É natural que a linguagem, como mecanismo d expressão e comunicação diretamente ligado aos centros de controle e pensamento cerebrais, induza entendimentos diferentes do que o emissor da mensagem pretendeu.
Se os autores das sentenças passaram muito tempo longe do país, ou se se dedicaram a atividades afastadas da realidade concreta vivida pelos seus concidadãos e concidadãs, este risco é agravado pelas dificuldades de vocabulário que daí advêm.
Talvez as dificuldades de expressão e de interpretação sejam afinal uma caraterística própria da população portuguesa, da sua forma de comunicar.
Na verdade, a quantidade de informação contida numa frase é muitas vezes inferior à que se encontra numa frase de idêntica dimensão expressa noutra língua.
Não admira assim que um senhor ministro, lendo pausadamente o seu discurso, pronuncie “precule” em vez de, alegadamente, pronunciar “preclue”, do verbo “precluir”.
Nem que outro, momentaneamente embaraçado por lhe faltar o vocábulo, tenha recorrido ao anglicanismo “thing” (“coisa/coiso”), como é vulgar ver nos adolescentes que inventaram o verbo “coisar”, provando aliás a tal ligação direta entre os mecanismos de pensamento e a linguagem.
Ou o caso do senhor consultor do governo para as privatizações, que aliás explicou posteriormente outro raciocínio. Terá talvez confundido “urgência” com “emergência”. Não que eu acredite que o senhor queira desobedecer à troica, que desde o principio achou que os salários portugueses não valiam o que os trabalhadores produziam. Mas que era necessário não agravar a imagem dos detentores do poder politico e económico no país, e não contradizer o que se costuma dizer nos seminários de sensibilização, que é preciso que a mão de obra seja qualificada e que isso só se consegue com remuneração adequada.
Enfim, desencontros de linguagem, alheamentos da realidade, como aquele senhor primeiro ministro que só muito recentemente tomou conhecimento, pelos jrnais, de que a maternidade Alfredo da Costa ia fechar (como se interrogava um comentador sério de direita já há uns tempos, “em que bolha vive o primeiro ministro?” - se isto é assim com a maternidade, não admira que por alheamento da realidade os problemas do estaleiro de Viana, as indefinições do QREN e da linha ferroviária para Madrid-Irun se arrastem sem solução), dificuldades de entendimento que geram impossibilidade de trabalho em equipa produtivo, e mais grave de tudo, por impedir a solução, recusa terminante em aceitar os defeitos próprios.
Não nos entendemos, mas achamos que entendemos.
Ilusões, como o cérebro é habilidoso em criar.
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