quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Declarações sobre o TGV em 20SET2011

Vou fazer algumas citações a propósito das declarações no dia 20SET2011 do senhor primeiro ministro e do seu ministro da Economia.
1 - "... mais do que dinheiro, precisamos de criar os incentivos e as condições necessárias para que as pessoas se fixem e permaneçam nas regiões".
2 - "... se houve alguma coisa que aproveitámos bem com a injeção milionária de fundos europeus foi a construção de infra-estruturas".
3 - "... as alterações climáticas são, sem dúvida nenhuma, um dos maiores desafios que a humanidade e a vida na terra irão enfrentar nas próximas décadas".
4 - "... economicamente, nós precisamos de mais Espanha, não de menos. Fingir o contrário é uma hipocrisia sem limites e uma ilusão sem sentido".

As citações supra estão incluidas no livro de Alvaro Santos Pereira, "Os mitos da economia portuguesa", copyright de 2007.
Não será um caso de colisão entre as criticas anteriores à nomeação como ministro e a prática ministerial, como as propostas de implosão do senhor ministro da educação que deram na continuidade do fecho de escolas, mas mesmo assim anote-se, com as mesmas referencias:
1 - uma infra-estrutura como o TGV, com paragem em Évora (o que reduz o nível de prestação na ligação Lisboa-Madrid, mas que se justifica como incentivo ao desenvolvimento do Alentejo) preenche os requisitos da sentença: é um incentivo mais valioso do que a exploração deficitária que possa vir a ter no futuro;
2 - embora a construção de auto-estradas tenha sido um exagero (não esquecer que muitas das estradas que foram contornadas pelas auto-estradas não permitiam velocidades médias superiores a 50 km/h e contribuiam gravosamente para a sinistralidade rodoviária) é curioso ler esta observação a contra-corrente do discurso habitual do atual governo; na verdade, a construção de uma rede ferroviária como infra-estrutura de ligação entre todas as regiões europeias e a transferencia do transporte rodoviário e aéreo para o ferroviário são diretrizes firmes da UE e seria bom que um governo de um país periférico não quisesse pôr em causa essas diretrizes;
3 - o que justifica a construção de uma linha de TGV para um percurso de 600 km que tem um tráfego diário de cerca de 2000 passageiros por avião não é o balanço económico, é a análise de custos-benefícios que contabiliza a redução das emissões de CO2 por a exploração do TGV ser mais eficiente energeticametne do que a via aérea; manter a situação atual com a "ponte aérea" Lisboa-Madrid é claramente estar a contribuir para o agravamento das alterações climáticas; esperar-se-ia assim entusiasmo da parte do senhor ministro como defensor do TGV;
4 - eu sugiro ao senhor primeiro-ministro e ao seu ministro da economia que se levantem um dia destes mais cedo do que de costume e vão a Santa Apolónia ou à gare do Oriente ver a partida para o Porto do Alfa um pouco antes das 7 da  manhã e vejam o movimento de pessoas que vão tratar da sua vida, não propriamente fazer turismo, e mesmo que fizessem turismo também estavam a fazer economia; é que a economia dos transportes não é só mercadorias, é também passageiros, e até os petulantes passageiros que só vão ao Porto de avião (que desperdicio energético, gastar a energia para subir e iniciar a descida antes de atingir o teto de cruzeiro) escolheriam o comboio se a viagem durasse um pouco mais de 1 hora entre centros; falo nisto só para concordar com o senhor ministro, precisamos de mais Porto e de mais Espanha, e isso não é só mercadorias, cuja linha, aliás, já estava prevista no plano da RAVE, como se pode ver no site da RAVE, por mais que o senhor secretário de estado, com o ar zangado dos decisores inseguros, diga que não. Aliás, se consultar o site da RAVE,
http://www.refer.pt/MenuPrincipal/TransporteFerroviario/AltaVelocidade/Estudos/Listagemdeestudos/tabid/686/id/170/Default.aspx
pode ver no estudo de viabilidade validado pela UE que lá estavam previstas as mercadorias, concretamente 1,5 milhões de toneladas no ano 2020 (evidentemente que se concorda com a "pressão" sobre o ministério espanhol para ligar a linha em bitola europeia à Europa, mas competirá a Espanha e a França decidir se por Irun se pelos Pirineus centrais, se pela costa mediterranica).

Parafraseando o senhor ministro, fingir que não precisamos do TGV "é uma ilusão sem sentido".

Já as afirmações do senhor ministro sobre a linha de mercadorias ou mista passageiros-mercadorias de "alta prestação" em vez de "alta velocidade" (toda a gente concorda que a bitola deve ser a europeia, mas como não é económico por razões de manutenção ter comboios de mercadorias, de peso por eixo maior e de caracteristicas de velocidade diferente com implicações na escala das curvas, na mesma via do TGV, projetram-se os dois pares de vias lado a lado na mesma plataforma), e as do senhor primeiro ministro garantindo que afinal não se vai fazer via unica (o que seria obviamente um disparate) mas vai-se em linha 4 vezes mais barata até 250 km/h sem ser TGV, porque o TGV seria deficitário por m ais fundos comunitários que nos oferecessem (deve ser influencia madeirense, o continente europeu não  tem que dizer aos valentes periféricos o que devem fazer, mesmo que entre com fundos) merecem um comentário duro, salvo melhor opinião.

Que é o de que não se devem fazer afirmações para cuja fundamentação não se tem formação ou, tendo-a, não são apresentados os cálculos e os argumentos sustentadores.
Pela maneira como fala, provavelmente o senhor primeiro ministro não leu o estudo de viabilidade e, quando diz que o TGV vai ser deficitário, não entrará em linha de conta com os benefícios indiretos ou intangíveis decorrentes da mobilidade acrescida, desde o aumento previsivel da população na região de Évora (aumento de receitas de  impostos), ao valor do tempo economizado, das toneladas de CO2 poupadas, do gás natural e petróleo poupados na produção de energia na queima do combustível dos aviões, ao fator induzido de crescimento da economia.
Talvez que se os beneficios da mobilidade e escoamento de mercadorias tivessem sido contabilizados na análise dos emprestimos de Fontes Pereira de Melo não se andasse para aí a dizer que foi dinheiro mal gasto (saberão esses críticos que era mais rápido ir de Lisboa a Bilbau de barco do que de Lisboa a Bragança por terra, antes do comboio?).
Talvez, que a dureza das cabeças das pessoas e a sua capacidade de se auto-convencerem por mais cálculos em sentido contrário que se lhes apresente, são muito grandes.

Enfim, aguardemos o anunciado Plano estrategico de transportes até ao final de Setembro (de 2011?).

Finalmente, uma curiosidade. Vejam preços de viagens em TGV em França em:
http://tgv.tgv-europe.com/en/?prex=acq_sem_def_29_sea_ww_en_gen_gen_def_0&ectrans=1


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