Do DN de 7 de Setembro de 2011, de Vasco Graça Moura:
1- "o Governo tem agora de confrontar-se com recapitulações assassinas daquilo que foi tantas vezes afirmado pelas cúpulas partidárias, o que é muito desconfortável para quem o apoia"
2 - "torna-se evidente que as politicas de agressão fiscal direta ou indireta a uma classe média que é muito mais média baixa do que média alta ... vão ao arrepio de tudo o que tinha sido garantido"
3 - "o assalto à mão fiscal agora anunciado à queima roupa acarreta para os portugueses uma situação de escravatura intolerável (Vasco Graça Moura ter-se-á lembrado do Ouro do Reno: "Quem te deu o direito de submeteres à servidão o teu próprio irmão?") pela apropriação abusiva dos proventos do trabalho pela voracidade do Estado"
4 - "quem ganhar as eleições não pode dar o dito por não dito e o prometido por não prometido ... a maioria dos portugueses acreditou no que diziam o PSD e o CDS na campanha eleitoral e por isso votou neles"
Do DN de 8 de setembro de 2011, de Manuel Maria Carrilho:
5 - "não se põe em causa a necessidade de reduzir a dívida e o défice, mas o País precisa de um efetivo governo, não basta ter um contabilista, ainda que especialista em cobranças dificeis".
6 - "o ministro das finanças diz que não há milagres, e tem razão ... mas só uma sucessão de milagres tornaria possível ... o crescimento das exportações a 6% num contexto recessivo, a transmutação do investimento de -5,6% para +3%"
7 - "dupla ironia do destino: a ideologia do mais desbragado capitalismo chega ao poder no momento em que a crise sistémica atinge as proporções que conhecemos (como consequencia) do seu próprio paradigma"
A afirmação 4 estará relacionada com uma ameaça típica à democracia (voto dos interessados contra os seus próprios interesses) e pode ser discutida em âmbito interno; o problema a que está associada poderia ser resolvido se os portugueses ultrapassassem a sua velha doença genética de lhes ser dificil trabalhar em equipa.
Mas é dificil, não é impossivel.
Foi possivel trabalhar em equipa nalguns momentos dos governos provisórios, a seguir ao 25 de Abril.
Foi possivel a Melo Antunes trabalhar em equipa com o seu movimento das forças armadas.
Isto para não falar nos sucessos de empresas portuguesas que o DN tanto gosta de exibir. E sem esquecer, imodestamente, que apesar de muito dinheiro mal gasto (e contudo, como dizia Galileu, lembro-me de ter prescindido da aquisição de uma licença AutoCad para mim próprio, porque só a utilizaria 1 ou 2 vezes por mês e ela tinha um valor mensal; é por essas e por outras que não gosto dos cortes cegos, aplicados a quem quer que seja, independentemente do antecedente) , fazer as linhas de metropolitano que foram feitas não está ao alcance de ninguem que não trabalhe em equipa (embora esteja ao alcance de quem não é capaz de as fazer de impedir que elas se façam, isto a propósito da suspensão sine die da obra de expansão do Metro até à estação Reboleira).
E se quisermos exemplos externos, aí está a Islandia, em que a colaboração de partidos e cidadãos na resolução do problema está à vista.
Não é por falta de mecanismos democráticos legalmente expressos.
No caso islandês, o presidente da República e o Parlamento compreenderam a necessidade de envolver todas as sensibilidades na resolução do problema.
Em Portugal não; há uma incapacidade de compreensão disso por parte do senhor presidente da República, para quem os partidos mais próximos da sua ideologia e as regras económicas neoliberais se devem sobrepor à colaboração das outras sensibilidades.
É uma pena.
A afirmação 5 estará relacionada com demasiadas afirmações do senhor primeiro ministro e do senhor ministro das finanças. Dirão muitas coisas certas mas deviam moderar-se (embora eu gostasse de ouvir o senhor ministro das finanças mostrar números sobre a evolução da dívida privada, já que sobre a pública estamos conversados).
Como escrevia um comentador afeto ao partido no poder, "Por favor, não marquem mais datas para anunciar cortes".
Diz o senhor primeiro ministro: "agimos preventivamente, para fugirmos de perigos bem reais" (evidentemente que a capitalização do BPN, o buraco da Madeira e a suborçamentação dos salários e gastos de papel higiénico e de fotocópias eram perigos bem reais, mas não eram surpresas para quem vive no meio, logo não pode aplicar-se a palavra preventivamente; é a diferença dos tarifários pré-pago e pós-pago; e por favor, não volte o senhor primeiro ministro a dizer que não aumentará mais os impostos a menos que haja condicionalismos externos, primeiro porque a frase é vazia de sentido se não fornecer uma escala de medição do condicionalismo, e depois porque os ouvidos, que ainda se recordam das frases de Américo Tomás e de Garrastasu Medici, o que ouviram foi que "não faremos mais aumentos de impostos exceto aqueles que forem excecionais").
Diz o senhor ministro das finanças: "seria inaceitável pedir sacrificios aos portugueses por razões de prudencia".
O que é uma afirmação interessantissima do ponto de vista lógico, porque a prudencia pode implicar sacrificios, donde será inaceitável nesses casos ser prudente, o que poderia sugerir que nesses mesmos casos ou se deveria ser imprudente, ou nem prudente nem imprudente.
Sinceramente, antes o senhor ministro da saude, que já tem feito cortes cegos (classificação de queele não gosta) e já teve de emendar aquela infeliz afirmação sobre os transplantes, mas que vem dizer, no meio do nevoeiro das falencias dos hospitais (os hospitais podem estar em falencia? ou não receberam o dinheiro para cobrir os custos? ai estes termos ditos técnicos; gastaram demais? já escrevi neste blogue: informem-se junto dos administradores hospitalares realmente interessados que ainda existem; eles dirão onde se pode cortar) que tem ido buscar aos próprios hospitais medidas de poupança, o que é lógico, quem está nos locais de trabalho está mais dentro dos assuntos.
A afirmação 6 transcende o âmbito interno e parece só poder ser ultrapassada mediante colaboração com os BRIC e os PALOP, refiro-me às exportações.
Mas é tambem dificil, embora não impossivel.
Sem comentários:
Enviar um comentário