Que os senhores administradores tiveram de roubar tempo à tarefa insana de preparar os concursos de concessão (não eram os consultores que estavam a fazer o caderno de encargos? ou os consultores andavam a perguntar nas empresas o que deviam escrever no concurso? ).
Entretanto, a propósito de uma notícia, talvez espúria, mas notícia, de que motoristas da Carris desmaiavam em serviço, as caixas de comentários dos jornais que a transmitiram encheram-se dos habituais apelos um pouco primários de "privatização já".
Com ou sem fundamento a notícia requeria investigação séria por parte da Carris e informação fidedigna à população se são ou não cumpridos os procedimentos de segurança de monitorização das condições psicotécnicas e de saúde dos motoristas.
Qualquer empresa de transportes deve ter ou pagar um serviço de medicina de trabalho e de assistencia social que vigie constantemente as condições dos seus profissionais.
Isso custa dinheiro e é incompatível com a política dos cortes.
Mas depois não se admirem.
E não se esqueçam de culpar liminarmente (e portanto, de forma um pouco primária), atribuindo as culpas do acidente a "falha humana".
Como se fez com o acidente de Schellebelle na Bélgica, de Génova com o Jolly Nero, e agora com o acidente ferroviário em Rostov (claro, se poupam no pessoal que faz a manutenção das agulhas e no que faz a manutenção das válvulas dos vagões de transporte de produtos químicos, é natural que haja acidentes).
Vale a pena interrogarmo-nos se os senhores governantes têm ou não consciencia da sua temeridade ao esperar que uma gestão privada leva em consideração estas preocupações de segurança.
Especialmente numa altura em que a própria TST vem explicar que tem um prejuizo de 5,5 milhões de euros por lhe "desviarem" verbas dos passes sociais.
Ou como quem diz que a gestão privada faz tudo melhor desde que o Estado lhe pague bem (claro, faz o papel dela, obter lucros).
Repito, agora na certamente vã esperança de que o assunto seja discutido com números e factos, os cálculos de:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2012/10/dedicado-ao-senhor-secretario-de-estado.html
destacando as conclusões:
1 - a renda paga pelo concessionário deverá ser superior à diferença entre a nova compensação indemnizatória e a antiga; caso contrário a concessão não tem interesse económico para o Estado (chama-se a atenção que um concessionário deve pagar uma renda ao proprietário das infraestruturas que explora, embora seja estranho que depois lhe peça uma indemnização compensatória);
2 - os resultados operacionais com a gestão privada deverão (sem o que a concessão não tem interesse económico para o Estado) exceder os resultados operacionais com a anterior gestão pública no valor da soma:
·
do lucro
·
com a diferença entre o investimento publico e privado depois
e antes da concessão, descontando o valor da indemnização compensatória
anterior à concessão (mas incluindo o serviço da eventual aquisição da dívida
pública acumulada anterior).
- reduzir a despesa operacional (reduzindo salários, o quadro de pessoal ou a manutenção, ou subcontratando pessoal ou manutenção precários, por exemplo)
- aumentar a receita (aumento de tarifas, agravamento dos custos da circulação automóvel)
- minimizar os investimentos (adiar melhorias)
Em resumo, desprezando serviço de dívida, o lucro deverá ser inferior à soma da indemnização compensatória anterior com a diferença entre os resultados operacionais depois e antes da concessão a privados
Mas enfim, reconheço que o problema é complexo, não pode ser tratado de forma pouco primária nem acreditando em dogmas ou em contos de fadas; ou melhor, poder pode, as consequencias é que podem ser graves.
Aguardemos.
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