Localização da torre de controle e zona de inversão no porto de Genova; assinala-se a existencia de depósitos de combustível demasiado próximos da linha de água |
Registo da rota do Jolly Nero:
http://www.youtube.com/watch?v=iiNRB__Ang4
http://www.youtube.com/watch?v=iiNRB__Ang4
Animação da rota correta e da rota de colisão:
Manobra do Jolly Nero
– O navio percorreu o canal em marcha à ré, apoiado por um rebocador à popa
e por outro na proa. Os rebocadores não têm por missão rebocar o navio, mas
apenas acompanhar a manobra e suster o navio. A tração deste e as ordens de manobra competem ao navio, com um piloto
do porto na sua torre de comando. Os navios mais modernos, que dispõem de
hélices de proa (para manobrabilidade) e hélices principais azimutais
(orientáveis) não necessitam do acompanhamento de dois rebocadores. De acordo
com os registos de localização dos três barcos durante a manobra de marcha à
ré, parece que o rebocador da proa “deixou ir” o Jolly Nero sem que o piloto a
bordo deste tivesse interrompido a manobra. O rebocador de popa, ao verificar
que a popa do Jolly Nero se aproximava demasiado da torre de controle foi
impotente para segurá-lo, até porque, por regulamento, devia aguardar a ordem
de tração. O rebocador de proa parece não ter o cabo ligado (sublinho “parece”).
Aparentemente (sublinho “aparentemente” porque a velocidade registada era
inferior à regulamentar) terá havido excesso de confiança na manobra de marcha à
ré, gerando-se o acidente por acumulação de duas circunstancias: 1) falha de
comunicações, sem disponibilidade de meios alternativos rápidos, entre a ponte
de comando do Jolly Nero e o rebocador de popa; 2) demora da operação de
inversão do sentido de marcha dos motores do Jolly Nero (exige paragem dos
motores em marcha à ré e atuação de ar comprimido para arranque do motor no sentido
da vante).
O arranque dos
motores falhou na primeira tentativa, pelo que a popa do navio colidiu, de
esquina, com o cais sobre estacas e, eventualmente galgando o cais, com os
pilares do edifício acoplado à torre de controle. Apesar da velocidade ser muito
baixa (5,4 km/h ),
a massa do Jolly Nero (40.000 toneladas), o facto da colisão se ter dado com a
esquina da popa (o que aumenta a pressão = força por unidade de superfície), e
o facto do cais artificial estar assente
em estacaria e o edifício ter os pilares muito perto da linha de água (pilares não dimensionados ao corte para suportar uma força destas) contribuiram para a gravidade do desastre.
I
o Jolly Nero depois do acidente; a popa aloja a carga ro-ro (rodoviária) |
a forma do casco na popa sugere que poderá ter havido galgamento dos módulos de cais |
os danos na popa são menores, provavelmente por a colisão se ter dado em esquina |
Recomendações - Independentemente dos inquéritos regulamentares, destaque-se
a debilidade do projeto ao não fazer uma análise de riscos da proximidade da
torre de controle da zona de inversão de marcha (recordo que só é possivel
inscrever um círculo de 500 m
de diâmetro para os navios de 300m de comprimento rodarem de modo a saírem a
barra de proa. Essa análise de riscos concluiria que a estacaria do cais
artificial deveria suportar esforços maiores de corte ou ter capacidade de
absorver os choques sem transmitir a vibração aos pilares, ou, pelo menos,
estar protegida por enrocamento (ver, por exemplo a torre de controle do porto
de Pedrouços em Lisboa). Assinale-se a presença de depósitos de combustível demasiado próximos da linha de água, sem proteção de enrocamento.
Anote-se ainda a obsolescência do JollyNero, que não dispõe nem de
hélices de proa nem de hélices principais azimutais. Falta, apesar de grandes
progressos já verificados internacionalmente, nomeadamente ao nível das comunicações, da localização de navios, da obrigatoriedade de duplo casco nos petroleiros,
uma normalização mais rigorosa no domínio da segurança. No caso de portos
saturados como este, penso que deveria privilegiar-se o uso de navios de sentido
duplo para dispensar a manobra de virar de proa e facilitar as manobras de saída do porto.
Conclusão - Enfim, provavelmente teremos as conclusões habituais de
sacrifício dos executantes, enquanto as medidas preventivas de projeto e gestão
só muito lentamente se vão impondo, e por vezes com retrocesso por
considerações de economia a curto prazo (que deveria ser sempre comparada com
as mortes provocadas por não serem aplicadas as correspondentes medidas preventivas, embora se compreenda que a competitividade dos portos no negócio internacional pode conduzir à redução dos custos de segurança).
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