Um pouco de teoria da Segurança Social
Métodos principais de financiamento:
1 – capitalização
virtual – o dinheiro para as reformas e para a cobertura dos riscos sociais
é obtido a partir de fundos de pensões e da capitalização de contribuições
individuais (o que um reformado recebe deriva dos juros das suas contribuições)
2 – repartição ou
“pay as you go” – as reformas e a
cobertura dos riscos são pagas com o dinheiro das contribuições das empresas e
dos trabalhadores ativos (o que um reformado recebe deriva das contribuições
das empresas e dos trabalhadores que estão no ativo durante o seu período de
sobrevivência).
Ditas as coisas assim, parecerá que um sistema de
financiamento não deverá ser nem um ou outro isoladamente, mas antes uma fusão
dos dois.
Porém, a teoria oficial diz que o sistema atual é apenas
“pay as you go”, o que estimula a reação primária dum conflito geracional
(serem os jovens trabalhadores, vitimas do desemprego que fixa os salários em
baixo, que são cada vez menos devido à baixa da natalidade, a sustentar cada
vez mais velhos reformados que nunca mais
morrem porque a medicina preventiva progrediu).
Admitindo que o sistema é exclusivamente “pay as you go”,
fica a dúvida, tendo o sistema de segurança social sido superavitário até aos
anos da crise internacional de 2008 (coincidência que faz desconfiar das
manipulações internacionais das taxas de juro e das criações virtuais dos
tóxicos financeiros), para onde terão ido os juros desses rendimentos obtidos
com as contribuições dos reformados de agora, uma vez que as reformas dos
reformados de então eram pagas com as contribuições dos ativos que estão agora
reformados (e cujas contribuições eram mais do que as reformas pagas aos
reformados de então). Da dúvida nasce a hipótese, e a hipótese é a de serem as
pensões que estão a pagar a recuperação financeira de modo a que tudo volte ao
mesmo, isto é, “business as usual”.
Também nasce uma interrogação perante esta dependência
exclusiva do “pay as you go”. É que se é
assim, porque estão os atuais governantes tão contentes com a exportação de mão
de obra qualificada? É que deixam de contribuir para a Segurança Social
portuguesa e vão pagar as reformas dos estrangeiros idosos (valha a verdade que
poderemos recuperar alguma coisa se os convencermos a virem passar o inverno ao
Algarve, perdendo novamente dinheiro porque eles vão consumir produtos
agrícolas importados da América do Sul e peixe do Vietnam).
Mas dando de barato aos senhores governantes da atualidade
que acham que o sistema de segurança social não tem nada de capitalização e que
a única fonte é a atual TSU, analisemos o que se pode fazer para aumentar as
receitas do sitema “pay as you go”, ou
melhor, para diminuir a despesa
pública com as pensões e prestações sociais:
1 – aumentar o PIB e
diminuir o consumo total da população (ou a taxa de crescimento do PIB deve
ser superior à taxa de crescimento do consumo da população);
2 – aumentar o total
da população (natalidade e imigração) e
diminuir o número de pensionistas (ou a taxa de crescimento da população
deve ser superior à taxa de crescimento dos pensionistas);
3 – diminuir o nível de vida relativo dos pensionistas (ou a taxa de variação do consumo total da população por habitante deverá ser
maior do que a taxa de variação do consumo dos pensionistas por pensionista), definido como a relação entre o consumo médio dos pensionistas pelo consumo médio da população total
Como se sabe, os atuais governantes só aplicam as medidas
restritivas, como seja reduzir os encargos com pensionistas e prestações
sociais, tendo nota negativa (que diabo, a nota é mesmo negativa, já estão no
governo há dois longos anos) porque as taxas crescem em sentido desfavorável
nas alíneas 1 e 2 e a diminuição do nível de vida da alínea 3 tem sido brutal.
Isto é, não só são parciais na escolha das medidas a aplicar
para reduzir as despesas públicas (analogamente ao que se passa com os
impostos: “em Portugal os ricos não pagam impostos - João César das Neves,
em “As 10 questões da crise”,
ed.D.Quixote), como também não conseguem controlar a evolução das variáveis
desfavoráveis.
Ignoram os senhores governantes deliberadamente, e muitos
comentadores da praça pública, possivelmente por deformação ideológica, as
outras medidas, aumento da natalidade, da imigração (alínea 2) e do PIB (alínea 1).
Compreende-se, porque aumentar a natalidade e a imigração
requer medidas contra o desemprego, e isso os atuais governantes só dizem que
vão fazer, mas não fazem porque um dos objetivos da política europeia é conter
a inflação a todo o custo, e isso faz-se com desemprego.
Quanto ao aumento do PIB, é fatal, é a única solução para o
caso atual, sendo que isso significa investimento, privado ou público, como
quiserem, mas investimento (a obrigatoriedade de fatura e sua fiscalização
contribui para isso através do alargamento da base tributária, mas deconfio que
a ideia do governo é mais aumentar a receita fiscal do que aumentar o PIB, que
era o essencial).
É uma pena estas coisas não serem analisadas com lógica
matemática, em frente da fórmula que traduz os fenómenos, e com monitorização da evolução de todos os
fatores, especialmente das taxas que, sendo quocientes, são conceitos de mais
difícel apreensão, em valor absoluto e em valor relativo. Mas nós,
portugueses, com a rejeição conhecida à matemática, preferimos a discussão
emotiva e infundamentada.
A fórmula que refiro pode ser estudada no livrinho da
Fundação Francisco Manuel dos Santos, “Segurança Social, o futuro hipotecado”,
de Fernando Ribeiro Mendes:
despesa pública com a
segurança social = (consumo da
população/PIB) x
(nºde pensionistas/população) x
((consumo dos pensionistas/nºde
pensionistas)/(consumo
da população/população))
PS em 19 de junho de 2013 - Graças aos emails que os amigos enviam, posso corrigir uma afirmação supra. A Segurança Social portuguesa tem efetivamente uma componente de capitalização, que é o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social, gerido pelo Instituto de Gestão dos Fundos de Capitalização da Segurança Social. Em fins de 2011 (já com o atual governo em funções) o seu montante era de 8.872 milhões de euros.
Neste momento, o atual governo prepara-se para vender títulos de dívida estrangeiros deste fundo e trocá-los por certificados de aforro. Trata-se de mais uma medida que el coloquial se pode classificar como de "chico-esperto", sem consultar quem descontou ao longo da sua carreira contributiva para esse fundo.
Também contra a ideia do conflito intergeracional ou entre reformados do público e do privado, convirá sublinhar que a Segurança Social paga tambem as reformas por invalidez (não contributivas) devida a acidente quer o trabalhador seja do setor público quer seja do setor privado.
Mas enfim, está a população submetida à propaganda desinformativa intensa do governo
Neste momento, o atual governo prepara-se para vender títulos de dívida estrangeiros deste fundo e trocá-los por certificados de aforro. Trata-se de mais uma medida que el coloquial se pode classificar como de "chico-esperto", sem consultar quem descontou ao longo da sua carreira contributiva para esse fundo.
Também contra a ideia do conflito intergeracional ou entre reformados do público e do privado, convirá sublinhar que a Segurança Social paga tambem as reformas por invalidez (não contributivas) devida a acidente quer o trabalhador seja do setor público quer seja do setor privado.
Mas enfim, está a população submetida à propaganda desinformativa intensa do governo
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