Quando cheguei ao átrio da biblioteca da Gulbenkian já o meu amigo lá estava, sentado comodamente num sofá a ler o livrinho que eu tinha recomendado: “os últimos 200 anos da nossa economia e os próximos 30”.
E, contrariamente ao habitual, não estava carrancudo.
Estava bem disposto, a ler o livro.
Talvez por contraste, porque um pessimista a ler este livro fica de rastos.
- É pá, afinal o livro é bom. Nem queria acreditar. Estou aqui nas medidas estratégicas para sair da crise e olha o que descobri.
E mostrou-me, na página 233, a lista das 10 principais empresas exportadoras em Portugal (como se sabe, o país precisa como de pão para a boca de exportar bens transacionáveis):
Petrogal
Autoeuropa
Soporcel
Mabor
Bosch
Portucel
Somincor
Peugeot
Repsol
Visteon
- Imagina que o conjunto destas empresas, que são as maiores exportadoras, importam mais do que exportam e têm um saldo negativo de 1.800 milhões de euros ( 1,2% do PIB)
- Quer dizer que o valor dos kits de montagem e dos acessórios que importam para montar os carros, no caso da Autoeuropa e da Peugeot, é superior ao valor acrescentado nas fábricas. Das duas uma, ou estamos a pagar muito pelos bens importados ou estão a pagar-nos pouco pelo nosso trabalho. ( 1 )
- Já dizia o Manuel Pinho quando fo i à China, que os salários em Portugal são competitivos.
- Estamos então como nas empresas de transportes. Quanto mais passageiros se transportam, maior é o prejuízo, porque as receitas não cobrem os custos de produção.
- E não será com as exportações que aumentaremos o PIB, porque as importações crescerão sempre mais, embora haja sempre a vantagem de combatermos o desemprego e criarmos receita fiscal.
- A menos que seja verdade o que diz o livrinho, que ainda há 8.000 empresas em Portugal que conseguem exportar e que é possível canalizar o esforço de exportação para a China, Angola e Brasil pela simples razão do comércio com estes 3 países ser muito reduzido. Como dizem os economistas, o que precisamos é de exportar bens transacionáveis de alto valor acrescentado ou de fatores de produção internos e renováveis.
- Ou então, como dizia o Daniel Barbosa, aumentamos as exportações de emigrantes e de turismo para equilibrar a balança de pagamentos.
- Acho que sim, mas por agora o melhor é guardarmos o livro e irmos almoçar.
E remoendo que o problema é os decisores não saberem sobre o que decidem porque a ciência está fora da equação, que não sabemos tomar decisões em conjunto e que não gostamos de nos organizar em equipas, nos encaminhámos, com passos pessimistas, para o balcão do self-service, assistido por 2 empregadas ucranianas e 2 brasileiras, e incluindo nos pratos do dia, se a estatística geral se mantinha válida nesta amostra, 80% de alimentos importados.
PS - Esta afirmação, como pode ver-se em
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/10/almoco-na-esplanada-da-gulbenkian-7.html
parece incorreta. A prevalencia das importancias sobre as exportações dever-se-á a maior retribuição do capital (lucro da Vplkswagen) do que do trabalho (mão de obra acrescentada da Auto Europa)
Sem comentários:
Enviar um comentário