segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Viva a Republica, e a arquelogia do betão armado




Em Setubal, ao fundo da Av.Antero de Quental, junto do entroncamento com a Estrada dos Ciprestes , quem vem da A12 ou do Jumbo, vê desde há uns anos a persistente degradação de um mirante de betão armado trabalhado.

Neste momento, tem junto do muro que o separa da rua um cartaz comemorativo da fundação da Republica, o sistema da coisa pública.

Está já adornado, a borla já pendente no topo e suspensa do ferro dobrado e nu, as colunas dissovendo-se no ar marítimo.

Terá servido de posto de contemplação do senhor da quinta, protegido do sol, enquanto observava as camponesas dobradas sobre as ervas.

E o senhor da quinta estava atento à evolução das tecnologias, passava-se isso no princípio do século XX.

Teria já introduzido tratores, apesar de gostar de ver as camponesas na sua faina, e sentiu-se seduzido pelas possibilidades arquitetónicas da nova tecnologia do betão armado, em contraponto com a arquitetura do ferro, então muito apreciada graças às obras em Portugal de Eiffel e Mesnier du Ponsard.

O mirante é muito bonito, com varandas rendilhadas e escadas, consolas e telhados moldados.

Mas está a cair. A inclinação das fundações teria de ser compensada com injeções sob pressão nos terrenos, os ferros expostos tratados e recobertos, a borla endireitada.

Não caberá no pobre orçamento da cultura a classificação pelo IGESPAR, e a sua recuperação, como obra de arte feita de cimento e ferro, como exemplo de arquelogia industrial do betão armado (seria um concorrente sério ao prémio SECIL, mas provavelmente seria só isso, um tempo condicional).

É pena.

Parafraseando o antigo ministro da Cultura, poderá deixar-se cair o mirante de Setubal, mas não deveria.

Sem comentários:

Enviar um comentário