Notícias da barragem do Tua
(ver http://www.facebook.com/valedotua
e
http://www.linhadotua.net/3w/index.php )
Aguarda-se a reunião da UNESCO até ao inicio de Julho de 2012 em S.Petersburg para sabermos mais sobre o pedido ao governo português de interrupção das obras da barragem do Tua.
Entretanto, a senhora ministra Assunção Cristas terá afirmado que não havia dinheiro para pagar as indemnizações aos empreiteiros (contrato é contrato, embora esta afirmação tenha sido contornada juridicamente no caso do TGV Poceirão-Caia já contratado) e que as obras não colidiam com a zona protegida do Alto Douro Vinhateiro.
Dada a formação profissional do escriba deste blogue (ou deformação; quem poderá garantir que a sua formação não é uma deformação?) parece-lhe (parece-lhe só; quem poderá garantir que tem certezas?) que poderá sempre estudar-se soluções que minimizem efeitos.
Foi o que tentou fazer em
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2011/02/tua-tua.html
propondo o estudo da solução da cota de 160m (barragem a 6 km da foz) em vez da cota de 170m (barragem a 1 km da foz) para a qual está sendo construída a barragem, com substituição do troço ferroviário submerso entre Castanheiro e Santa Luzia por um novo troço de cremalheira através das serras de Castanheiro e de Paradela, e suportando a diminuição do volume armazenado e de produção anual.
Se a UNESCO não aceitar a argumentação do governo português e insistir na desclassificação do Douro Vinhateiro, e considerando que segundo o senhor secretário de estado da cultura é prioritário não perder essa classificação, então humildemente sugiro que se estude a solução da cota de 160 m e do desvio da barragem para 6 km de distancia da foz.
Humildemente, claro, sem certezas indiscutíveis e considerando que a utilidade da barragem e da central hidro-elétrica é, graças à sua caraterística de reversibilidade, a de poupar a importação de mais de meia centena de milhões de metros cúbicos de gás natural (vantagem cumulativa, como não se diz nas promoções, com as medidas de poupança energética a nível nacional, e com os benefícios da exportação da energia elétrica nas trocas fronteiriças).
PS - Gostaria de esclarecer melhor a minha opinião.
Como técnico, é extremamente importante para mim o argumento de que a central hidro-elétrica do Tua produziria cerca de 250 GWh por ano com a cota 160m (inferior à cota de 170 m para a qual a barragem está sendo construida).
Não concordo com a argumentação de algumas associações ambientalistas, que põem a questão em termos de: ou a barragem ou (exclusivo) a linha do Tua, o Douro Vinhateiro e o ambiente, desprezando a produção hídrica por ser apenas 0,5% da produção total anual de energia elétrica em Portugal (ca 50.000 GWh). Prefiro a expressão: a barragem e a linha do Tua, o Douro Vinhateiro e o ambiente, com as alterações propostas; quanto à produção de 250 GWh, são duas vezes e meia o consumo anual do metropolitano de Lisboa; bom seria poder dizer que toda a energia do metropolitano vem de fontes não fosseis; isso seria um ótimo argumento, por reduzir a "pegada ecológica" do metro, para reduzir os desperdícios em combustíveis fósseis da circulação automóvel nas áreas metropolitanas.
Por outro lado, por mais que se eliminem os desperdícios energéticos, o que deverá ser um objetivo expresso pela redução ao valor médio da intensidade energética europeia (consumo por PIB per capita), os custos dos investimentos necessários (por exemplo, para melhorar o isolamento das casas, para reurbanizar áreas metropolitanas, para reorganizar os sistemas ferroviários, para substituir a iluminação pública e privada por outra mais eficiente) impõem um tempo dilatado.
As equações para o balanço do consumo de energia elétrica mostram as variáveis que devem crescer e as que devem diminuir:
Consumo = Consumo util + desperdicio (potencial de poupança)
e
Consumo util = Produção interna de origem não fóssil + Produção interna com combustiveis fósseis importados + Energia importada - Energia exportada - desperdício
Fixado o consumo util a partir do valor de intensidade elétrica objetivo, convirá reduzir:
- a produção interna com combustiveis fósseis (para equilibrar a balança de pagamentos; necessidade de negociar a redução das "rendas"),
- a energia importada (para equilibrar a balança de pagamentos),
- o desperdício;
e convirá aumentar:
- a produção interna de origem não fóssil,
- a energia exportada (exige o reforço da rede de interligação com Espanha e a Europa, eventualmente com investimento em linhas de muito alta tensão de tensão contínua e longa distancia, um problema de planeamento e cooperação com Espanha semelhante ao das ligações ferroviárias, incompatível com visões públicas setoriais e com estratégias de administrações de grandes empresas privadas).
Por tudo isso, não posso concordar com a desistencia da construção de barragens, pelo que apoio, nesse aspeto, o plano nacional de ação para as energias renováveis (PNAER).
PS em 2 de julho de 2012 - noticiado que a CP deixou de pagar os taxis que substituiam o serviço da linha do Tua encerrada. E que o comboio turistico entre Régua e Tua é um sucesso. Pena não seguir até ao Pocinho com vapor, mas para isso é preciso investimento (é aliás uma hipótese a eletrificação da ligação a Salamanca para exportar o minério de Moncorvo).
PS em 10 de julho de 2012 - consta que a conferencia de S.Petersburgo da UNESCO pediu ao governo português para "abrandar" a construção da barragem do Tua. O que se ganhará em abrandar? A ideia não seria "rever" o projeto? É que abrandar não significa evitar a irreversibilidade do disparate, como destruir o troço de via férrea em viaduto já destruido. Mas enfim, será um eufemismo para pôr no relatório.
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