Uma situação explosiva
Com a devida vénia, retiro do Diario de Notícias de 2 de Janeiro de 2010 a descrição duma situação explosiva, com números do Banco de Portugal.
Provavelmente existe aqui uma analogia com a pólvora. O nitrato não explode sem um poucochinho de enxofre e outro de carvão.
Já temos o nitrato da dívida externa a que juntámos o enxofre da criminalidade/desemprego/insucesso escolar. Resta misturar o carvão que se deixa à imaginação do utilizador.
1 - Dívida da banca nacional ao estrangeiro (não esquecer que a banca pede empréstimos ao estrangeiro para emprestar aos cidadãos portugueses a uma taxa superior):
em Setembro de 2009: 47% do PIB (vá que em Setembro de 2008 era 55%;
PIB à volta de 160000 milhões de euros)
2 – Dívida pública ao estrangeiro (venda de títulos por exemplo):
em Setembro de 2009: 53% do PIB (mal que em Setembro de 2008 era 45% e
que em Dezembro de 2009 é capaz de ser 80%)
3 – Dívida das empresas privadas ao estrangeiro:
em Setembro de 2009: 12% do PIB (mal que em Setembro de 2008 eram
credoras de 0,5%)
4 – Dívida total externa:
em Setembro de 2009: 112% do PIB (mal que em Setembro de 2008 era 94%)
5 – Défice externo (importações-exportações):
em Outubro de 2009: 7% do PIB (vá que em Outubro de 2008 era 9%)
6 - Juros da dívida pagos em 2009 pela administração pública:
5000 milhões de euros (3% do PIB)
7 – Dívida das empresas públicas:
50000 milhões de euros
8 – Dívida de Estradas de Portugal, CP, Metro de Lisboa, Metro do Porto:
25000 milhões de euros
9 – Total de depósitos de cidadãos portugueses em contas “off-shore”:
16000 milhões de euros (excluídas movimentações com
sobrefaturações de falsas empresas, tipo operação furacão;
por curiosidade, o governo holandês recebeu dos seus
concidadãos, como declaração de depósitos “off-shore”, cerca
de 1600 milhões de euros)
10 – Considerando os 4600 milhões de euros movimentados pelo Multibanco em Dezembro de 2009 e os 16000 milhões de euros em “off-shores”, verifica-se que será mais uma questão de desequilíbrio distributivo e de mecanismos institucionais paralisantes do que de insuficiência de dinheiro para investimentos reprodutivos
11 – Moral da história:
Devíamos aplicar os métodos de abordagem dos problemas coletivos descritos na “Sabedoria das Multidões”. Parafraseando o autor, nenhum de nós tem uma solução para isto melhor do que o conjunto de todos nós. Apoiam?
Nota: A extensão das minhas limitações na compreeensão dos mecanismos contabilisticos faz-me passar vergonhas destas (a ideia dos especialistas também é não deixar que os leigos comentem estas coisas, porque os comentários acabam sempre em: "se os especialistas não são ignorantes, porque deixaram as coisas chegar a este ponto?") . No ponto 4, eu pensaria que a dívida total externa seria a soma das parcelas anteriores. Mas os números do Banco de Portugal não são 112% do PIB mas sim 108.9% do PIB (em Setembro de 2009), de modo a resultar o célebre indicador do défice , que em Setembro de 2009 seria de 8,9% do PIB. Assim, isto parece um pouco nebuloso. Vou ter de me informar como é que se calcula o PIB e o défice.
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