15 = 0,07 (7 em 100).
Nos últimos 20 anos verificaram-se, que me recorde, as seguintes ocorrencias com perfuração do tunel e queda de sondas na via férrea:
- no troço Praça de Espanha-Jardim Zoológico, durante a construção de um edificio adjacente ao tunel
- idem, durante a construção dos pilares da estação da REFER de Sete Rios
- no troço Parque-S.Sebastião, durante a construção do Corte Ingles
- no troço Roma-Areeiro, durante a quadruplicação da linha de cintura da REFER
- agora, no troço Quinta das Conchas-Lumiar
Temos assim que a probabilidade de ocorrencia de uma fatalidade não é de desprezar, embora as 15 ocorrencias possam completar-se apenas num prazo de mais 40 anos (segundo a metodologia da norma 50126, um acidente fatal em 60 anos corresponde a uma frequencia remota, com uma consequencia crítica e um risco indesejável que requer medidas preventivas ou a assunção clara do risco consequente de nada fazer).
O trabalho de sondagens é altamente especializado e a sua prática encontra-se restrita a poucas empresas.
De uma maneira geral, estas empresas têm colaborado com o próprio metropolitano, durante o acompanhamento de obras realizadas nas imediações do seu túnel, de acordo com planos prévios de sondagens, escavação e contenção dos terrenos envolventes, os quais são submetidos a apreciação pelo metropolitano.
É assim surpreendente que a empresa responsável por estas sondagens não tivesse tomado as devidas precauções, considerando a existencia do tunel do metro (além disso, existe sempre a possibilidade de se encontrarem no subsolo cabos de alta tensão das redes de distribuição).
Riscos de uma perfuração do túnel:
- colisão da sonda com o maquinista
- contacto da sonda com cabos de 30 kV, em caleiras ao nível da via férrea
- contacto da sonda com cabos de baixa tensão, em esteiras no hasteais do túnel (nalguns troços do metropolitano, existem tambem cabos de média tensão em esteiras)
Sugere-se assim o envio pelo metropolitano a todas as empresas de sondagens em atividade de uma comunicação referindo os riscos existentes nas sondagens junto do túnel, e com as seguintes recomendações:
- contacto prévio com o metropolitano, preferencialmente por email dirigido aos serviços de edificações ou aos serviços de relações públicas, solicitando, caso a caso, a localização do tunel
- equipamento das furadoras com sondas que, ao encontrar um vazio, suspendam a furação e evitem a queda da sonda
- estudo prévio do plano de sondagens, dando atenção não só à planta do tunel, mas tambem à sua profundidade relativamente à superficie, controlando, sobre o desenho com a secção do tunel, o angulo de perfuração a aplicar à sonda.
Segundo tema: O artigo da Metro com vida nº1 de janeiro-março de 2011 sobre as acessibilidades no Metropolitano
A revista Metro com Vida nº1 inseriu um atrativo artigo sobre o projeto das acessibilidades no metropolitano que, precisamente por ser atrativo, poderá induzir em erro os leitores, levando-os a pensar que o esforço dos colegas que se dedicam a este projeto tem sido coroado de exito.
Infelizmente não tem sido assim.
De há muito que se tenta dinamizar uma série de atividades, sistematizadas de acordo com a legislação, que por sua vez transpõe as diretivas europeias, sem que os progressos sejam visíveis, apesar do entusiasmo e dedicação dos referidos colegas, nomeadamente a coordenadora do tema.
Excetua-se a colocação das faixas amarelas pedo-táteis no bordo dos cais e, mesmo assim, há a assinalar que não foi possível, nas estações em acabamentos, incluir esse pavimento em material cerâmico, mais resistente do que os atuais tapetes de borracha com pequenas calotes esféricas.
Os projetos referidos no artigo vêem o seu desenvolvimento arrastar-se há vários anos, de modo frustrante, tal como os processos de instalação de elevadores nas 14 estações não equipadas de origem, sem que se tenha conseguido assinar o protocolo de colaboração com o próprio INR (Instituto nacional de reabilitação).
Infelizmente, com base numa análise económica e utilizando o argumento de que em caso de incendio na galeria o metropolitano não garantiria a evacuação das pessoas com mobilidade reduzida (salvo melhor opinião, são as próprias pessoas e não uma entidade estranha que tem de decidir se correm ou não esse risco), existe ainda uma corrente de opinião forte (contrariando a legislação) que propõe o transporte das pessoas com mobilidade reduzida em mini-autocarros a pedido.
Uma das ações previstas ao longo do tempo, e com a colaboração da ACAPO, é o estudo e instalação de um sistema sem fios de guiamento e informação de cegos.
Há cerca de 8 anos, uma empresa de software propôs um sistema com base em emissores bluetooth nos acessos das estações que ativariam o telemóvel do cego seguindo-se, através do programa Symbian, a ligação a uma base de dados com a informação pertinente relativa à estação.
A empresa acabou por perder o interesse dada a falta de resposta do ML, cujos técnicos deveriam preparar a informação para essa base de dados.
Posteriormente, apareceram alguns sistemas semelhantes mas que não pareceram ter funcionalidades adequadas.
Tentou-se ainda uma parceria com a Fundação de Ciencias e Tecnologia para desenvolvimento com o IST de um sistema ultra-sónico com referenciação do tipo GPS (teria a vantagem de guiar o cego sem as soluções de continuidade que existem no caso dos postos discretos de emissores blue-tooth), mas o juri de seleção não aprovou a proposta.
Foi assim com muito prazer que tomei conhecimento de que os centros comerciais Colombo e Norte-Shopping puseram em serviço o sistema Guio, disponibilizando seis aparelhos móveis, com um investimento total da ordem de 150.000 euros.
Este sistema consiste em emissores fixos de blue-tooth que ativam o aparelho móvel, identificam o local e enviam para os móveis a informação do local.
O aparelho móvel que recebe a informação tem a possibilidade de indicar os pontos cardeais e assim permitir ao cego orientar-se e saber que lojas ou acessos se localizam em redor.
No caso do ML, seria necessário um exaustivo levantamento do existente nas estações.
Poderá ver-se alguma informação nos sítios da empresa Moniz Dias, que desenvolveu o projeto:
Nestas condições, sem prejuízo de eventual desenvolvimento de um sistema ultra-sónico de referenciação acima referido, incluindo instalação de “totens” em pontos fixos de informação para disponibilização de maiores quantidades de informação via “Braille” ou áudio, sugere-se contacto com a ACAPO e a firma Moniz Dias para eventual instalação de protótipo numa estação do ML.
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Cesário Verde - o sentimento de um ocidental
A RTP2 tem agora o hábito de, precedendo o noticiário, apresentar um poema.
Lembro-me, na aula de Português, como me impressionou o sentimento de um ocidental, de Cesário Verde, quando fala nas varinas que embalam nas canastras os filhos que depois naufragam nas tormentas, e descalças nas descargas de carvão (a energia é o problema fundamental da Humanidade), e apinham-se aonde o peixe podre gera focos de infeção.
Já era opressiva e angustiante a Lisboa de 1880, como agora, quando se esperava que o progresso tecnológico não apenas calçasse as varinas, mas desse a segurança e o bem estar aos seus filhos, sem senhores engravatados a explicarem-nos na televisão, muito sérios, as culpas das varinas e dos filhos.
O que mais me impressiona agora, é ver como um moço de vinte e poucos anos, passando os seus dias na loja de ferragens da família, na rua dos Bacalhoeiros, tinha a clarividencia para captar o sentimento de um ocidental em Lisboa, em plena agonia económica do fim do século.
Para ilustrar escolhi duas fotografias da atualidade, mas do outro lado do rio, junto do terminal fluvial do Barreiro.
Lisboa é o que está à volta do estuário.
Lembro-me, na aula de Português, como me impressionou o sentimento de um ocidental, de Cesário Verde, quando fala nas varinas que embalam nas canastras os filhos que depois naufragam nas tormentas, e descalças nas descargas de carvão (a energia é o problema fundamental da Humanidade), e apinham-se aonde o peixe podre gera focos de infeção.
Já era opressiva e angustiante a Lisboa de 1880, como agora, quando se esperava que o progresso tecnológico não apenas calçasse as varinas, mas desse a segurança e o bem estar aos seus filhos, sem senhores engravatados a explicarem-nos na televisão, muito sérios, as culpas das varinas e dos filhos.
O que mais me impressiona agora, é ver como um moço de vinte e poucos anos, passando os seus dias na loja de ferragens da família, na rua dos Bacalhoeiros, tinha a clarividencia para captar o sentimento de um ocidental em Lisboa, em plena agonia económica do fim do século.
Para ilustrar escolhi duas fotografias da atualidade, mas do outro lado do rio, junto do terminal fluvial do Barreiro.
Lisboa é o que está à volta do estuário.
I
AVE-MARIAS
Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.
O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba-me;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.
Batem os carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, Sampetersburgo, o mundo!
Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga, os mestres carpinteiros.
Voltam os calafates, aos magotes,
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos,
Embrenho-me a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.
E evoco, então, as crónicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!
E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinido de louças e talheres
Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.
Num trem de praça arengam dois dentistas;
Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!
Vazam-se os arsenais e as oficinas;
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.
Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.
Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção!
II
NOITE FECHADA
Toca-se às grades, nas cadeias. Som
Que mortifica e deixa umas loucuras mansas!
O Aljube, em que hoje estão velhinhas e criancas,
Bem raramente encerra uma mulher de "dom"!
E eu desconfio, até, de um aneurisma
Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes;
À vista das prisões, da velha Sé, das Cruzes,
Chora-me o coração que se enche e que se abisma.
A espaços, iluminam-se os andares,
E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos
Alastram em lençol os seus reflexos brancos;
E a Lua lembra o circo e os jogos malabares.
Duas igrejas, num saudoso largo,
Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero:
Nelas esfumo um ermo inquisidor severo,
Assim que pela História eu me aventuro e alargo.
Na parte que abateu no terremoto,
Muram-me as construções rectas, iguais, crescidas;
Afrontam-me, no resto, as íngremes subidas,
E os sinos dum tanger monástico e devoto.
Mas, num recinto público e vulgar,
Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras,
Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras,
Um épico doutrora ascende, num pilar!
E eu sonho o Cólera, imagino a Febre,
Nesta acumulação de corpos enfezados;
Sombrios e espectrais recolhem os soldados;
Inflama-se um palácio em face de um casebre.
Partem patrulhas de cavalaria
Dos arcos dos quartéis que foram já conventos;
Idade Média! A pé, outras, a passos lentos,
Derramam-se por toda a capital, que esfria.
Triste cidade! Eu temo que me avives
Uma paixão defunta! Aos lampiões distantes,
Enlutam-me, alvejando, as tuas elegantes,
Curvadas a sorrir às montras dos ourives.
E mais: as costureiras, as floristas
Descem dos magasins, causam-me sobressaltos;
Custa-lhes a elevar os seus pescoços altos
E muitas delas são comparsas ou coristas.
E eu, de luneta de uma lente só,
Eu acho sempre assunto a quadros revoltados:
Entro na brasserie; às mesas de emigrados,
Ao riso e à crua luz joga-se o dominó.
III
AO GÁS
E saio. A noite pesa, esmaga. Nos
Passeios de lajedo arrastam-se as impuras.
Ó moles hospitais! Sai das embocaduras
Um sopro que arrepia os ombros quase nus.
Cercam-me as lojas, tépidas. Eu penso
Ver círios laterais, ver filas de capelas,
Com santos e fiéis, andores, ramos, velas,
Em uma catedral de um comprimento imenso.
As burguesinhas do Catolicismo
Resvalam pelo chão minado pelos canos;
E lembram-me, ao chorar doente dos pianos,
As freiras que os jejuns matavam de histerismo.
Num cutileiro, de avental, ao torno,
Um forjador maneja um malho, rubramente;
E de uma padaria exala-se, inda quente,
Um cheiro salutar e honesto a pão no forno.
E eu que medito um livro que exacerbe,
Quisera que o real e a análise mo dessem;
Casas de confecções e modas resplandecem;
Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe.
Longas descidas! Não poder pintar
Com versos magistrais, salubres e sinceros,
A esguia difusão dos vossos reverberos,
E a vossa palidez romântica e lunar!
Que grande cobra, a lúbrica pessoa,
Que espartilhada escolhe uns xales com debuxo!
Sua excelência atrai, magnética, entre luxo,
Que ao longo dos balcões de mogno se amontoa.
E aquela velha, de bandós! Por vezes,
A sua traîne imita um leque antigo, aberto,
Nas barras verticais, a duas tintas. Perto,
Escarvam, à vitória, os seus mecklemburgueses.
Desdobram-se tecidos estrangeiros;
Plantas ornamentais secam nos mostradores;
Flocos de pós-de-arroz pairam sufocadores,
E em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros.
Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes
Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco;
Da solidão regouga um cauteleiro rouco;
Tornam-se mausoléus as armações fulgentes.
"Dó da miséria!... Compaixão de mim!..."
E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso,
Pede-me sempre esmola um homenzinho idoso,
Meu velho professor nas aulas de Latim!
IV
HORAS MORTAS
O tecto fundo de oxigénio, de ar,
Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;
Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras,
Enleva-me a quimera azul de transmigrar.
Por baixo, que portões! Que arruamentos!
Um parafuso cai nas lajes, às escuras:
Colocam-se taipais, rangem as fechaduras,
E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos.
E eu sigo, como as linhas de uma pauta
A dupla correnteza augusta das fachadas;
Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas,
As notas pastoris de uma longínqua flauta.
Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
Esqueço-me a prever castíssimas esposas,
Que aninhem em mansões de vidro transparente!
Ó nossos filhos! Que de sonhos ágeis,
Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!
Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas,
Numas habitações translúcidas e frágeis.
Ah! Como a raça ruiva do porvir,
E as frotas dos avós, e os nómadas ardentes,
Nós vamos explorar todos os continentes
E pelas vastidões aquáticas seguir!
Mas se vivemos, os emparedados,
Sem árvores, no vale escuro das muralhas!...
Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas
E os gritos de socorro ouvir, estrangulados.
E nestes nebulosos corredores
Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas;
Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas,
Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.
Eu não receio, todavia, os roubos;
Afastam-se, a distância, os dúbios caminhantes;
E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,
Amareladamente, os cães parecem lobos.
E os guardas que revistam as escadas,
Caminham de lanterna e servem de chaveiros;
Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros,
Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas.
E, enorme, nesta massa irregular
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés, de fel, como um sinistro mar!
(Em Portugal a Camões, publicação extraordinária
do Jornal de Viagens do Porto, no dia 10 de Junho de 1880)
Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.
O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba-me;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.
Batem os carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, Sampetersburgo, o mundo!
Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga, os mestres carpinteiros.
Voltam os calafates, aos magotes,
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos,
Embrenho-me a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.
E evoco, então, as crónicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!
E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinido de louças e talheres
Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.
Num trem de praça arengam dois dentistas;
Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!
Vazam-se os arsenais e as oficinas;
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.
Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.
Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção!
II
NOITE FECHADA
Toca-se às grades, nas cadeias. Som
Que mortifica e deixa umas loucuras mansas!
O Aljube, em que hoje estão velhinhas e criancas,
Bem raramente encerra uma mulher de "dom"!
E eu desconfio, até, de um aneurisma
Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes;
À vista das prisões, da velha Sé, das Cruzes,
Chora-me o coração que se enche e que se abisma.
A espaços, iluminam-se os andares,
E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos
Alastram em lençol os seus reflexos brancos;
E a Lua lembra o circo e os jogos malabares.
Duas igrejas, num saudoso largo,
Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero:
Nelas esfumo um ermo inquisidor severo,
Assim que pela História eu me aventuro e alargo.
Na parte que abateu no terremoto,
Muram-me as construções rectas, iguais, crescidas;
Afrontam-me, no resto, as íngremes subidas,
E os sinos dum tanger monástico e devoto.
Mas, num recinto público e vulgar,
Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras,
Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras,
Um épico doutrora ascende, num pilar!
E eu sonho o Cólera, imagino a Febre,
Nesta acumulação de corpos enfezados;
Sombrios e espectrais recolhem os soldados;
Inflama-se um palácio em face de um casebre.
Partem patrulhas de cavalaria
Dos arcos dos quartéis que foram já conventos;
Idade Média! A pé, outras, a passos lentos,
Derramam-se por toda a capital, que esfria.
Triste cidade! Eu temo que me avives
Uma paixão defunta! Aos lampiões distantes,
Enlutam-me, alvejando, as tuas elegantes,
Curvadas a sorrir às montras dos ourives.
E mais: as costureiras, as floristas
Descem dos magasins, causam-me sobressaltos;
Custa-lhes a elevar os seus pescoços altos
E muitas delas são comparsas ou coristas.
E eu, de luneta de uma lente só,
Eu acho sempre assunto a quadros revoltados:
Entro na brasserie; às mesas de emigrados,
Ao riso e à crua luz joga-se o dominó.
III
AO GÁS
E saio. A noite pesa, esmaga. Nos
Passeios de lajedo arrastam-se as impuras.
Ó moles hospitais! Sai das embocaduras
Um sopro que arrepia os ombros quase nus.
Cercam-me as lojas, tépidas. Eu penso
Ver círios laterais, ver filas de capelas,
Com santos e fiéis, andores, ramos, velas,
Em uma catedral de um comprimento imenso.
As burguesinhas do Catolicismo
Resvalam pelo chão minado pelos canos;
E lembram-me, ao chorar doente dos pianos,
As freiras que os jejuns matavam de histerismo.
Num cutileiro, de avental, ao torno,
Um forjador maneja um malho, rubramente;
E de uma padaria exala-se, inda quente,
Um cheiro salutar e honesto a pão no forno.
E eu que medito um livro que exacerbe,
Quisera que o real e a análise mo dessem;
Casas de confecções e modas resplandecem;
Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe.
Longas descidas! Não poder pintar
Com versos magistrais, salubres e sinceros,
A esguia difusão dos vossos reverberos,
E a vossa palidez romântica e lunar!
Que grande cobra, a lúbrica pessoa,
Que espartilhada escolhe uns xales com debuxo!
Sua excelência atrai, magnética, entre luxo,
Que ao longo dos balcões de mogno se amontoa.
E aquela velha, de bandós! Por vezes,
A sua traîne imita um leque antigo, aberto,
Nas barras verticais, a duas tintas. Perto,
Escarvam, à vitória, os seus mecklemburgueses.
Desdobram-se tecidos estrangeiros;
Plantas ornamentais secam nos mostradores;
Flocos de pós-de-arroz pairam sufocadores,
E em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros.
Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes
Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco;
Da solidão regouga um cauteleiro rouco;
Tornam-se mausoléus as armações fulgentes.
"Dó da miséria!... Compaixão de mim!..."
E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso,
Pede-me sempre esmola um homenzinho idoso,
Meu velho professor nas aulas de Latim!
IV
HORAS MORTAS
O tecto fundo de oxigénio, de ar,
Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;
Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras,
Enleva-me a quimera azul de transmigrar.
Por baixo, que portões! Que arruamentos!
Um parafuso cai nas lajes, às escuras:
Colocam-se taipais, rangem as fechaduras,
E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos.
E eu sigo, como as linhas de uma pauta
A dupla correnteza augusta das fachadas;
Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas,
As notas pastoris de uma longínqua flauta.
Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
Esqueço-me a prever castíssimas esposas,
Que aninhem em mansões de vidro transparente!
Ó nossos filhos! Que de sonhos ágeis,
Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!
Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas,
Numas habitações translúcidas e frágeis.
Ah! Como a raça ruiva do porvir,
E as frotas dos avós, e os nómadas ardentes,
Nós vamos explorar todos os continentes
E pelas vastidões aquáticas seguir!
Mas se vivemos, os emparedados,
Sem árvores, no vale escuro das muralhas!...
Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas
E os gritos de socorro ouvir, estrangulados.
E nestes nebulosos corredores
Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas;
Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas,
Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.
Eu não receio, todavia, os roubos;
Afastam-se, a distância, os dúbios caminhantes;
E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,
Amareladamente, os cães parecem lobos.
E os guardas que revistam as escadas,
Caminham de lanterna e servem de chaveiros;
Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros,
Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas.
E, enorme, nesta massa irregular
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés, de fel, como um sinistro mar!
(Em Portugal a Camões, publicação extraordinária
do Jornal de Viagens do Porto, no dia 10 de Junho de 1880)
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