Não entendam como um convite a um passeio turístico a Istanbul, em época de crise, mesmo com a desculpa de ser cultural.
Mas passou-me pelos olhos o anuncio do festival de ópera em Julho, em Istanbul, interessada que está a Turquia em fazer "charme" à Europa ocidental e central e segura do seu clima mediterrânico e do seu PIB crescente (aguardam-se as negociações com os revoltados curdos).
E lembrei-me da aversão que os nossos governantes têm à ópera.
Com alguma razão, quanto a mim, que ela pode ser subversiva, quando põe a nú as fragilidades do pensamento de quem detem o poder politico (ver o Don Carlos, o MacBeth ou o Boris Godounov) ou o poder financeiro (ver o Banksters, do nosso Corte Real, ou Dias Levantados, do também nosso Pinho Vargas) alem de requerer produções muito caras.
Ver o programa de Istanbul, de 7 a 19 de Julho de 2012, incluindo temas clássicos nos teatros da Europa ocidental e central, como o Rapto no Serralho, e Bajazeto, em:
http://www.istanbuloperafestival.gov.tr/eng/index.htmlhttp://www.istanbuloperafestival.gov.tr/eng/index.html
E lembrei-me também do esforço dos trabalhadores da cultura e da ópera do S.Carlos, reduzidos pelo garrote financeiro a montarem um festival no largo de S.Carlos praticamente sem referencias de ópera, de 30 de junho a 31de julho. Ver em:
http://www.festivalaolargo.com/#
Vejam ainda o programa com que o senhor secretário de estado da cultura convenceu o maestro Vitorino de Almeida a realizar concertos sinfónicos pelo país fora, com base nas várias orquestras descentralizadas existentes, de 14 de Junho a 30 de Setembro. Como de forma algo provinciana, de quem não está à vontade quando fala de musica sinfónica e, muito menos, de ópera, disse o senhor secretário de estado que esta iniciativa, que custou 495 mil euros (tanto, 25 mil euros por concerto? talvez aplicar uma taxa por cada minuto de telenovela nas televisões para cobrir as despesas…), “mostrava o lado informal da musica sinfónica” (o que é o lado informal da música sinfónica?).
Ver em:
http://sol.sapo.pt/inicio/Cultura/Interior.aspx?content_id=51859
Mas não deixem de ver o ar provinciano das fotografias do concerto inaugural com as senhoras ministras e senhores ministros sentados na plateia improvisada no palácio da Ajuda, constrangidas e constrangidos por terem de marcar presença numa coisa tão chata como um concerto sinfónico (vá lá que não era ópera), a que nunca iriam se não fossem ministros dum governo para quem a cultura não interessa, ou só interessa se tiver valor mediático, como as perucas trans-seculares de Joana Vasconcelos nos quartos de Versailles. Que ar de baile de bombeiros e de cerimonial do regime com que ficaram todos.
http://www.portugal.gov.pt/pt/fotos-e-videos/fotos/20120614-sec-orquestra.aspx
http://www.grandeorquestradeverao.pt/programacao/programacao/
Ou, de como, mais uma vez parafraseando Júlio Dantas, como é diferente o amor pela ópera na Turquia.
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