terça-feira, 5 de junho de 2012

Um pouco de teoria económica – o PIB e afins







Retome-se a fórmula do PIB (somatório das faturas finais de bens e serviços) para um ignorante em economia como eu tentar ver se objetivo deve ser mesmo pô-lo a crescer:

(1)          PIB = (consumo das famílias + investimento das empresas privadas +
                        despesa e investimento públicos) – (importações – exportações)

O termo (consumo + investimento priv. + despesa e inv.públicos) representa a despesa interna.
O termo (importações – exportações) representa os empréstimos externos ou importações líquidas que aumentam a dívida pública e privada.

Outra fórmula do PIB é dada pela soma dos rendimentos:

(2)        PIB = consumo das famílias + poupanças privadas + impostos –
                         transferências para a segurança social

Igualando os segundos membros das equações (1) e (2), temos que o investimento privado, que em princípio é necessário, se bem orientado, para produzir bens e serviços transacionáveis, é dado pela fórmula:

(3)        Investimento privado = poupanças privadas + (impostos – despesa e
                                              investimento públicos – transferências para a
                                              segurança social) + (importações – exportações)

Considerando que o défice ou superavit do orçamento público, ou poupanças do Estado, são dadas pela fórmula

(4)         poupanças do Estado = (impostos – despesa e investimento públicos –
                                                   transferências para a segurança social)

temos que a fórmula (3) pode ser escrita como:

(5)         Investimento privado = poupanças privadas + poupanças do Estado +
                                                  (importações – exportações)

Focando-nos na despesa e investimento públicos:

(6)         Despesa e investimento públicos = poupanças privadas - investimento
                                                             privado + (impostos – transferências para a
                                                       segurança social) + (importações – exportações)

Observações às fórmulas:

1 – aumentos do consumo (por exemplo, aumentando os salários) aumentam o PIB, mas só se não aumentarem as importações; isto é, o consumo deve ser orientado no sentido da produção nacional ou da substituição das importações pelas exportações

2 – mesmo mecanismo para o investimento privado

3 - mesmo mecanismo para a despesa e investimento públicos

4 – aumentar as importações diminui o PIB

5 – aumentar as exportações aumenta o PIB

6 – da fórmula (1) resulta que o PIB, sendo igual à despesa interna menos os empréstimos externos, interessa que seja superior à despesa interna, isto é, que os empréstimos externos sejam menores que zero (isto é, as exportações maiores do que as importações). Daqui resulta que o crescimento do PIB não deve ser alimentado pelos empréstimos externos.

Sendo o problema dos pontos 1, 2 e 3 a obtenção de empréstimos externos, deverá dar-se prioridade aos pontos 2 e 3:

7 – para aumentar o investimento privado (fórmula 3) há que aumentar as poupanças (reduzindo o consumo, por exemplo, ou a famosa austeridade, evidentemente só acessível a quem disponha de rendimento superior às necessidades essenciais), aumentar os impostos (ups), diminuir a despesa pública e as transferências para a segurança social (ups – é a tal desvalorização fiscal da redução da TSU, que só daria resultado se permitisse o desenvolvimento do setor transacionável relativamente ao setor não transacionável) e aumentar as importações líquidas (parece paradoxal, aumenta os empréstimos externos, aumentando as importações de capital e diminuindo as exportações, canalizando para o mercado interno as mais valias que seriam obtidas com as exportações).
Dito de outro modo, para aumentar o investimento privado há que aumentar a poupança privada reduzindo o consumo (consta que os particulares, ou melhor, uma pequena faixa de particulares, dispõe neste momento de 130 mil milhões de euros de depósitos a prazo), aumentar as poupanças do Estado (ai os impostos a aumentar e o investimento público a baixar) e aumentar os empréstimos externos.

8 – para reduzir a despesa pública (fórmula 6), há que reduzir as poupanças privadas (paradoxal, também), aumentar o investimento privado (deve ser o tal de crowding out), os impostos e as importações líquidas (ou empréstimos externos, o que parece evidente); e aumentar as transferências para a segurança social (paradoxal,também)

9 – para aumentar o investimento público (fórmula 6), há que aumentar as poupanças privadas, diminuir o investimento privado (o tal crowding out?) , aumentar os impostos (evidentemente)  e as importações líquidas (aumenta os empréstimos externos, canalizando para o mercado interno as mais valias que seriam obtidas com as exportações); e reduzir as transferencias para a segurança social (ups).




Confuso, não é?
Então em ambiente de dívida pública e privada elevada...
Até porque não é possível atuar sobre uma variável mantendo as outras constantes (não se consegue o ceteris paribus – tudo o mais constante). Será como governar um veleiro num meio turbulento.
Confuso, mesmo ; quer para um ignorante de economia como eu que teve de ir ver estas fórmulas ao livrinho “Economia para todos” de David Moss, ed.Academia do Livro, quer para os grandes economistas que nos governam.
Não admira então que os senhores governantes falhem as previsões.
Mas prever o barril de petróleo a 80 dólares para o orçamento de 2012 (valor entretanto corrigido), também me parece demais.
Podiam ter perguntado a especialistas de energia, por exemplo.
E também não deviam insistir, os governantes, em receitas cegas e únicas, ideologicamente comprometidas; mas antes, como se sabe há muito do estudo das formas de energia primária, deviam aproveitar mais os benefícios da diversidade, de um “mix” variável de soluções, folgar um pouco ali, cingir um bocadinho aqui, contrariar um pouco acolá, deixar ir ao sabor além, enfim, como se governa um veleiro com vento instável.

Mas duvido que entendam a mensagem, se o senhor ministro da Defesa nem sequer quer ouvir falar nos conhecimentos da Marinha…

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