terça-feira, 7 de setembro de 2010

Terra arável

Segundo o INE, em 1968 o país dispunha de 1,9 milhões de hectares de superfícies agrícolas com menos de 20 ha e 3,1 milhões de hectares de superficies agrícolas com mais de 20 ha.

Total de terra arável em 1968:  5,0 milhões de hectares  (área do país: 8,9 milhões de ha)

Em 2007, o país tinha 0,85 milhões de hectares de superfícies agrícolas com menos de 20 ha e 2,62 milhões de hectares de superficies agrícolas com mais de 20 ha.

Total de terra arável em 2007: 3,5 milhões de hectares.

Isto é, deixaram-se ao abandono 1,5 milhões de hectares num país que importa 80% de alimentos.
Ouvi há anos um senhor político muito contentinho porque em Portugal, como nos países civilizados, a percentagem de população rural estava a diminuir.
E a eficiencia na produção alimentar também.
É interessante observar que de 1968 para 1979 a área de superficies agricolas com mais de 20 hectares subiu de 3,0 para 3,3), para no decénio seguinte cair abruptamente (para 2,5 milhões).
A perceção que a população urbana teve através da comunicação social foi a de que a reforma agrária tinha deixado as terras ao abandono.
A realidade estatística porém, diz que em 1979 (3,3 milhões de ha) começaram as devoluções de terras por força da lei e em 1989 a superficie trabalhada era apenas de 2,5 milhões de hectares.
Segundo o blogue
http://reforma-agraria.blogs.sapo.pt/692.html
só no distrito de Évora a área de produção agrícola atingiu 1,15 milhões de hectares.


O facto tem muito interesse para ilustrar como os decisores políticos criam o seu mundo próprio longe das realidades das frentes, quer se trate de agricultura (lembram-se como o anterior ministro da agricultura negou o nemátodo do pinheiro, uma coisa que toda a gente vê?) , quer se trate da educação, quer se trate da justiça.
Ainda se ao menos pusessem a ciência no mundo que eles constroem.
Mas não.
Um episódio histórico que ilustra esta psicose (construir mundos afastados da realidade não é uma doença, embora também o possa ser; é uma psicose) foi o chumbo do programa de governo do engenheiro Nobre da Costa.
Os políticos dos partidos dominantes perguntaram-lhe, com aquele ar que Eça de Queirós talvez deixasse classificar como "de conde de abranhos" (pretensioso, balofo, provinciano novo-rico, convencido, senhor das suas convicções mas ignorante de que não têm fundamento, de fraca cultura científica, etc) que plano tinha ele para acabar com a reforma agrária.
Ao que o senhor respondeu, com elevação e revelando que da formaçao dele fazia parte a honestidade e a cultura científica: primeiro vamos lá ver a situação real e depois de analisada faremos propostas.
É claro que o programa foi chumbado.

Pena o tempo passar e os decisores e os politicos não aproveitarem para estudar as lições da história e aumentarem um pouco a sua cultura científica.

PS - Não queria que pensassem que esta mensagem ficou monocolor. A verdade é que a estatística do INE diz que de 1989 a 2007 a área das superficies com mais de 20 ha aumentou de 2,49 milhões de ha para 2,62 milhões de ha, indiciando que as grandes empresas se preocupam em investir, por exemplo em vinho, azeite e turismo, seguindo as recomendações de Drucker, nos anos 90. Infelizmente a area de superficies com menos de 20 ha diminuiu, de 1989 para 2007, de 1,52 milhões de ha para 0,85 milhões de ha, indiciando que as pessoas morrem e emigram (subsidiando com o valor do próprio fator de produção os paises de acolhimento) e não são substituidas, que a produção agrícola diminui, que o sistema de educação despreza a formação agricola, e que é dificil competir com os preços dos alimentos importados (ver as sugestões do professor Daniel Barbosa) .
Conclusão: provavelmente em Portugal, até porque a produtividade das terras em si é inferior à europeia, a percentagem de pessoas afetas à agricultura terá de ser sempre superior à média, contrariando o tal politico acima referido.

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