O DN traz na sua revista de domingo, 4 de setembro, uma reportagem sobre a educação na Finlandia, tentando perceber por que os alunos finlandeses ocupam os primeiros lugares no PISA (compreensão de textos na lingua materna, de matemática, de ciencias da natureza) e os portugueses uma muito modesta posição a meio da tabela.
São sempre perigosas estas comparações e há a tentação de importar soluções que funcionam noutros contextos e no nosso não.
Além disso, ninguém quererá que num liceu português, como já aconteceu num liceu finlandês, um aluno mate a tiros de espingarda alguns colegas e professores (na Finlandia não é exigida licença de porte de armas, como nos USA).
Mas centremo-nos nas diferenças que interessam: na Finlandia o ensino é universal e gratuito, são raras as escolas privadas, o ordenado dos professores estará na classe média-baixa, não há sistema de avaliação de professores (o que confirma a hipótese: insistir num sistema de avaliação significa desconfiança dos potenciais avaliados e subserviencia às firmas fornecedoras de sistemas de avaliação), a influencia das limitações financeiras e culturais dos pais no rendimento escolar é baixa.
Este blogue já referiu um exemplo ilustrativo de uma diferença que lhe parece essencial: um aluno português do programa Erasmo na Finlandia copiou num exame; o professor detetou e comunicou ao aluno a expulsão do programa; o pai do menino pediu ao embaixador em Helsinquia e ele foi falar com o diretor da universidade pedindo a reintegração; sem sucesso, claro.
Moral da história: agradece-se muito ao criador ter dotado este nosso povo com uma capacidade de desenrascanço tão grande, mas sinceramente, não precisava; mais valia voar mais baixinho e saber que copiar é proibido e tem sanções, e que nunca deveria ter passado pela cabeça do senhor embaixador tentar uma cunha como esta (ou como qualquer cunha, que sociedade do conhecimento é outra coisa; não é esta mania portuguesa de procurar alguem que conheça alguem que conheça alguem que é o melhor para resolver o problema, em vez de ir à loja aberta a todos os cidadãos e cidadãs onde esses problemas se resolvem).
Preocupação na Finlandia: o ensino nivela tudo e todos, impedindo os sobredotados de evoluirem mais depressa.
Não há sistemas perfeitos, mas isso poderá remediar-se com pequenos acertos, lá na Finlandia.
Desde que não caiam no portuguesissimo defeito de eleger sobredotados.
Como dizia, mais vale voar baixinho, mais vale que um problema complexo seja resolvido com a participação de muitos medianos do que por um sobredotado ou por um grupo restrito de sobredotados fechado em gabinetes a anunciar a conta gotas como vão salvar a pátria.
É que os direitos são iguais, sobredotados ou não; até vem na Constituição.
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