Ainda a propósito da nova temporada do S.Carlos, vão-se sabendo alguns pormenores das pequenas histórias do nosso meio cultural.
É curioso como a senhora ministra da cultura tem muito boa cotação no meio musical. Tem algum mérito nisso porque é uma excelente pianista. E se eu tomo a liberdade de discordar dos seus métodos, é porque contrariam os princípios do trabalho em grupo definidos no “Sabedoria ds multidões”, e porque utilizou abusivamente a minha condição de assinante do S.Carlos para justificar a demissão do anterior diretor. Deveria ter usado argumentos dela, não que o público do S.Carlos não gostava das produções do anterior diretor.
Mas a verdade é que a maioria dos comentadores e das pesoas ligadas à cultura têm vindo a dizer mal do anterior diretor e a manifestar muita compreensão pela nova temporada. Vão até ao ponto de dizer que as 3 produções que estavam programadas pelo anterior diretor não estavam bem preparadas (?!?!?) e não tinha programado convenientemente as duas temporadas contratuais que ainda lhe faltavam (?!?!?).
Isto é, temos muita gente do meio cultural unida em torno da sua ministra, apesar as suas decisões polémicas e muito pessoais.
Que o mesmo é dizer, com as pessoas a depender do seu apoio à política oficial do ministério, é muito difícil que o setor cultural em Portugal se desenvolva, pelo menos até o valor-objetivo de 1% do orçamento de estado.
E também não augura nada de bom o comentário em entrevista de Martin Andre, novo diretor artístico do S.Carlos (preterido há 18 anos na direção da orquestra do S.Carlos em favor do maestro Alvaro Cassuto, que, contrariamente a Martin Andre, defende a especialização da orquestra em ópera) : “A ministra deve ser uma senhora muito inspirada” .
Também não é prometedor o novo diretor vangloriar-se na entrevista dos seus métodos: “mandei instalar um relógio e uma câmara de TV no palco dos ensaios e um monitor no meu gabinete para controlar as chegadas em atraso aos ensaios”
Por outras palavras, o meio artístico da musica dita erudita também não difere muito dos outros meios em termos de verniz, nem em visões messiânicas e moralisadoras dos salvadores e das salvadoras de pátrias (que é o nome que costumamos atribuir nas nossas empresas aos detentores de soluções que não gostam de ouvir os outros).
É pena.
Tendo já tantos músicos jovens de qualidade em Portugal, é pena ver estas nuvens no horizonte. Mas pode ser que eu esteja enganado , que a senhora ministra tenha razão.
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